2016, o ano que não terminou

por Convidado 6 de janeiro de 2017   Convidado

* por Sérgio Marchetti

“ Temos todos nós que vivemos/ uma vida que é vivida/ e outra vida que é sonhada/ mas a única vida que temos/ é a que está dividida entre a certa e a errada.” (Fernando Pessoa)

O ato de viver tem duas faces: vida e morte. E nos oferece três tempos para viver e só um para morrer. Tudo acontece no presente, embora tenhamos o passado – que nunca voltará – e o futuro que, quando chegar, será apenas presente. Sabemos como foi o começo e que haverá um fim. E, entre os dois, vigora a incerteza de como será a trajetória. Não dá para adivinhar o futuro. Quando muito, planejá-lo. Talvez uma estrela iluminada possa nos guiar pelas veredas do sucesso. Mas não há luz para todos e os resultados não dependem exclusivamente de nós. Fatores internos, crises e políticas desajustadas podem arruinar qualquer um.

Como disse, nossa vida é indicada por tempo, mais propriamente por anos e que, por sinal, mais um chegou ao fim. Tivemos um janeiro de esperanças, dez meses de decepção e um dezembro de desesperanças. Nós, cidadãos maduros, que já passamos do meio dia de nossas vidas, tivemos a oportunidade de repetir esta façanha por diversas vezes. Nem parece que foram tantas.

Chegar ao final do ano e ter a oportunidade de um novo começo, por si só, já é uma dádiva muito digna de agradecimento. Muitas pessoas findaram sua história neste ano que se passou. Outros tantos abortaram seus sonhos em tragédias, tal qual a aeronave da LaMia, cujo piloto causou a morte de 71 pessoas. A causa do acidente foi gerada pela voracidade da obtenção do lucro. Revoltante, desastroso e criminoso o motivo que deixou tantas pessoas com o vazio da inexistência. Perderam maridos, pais, filhos, irmãos, amigos e colegas. A dor da ausência se amplia mais quando acontece um acidente e, principalmente, quando ele é causado por imprudência, irresponsabilidade e ganância.

Pelos mesmos motivos de Miguel Quiroga, no Brasil governantes causaram tragédias piores, legislando em causa própria e estropiando vidas. Faltaram escrúpulos, seriedade e senso de humanidade.

Não tenho dúvidas de que 2016 ficará na memória. Nem Fidel resistiu a ele. Partiu para sempre o grande ditador. Agora, realmente está exercendo a igualdade que tanto pregou. Cuba está sem pai e sem dono. Dom Paulo Evaristo Arns, uma alma boa que lutou pela justiça, sucumbiu neste dezembro e nos deixou mais desamparados ainda. Também perdemos Ferreira Gullar e, junto com ele, os últimos suspiros da poesia.

Por tudo isso, o referido ano ficará marcado na história. No Brasil será registrado como um dos anos mais tristes, em todos os sentidos. E, como escreveu Zuenir Ventura a respeito do ano de 1968; 2016 foi um ano que também não terminou. A conta não fechou. O país não cresceu, a crise não acabou, os maiores responsáveis por ela não foram presos.

“o dia não veio, o bonde não veio, o riso não veio, não veio a utopia e tudo acabou. E agora, José?” (Drummond)

Mas temos que ser fortes e resilientes. Não nos resta outra opção. A dor que não mata, embora arranque pedaços, nos torna mais resistentes.

Apesar do nada que foi esse ano que passou, esperançar é tudo que nos resta conjugar. Então, caros leitores que ainda têm a paciência de ler meu amontoado de ideias traduzidas em pobres palavras, deixem que os primeiros dias de janeiro lhes tragam sóis de esperança, luzes para clarear nosso túnel e, ainda, quem sabe, mais união para que lutemos pelos nossos direitos de cidadãos.

Ainda estamos vivos… Os novos dias nos convidam a ter fé.  Então…

“vem, vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. (Geraldo Vandré)

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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A paz

por Luis Borges 2 de janeiro de 2017   Música na conjuntura

O Dia Mundial da Paz acontece todo dia 1º de janeiro desde 1968, ano em que o mundo inteiro era marcado pela Guerra Fria e pela corrida armamentista. De lá para cá foram muitos os acontecimentos que perturbaram ou acabaram com a paz em diferentes modos e níveis. Por outro lado, podemos olhar a paz por diversos ângulos, desde a quietude individual até as grandes guerras civis que sacodem atualmente diversos países e também passar pelas gritantes desigualdades sociais que tiram a paz da vida de tantas pessoas e comunidades. Se a justiça deve preceder a paz, quem está disposto a mudar de postura para contribuir na grande solução que poderá levar ao reequilíbrio da humanidade?

