Vale a leitura

por Luis Borges 6 de novembro de 2017   Vale a leitura

Vida de desempregado

O cantor e compositor Chico Buarque diz, em sua música “Roda Viva”, que “a gente vai contra a corrente até não poder resistir, na volta do barco é que sente o quanto deixou de cumprir”. Quem não acredita ou não consegue se planejar e agir para viver de maneira sustentável na fase idosa da vida pode ter surpresas que nem sempre imaginamos.

Um caso bem ilustrativo dessa situação é contado pelo jornalista Ricardo Kotscho em seu artigo Vida de desempregado, publicado no Blog do Gérson.

Sempre fui empregado, nunca tive negócios ou outras rendas fora do salário.
O que ganho de aposentadoria do INSS mal dá para pagar o plano de saúde.
Então, não tem outro jeito: depois de uma breve folga na Semana da Criança para curtir os netos na praia, comunico à praça que estou de volta ao mercado, como se diz.
Qualquer trabalho honesto na minha área me interessa.

Explicitando uma ideologia

O que está explícito ou escondido num conjunto de ideias que dão suporte à ideologia, a um indivíduo ou a um grupo social? Que formas de atuação podem ser usadas para construir a hegemonia de uma ideologia? Leonardo Boff mostra a sua visão no artigo A ideologia é como a sombra: sempre nos acompanha.

Cada grupo social ou classe projeta uma ideologia, uma visão geral das coisas. A razão é que a cabeça pensa a partir de onde os pés pisam. Se alguém tens os pés na favela, tem uma certa ideia de mundo e de sociedade. Se alguém tem os pés num apartamento de luxo junto à praia, tem outra ideia do mundo e da sociedade. Conclusão: não só o indivíduo, mas também cada grupo social ou classe, inevitavelmente elaboram sua visão da vida e do mundo a partir de seu lugar social.

Nem todas as amizades serão duradouras

Qual é o tempo de duração de uma amizade entre duas pessoas? Qual é a dosagem de presença necessária de cada uma das partes para gerenciar e oxigenar os sentimentos que se tem? Sempre será possível manter uma amizade mais antiga, desfazer-se de outras e encontrar novas possibilidades, mas essencialmente tudo depende de nós e de nossas percepções sobre o valor que a amizade tem para nós, inclusive em função das circunstâncias em que surgiu ou em que perderam o sentido. Eugênio Mussak aborda a amizade em seu artigo As rolinhas, publicado pela revista Vida Simples.

Minha crença é de que não devemos perder nenhuma oportunidade de fazer mais um amigo. É claro que serão muito variadas as intensidades entre as amizades que fazemos ao longo da vida, mas isso não importa. É muito gostosa a sensação de saber que existe alguém que lembra de você com um sentimento bom, ainda que fugaz.

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Lé com lé

por Convidado 5 de novembro de 2017   Convidado

por Sérgio Marchetti *

Diante do momento que estamos passando, cujas circunstâncias estão representadas pela sigla VUCA (originada do vocabulário militar americano no final dos anos 90), que representa mudanças, volatilidade (volatility), incerteza (uncertainty), complexidade (complexity) e dúvidas, ambiguidade (ambiguity), creio que seja oportuno fazer a roda parar, pois em movimento não há como refletir com profundidade sobre nosso futuro.

Com todos esses dilemas contemplados na sigla e, talvez como consequência deles, grande parte da população parece ter perdido a razão propriamente dita. As pessoas estão mergulhadas num mar bravo, lutando contras as ondas de violência, crueldade, corrupção e excesso de liberdade que, ao que parece, vão nos afogar.

O desequilíbrio abala nosso emocional e, em descontrole, nos tornamos vítimas de neuroses, vícios, manias e da Síndrome de Burnout. Perdemos o senso de adequação e, por essa razão, assistimos, por exemplo, aos debates entre pessoas que defendem a nudez como arte, e aqueles que combatem aquela tese. Mas, como tudo é relativo, as cabeças pensantes poderiam, além da noção de local, tempo, espaço e público, ter também o bom senso para avaliar que, num país cujo número de estupros e assédios sexuais é dos mais elevados do mundo, talvez fosse prudente evitar estímulos dessa natureza. Não me agridam, é só um comentário sugestivo sem aprofundar no tema e nas causas.

