Veredas da vida

por Convidado 16 de julho de 2020   Convidado

*por Sérgio Marchetti

Nestes tempos obscuros de pânico causado pelas pessoas – mais do que pela pandemia – resolvi voltar para mim, como cantava Geraldo Vandré, e me recolher num ambiente rural, distante do ambiente tóxico das grandes cidades. Com o passar dos dias, pude perceber e sentir “a insustentável leveza do ser”, sentimento este, que serviu de título a uma obra de Milan Kundera.

Confesso que, a cada dia, o verde me parece mais verde, mais belo e as cerejeiras, fazendo par com as camélias (que não caíram do galho), completam o quadro com um colorido perfeito. De repente, redescubro valores que já não faziam parte de minha vida. É como se, ontem, eu olhasse para uma paisagem com minhas retinas tão fatigadas”(C.D.A.) e já não percebesse suas nuances. Mas, gradativamente, em descanso, meus olhos começaram a ver o que já não viam e percebo a beleza de um dia de sol, com uma relva molhada e pássaros cantando. E, assim, já me desintoxicando da poluição mental, vejo o que estava tão claro, e o que minha lente embaçada me impedia de enxergar. Ouço o som do silêncio, a manifestação dos bichos – coisa que meus ouvidos já não identificavam. Tenho a liberdade de caminhar pela estrada de terra, respirando o ar puro sem contaminação de vírus. Coisa rara. Riqueza incomensurável.

Sabem, meus críticos leitores, eu aprendi que depois de algum tempo, mesmo que os olhos fraquejem, a gente amplia a visão e vê o mapa por inteiro e, ainda, descobre que há outros mundos neste mundo. E que corremos muito e sem saber o porquê. *“O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”. Também, em descanso, damos vez ao espírito que, na roça, é mais presente do que o corpo. Diminui-se a vaidade e passam a ter outros valores. Lá *“o espírito da gente é cavalo que escolhe estrada”. E a vida nos revela um novo lugar que pode ser a nossa Shangri-lá, num horizonte perdido, como escreveu James Hilton, ou na Pasárgada de Manuel Bandeira.

Falando em Bandeira e, diante de todas estas reflexões, acho que “vou-me embora pra Pasárgada”, definitivamente. Lá não tem Market Share, nem competição. Não tem Mindset, apenas modelos mentais. As pessoas contam causos, mas nada de storytelling. E não tem essa coisa de background. Tem sim experiência de vida e segredos de “veiacaria”.  E, como cantou Martinho da Vila “Je ne sais pás parle français/ Também não falo português/ Meu idioma é o brasileiro…”

E como é bom falar a nossa língua com desenvoltura e do nosso jeitinho diminuto de colocar as palavras. No sertão das Minas Gerais, a língua é o mineirês, e quase tudo a gente entende. E eles não têm o hábito de atazaná a vida do outro. Diante de uma boa prosa, ninguém arreda pé. Tem também muita lubrina e cai geada no inverno. Mas é bom demais da conta. Eles só não gostam de gente xexelenta e entojada.

Dizem os estudiosos e os que possuem bola de cristal que o êxodo, agora, será urbano. No novo mundo, pós-pandemia, as pessoas devem fazer o caminho inverso, buscar mais sossego, já que poderão trabalhar à distância. As cidades do litoral e propriedades rurais poderão ser o destino de muitos trabalhadores. Com o distanciamento social descobrimos que podemos prescindir de escritórios, de idas e vindas diárias para trabalhar e que, de nossas casas, poderemos realizar nossas tarefas com a mesma eficiência. Então… concluímos, a vida é um caminhar com muitas possibilidades que só não se realizam em larga escala porque a acomodação é característica do ser humano.

*“O mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando.”

*Guimarães Rosa

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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Onde encontrar uma UTI?

por Luis Borges 13 de julho de 2020   Pensata

A estratégia de combate à disseminação da Covid-19 no modo pandemia buscou ganhar tempo em relação ao pico dos casos de contaminação e deixou claros os limites do nosso sistema de saúde. Mesmo a Constituição Brasileira estabelecendo que “a saúde é um direito de todos e um dever do Estado”, o grande medo nesses 4 meses já passados foi e ainda continua sendo as conseqüências que poderão advir se ocorrer um colapso do Sistema Único de Saúde e do sistema privado operando direto com clientes particulares ou com planos de saúde regulamentados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar.

