Faltando apenas 6 meses e 10 dias para as eleições de outubro, verifico o quanto o tempo está passando rápido e o assunto vai entrando mais nas conversas. A incerteza só ajuda a aumentar a ansiedade de quem tem expectativas bem maiores que a realidade. Isso fica cada vez mais visível quando observados e analisados os polos formados na sociedade, com espectros que vão de Extrema Esquerda a Extrema Direita passando pelo Centro e dele também surgindo variações à Esquerda ou à Direita. Tudo isso apesar daqueles que dizem não existir mais essa categorização para os posicionamentos políticos sem, contudo, apresentar alternativas consistentes para abordar a questão.

O fato é que o pragmatismo orienta o foco rumo ao poder ou à manutenção de quem nele está. Nesse momento percebo, por exemplo, 11 pré-candidatos se posicionando para a disputa da Presidência da República, muitos grupos e polos sonhando em ter presença ou aumentar suas bancadas nos parlamentos. O engenheiro Leonel de Moura Brizola afirmava que “quanto maior a frente, menor o programa”. O que já foi proposto genericamente como “programa” pelos postulantes aos cargos tem sido devidamente acompanhado pelo “como” tudo será implementado para a obtenção de resultados positivos? Não basta dizer de maneira ampla num viés à esquerda que é preciso ter um estado de bem estar social, mais igualitário, com políticas sociais compatíveis com o equilíbrio das contas públicas ainda que com menor crescimento econômico. Muito menos num viés à direita falar em maior desigualdade em prol do crescimento econômico, menor carga tributária e com menor oferta de serviços públicos e seguro social. É claro, também, que o polo centrista vai falar em equilíbrio e apelar para a não radicalização da sociedade, tudo isso no regime capitalista hegemonizado pelo capital financeiro enquanto a luta de classes se aguça.

Como e em quem a sociedade votará se neste momento as pesquisas de opinião retratam que 48% dos eleitores não tem simpatia por nenhum partido político e que outros 5% não se manifestaram sobre o assunto? Fico também pensando no interesse dos eleitores pelas eleições. Imagine que a primeira pergunta das pesquisas fosse sobre o interesse do eleitor em comparecer às urnas, mesmo diante da obrigatoriedade do voto. Estimo que poderemos chegar a algo em torno de 50% de não votantes, por meio de votos nulos e brancos bem como das abstenções.

Vamos ver como estarão as coisas daqui a um mês enquanto as nuvens vão se modificando diante das novidades da conjuntura e dos cenários sempre mutantes. Só falta aparecer alguém casuisticamente propondo que as eleições sejam transferidas para 2020 visando à unificação de todos os mandatos com as disputas eleitorais acontecendo de 4 em 4 anos para ajudar no equilíbrio das contas públicas… Será? O impopular Presidente da República voltou a sonhar com a Reforma da Previdência Social a partir de setembro…

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Vale a leitura

por Luis Borges 26 de março de 2018   Vale a leitura

Poupar para a aposentadoria é necessário

A Reforma da Previdência Social estava no telhado e o Governo Federal não tinha votos suficientes para aprová-la, inicialmente na Câmara dos Deputados. A saída pela tangente veio com a intervenção federal na segurança pública do estado do Rio de Janeiro, o que jogou a discussão para o ano que vem, no mínimo. Mas para quem conta apenas com o INSS para se aposentar com valores que vão de R$954,00 a R$5.645,81 o jeito é fazer uma poupança própria, independente de qualquer Reforma da Previdência Social. É o que aborda o artigo Com ou sem Reforma da Previdência, 4 motivos para poupar para a aposentadoria, publicado pelo portal UOL.

“A aposentadoria é sustentável quando o trabalhador consegue manter a qualidade de vida apenas com o dinheiro de sua aposentadoria, sem precisar continuar trabalhando nem pedir ajuda a outras pessoas”.

Padrões exigem revisões periódicas

Quando se padroniza um determinado processo de produção de bens ou de prestação de serviços não significa que o padrão estabelecido será para sempre. Periodicamente ele precisa ser revisado para verificar a sua validade ou em função de novas exigências dos clientes, que forçam a busca pela melhoria contínua e impulsionam os saltos de qualidade através da inovação. Imagine como funciona no dia-a-dia, ao longo dos tempos, a prática dos padrões – protocolos – da área da saúde numa consulta médica ou numa internação hospitalar para resolver um problema mais complexo. Um bom exemplo é mostrado por Cláudia Collucci em seu artigo Médicos devem resistir à industrialização da profissão.

