Passagem mais alta, mais dificuldades

por Luis Borges 7 de fevereiro de 2022   Pensata

A Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade (Seinfra) do governo de Minas Gerais informou no sábado, 29 de janeiro, um aumento de 13% no preço das passagens dos ônibus que fazem o trajeto entre os municípios da região metropolitana de Belo Horizonte e a capital para vigorar a partir da zero hora da segunda-feira, 31 de janeiro. Menos de dois dias depois.

A prática é a mesma de sempre, entra governo sai governo. Nenhuma transparência, nem para anunciar o aumento com mais antecedência e nem para mostrar a planilha real dos custos dos transportes coletivos. A justificativa básica para o aumento de 13% foi a inflação anual, com destaque para o preço do óleo diesel. Além disso, veio a renovação da promessa feita há seis meses, ainda não cumprida, da volta do quadro de horários para os níveis vigentes antes da pandemia, a partir de 1º de fevereiro. A passagem mais usada passou a custar R$6,60 enquanto a mais cara está em R$8,60 e a mais barata em R$5,80. O sindicato das empresas queria um aumento de 53,36% no preço das passagens.

De vez em quando surgem denúncias na mídia mostrando alguém usando sombrinha dentro do ônibus em dia de chuva, pneus “carecas” e superlotação. Em um desses casos recentes, quando houve um acidente no trajeto entre Ribeirão das Neves e Belo Horizonte, havia 93 pessoas dentro do ônibus no momento da ocorrência.

Como se sabe muitos são os moradores dos municípios metropolitanos que trabalham em Belo Horizonte no modo formal e informal. Também sabemos do tamanho do desemprego, do desalento e do crescimento da informalidade por uma questão de sobrevivência. Por outro lado, a inflação alta, a não correção da tabela do imposto de renda, o congelamento dos salários de servidores públicos federais e estaduais e os reajustes abaixo da inflação para a maior parte das demais categorias desenham um quadro de grande perda do poder aquisitivo. A classe média, por exemplo, está cada vez mais achatada. Nesse quadro, o aumento pode dificultar ou até inviabilizar a contratação de serviços domésticos, como diaristas, jardineiros, encanadores e outros.

Se observarmos o caso de um prestador de serviços por diária que mora no vetor Norte de Belo Horizonte e precisa tomar um ônibus e o metrô de superfície para trabalhar no bairro do Prado, por exemplo, o custo diário de transporte fica em torno de R$22,20. Se o valor ficar por conta do contratante, ele deve ser somado à diária da prestação de serviços, que varia de R$140,00 a R$160,00 reais. Dá para ver o peso no orçamento debilitado de quem pensa em contratar um prestador de serviço nesse momento tão difícil em que o calo dói com intensidades diferentes para a imensa maioria das pessoas. No caso de um empregado doméstico mensal o transporte durante 22 dias fica em R$488,40 enquanto um diarista trabalhando 4 dias por mês custa R$88,80. E se a pessoa prestar serviços sem cobrar à parte o transporte, seus ganhos ficam ainda mais prejudicados.

A rádio Itatiaia ouviu, na semana passada, alguns trabalhadores de municípios do vetor Norte falando de dificuldades para prestar serviços devido ao custo do transporte. Os contratantes estão procurando pessoas que moram mais próximas do local de trabalho e que gastem apenas uma passagem de ônibus ou metrô em cada trajeto.

As coisas só estão piorando enquanto prevalece a insensibilidade dos governantes perante o nosso grave quadro social neste ano eleitoral.

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