Como tudo começa com a gente, ainda que de maneira incipiente, que tal refletir e pensar em algum tipo de ação que dependa só de nós ouvindo a música A paz na voz do cantor Gilberto Gil, que a compôs em parceria com João Donato?

A Paz
Fonte: Letras.mus.br

A paz invadiu o meu coração
De repente, me encheu de paz
Como se o vento de um tufão
Arrancasse meus pés do chão
Onde eu já não me enterro mais

A paz fez um mar da revolução
Invadir meu destino; A paz
Como aquela grande explosão
Uma bomba sobre o Japão
Fez nascer o Japão da paz

Eu pensei em mim
Eu pensei em ti
Eu chorei por nós
Que contradição
Só a guerra faz
Nosso amor em paz

Eu vim
Vim parar na beira do cais
Onde a estrada chegou ao fim
Onde o fim da tarde é lilás
Onde o mar arrebenta em mim
O lamento de tantos "ais"
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Não vou desistir

por Luis Borges 31 de dezembro de 2016   Pensata

O ano que está terminando é também o ano novo que chega conforme mostra a linha do tempo. Os problemas prosseguirão existindo e exigindo soluções para suas causas mesmo que negados, ignorados ou minimizados. Essa é a primeira conclusão a que cheguei ao balançar a roseira que simboliza o conjunto dos acontecimentos que marcaram minha vida nesses últimos 365 dias. Os caules que trouxeram folhas e espinhos, se encarados com a devida inteligência estratégica, poderão gerar até rosas.

Rosa no canteiro da praça Duque de Caxias. | Foto: Sérgio Verteiro

O que a realidade nos mostra é a necessidade de se ter muita resiliência para continuar enfrentando as dificuldades impostas pela conjuntura, em que predominam as estratégias de sobrevivência. Enquanto isso, as redes sociais rugem, a recessão econômica vai ser muito mais prolongada que o imaginado e os políticos partidários que privatizaram o Estado com seus três poderes continuarão testando a paciência do povo até que venham novos e potentes gritos das ruas. Se a barragem romper… o que será do mercado financeiro, já que quem tem dinheiro ganha dinheiro e quem ainda consegue trabalho tem que trabalhar? Tudo isso vai acontecendo enquanto a popularidade e a credibilidade do Presidente da República derretem conforme mostram as pesquisas de opinião. Percebo também que não há milagre visível ou previsível no horizonte próximo. Mas 2017 será encarado de frente, sem heroísmos, com a paciência e a persistência de quem não desiste nunca no jogo que é jogado.

Parafraseando o cantor e compositor Geraldo Vandré em sua música O plantador reafirmo que “quanto mais eu ando, mais vejo estrada. E se eu não caminho, não sou é nada”. Portanto não vou desistir, e nem tenho esse direito, diante da crença de que não é justo viver e padecer nas condições em que nos encontramos atualmente. Podemos muito mais e, para isso, também precisamos continuar lutando e aperfeiçoando os métodos, os nossos caminhos.

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Vale a leitura

por Luis Borges 28 de dezembro de 2016   Vale a leitura

Ostentando e garantindo super salários

Chegamos ao fim do ano com o Poder Judiciário e o Poder Legislativo medindo forças em relação aos super salários e ao abuso de autoridade enquanto vazam informações sobre as delações premiadas da Odebrecht, a empreiteira arrependida que agora jura que mudará de vida. Mas vale a pena prestar atenção no modo como os políticos se apropriam do Estado e como aqueles que estão no poder praticamente o privatizam em função dos grupos de interesse que se sustentam e se beneficiam mutuamente com os negócios engendrados. É o que aborda o jornalista Ricardo Kotscho em seu artigo A República Corporativa ganha vida própria, publicado em seu blog.

“É assim que funciona. De pressão em pressão, de aumento em aumento, de privilégio em privilégio, quebraram a União, os Estados e os Municípios. E a grana acabou.