“Aos 96 anos, Bernard Lown esteve internado para tratar de uma pneumonia e ficou bem irritado com o modus operandi do hospital, ambiente que ele definiu como uma fábrica: “provoca todas as dores e trata todas as anormalidades laboratoriais, mas faz pouco para curar seus pacientes”.

Ele se queixou, por exemplo, da verificação dos sinais vitais (temperatura, pressão arterial e frequência respiratória) a cada quatro horas, prática incorporada na rotina dos hospitais nos Estados Unidos desde a década de 1890.

A questão é que os dados mostram que cerca de metade dos pacientes de um hospital são despertados desnecessariamente para tais verificações. “Como é possível descansar (e melhorar o estado clínico geral) com tanta gente te cutucando e te irritando?”, queixou-se Lown.”

A autonomia universitária é constitucional

O recente caso em que o Ministro da Educação questionou a Universidade de Brasília pela criação de uma disciplina eletiva no curso de graduação em Ciência Política intitulada “O golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil” traz à tona a autonomia universitária, assegurada pela Constituição Brasileira.

Também a Universidade de Campinas criou uma disciplina optativa sobre o mesmo tema e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte já anunciou que também fará a mesma coisa. Sabine Riguetti, jornalista especializada em ciência e educação, aborda o assunto em seu artigo Melhores universidades do mundo criam disciplinas seguindo demanda dos alunos.

“Em universidades como Harvard, as disciplinas são mantidas se tiverem demanda. Um professor pode criar e ofertar um curso que considere fantástico, mas que, sem alunos, estará fadado a desaparecer. Ainda não há dados sobre a proposta da Unicamp, mas o curso da UnB está com lista de espera.

Mais: em boas universidades do mundo, os alunos tendem a fazer disciplinas fora da sua área e, inclusive, inscrevem-se em tópicos com os quais discordam. Nos primeiros dias de aula, os alunos de universidades de ponta como Harvard frequentam os cursos previamente selecionados para conhecer detalhes do programa e, também, para entender como pensam os professores. Se concordarem com o professor, alguns ficam. Se discordarem, outros também ficam justamente porque esses estudantes são treinados a ouvir os argumentos de quem pensa diferente deles. É assim que se dão os debates de qualidade.”

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Sabemos da biologia, mais especificamente da zoologia, que a ecdise é basicamente uma troca de pele que acontece na vida de diversos animais, que sempre buscam tirar um melhor proveito nesse processo de metamorfose.

Guardadas as devidas proporções, digamos que algo análogo está acontecendo nesse período de um mês, cuja contagem se iniciou em 7 de março, conhecido como janela partidária. Esse período tem como uma de suas principais características a possibilidade dos parlamentares trocarem de partidos políticos sem correr o risco de perderem o mandato. Afinal de contas o mandato pertence ao partido e, fora dessa data, só com muito conchavo o parlamentar não perde o mandato. Só neste inicio de temporada 17 Deputados Federais já trocaram de partido enquanto outros só o farão no final do período por estarem aguardando qual será a melhor oportunidade de troca. Ainda assim é importante lembrar que desde o início da atual legislatura, em 2015, a Câmara já registrou 189 trocas partidárias envolvendo 135 deputados. Entre eles, um deputado trocou de partido 4 vezes, outros parlamentares trocaram por três ou duas vezes. É tudo muito flexível para melhor se manter.

No troca-troca partidário os partidos políticos também fazem as suas metamorfoses tentando aumentar as suas bancadas e margens para negociação daquilo que for do seu interesse. Isso é feito com cara de paisagem das mais lerdas, pois o que não é levado em conta é o programa partidário.

Para a maioria esmagadora dos casos, muda-se com imensa naturalidade do Partido Progressista (PP) para o Partido Popular Socialista (PPS) ou do Partido Comunista do Brasil (PC do B) para o Partido Socialista Brasileiro (PSB). Num piscar de olhos é melhor se reposicionar para as eleições que estão chegando. Vale também deixar de ser partido – PMDB – para voltar a ser um movimento – MDB – ou simplesmente trocar a inexpressiva marca atual, sem mexer no conteúdo, por outra mais chamativa e exortativa do tipo Avante, Podemos… Também pudera, o país hoje tem 35 partidos políticos em funcionamento outros 72 tentando ser aprovados.

