O IBGE divulgou recentemente os dados da PNAD Contínua relativos a 2017, ano marcado pela entrada em vigor de uma lei que ampliou bastante o espectro para a contratação de trabalhos terceirizados e da reforma trabalhista que criou, por exemplo, a prevalência do negociado sobre o legislado e o regime de trabalho intermitente.

Chama a atenção o estrago, feito pela recessão econômica, na quantidade de pessoas trabalhando com a carteira profissional assinada. Em 2014 eram 36,6 milhões e em 2017 passou a ser de 33,3 milhões, ou seja, o desaparecimento de 3,3 milhões de vagas com carteiras assinadas em 3 anos.

A pesquisa mostrou, também, que em 2017 o trabalho informal, seja sem carteira ou por conta própria, superou pela primeira vez o trabalho formal registrado em carteira, conforme determinado pela Consolidação das Leis do Trabalho, criada em 1943.

O último trimestre do ano também mostra que a taxa de desocupação caiu na comparação com o trimestre anterior, obviamente influenciada pelas outras modalidades de trabalho que prescindem da carteira assinada. No fundo, fica evidente que a conjuntura continua sendo de sobrevivência e que 12,3 milhões de pessoas estão simplesmente desempregadas. Isso sem levar em conta aquelas que desistiram de procurar trabalho nos últimos 30 dias e não são consideradas pela metodologia da pesquisa.

O rendimento médio da população fechou 2017 em R$2.154, mostrando crescimento de 1,6% ou R$34 em relação ao ano anterior, índice bem abaixo da inflação do período. Também pudera, pois as remunerações seguem sendo achatadas e se o empregado é demitido ou até mesmo se aposenta, caso seja substituído, geralmente entrará em seu lugar alguém com salário menor.

Aqui vale também observar a metamorfose pela qual passa atualmente a contratação de terceirizados pelas grandes empresas dos segmentos de mineração, metalurgia, telecomunicações, energia, automotivo e infraestrutura, para citar apenas alguns. Geralmente é grande a chance de tudo mudar para pior, principalmente em relação à remuneração e condições de trabalho das pessoas da terceirizada que vencer a concorrência. Parte-se da premissa de que a contratante quer um lucro maximizado para remunerar seus acionistas e que as demais variáveis devem se adequar para viabilizar o negócio. Para também ter algum lucro resta ao terceirizado esfolar e sangrar os seus trabalhadores e fornecedores. E nessa lógica a hierarquia das necessidades humanas preconizadas por Maslow nunca vai além das fisiológicas.

Quando será que metamorfoses como essas chegarão aos serviços públicos do Poder Legislativo, Judiciário, Ministério Público e Tribunais de Contas?

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O calor que dá sinais

por Luis Borges 5 de fevereiro de 2018   Alguma poesia

Enquanto o dia cresce
o calor aumenta.

A sensação térmica
também se acentua
para muito além
do que o termômetro mede
na plenitude desse verão.

Constato mais uma vez,
no casulo da inércia
de todos que não veem,
que o aquecimento global
só prossegue avançando
e ajudando a prevalecerem
os extremos do calor da estação.

Até que outro extremo
se manifestará
no contraste com o inverno.

Faço da constatação dos contrastes
inspiração para os versos da poesia.
Como se isso fosse
um alento para atenuar
o aquecimento irradiante,
a aumentar o efeito estufa,
pela ação sem limites
dos próprios habitantes desta Terra
que marchando neste ritmo
tornarão tudo insustentável.

Nem mais será necessário
exclamar "que calor"!
Nosso lamento de agora
que sequer será balbuciado.
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As vaias fazem parte do risco

por Luis Borges 31 de janeiro de 2018   Pensata

Se a vida é um risco e viver continua cada vez mais perigoso, o mínimo que nos resta é fazer a gestão desse risco em função das variáveis que dependem só de nós e sobre as quais temos autoridade. Assim, pelo menos, reduziremos um pouco os impactos que serão causados pelo imponderável, pelos parâmetros externos determinantes dinamicamente de nossos posicionamentos e reposicionamentos. Ter sucesso na vida pessoal, familiar e profissional é o que todos querem, principalmente quando ele vem acompanhado de aplausos e de reconhecimentos. Estar bem na fotografia também ajuda a liberar as endorfinas que nos estimulam a prosseguir.