Claro que este poder da República Corporativa do Brasil não surgiu de um dia para outro. Vem de longe, como diria o velho Leonel Brizola.

Revelei os primeiros sinais deste fenômeno na série de reportagens “Assim vivem nossos super-funcionários”, que coordenei e escrevi no Estadão 40 anos atrás, em pleno regime militar.

Naquela época, ainda não se falava em cortar super-salários e super-aposentadorias, como estão tentando fazer agora _ até porque, era proibido, e podia dar cadeia”.

Cresce a ansiedade

Uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS), realizada entre 1990 e 2013, mostra que o número de pessoas com depressão ou ansiedade aumentou em quase 50%, passando de 416 milhões para 615 milhões. Quais as principais causas que podem levar a esse efeito? Leia a abordagem feita por Bia Souza no artigo Cobrança, pressão e redes sociais: Estamos ficando mais ansiosos? publicado no portal UOL.

“O tempo todo somos bombardeadas com regras sobre como devemos nos comportar, nos sentir, o que podemos e o que não podemos pensar e muitas vezes essas regras são contraditórias, ou seja, seguir ou não seguir a regra vai gerar insatisfação, frustração e punição. Nesse tipo de contexto a pessoa tem que estar o tempo todo alerta para evitar essas situações desagradáveis e potencialmente danosas para sua integridade social, emocional e psicológica. Isso é um fator predominante para o desenvolvimento de ansiedade”.

A morte mais próxima após a aposentadoria

O Congresso Nacional aprovou o teto para os gastos públicos primários durante os próximos 20 anos como parte da tábua de salvação para o governo de Michel Temer. Agora o desafio para o primeiro semestre do próximo ano será a aprovação de outra parte da tábua que é a reforma da Previdência Social dos trabalhadores do setor público e privado, exceto os militares. Acontece que toda a fundamentação da proposta se baseia nas médias de diversos indicadores, mas não levaram em conta a variabilidade entre as diversas medidas. Assim foi fixada a idade mínima de 65 anos para a aposentadoria ou os 25 anos para o tempo mínimo de contribuição ao sistema previdenciário. Muito se falou da atual expectativa média de vida de 75,5 anos, mas nada foi dito que em diferentes regiões e condições sociais do país essa mesma expectativa pode ficar abaixo dos 65 anos. Nesses casos, a morte chegaria antes da aposentadoria se o projeto for aprovado da forma em que foi apresentado. Esse é o enfoque do artigo Com a Reforma da Previdência (e a aprovação do teto dos investimentos públicos), moradores das periferias não terão chance de se aposentar, da urbanista Raquel Rolnik.

 

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Natal das crianças

por Luis Borges 25 de dezembro de 2016   Música na conjuntura

Desde que o Observação & Análise existe tenho postado nessa época do ano uma música alusiva ao Natal, sempre acompanhada de uma pequena reflexão.

Neste ano em que tudo está mais difícil para nós, até tive alguns dias atrás a sensação de que nem haveria Natal. Eu não sentia o clima da festividade contagiando a sociedade como um todo e nem o microclima familiar. A ruindade e a chatice de certos aspectos da vida no país acabaram prevalecendo e tirando muito da nossa energia.

Porém, como sou um realista esperançoso, sinto que o clima do Natal finalmente chegou. Também, pudera: se demorasse mais um pouquinho a data passaria em branco.

Todavia como às vezes não é tarefa fácil planejar com os adultos um Natal para ser passado em família, ainda que a tradição diga que o Natal é com a família, sugiro que voltemos por alguns instantes aos nossos tempos de criança. Parece que as coisas eram mais fáceis e que havia menos proprietários da verdade. Nesse sentido é interessante ouvir e até mesmo cantar a música Natal das Crianças na voz do cantor Blecaute que a compôs em 1955.

Um Feliz Natal a todos os leitores.

Natal das crianças
Fonte: Letras.mus.br

Natal, natal das crianças, natal de noite de luz
Natal da estrela guia, natal do Menino Jesus
Natal, Natal das crianças, natal da noite de luz
Natal da estrela guia, natal do Menino Jesus
Blim, blom, blim, blom, blim blom
Bate o sino na matriz, papai, mamães rezando
Pra o mundo ser feliz
Blim blom, blim blom, blim blom
O Papai Noel chegou, tambem trazendo presente
Pra vovó e vovô
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Já estamos no verão, a crise brasileira continua firme à espera de saídas. Pelo menos está chegando o Natal, que contribui para intensificar a movimentação à medida em que se aproxima o dia da comemoração do nascimento do menino Jesus.