De qualquer maneira, se queremos surfar na onda da liberdade, deveríamos saber o que significa esta palavra. Há entendimentos e atitudes completamente distintos e, no ímpeto de ser livre, comete-se o equívoco da devassidão. Gente! Repito. Estamos no Brasil, isso mesmo, num país de milhões de pessoas que não sabem sequer escrever o próprio nome. Falta-lhes discernimento. Vejam o número de grávidas nas classes menos favorecidas que foram vítimas do padrasto, do pai, do irmão, dos tios…

Até o Nelson Rodrigues era a favor de resguardar a nudez para não tirar a fantasia que a curiosidade traz. Ele detestava o biquíni.

Do que estou falando? Deixe-me dar um exemplo, paciente leitor. Acho que devo me explicar. Estou falando de equilíbrio. Sei que nunca tivemos tanta liberdade e informação como temos hoje. Que ótimo. Mas também, nunca testemunhamos um momento com tantos problemas de comunicação. Uma mulher que vai para o escritório vestida de biquíni pode ser chamada de louca (ou de artista)? Um homem de terno entrando no mar de Ipanema também pode receber os mesmos rótulos. Mas a mulher de biquíni entrando no mar e o homem de terno indo para o escritório são coisas perfeitamente adequadas. É isso que está faltando.

Qual o problema de usar um traje “passeio completo” numa festa clássica? Tem pessoas que querem ir de bermuda. Tenham dó. Isso não é ser evoluído. É brega mesmo. É desrespeito aos anfitriões. Cada coisa no seu canto, pois no mundo do “tudo pode” o que impera é a desordem.

Não podemos confundir assédio, agressão, imposição com liberdade e arte. Só falta dizer que o bandido tem o direito de me assaltar e que não podemos tolher sua liberdade. Chega de absurdos. Devemos conter essa pandemia de insensatez que pseudo representantes da arte e do povo querem fazer parecer natural. O desequilíbrio está estampado nas atitudes e na sociedade em geral. Ninguém está satisfeito com nada, nem consigo mesmo.

Precisamos nos vacinar contra a insensatez, essa doença que maltrata a arte, descontrola a mente das pessoas, confunde desonestidade com esperteza e provoca delírios.

Vacine-se aqui.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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Uma cena de desrespeito no trânsito

por Luis Borges 1 de novembro de 2017   Pensata

Passava das 22h de um sábado de outubro. Chovia bastante. Uma jovem senhora dirigia seu automóvel de pequeno porte, subindo uma rua de bairro. Ao seu lado estava o seu marido, também jovem. Era uma rua de mão dupla e naquele momento havia carros estacionados dos dois lados, mal respeitando os acessos às casas e edifícios. Ou seja, só havia passagem para um veículo, no centro da via.

Quando a jovem estava quase no meio do quarteirão veio uma caminhonete de grande porte em sentido contrário. O motorista da caminhonete viu que a rua só permitia a passagem de um veículo e que não havia nenhuma porta de garagem onde encostar. Mesmo assim, prosseguiu até se encontrar com o carro pequeno no meio do quarteirão. E cruzou os braços, como que dizendo “saia você”.

Apesar do aborrecimento mas sem querer brigar, a jovem senhora começou a andar em marcha a ré. A cada centímetro recuado, o motorista da caminhonete prontamente avançava o mesmo tanto, bufando e esbravejando. Chegou outro motorista pela rua estreita, se posicionando atrás do carro que tentava dar ré. Em seguida tentou ultrapassar pela direita. E a chuva continuava.

Com esforço, a jovem finalmente chegou ao fim da fila de carros. Agora havia algum espaço pela direita e pela esquerda. Imediatamente o motorista da caminhonete e o outro apressadinho tentaram ultrapassar o carro da motorista ao mesmo tempo, quase causando colisões laterais. O “bacana” da caminhonete foi embora, não sem antes gritar “aprende a dirigir”.

A motorista deixou os dois apressados passarem e depois seguiu seu caminho pela rua estreita. Mas ficou a constatação amarga e realista de que bom senso está em falta e de que uma parte pouco civilizada da sociedade quer impor aos outros, na marra e no grito, seu jeito de ser.

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Curtas e curtinhas

por Luis Borges 29 de outubro de 2017   Curtas e curtinhas

É dando que se recebe

Após a votação da Câmara dos Deputados enterrando a segunda denúncia da Procuradoria Geral da República contra o impopular Presidente do país fica visível como tudo ficou mais caro quando se compara com as negociações da primeira denúncia. O resultado final não deixa dúvidas ao mostrar 251 parlamentares a favor do arquivamento, 233 contra, 25 ausentes e 2 abstenções. Ou seja, uma diferença de 18 votos para a proposta vencedora. As negociações foram tão amplas que incluíram até a retomada dos voos de aeronaves de grande porte para o aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte, e a retirada do aeroporto de Congonhas, em São Paulo, da lista de privatizações. Vamos ver como ficará o tão falado equilíbrio das contas públicas.

