Celebrar Belo Horizonte

por Luis Borges 13 de dezembro de 2016   Pensata

Ao celebrar nesse 12 de dezembro o 119º aniversário de Belo Horizonte meu primeiro ato foi lembrar-me que aqui cheguei quando a cidade estava na plenitude de seus 75 anos, em agosto de 1973. Crescer e me desenvolver na cidade – que também cresceu muito em diversos sentidos – fez e continua fazendo parte do meu viver. Enquanto caminho, buscando fazer da aprendizagem um elemento fundamental para a aquisição de uma sábia maturidade num tempo que é finito, sinto como é importante a contribuição da cidade na geração de melhores condições de vida para os cidadãos.

E aqui começa meu segundo ato tradicional de aniversário – a reflexão para contribuir no levantamento e priorização dos problemas que precisam ser resolvidos, buscando a permanente melhoria contínua. Não se trata apenas de reclamar ou jogar tudo nos ombros dos eleitos para fazer a gestão da cidade. O sentido é o de se reforçar mecanismos para a implementação e fortalecimento da democracia participativa. Tenho a certeza que muitas coisas ruins que hoje são criticadas tiveram seu florescimento facilitado pela omissão e conivência de muita gente boa.

É importante querer encontrar e usar, de maneira civilizada, todos os meios possíveis para endereçar nossas observações e propostas para a solução dos problemas identificados. E também, é claro, sugestões de inovações que podem ir do redesenho de um processo existente até a apresentação de uma nova tecnologia.

Só para ilustrar o que estou propondo, gostaria de lembrar ao próximo prefeito da cidade que não dá para fazer uma gestão sem planejamento estratégico e muito menos sem o reposicionamento estratégico, que devem estar alinhados com um orçamento real, fundamentado em premissas sustentáveis e com muita consistência, com lastro em fatos e dados. Quem olha o orçamento da Prefeitura nos últimos 15 anos vê que sempre houve uma diferença de até 20% para menos entre o valor orçado e o que foi efetivamente realizado. Neste ano de 2016 sonhava-se com uma arrecadação de R$12,7 bilhões e a linha da meta mostra que tudo não passará dos R$9,5 bilhões. O que falar ou que justificativa dar diante de tamanha discrepância?

Meu terceiro ato é dar uma pausa na minha lista e cantar parabéns para Belo Horizonte, desejando que a cidade prossiga sendo um ótimo lugar para se viver, na certeza de que nada é tão bom que não possa ser melhorado e que tudo também depende de nós.

Uma amostra do Belo Horizonte. | Foto: Marina Borges

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Novo tempo

por Luis Borges 11 de dezembro de 2016   Música na conjuntura

O advento é o período preparatório para a chegada do Natal marcado pelas expectativas em torno de um novo tempo que virá. Fico pensando também nos rumos que o país tomará diante de tantos sinais a nos indicar que a entropia está aumentando, ou seja, cresce a desagregação entre as partes envolvidas.

Fica evidente a falência múltipla dos órgãos do sistema político, apesar do autismo dos representantes que teimam em desconhecer que seus representados já não suportam mais as suas práticas cada vez mais caras e danosas ao país. Apesar do discurso de que as instituições estão funcionando e garantindo plenitude à democracia, o que se vê é o confronto entre os conceitualmente independentes e harmoniosos três poderes.

A situação pode ser ilustrada pelos mais recentes episódios envolvendo Senado Federal, Supremo Tribunal Federal e a Força Tarefa da Operação Lava Jato. A crise política se aguça cada vez mais, embalada por variáveis que envolvem a manutenção do poder, a defesa de supersalários que desrespeitam a lei e as consequências trazidas pelo desnudamento da tecnologia da corrupção largamente praticada país afora. Enquanto isso lá se vão 7 meses após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e o que mais se ouve do vice que a sucedeu é um pedido para que a população tenha paciência para esperar acontecer o fim da recessão econômica. Aliás, a cada mês que passa, a sensação que fica é que isso ainda vai demorar e, quando vier, será com números bem tímidos.

Diante dessas percepções e com muitas expectativas em relação aos impactos e desdobramentos que tudo isso tem e terá para o posicionamento e atuação da sociedade brasileira – já bastante dividida entre insatisfeitos, intolerantes, proprietários da verdade, maniqueístas e crescentes posturas pouco civilizadas -o que esperar ao final de uma primavera brasileira?