Diante da enorme rejeição pela qual estão passando os políticos e seus partidos, o que conta mesmo é se manter no poder, custe o que custar, mesmo diante de da mais recente pesquisa do Ibope mostrando que 48% dos entrevistados não tem simpatia por nenhum partido político e 5% não souberam ou não responderam. Feio mesmo é perder as eleições, a vida no poder, o foro privilegiado, o auxílio moradia, o jatinho da FAB…

Enquanto isso, de metamorfose em metamorfose, as cúpulas partidárias prosseguem fortes e decidindo como caciques os rumos dos partidos, a começar por definir como serão distribuídos os recursos do recém criado Fundo Eleitoral de R$1,7 bilhão e do Fundo Partidário. O sistema político-partidário se reinventa para se manter sendo o mesmo no domínio permanente do poder. Mesmo fazendo uma reforma, um remendo aqui ou ali, cedendo um ou outro anel acolá, mas sem perder as mãos.

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Parece que foi ontem, mas lá se vão quatro anos de postagens ininterruptas aqui no Observação & Análise sendo que a primeira vez aconteceu em 18 de março de 2014. A hora é de agradecer e celebrar – com a equipe de trabalho, convidados, leitores, difusores em outras mídias e alguns patrocinadores – tudo o que já foi feito na esperança de prosseguir observando, analisando e postando na sequência do tempo que não para.

Pessoalmente fico feliz ao me lembrar como tudo começou em 2013, quase que num lampejo bem semelhante ao que descrevem João Nogueira e Paulo César Pinheiro na música “Poder da criação”. O sonho cresceu e o blog virou um propósito, que se transformou em meta um pouco depois. Daí veio a elaboração do plano de ação para se atingir a meta, que exigiu muita transpiração com mais um pouco de inspiração, formulações e reposicionamentos para finalmente começar a operar o que foi planejado.

Entre o lampejo inicial e a primeira postagem passaram-se 10 meses. É por isso que relembro nesta data o primeiro post do blog, mostrando o que “A História registrou” em 18 de março, e também a pensata “A enchente das goiabas”, a primeira de muitas postadas neste espaço e que é um marco significativo na caminhada deste blog.

Continuemos a caminhar.

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Tempo perdido no médico

por Luis Borges 14 de março de 2018   Pensata

Uma jovem cliente de um plano de saúde marcou uma consulta com uma médica especialista em otorrinolaringologia, profissional de quase 4 décadas de experiência. Para a consulta, a jovem escolheu uma unidade própria de seu plano, onde há atendimento para diversas modalidades. A médica atente ali e também em sua clinica particular, mas com horários mais restritos.

A consulta foi marcada para as 11 horas de uma quarta-feira, logo no primeiro horário da especialista. A cliente chegou ao local da consulta com antecedência de 10 minutos e se posicionou em frente ao consultório numa cadeira pouco confortável. Às 11h15, sem notícia da médica, uma pessoa do serviço de limpeza entrou na sala e lá permaneceu durante outros 15 minutos. Alguns minutos depois finalmente chegou a médica que imediatamente chamou uma cliente – que não era a que estava marcada para o primeiro horário.

Às 11h38 a primeira pessoa atendida deixou o consultório chamando a jovem paciente a entrar na sala. A médica estava de cabeça baixa, não respondeu ao cumprimento de “bom dia” e já foi perguntando porque ela foi lá e o que estava acontecendo. A jovem não respondeu de pronto e perguntou à médica a razão de tanto atraso para atender quem marcou o primeiro horário.

A inesperada pergunta fez com que a médica levantasse o rosto e olhasse para a cliente pela primeira vez e disparasse o seu rosário de justificativas, entre elas a de que precisou passar em sua própria clínica antes, pois atende lá a partir das 8h30 e que acabou se atrasando. Também disse que atendeu outra pessoa antes por se tratar de uma emergência, aliás, uma justificativa usada com muita frequência por outros profissionais do segmento. A cliente replicou dizendo à medica que, independente das suas justificativas, se sentia totalmente desrespeitada como cliente por não ter sido atendida no horário combinado. E mais, só marcou a consulta naquele local e horário porque começa a trabalhar às 13h na região oposta da cidade e que fazia parte do seu planejamento almoçar com tranquilidade antes de chegar ao trabalho.