Paralisia e reformas

O Governo Federal ficou paralisado em relação às Reformas Tributária e da Previdência Social após as denúncias feitas pelos empresários da JBS em 17 de maio. Lá se vão mais de 5 meses e agora voltou à pauta o desejo de aprovar a Reforma da Previdência Social antes do início das férias dos congressistas, em 20 de dezembro. Daqui até lá teremos os feriados nacionais de Finados, na quinta-feira 2 de novembro, e o da Proclamação da República, na quarta-feira 15 de novembro. Como essa Reforma foi prometida ao mercado, o que será possível aprovar do texto votado pela Comissão Especial da Câmara dos Deputados sobre o assunto? Será que a idade mínima de 65 anos para a aposentadoria de homens e 62 anos para mulheres, as regras de transição e o enquadramento dos servidores públicos e dos empregados privados no Regime Geral Único – com teto de R$5.531,31 para a aposentadoria – farão parte de um grande acordão para dar uma satisfação ao mercado? Os parlamentares sabem que disputarão eleições daqui 11 meses.

Bancos e aposentados

Uma pessoa que se aposentou pelo INSS na primeira semana de Outubro está reclamando da marcação cerrada que tem recebido de alguns bancos. A oferta de empréstimo financeiro com teto de 10 vezes o valor da aposentadoria de cerca de 4 mil reais, para desconto em folha durante 60 meses, vem sendo feita diariamente e começou uma semana antes do recebimento da carta de concessão enviada pelo INSS. Também estão sendo oferecidos plano funerário, com seguro de vida para o cônjuge que ficar viúvo primeiro, seguro para cobrir o roubo do cartão do segurado e abertura de conta corrente para depósito direto do benefício. Por que será que os bancos tem acesso aos dados do segurado antes mesmo que ele saiba que sua aposentadoria começou a vigorar?

Emendando feriados

O Supremo Tribunal Federal transferiu o ponto facultativo do sábado 28 de outubro, dia do funcionário público e que não é feriado nacional, para o dia 3 de novembro, sexta-feira. Assim, os servidores da casa terão um recesso de 5 dias, pois 1º de novembro é feriado no Poder Judiciário, 2 de novembro é feriado nacional de Finados e todos voltarão ao trabalho na segunda-feira 6 de novembro. Vale lembrar que o recesso do Poder Judiciário, determinado pela Lei 5.010/66, vai de 20 de dezembro a 6 de janeiro (18 dias) consecutivos e que as férias anuais de juízes, desembargadores, promotores e Ministros duram 60 dias. Além disso, existem os feriados nacionais com as respectivas emendas no Carnaval, Semana Santa, Corpus Christi, Independência, Padroeira do Brasil, o já citado Finados e a Proclamação da República, isso sem falar em feriados estaduais e municipais. Que outras causas podemos citar para entender a lentidão da Justiça no Brasil?

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O casal Nico e Carminha tem uma loja de médio porte que comercializa móveis residenciais e artigos de decoração num bairro tradicional de Belo Horizonte. Ao lado da loja deles existe uma padaria e confeitaria de propriedade do casal Beto e Rosinha. Os dois casais tornaram-se amigos e uma vez por semestre viajam juntos nesses feriados que caem numa terça ou quinta e que geram as emendas de uma segunda ou sexta.

No feriado de 12 de outubro eles se planejaram para passar quatro dias na cidade de São Paulo, onde chegaram logo no inicio da noite de quarta-feira e saíram no final da tarde de domingo. Os casais reservaram com um mês de antecedência num hotel médio confortável, 4 estrelas na antiga classificação, 2 apartamentos com ar condicionado não barulhento, cama de casal e café da manhã incluído.

Ao dar entrada no hotel começaram as primeiras dificuldades para que fosse entregue o que havia sido vendido ao ser contratada a prestação dos serviços de hospedagem.

Logo de cara uma fila para se fazer o check-in que andava lentamente. Uma primeira surpresa aconteceu na conclusão do processo de entrada no hotel, com a exigência de uma caução no cartão de crédito num valor equivalente ao dobro do preço projetado para as 4 diárias. É claro que em nenhum momento anterior foi informado que seria usado esse critério para garantir previamente o pagamento das despesas.