Para facilitar um pouco a nossa reflexão e compreensão do momento, sugiro a música Novo Tempo, composta por Ivan Lins e seu parceiro Vítor Martins em 1980. Lá se vão 36 anos e ela continua a nos instigar.

Novo Tempo
Fonte: Letras.mus.br

No novo tempo, apesar dos castigos
Estamos crescidos, estamos atentos, estamos mais vivos
Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer
No novo tempo, apesar dos perigos
Da força mais bruta, da noite que assusta, estamos na luta
Pra sobreviver, pra sobreviver, pra sobreviver
Pra que nossa esperança seja mais que a vingança
Seja sempre um caminho que se deixa de herança
No novo tempo, apesar dos castigos
De toda fadiga, de toda injustiça, estamos na briga
Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer
No novo tempo, apesar dos perigos
De todos os pecados, de todos enganos, estamos marcados
Pra sobreviver, pra sobreviver, pra sobreviver
No novo tempo, apesar dos castigos
Estamos em cena, estamos nas ruas, quebrando as algemas
Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer
No novo tempo, apesar dos perigos
A gente se encontra cantando na praça, fazendo pirraça
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A imagem acima retrata as manifestações de desapego que se renovam no dia-a-dia da Rua Nefelina, no bairro de Santa Tereza (Belo Horizonte). É um verdadeiro bota-fora, que recebe um pouco de tudo, de agulha a avião sem combustível, passando por guarda-roupas, televisor, colchão, sacos de lixo e outras coisas mais.

Como acontecia na rua Enoy, no bairro União, essa “central do desapego” de Santa Tereza também é endêmica. A foto que abre esse post foi tirada no dia 5 de dezembro. No finalzinho da tarde do dia 6 a SLU retirou todo o material do local. De pouco adiantou. Bastou esvaziar para que hoje, dia 7/12, por volta das 12h30, novos desapegos estivessem no local.

Como resolver esse problema? Um caminho pode surgir da colaboração entre a Superintendência de Administração da Regional Leste da Prefeitura, a SLU, a Associação dos Moradores do Bairro e os próprios moradores individualmente para buscar soluções consistentes para esse problema crônico.

O importante é que ela venha rapidamente pois, como mostra a foto a seguir, o lixo oriundo dos sacos rasgados caminha para os bueiros, o que impede o escoamento adequado da água durante as chuvas. Sem contar os potenciais criadouros do mosquito da dengue e outras ameaças à saúde pública. Tudo isso a poucos metros da Praça Duque de Caxias, cartão postal do bairro.

Depende de nós também!

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Resta-nos a utopia

por Convidado 5 de dezembro de 2016   Convidado

* por Sérgio Marchetti

Chega de notícias ruins. Chega de tanta corrupção. Chega de jornais sangrentos tingidos com o sangue de tantas pessoas.

Chega de desemprego, de choro e de mentiras. Chega de inadimplência, de desvios de dinheiro. Chega de falar de político desonesto, pois já virou pleonasmo. Chega de recordes de mortes violentas. Não quero ler mensagens tristes, nem assistir a filmes sobre o holocausto. Vamos dar um basta nos programas ruins nas emissoras de televisão e nos apelos sexuais nas novelas, filmes e teatros brasileiros.  Vamos acordar… Uma bunda de silicone não pode valer mais do que um cérebro. Chega de baixaria, de grosseria, de palavrão.

“Chega de tentar dissimular e disfarçar e esconder/ o que não dá mais pra ocultar e eu não quero mais calar…/ Chega de temer, chorar, sofrer, sorrir, se dar/ e se perder e se achar e tudo aquilo que é viver… / Não dá mais pra segurar, explode coração” (Gonzaguinha).

Convido a todos – e aqui me incluo – a rever nossas atitudes. Não sendo religiosos, lembremo-nos do efeito bumerangue – o que vai, volta. Sendo pessoas de fé, lembremo-nos de que Jesus disse que é o que sai da boca do homem que o macula. Só depende de nós.

“Depende de nós/ quem já foi ou ainda é criança/ que acredita ou tem esperança/ que faz tudo pra um mundo melhor./ Depende de nós/ se este mundo ainda tem jeito/ apesar do que o homem tem feito/ se a vida sobreviverá” (Ivan Lins).

Em 2017 quero ver circular a energia positiva. Contem-me uma história que me faça acreditar na humanidade. Quero compartilhar o sucesso das pessoas e, caso chore, que seja de alegria.  “Este ano quero paz no meu coração/ quem quiser ter um amigo/ que me dê a mão.” O que eu quero é ouvir notícias boas.