A consulta prosseguiu com a informação da cliente sobre uma irritação no nariz que surge “do nada” e que parece ser causada por alergia a alguma coisa. A médica fez observações rápidas, em tom professoral e “despachou” a paciente, sugerindo que marcasse outra consulta para outro procedimento. Quando a paciente saiu da sala eram 11h46. Vale lembrar que a Organização Mundial da Saúde estabelece que uma consulta médica deve ter duração mínima de 15 minutos.

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* por Sérgio Marchetti

Outro dia um amigo me procurou e me convidou para tomarmos um café. Combinamos um horário. Confesso que senti preguiça de ir. Estamos perdendo o hábito de conversar pessoalmente. Pensei em dar uma desculpa, inventar outro compromisso. Mas lá estávamos nós. Trocamos novidades, falamos mal do governo e da vergonha de sermos brasileiros. Reclamamos da vida difícil, da crise, da injustiça social, falamos dos filhos e nos percebemos tristes. Sabem, pacientes leitores, quando a conversa não rende? Fez-me lembrar daqueles fuscas antigos que depois de empurrados pareciam que iam pegar. Mas, aos poucos, iam falhando e morriam novamente. Nosso diálogo estava assim. Dava um lampejo e se apagava.

Então resolvi botar fogo na conversa e quebrar aquele gelo, já que hoje é comum até enxugá-lo. Dei um empurrão ladeira abaixo. Perguntei como estão as finanças e os trabalhos. Naquele momento vi lágrimas verterem nos olhos do meu amigo. Ele disse que estava muito mal e que nem seus parentes sabiam.

– Estou com depressão, tonturas, mas nem plano de saúde eu tenho. Meus filhos estão na “luta”, porém não conseguem nada sem uma indicação forte.

– Você quer dizer indicação política – comentei.  E meu amigo concordou.

– Porque você não conversa com seus familiares? – perguntei.

E a resposta foi que ninguém tem paciência para ouvir quem está passando por dificuldades. E concluiu:

–  O mundo é capitalista e as pessoas imediatistas. E, mesmo que um dia eu tenha sido importante e bem de vida, quando o dinheiro sai por uma porta, os amigos saem pela outra.

– E se você fechar a porta, eles escapam pelas janelas – completei, e rimos sorrisos tristes.

Que os amigos e familiares se distanciam, não tenho a menor dúvida. Mas disse a ele que, em momentos como esse que está passando, o ideal é procurar um psicólogo. Não podendo, teria que apelar para pessoas que estejam na mesma busca, vivendo problemas parecidos. Mas desde que ainda não tenham desistido de seus objetivos. Caso contrário, o único trabalho que terão será o de carpideiras.

– Há momentos – e são muitos – em que precisamos de um ombro amigo e não apenas de dinheiro – afirmei.

Meu amigo concordou e, novamente com lágrimas nos olhos, disse que nesses momentos desejamos o colo da mãe e a mão estendida de alguém que não nos critique, mas que apenas nos compreenda.

– Quanto melhor a situação das pessoas, menor será a empatia com os necessitados – concluí.

– Sorte, azar ou incompetência?

Foi a pergunta que me fez.  Naquele momento pensei em mim, pois também tenho minhas montanhas russas. Sabia que era incapaz de ter uma resposta. Destino ou desígnio? – refleti em silêncio. Um sopro veio ao meu ouvido e sussurrou: “escolhas erradas”.  Continuei calado, ensimesmado. Em seguida, disse a ele para tentar entender o seu papel neste mundo. Somos atores e o que vivemos aqui é uma peça teatral na qual desempenhamos muitos papeis.

– Talvez o seu papel seja o de um figurante, assim como o meu. E, nesse caso, teremos que fazer diferença, sermos muito melhores do que os canastrões que protagonizam essa enorme peça chamada vida.