Mas, o que e como fazer se no lugar dos aplausos vierem as vaias, os apupos, os xingamentos e os assobios? Primeiramente é importante saber perceber e entender os sinais que estão sendo enviados pelos diversos segmentos em conflito, numa sociedade que nem sempre se pauta por atitudes civilizadas mas que prima pelas polarizações que passam por variações à esquerda, ao centro e à direita. Uma coisa é atuar para construir a hegemonia de uma determinada visão da sociedade organizada dentro das regras de um jogo democrático. Outra bem diferente é querer impor na marra e no abuso das regras outras visões que também querem o poder ou nele se manter.

É sempre importante aprender com os erros e fracassos, principalmente com os dos outros. Boas lições podem ser tiradas quando se vê um Ministro da mais alta corte da justiça no país, indicado para o cargo vitalício pelo Presidente da República, ser vaiado dentro e fora do Brasil. Até parece que ele gosta de ficar “no olho do furacão”, mas também é notório seu sorriso amarelo e o constrangimento que o corpo denuncia. Também pudera, arrogância pouca é bobagem. Mas segundo o cantor e compositor Billy Blanco em sua música A banca do distinto, “mais alto o coqueiro, maior é o tombo do coco afinal”. Enquanto a história segue seu curso, por que não se tornar tema de marchinha de carnaval?

Deputados, Senadores, Ministros e ex-Ministros, para citar apenas algumas autoridades, também seguem colhendo sinais das insatisfações que tem causado.

Vamos acompanhar os acontecimentos tentando compreender o conjunto de causas que podem levar um processo ao fracasso e com ele trazer as vaias – de maneira bem diferente do que numa partida de futebol.

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A febre amarela está, com destaque, entre as preocupações do cotidiano das pessoas e das autoridades governamentais atordoadas com a volta da doença que era considerada controlada. As abordagens feitas pelas diversas mídias destacam a desinformação, os descuidos em áreas de risco, os sintomas da doença, a dose única integral da vacina ou seu fracionamento, os postos públicos ou privados com vacinas disponíveis ou não, o cartão com registro da vacina e as justificativas governamentais diante do despreparo para enfrentar rapidamente o surto.

Enquanto pouco se fala sobre as formas de evitar o mosquito transmissor do vírus, um bom destaque tem sido dado às atualizações das estatísticas – sempre crescentes – com o número de pessoas mortas ou casos de suspeitas de contaminação em análise nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Como também é importante olhar para trás, para o passado, para melhor compreender o presente e enxergar possíveis soluções para o futuro, registro aqui algumas datas marcantes da presença da febre amarela no Brasil a partir de 1685, segundo a Wikipédia.

A primeira referência à febre amarela no Brasil data de 1685, com a ocorrência de surto no Recife, em Olinda, na Ilha de Itamaracá e em Goiana na Capitania de Pernambuco. O vírus da febre amarela e o Aedes aegypti vieram juntos da África, nos navios negreiros. Tempos depois atingiu a população de Salvador, onde causou cerca de 900 mortes durante os seis anos em que ali esteve. A febre amarela foi reintroduzida em 1849 (primeira grande epidemia ocorrida na capital do Império, o Rio de Janeiro), quando um navio americano chegou a Salvador procedente de Nova Orleans e Havana, infectando os portos e se espalhando por todo o litoral do Brasil.

Uma grande epidemia de febre amarela matou mais de 3% da população da cidade brasileira de Campinas no verão do ano de 1889. Adolfo Lutz, em suas reminiscências sobre a febre amarela, calculou em três quartos a população que deixou Campinas em direção a outras cidades, fugindo da febre amarela.

Em 1895, o navio italiano Lombardia foi acometido de febre amarela ao visitar a cidade do Rio de Janeiro, onde quase não existia esgoto e a infraestrutura sanitária era extremamente precária.

Outras datas:

·         1902 – Sorocaba (SP), foi realizado o 1.º Combate ao vetor da doença, sob a orientação de Emílio Ribas.

·         1903 – Oswaldo Cruz, iniciou a Campanha contra a febre amarela no Rio de Janeiro.

·         1928 – A doença reaparece no Rio de Janeiro, causando 436 mortes. Iniciada, a nível nacional, campanha contra a febre amarela, resultado do contrato assinado com a Fundação Rockefeller.

·         1940 – Foi criado, no Brasil, o “Serviço Nacional de Febre Amarela”.