E outra vez é Natal e um novo ano se anuncia. O fim de um ciclo e o inicio de outro que renova as esperanças. Desejo que a fé vença o medo que a decepção nos traz. E que os sentimentos que o Natal nos inspira possam derrubar todos os obstáculos. Que nos seja permitido sonhar e realizar desejos contidos e aprisionados nas masmorras de nossos corações. E que ninguém possa ter o direito de nos fazer infelizes. Afinal, comemoramos o aniversário de um menino que, quando nasceu, o mundo tornou a começar. Que seja também nosso recomeço.

Paz, saúde, alegria, sucesso e muito, muito, muito amor.

Quando escrevia esta crônica fui surpreendido pela notícia da queda do avião que transportava a delegação da Chapecoense, além de várias outras pessoas.

Que lástima! Que Tristeza! Que fatalidade! Que peça que a morte pregou! Para todas as vítimas o sonho acabou. Como somos frágeis e desprotegidos. Lamento profundamente e externo minhas condolências a todos que perderam seus familiares e amigos.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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Vale a leitura

por Luis Borges 1 de dezembro de 2016   Vale a leitura

Reforma ou revolução no Ensino Médio?

A reforma do Ensino Médio proposta pelo Governo Federal através de medida provisória, e não por projeto de lei como muitos queriam, continua causando grandes discussões num ambiente cheio de divergências e alguns graus de intolerância de quem só se pauta pela polarização das visões. Tanto nesse tema quanto em diversos outros que estão indo e vindo na conjuntura vê-se pouca ousadia diante das necessidades de mudanças que vão muito além de pequenas e cosméticas reformas.

Um bom exemplo de mudança “pra valer” é descrito por Sabine Righetti no artigo Finlândia deve acabar com as disciplinas escolares até 2020, publicado pelo blog Abecedário. Algo semelhante seria imaginável no Brasil ou ainda é cedo? O benefício seria maior que o custo?

Caixa preta da saúde

A saúde está sempre em evidência na imprensa e nas redes sociais, principalmente em abordagens negativas. Surge de tudo um pouco, desde dúvidas sobre o diagnóstico de uma doença dado por apenas um profissional até o grau de detalhamento de uma fatura de internação hospitalar ou a cobertura de um plano de saúde suplementar. O modelo mais se assemelha a uma caixa-preta, na qual se movimentam diversos grupos de interesse, todos focados nos resultados, inclusive os financeiros, que estão buscando. As práticas não são necessariamente as melhores, mas o sistema faz a engrenagem rodar para todos os segmentos.

Um pouco dessa lógica é mostrada por Cláudia Collucci no artigo Falta de transparência move o motor das fraudes na saúde.

“Os hospitais, por exemplo, poderiam começar por abrir suas contas, consideradas verdadeiras caixas-pretas, e os seus indicadores de qualidade, como taxas de infecção hospitalar, de mortalidade, de eventos adversos, de reinternação, etc. Cada hospital define hoje suas diárias, não há coerência dos valores cobrados e nem especificação dos produtos utilizados”.

Muda-te a ti mesmo

Não é nada fácil perceber e admitir que precisamos de fazer uma determinada mudança em nós mesmos. Mas digamos que conseguimos passar dessa fase de aceitação. Como fazer para mudar efetivamente?

Mirian Goldenberg relata sua experiência no artigo Mudar a si mesmo é difícil, mas, às vezes, necessário. Um trecho do testemunho:

“Já fiz um enorme esforço para mudar a minha natureza: tentei sair mais, encontrar mais frequentemente os amigos, ir a festas. Mas, por mais que eu me esforce, nunca é o suficiente. Sempre acabo recebendo a mesma acusação: “você não é uma pessoa sociável”. Tudo fica pior ainda quando sou comparada (ou me comparo) com mulheres que são naturalmente mais sociáveis e sabem como receber os amigos e a família”.