Prometemos que iríamos ter outros encontros, mas sem convicção, e nos abraçamos desejando-nos uma vida melhor. Sei que não pude ajudá-lo, mas tive que dizer-lhe que o valor do momento é o dinheiro e que as pessoas gostam de vencedores, independentemente da maneira como chegaram ao pódio. Nem os familiares e, acho que, principalmente aqueles, não querem compartilhar derrotas. Por essa razão, disse-lhe:

– Mostre-se vencedor, levante a cabeça, olhe para trás, mesmo sabendo que o passado deve ficar no passado. Busque forças nas vitórias que conquistou e no sucesso que teve um dia. Lembre-se de que, apesar de todas as dificuldades atuais, você já foi protagonista um dia. Isso ninguém poderá lhe tirar.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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Estamos na época de divulgação do balanço contábil de empresas, União Federal, estados e municípios. É também época das pessoas físicas se acertarem com a Receita Federal por meio da declaração anual do imposto de renda.

No caso específico do poder público é importante lembrar que tudo o que se movimentou durante o ano de 2017 foi precedido pela Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e pela Lei Orçamentária Anual (LOA). Esta prevê as receitas e despesas do ano seguinte e deve ser aprovada pelo Poder Legislativo correspondente até o final de cada ano, conforme determina a Constituição Brasileira.

Entretanto o orçamento ainda não é tratado com a importância que tem na gestão e, em boa parte dos casos, acaba sendo apenas uma mera peça orçamentária para cumprir uma Lei, mesmo diante de todas as exigências contidas na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). O ideal, que segue longe do real, seria a elaboração de um orçamento com receitas, gastos e investimentos alinhado com o planejamento estratégico. Ele deve resultar de um processo participativo de discussão e formulação segundo um determinado modelo de gestão estruturado que funcione de maneira dinâmica e orientada para resultados. Essa prática contínua de planejar, priorizar, orçar, implementar, avaliar, corrigir, melhorar, inovar e se reposicionar exige muito querer, disciplina para aplicar o método de gestão, constância de propósitos com foco, determinação, liderança e cooperação entre os participantes do processo. O desafio é cada vez mais reduzir a distância entre o que é orçado no planejamento e o que é realizado na gestão operacional.

Um bom exemplo dessa distância pode ser encontrado no balanço do ano de 2017 da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, divulgado em fevereiro. A LOA previa receitas de R$11,6 bilhões, mas a PBH conseguiu realizar apenas R$9,7 bilhões, o que significa uma distância de 16,32% da meta estabelecida. Já as despesas pagas chegaram a R$9,1 bilhões enquanto as despesas liquidadas (assumidas) foram de R$10,4 bilhões. O déficit é inegável e sobrou para os restos a pagar em 2018. Quais seriam as causas principais desse resultado não alcançado? Uma delas pode estar ligada às premissas utilizadas na projeção da inflação, no crescimento – ou não – do PIB, na expectativa de receitas de capital, nos repasses do Governo Federal, por exemplo. Outra causa pode estar no conforto concedido pela Câmara Municipal ao poder executivo, autorizando um corte de até 30% nos gastos previstos caso as receitas esperadas não se confirmassem, sem necessitar de aprovação do Poder Legislativo. Esse mesmo percentual já foi de 10% e não faz muito tempo. O balanço mostra que R$600 milhões deixaram de ser gastos na saúde, R$250 milhões não foram para a educação e que apenas R$350 milhões foram investidos em empreendimentos (projetos e obras) diante de um orçamento de R$1,15 bilhão. Foi só cortar.

A análise do balanço também mostra que a PBH gastou R$4,5 bilhões para pagar os servidores municipais, R$500 milhões para o pagamento de juros e amortização da dívida e que aproximadamente R$450 milhões tiveram que ser destinados à cobertura do déficit da previdência municipal com servidores aposentados e pensionistas.

Como se vê ainda estamos muito longe da excelência. É preciso, inclusive, aprender a ler um balanço contábil, a analisar com mais responsabilidade a conjuntura e projetar cenários com alguns graus de realismo. A mesma PBH, cujo balanço foi aqui usado como exemplo didático, projeta em seu orçamento de 2018 uma receita de R$12,5 bilhões perante os R$9,7 bilhões registrados em 2017, ou seja, um crescimento de 22,4% num ano em que se projeta um crescimento do PIB na faixa de 3% a 3,5%. Será que teremos a repetição de uma nova peça orçamentária de ficção só para cumprir a Lei, que exige que se faça um orçamento?

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