·         1957 – Após ampla campanha de combate ao Aedes aegypti, essa espécie foi declarada erradicada do Brasil, na XV Conferência Sanitária Pan-americana.

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Quem cuidaria do tio Zé?

por Luis Borges 25 de janeiro de 2018   Pensata

Uma sobrinha por parte de mãe foi visitar tio Zé, 60 anos de idade, que morava numa pequena casa alugada na região de Venda Nova em Belo Horizonte. O Zé era separado da esposa há muitos anos e não tiveram filhos. A sobrinha, que é enfermeira de nível superior com mestrado, se assustou ao verificar uma piora acentuada no estado clínico do tio, que tinha distrofia muscular. Aliás, essa foi a causa da morte dos dois irmãos do Zé. Restaram-lhe duas irmãs, Mariazinha, 71 anos, três filhas e dois filhos, e Neuzinha, 66 anos e uma filha.

Percebendo a gravidade da situação, a sobrinha enfermeira providenciou a internação do tio num hospital filantrópico, mesmo com as dificuldades e obstáculos cada vez maiores nas coisas ligadas à saúde. De cara, no primeiro dia de internação, Mariazinha perguntou aos membros da família quem cuidaria do tio Zé quando ele deixasse o hospital, mas já respondendo que não seria ela devido à precariedade da sua própria saúde.

Por sua vez, Neuzinha disse quase que imediatamente que também não poderia cuidar do seu querido irmão. Ela justificou sua impossibilidade devido à sua condição física desfavorável em função do peso bem acima do desejável, dos ossos descalcificados, da glicose altamente variável e de suas frequentes alergias respiratórias. Foi nesse clima que tio Zé encerrou seu curso de vida no final do oitavo dia de internação hospitalar.

Se de um lado as preocupações cessaram, já que ninguém precisaria de cuidar mais dele, veio por outro uma surpresa para muitos. Nos preparativos para o velório e sepultamento do tio Zé, sua irmã Neuzinha começou a procurar as sobrinhas e sobrinhos propondo que se fizesse uma “vaquinha” entre eles para cobrir as despesas, pois ela mesma não tinha condições para tal. Foi aí que Mariazinha lembrou a todos que tio Zé havia deixado recursos financeiros suficientes para cobrir todos os gastos após a sua morte. Arrematou dizendo que a conta da caderneta de poupança era conjunta com Neuzinha e que ela pegou o dinheiro emprestado com o irmão após uma necessidade urgente.

Como as pessoas se revelam mais cedo ou mais tarde, uma das sobrinhas se viu obrigada a emprestar seu cartão de crédito à tia para cobrir os gastos, que foram divididos em cinco parcelas que posteriormente serão ressarcidas à credora. Dá até para imaginar o pânico da tia caso não aparecesse alguém para salvá-la desse imbróglio.

Como rolo só chama mais rolo essa mesma irmã do tio Zé começou a discutir, no dia seguinte ao sepultamento, a destinação dos eletrodomésticos, aparelhos eletrônicos e móveis deixados pelo irmão. E já se colocando como a merecedora de tudo devido às suas dificuldades atuais e porque visitava o irmão pelo menos uma vez por mês.

Após a celebração da missa de 7º dia do passamento, Neuzinha soube que todos concordaram com o seu pleito, mas solicitaram que ela rescindisse imediatamente o contrato de aluguel da casa onde ele morava, pois a aposentadoria do tio Zé deixou de existir. E foi cada uma das irmãs para o seu lado, mas Mariazinha saiu falando para suas filhas e filhos que todos deveriam ficar alertas pois Neuzinha poderia reaparecer a qualquer momento trazendo outros problemas para todos resolverem.

Você se lembra de ter vivido ou tomado conhecimento de uma situação semelhante a essa no âmbito de parentes, amigos ou colegas de trabalho?

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Plano de voo

por Luis Borges 21 de janeiro de 2018   Música na conjuntura

Já se passaram 21 dias do novo ano e não faz nenhum mal perguntar se o plano de voo que norteará sua vida rumo ao atingimento de suas metas já está pronto e sendo praticado. Afinal de contas, no crepúsculo do ano que se findou muitas foram as premissas anunciadas para balizar um novo modo de ser e de se posicionar em busca de uma vida mais equilibrada em função da prevalência da sabedoria nesses tempos tão difíceis.