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Curtas e curtinhas

por Luis Borges 27 de novembro de 2016   Curtas e curtinhas

Caça ao cliente

No fim do mês passado, uma senhora solicitou ao INSS a pensão a que tem direito após o falecimento do marido. Aprovada a papelada, ela foi informada pelo órgão que receberia, em 20 dias, a carta de concessão do beneficio. Só então ela saberia quanto receberia por mês. Em meados de novembro, antes mesmo da chegada da tal carta, o telefone começou a tocar. Eram bancos que operam com crédito consignado oferecendo-lhe insistentemente um empréstimo para desconto direto em seu novo contra-cheque. Claro que tudo em muitas parcelas e com ótimas taxas de juros para os bancos que, pelo visto, devem comprar os dados de todos que ingressam no sistema de pagamentos de benefícios do INSS. E a cada trimestre os bancos seguem exibindo seus lucros fantásticos.

IPTU e inflação

Estudos da Secretaria Municipal de Finanças da Prefeitura de Belo Horizonte projetam um aumento de 12,39% para o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) de 2017. O índice é aproximadamente 75% superior à inflação de 2016 medida pelo IPCA, que deve encerrar o ano em torno de 7%.

O Orçamento de 2017 da PBH projeta uma arrecadação de R$1,132 bilhão.

É claro que, na virada do ano, também virão os aumentos das tarifas de ônibus para transportes coletivos gerenciados pela Bhtrans, da taxa de coleta domiciliar de lixo que já vem na guia do IPTU…

Rio de Janeiro

Os fatos e dados não deixam dúvidas sobre algumas causas que ajudaram a quebrar o estado do Rio de Janeiro ao longo dos últimos 20 anos. Uma delas foi a recessão econômica brasileira, que ajudou a derrubar a arrecadação que também foi acompanhada pela queda dos ganhos com os royalties do petróleo.

Outra é a clássica ruindade da gestão do estado, acompanhada pela corrupção crônica, aumento significativo das dívidas (inclusive com a antecipação de receitas), crescimento real do salário do funcionalismo público em percentuais muito generosos, mas não sustentáveis nos ciclos de baixa dos valores das commodities e a enorme renúncia fiscal para atrair empresas.

Quando tudo eram flores, o Governo Federal foi um grande aliado. Será que agora o mesmo Governo Federal vai continuar ajudando, diante do atraso dos pagamentos aos fornecedores e ao funcionalismo público (ativo e inativo)? Mesmo com a prisão de ex-governadores e a justiça no seu ritmo peculiar, as águas continuam passando debaixo da ponte desse estado quebrado. E não é apenas ele. Basta olhar pelo Brasil afora.

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Teto de gastos também no Natal

por Luis Borges 24 de novembro de 2016   Pensata

Algumas condições de contorno estão em evidência no Natal de 2016. Entre elas está o estabelecimento de um teto para os gastos públicos primários após 2 anos de recessão econômica, queda na arrecadação de tributos e continuidade do aumento das despesas públicas. A conta não fechou e o desequilíbrio foi inevitável.

A busca de saídas para encontrar medidas garantidoras de soluções para a sobrevivência mostrou – e continua mostrando – como alguns ditos populares continuam presentes em nossa cultura. Até me parece que foram feitos para durar e só serão modificados perante uma grande crise moral, ética, social, política e econômica. O momento segue mostrando que “em casa que falta pão todo mundo briga e ninguém tem razão” ou que “farinha pouca meu pirão primeiro”.

Mas como repercutem em nós e em nossa família, partes da base da sociedade, os reflexos da crise e das condições encontradas para a sua superação com sustentabilidade? É inegável que no Natal deste ano o nosso poder aquisitivo está menor, conforme mostram os números que apontam para um encolhimento da economia chegando aos 10%. Os desempregados já passam dos 12 milhões, de acordo com pesquisas do IBGE, as expectativas de melhoria ainda são muito mais sensoriais do que concretas e a “despioria” está ocorrendo muito lentamente, como que a nos mostrar que a estrada que leva a dias melhores também é muito longa. As reflexões trazidas pelo espírito do Natal acabam por nos levar ao reconhecimento de que as celebrações cheias de comilanças, bebidas e presentes, mesmo de amigos secretos, terão que ter seus gastos reduzidos e limitados a um teto, já que a maioria de nós está ganhando menos que há um ano e muitos outros estão sem um trabalho formal. A estratégia para o momento continua sendo predominantemente de sobrevivência, ou seja, não dá para gastar o que não se tem.

Dentro desse realismo fica claro como está difícil lutar para combater perdas e garantir os direitos adquiridos em outras conjunturas políticas e econômicas. O Natal também exige novos reposicionamentos estratégicos na complexa arte de viver numa sociedade que se quer civilizada e republicana na prática.

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