Após essa etapa foi feito o encaminhamento dos hóspedes para o décimo quinto andar e logo nas primeiras movimentações para se acomodarem, os casais amigos perceberam que o ar condicionado dos apartamentos não estava funcionando. O problema foi relatado à recepção do hotel com a exigência de manutenção imediata. Isso fez com que aparecesse o gerente para dizer que o defeito foi constatado antes das 18h, quando os casais ainda estavam na fila do check-in, e que infelizmente problemas desse tipo acontecem. Ele não soube explicar por que mesmo sabendo do defeito, ainda assim designou aqueles apartamentos para os hóspedes que estavam entrando no hotel, mas acabou admitindo que havia superlotação. Terminou propondo uma mudança para o 12º andar, onde os apartamentos possuem ar condicionado silencioso, uma varanda – minúscula por sinal – e duas camas de solteiro, do tipo para viúva, que poderiam ser emendadas.

A mudança foi aceita apenas para a primeira noite com a promessa de que no dia seguinte haveria nova troca para apartamentos do mesmo tipo dos que foram reservados assim que houvesse as duas primeiras vagas. O gerente também enviou um técnico da manutenção do hotel para juntar as camas, mas isso não foi possível devido às instalações fixas de um abajur e um rádio relógio que ficam sobre um criado colocado entre as camas. Qualquer modificação exigiria um novo layout para os apartamentos e tempo para sua implementação. O jeito foi pedir um desconto no valor das diárias, que o gerente fixou em 20%, e se conformar. Mudar de hotel naquele momento traria mais transtornos ainda devido à programação feita para aquela primeira noite na cidade.

Na manhã do dia seguinte houve até fila de espera para se tomar o café e o gerente de plantão ignorou solenemente o que havia sido combinado na véspera. Uma nova negociação, difícil e longa, estendeu o desconto da diária do primeiro dia para 32% e para os três dias restantes foi mantido em 20%. Os casais concluíram que, em função das várias variáveis que envolveram a escolha daquele hotel, o jeito seria ficar por ali mesmo, apesar de não ser exatamente como haviam planejado.

Os fundamentos da gestão de negócios nos ensinam que quando cliente adquire um bem ou serviço ele espera que tudo aconteça conforme os requisitos da qualidade especificados, que os preços sejam justos e que o atendimento seja feito rigorosamente dentro das condições contratadas. Isso é o mínimo que se deve esperar por parte do fornecedor. Mas infelizmente ainda estamos muito longe da excelência no atendimento.

Você já teve que enfrentar situação semelhante alguma vez na vida?

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E vamos à luta

por Luis Borges 22 de outubro de 2017   Música na conjuntura

A obra do economista, compositor e cantor Luiz Gonzaga Júnior, o Gonzaguinha (1945 – 1991) acaba sempre nos trazendo um alento também em momentos difíceis e incertos como os de agora. Se estamos a menos um ano das próximas eleições gerais e os políticos partidários prosseguem em suas tenebrosas transações em Brasília, há um outro Brasil que resiste, sem estar isento de alguns equívocos, e persiste de maneira difusa rumo às mudanças que se fazem necessárias em nome da sobrevivência da nação.

Se as perspectivas são de alto índice de renovação entre os postulantes, espero que ela ocorra em consonância com o aumento da capacidade das pessoas para separar o que é joio e o que é trigo em eleições de voto obrigatório, coligações partidárias e financiamento público das campanhas e autofinanciamento ilimitado. Se o que importa é não estar vencido, mas é preciso saber com quem caminhar e fazer alianças, que tal ouvir Gonzaguinha em sua música E vamos à luta, lançada em 1980, ainda nos tempos da ditadura militar?

E vamos à luta
Fonte: Letras.mus.br

Eu acredito
É na rapaziada
Que segue em frente
E segura o rojão
Eu ponho fé
É na fé da moçada
Que não foge da fera
E enfrenta o leão
Eu vou à luta
É com essa juventude
Que não corre da raia
À troco de nada
Eu vou no bloco
Dessa mocidade
Que não tá na saudade
E constrói
A manhã desejada...(2x)

Aquele que sabe que é negro
O coro da gente
E segura a batida da vida
O ano inteiro
Aquele que sabe o sufoco
De um jogo tão duro
E apesar dos pesares
Ainda se orgulha
De ser brasileiro
Aquele que sai da batalha
Entra no botequim
Pede uma cerva gelada
E agita na mesa
Uma batucada
Aquele que manda o pagode
E sacode a poeira
Suada da luta
E faz a brincadeira
Pois o resto é besteira
E nós estamos pelaí...