Se nada ou quase nada foi feito e o que ainda predomina é o discurso “da boca pra fora” para alimentar o autoengano, saiba que ainda dá tempo para se reposicionar e deixar a inércia pra lá. O que não dá é pra passar o ano apenas reclamando de tudo e de todos, tanto nos poucos contatos presenciais com outras pessoas quanto no conforto estático das emissões tóxicas digitais das redes sociais.

Nesse sentido vale a pena ouvir Plano de voo, uma canção de 1975, música e letra do cantor e compositor Luiz Gonzaga Júnior, o Gonzaguinha (1945-1991).

Plano de voo
Fonte: Letras.mus.br

A ave levanta vôo e vai em busca da quente luz do sol
(Um ninho é preciso noutro lugar onde agora o campo explode em flor)
Cuidar do novo ovo
A nova cria
O novo dia
O novo...
...Amanhã
A nova vida, a calma, o agasalho, pelo menos do campo o calor
Voar se possível no frescor do despertar sereno da manhã
Pegar a asa morna desse vento sul
Voando sempre em bando sobre os perigos desse imenso mar azul
Da flecha, em formação, voando sempre no sentido de chegar
Da arma oculta no capinzal quantos? Quais escaparão
Do olho, dedo no gatilho, do engodo
(O apito chama a atenção)
Do laço, arapuca, armadilha
Quantos, quais mesmo assim, prosseguirão
Voar se possivel......
Mar azul.
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É muito comum encontrarmos pessoas reclamando da falta de tempo ou justificando que deixaram de fazer algo também devido à mesma falta de tempo. Imagine quantas horas são gastas ou perdidas pelas pessoas em reuniões durante um dia, uma semana ou um mês.

Sempre que usamos a expressão “falta de” para tentar explicar ou justificar algo deveríamos saber com clareza que a “falta de” não é um problema, mas sim uma de suas causas. Conceitualmente, problema é o resultado indesejável de um processo e identificá-lo pode ser até metade da sua solução. Aí basta atuar nas suas causas, a começar pelas prioritárias, tomando as medidas necessárias para solucioná-lo.

Um bom exemplo de problema é o alto índice de reuniões improdutivas que acontecem no local de trabalho, com a participação de muitos convocados e outros convidados. Quanto maior o porte da organização humana – notadamente as empresas e órgãos governamentais – maior é o “pudim de reuniões”. Em reuniões improdutivas é muito comum que elas cheguem ao final tendo como resultado mais visível apenas a marcação da data do próximo encontro.

Para resolver o problema das reuniões improdutivas podemos começar por nos perguntar sobre a real necessidade de fazer o encontro. De repente podem existir outros meios e formas até mais rápidas para discutir os assuntos e tomar decisões.

Caso se conclua que a reunião é realmente necessária, então será preciso definir a pauta, os temas que serão abordados com respectivo tempo de duração, os participantes fixos, os convidados temáticos que só participam do momento da sua especialidade e a definição do coordenador da reunião, que terá a obrigação de ser bastante objetivo e focado na obtenção dos resultados esperados. Nesse sentido é fundamental que todos os participantes recebam uma convocação prévia para a reunião e que estejam preparados, com um conhecimento que lhes permita discutir e decidir sobre a pauta conforme suas atribuições.

É claro que o coordenador da reunião deve ter experiência suficiente para identificar rapidamente os estilos dos participantes – os apáticos, os que pensam que sabem tudo, os que abrem discussões paralelas, os que ficam de olho no celular, os navegantes de redes sociais e os que tentam conduzir a reunião no lugar do seu coordenador.

Outra premissa importante para que a reunião seja produtiva é o combate ao “achismo”. Os participantes devem falar e se posicionar em cima de fatos e dados, pois estamos na era do conhecimento. Tudo isso deve acontecer rigorosamente entre a hora marcada para o início e o término da reunião, cabendo ao coordenador não fazer concessões aos participantes que não são pontuais pois, no mínimo, isso pune aqueles que cumprem os horários combinados, inclusive os convidados temáticos. É importante também registrar em ata, com clareza e objetividade, as decisões tomadas e os próximos passos, se houver.

Não sei se o que abordei aqui reflete situações que você, caro leitor, tem vivido em seu local de trabalho, mas mesmo assim vale a pena refletir sobre esse problema crescente em nosso meio.

Numa outra oportunidade tentarei apresentar minhas observações sobre reuniões em condomínios residenciais e comerciais, bem como em sindicatos, partidos políticos e escolas.

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