Entre os diversos símbolos usados nesta época do ano vou realçar a marcante presença dos presépios, que reproduzem o ambiente em que ocorreu o nascimento.

Presépio do Lar Santa Terezinha, em Araxá (MG)| Foto: Elayne Pedrosa.

Criado por São Francisco de Assis em 1223, o presépio resiste e persiste diante das mais diversas inovações que sacudiram o mundo de lá para cá. Continua firme a trazer significados e ressignificados para todos aqueles que o contemplam.

Presépio na Igreja de Santa Tereza e Santa Terezinha, em Belo Horizonte. | Foto: Flávia Pereira

Presépio da Capela de Nossa Senhora das Graças, em Belo Horizonte. | Foto: Flávia Pereira

Por isso, sugiro a quem consegue fazer uma boa gestão do tempo que coloque em suas prioridades dessa época um momento para estar diante de um presépio. Nas fotografias desse post é possível contemplar alguns exemplos dessa arte.

Na Igreja de Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento, em Belo Horizonte. | Foto: Sérgio Verteiro

Presépio na Capela de Nossa Senhora das Mercês, em Ribeirão das Neves (MG) | Foto: Sérgio Verteiro

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A emancipação política de Araxá, minha querida cidade natal, se deu há 151 anos, em 19 de dezembro de 1865, durante o reinado do Imperador Dom Pedro II.

Nas comemorações deste ano quero chamar a atenção para um aspecto que tem merecido pouca atenção dos governantes, das organizações da sociedade civil, das empresas e dos próprios moradores da cidade. Trata-se do cuidado e da responsabilidade com o patrimônio histórico que todos devem ter, cada um no seu nível de atuação. Preservar o patrimônio histórico significa a possibilidade de se manter viva para as atuais e futuras gerações aspectos importantes de uma determinada época da cultura araxaense.

O fechamento da bicentenária igreja de São Sebastião, em setembro último, é apenas mais um sinal pouco percebido, mas que precisa passar do sussurro para um grande e permanente grito mobilizador. Essa igreja é de 1804 e foi tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA) em 1979, mas isso não é suficiente para mantê-la viva.

Igreja de São Sebastião. | Foto: Elayne Pedrosa

Também não dá para esquecer que o Museu Dona Beja está interditado há quatro anos depois de um princípio de incêndio que quase consumiu os aposentos da bela dama. O museu também é tombado pelo IPHAN e começou a funcionar como tal em 1965 por ocasião das comemorações do centenário da cidade.

Museu Dona Beja. | Foto: Elayne Pedrosa

A seguir estão postadas fotografias feitas ontem pela designer araxaense Elayne Pedrosa mostrando como estão o Museu Memorial Araxá, a Fundação Cultural Calmon Barreto e o prédio que abrigou no século passado a Prefeitura Municipal e a Câmara de Vereadores. Aliás, um pouco abaixo desse prédio encontra-se cercado por tapumes o antigo casarão onde funcionou durante décadas a pensão Tormin, da Praça Coronel Adolfo.

Memorial de Araxá | Foto: Elayne Pedrosa

 

Fundação Cultural Calmon Barreto | Foto: Elayne Pedrosa

 

Antiga sede da Câmara. | Foto: Elayne Pedrosa

Como fazer para garantir a preservação desses e de diversos outros patrimônios públicos ou privados da cidade? Esse é um desafio para toda a comunidade e suas lideranças que não pode ficar sem respostas indefinidamente. Só tombar os imóveis e isentá-los de IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) é muito pouco.

Eu sei que muitas pessoas poderão dizer que o país está em crise, mas isso não deve ser motivo para justificar a inércia, pois enfrentar dificuldades faz parte da gestão de qualquer processo. Se nada acontecer, daqui alguns anos talvez não seja mais possível registrar em fotografias o mesmo patrimônio que existe hoje. Depende também de nós a preservação da memória da cidade.

Feliz aniversário Araxá, capital secreta do mundo e cidade eterna como Roma!

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