Acredito
É na rapaziada
Que segue em frente
E segura o rojão
Eu ponho fé
É na fé da moçada
Que não foge da fera
E enfrenta o leão
Eu vou à luta
É com essa juventude
Que não corre da raia
À troco de nada
Eu vou no bloco
Dessa mocidade
Que não tá na saudade
E constrói
A manhã desejada...

Aquele que sabe que é negro
O coro da gente
E segura a batida da vida
O ano inteiro
Aquele que sabe o sufoco
De um jogo tão duro
E apesar dos pesares
Ainda se orgulha
De ser brasileiro
Aquele que sai da batalha
Entra no botequim
Pede uma cerva gelada
E agita na mesa logo
Uma batucada
Aquele que manda o pagode
E sacode a poeira
Suada da luta
E faz a brincadeira
Pois o resto é besteira
E nós estamos pelaí
Eu acredito
É na rapaziada!
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Acabaram de passar o dia e a semana das crianças. O 12 de outubro foi o epicentro da comemoração e da comercialização que a data enseja em função do sentido e do valor que a fase de criança tem para a vida de todos. Nesse sentido é importante realçar que a indústria e o comércio contavam com o momento para ajudar a despiorar seus negócios, já que ainda é muito tímida e incipiente a recuperação da economia brasileira.

Vale também lembrar que na mesma data ocorreu a celebração dos 300 anos da data em que a imagem de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, foi encontrada por três pescadores nas águas do rio Paraíba do sul.

Também é importante ter em mente que o dia da criança foi definido por lei de 1925, quando Arthur Bernardes era Presidente da República, e que o Estatuto da Criança e do Adolescente considera criança quem tem até 12 anos de idade.

Meu ponto aqui, porém, é simplesmente lembrar, sem saudosismo mas com alegria, os brinquedos e as brincadeiras da minha infância. Quem fizer as contas perceberá que ela já é cinquentenária, pois completei 12 anos de idade em outubro de 1966, e todo esse período foi vivido na minha querida e eterna cidade de Araxá, que considero ser a capital secreta do mundo. Minhas primeiras lembranças são do ano de 1960, quando eu tinha 5 anos e em Araxá moravam 28.626 pessoas segundo o UniAraxá.

Eu me lembro bem que não ganhava presentes pelo dia das crianças e que as comemorações do dia aconteciam no Grupo Escolar Pio XII, onde fiz o curso primário. Aconteciam diversas brincadeiras, como as corridas em que os participantes entravam dentro de um saco de linho e, quando era dada a largada, os competidores saíam pulando de forma semelhante a um sapo para percorrer um espaço de 25 metros no pátio da escola. Também brincávamos de corrida, carregando em uma das mãos um ovo de galinha cozido colocado numa colher. Outra lembrança é do desafio de comer um biscoito de polvilho suspenso num cordão, em altura desafiadora, e sem usar as mãos. Tudo terminava com um lanche especial, a grande atração que encerrava a festa de cada turno escolar.

Os brinquedos eram ganhados por ocasião do Natal, sempre comprados por meu pai na Casa Mineira de Dona Carlota na noite do dia 24. Era um a cada ano e a quantidade só aumentava se algum padrinho ou madrinha resolvessem fazer uma surpresa.

Fazendo uma lista rápida dos presentes – que deveriam ser bem cuidados para durar o maior tempo possível – me lembro de um caminhão de madeira de médio porte, de um jogo de varetas coloridas, da piorra, de um revólver sem espoleta, de um jogo de cartas contendo casais de animais para formar pares e um mico preto para sobrar na mão do perdedor, de uma gaita e de uma bola de futebol. Entre os brinquedos feitos em casa posso destacar os papagaios com rabo de argola, as pipas, os currais de uma fazenda contendo bois e vacas feitos com chuchu ou manga e a bola de meia. Já entre os que eram comprados com uma pequeníssima quantidade de Cruzeiros, a moeda da época, destaco as bolinhas de vidro ou de gude, de menor diâmetro tanto as de cor única quanto as multicoloridas e as “bilocas”, de diâmetro maior e cor única.

Nessa época eram bem definidos o que eram os brinquedos para meninos e os que eram para as meninas.

E você? Conseguiu se lembrar dos brinquedos e brincadeiras do seu tempo de criança?

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