No caso da Covid-19 faz parte do processo de tratamento na fase mais aguda da infecção a internação das pessoas numa UTI de algum hospital seja ele público, filantrópico ou privado. É importante lembrar que mesmo nos tempos antes da pandemia nunca foi fácil para a maioria das pessoas encontrar uma vaga disponível na UTI para uso imediato. Quem já passou por uma situação como essa sabe muito bem o tamanho das dificuldades enfrentadas.  Mas onde estão essas unidades no país, principalmente nesse momento em que a disseminação da doença está se generalizando e o seu pico pode ainda estar por vir?

Partindo da premissa de que os fatos e dados não deixam de existir mesmo quando são ignorados ou negados, considero oportuno fazer uma referência ao artigo “Com pacientes longe das UTIs no interior, epidemia deve matar mais”, de Fernando Canzian, publicado pela Folha de São Paulo em 6 de julho.

Nele verifica-se que:

“Embora as 27 capitais brasileiras agrupem 24% da população, elas têm quase a metade dos leitos de UTIs para adultos no país.

Já as unidades disponíveis no interior estão concentradas em cidades com mais de 100 mil habitantes (cerca de 300 municípios).

Isso leva a que apenas 6% das cidades do Brasil tenham leitos de UTI —e que aproximadamente 100 milhões de pessoas vivam em locais sem esse tipo de atendimento.

Correm maior risco 32 milhões de brasileiros (três vezes a população de Portugal, por exemplo) que residem em 3.670 municípios com até 20 mil habitantes”.

Como se vê, isso é o que temos para hoje e o jeito é fazer tudo o que for possível e que dependa de nós para evitar a necessidade de uma UTI. Mas sei que não dependemos só de nós, pois não existe processo sem a cooperação de todos os envolvidos em busca de um resultado valioso.

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Parece que foi ontem o início do ano 2020 embalado pelo “agora vai”. A projeção para o crescimento da economia no ano era de 2,3% ainda mais que, nos últimos três anos, não tinha passado de 1,1% em cada um deles.

Na quarta-feira de cinzas a linha da meta do crescimento econômico já dava sinais de dificuldades para ser atingida conforme mostrado no post deste blog Depois do carnaval para onde a coisa vai?. Em março chegou a pandemia do novo coronavírus, a Covid-19, que era só uma questão de tempo após varrer os continentes da Ásia e Europa, partes integrantes do mundo globalizado.

Do ponto de vista de quem usa minimamente algum modelo de Sistema de Gestão consistente em seus negócios e trabalhos nas organizações humanas públicas e privadas ou mesmo na vida pessoal/familiar é hora de avaliar, fazer um balanço sobre o rumo que as coisas tomaram após seis meses. Como dizem Milton Nascimento, Fernando Brant e Márcio Borges na música “O que foi feito devera”:

“Se muito vale o já feito,

mais vale o que será.

E o que foi feito é preciso conhecer para melhor prosseguir”.

Para ajudar a sistematizar essa avaliação podemos usar um método para relatar de maneira organizada a situação atual de uma meta a ser atingida, no nosso caso, o crescimento da economia do país, que impacta em todos nós.

São 5 grandes perguntas que devem ser respondidas com os devidos desdobramentos conforme se segue: O que foi planejado, o que foi executado, qual o nível dos resultados alcançados, o que está pendente para ser feito e quais serão os próximos passos com as devidas reorientações estratégicas. É até simples, mas toma tempo e exige muita transpiração e inspiração…

Dito isso, e como já estamos em julho iniciando a travessia para cumprir a outra metade do ano, é preciso redefinir os próximos passos. Estamos diante de grandes e inesperadas mudanças ocorridas na conjuntura do país e muitas incertezas impedindo que se faça projeções sobre os cenários que teremos pela frente, o que praticamente exige de nós um acompanhamento diário do rumo que as coisas vão tomando.

Voltando nosso olhar para a projeção da outrora meta de crescimento da economia veremos que neste momento o Banco Central do Brasil projeta uma contração de 6,4% do Produto Interno Bruto até o final do ano. Fica cada vez mais claro que nossas estratégias continuarão a ser de sobrevivência enquanto as mortes causadas pela Covid-19 crescem – já passam de 65 mil – a vacina ainda não está pronta e, segundo o IBGE, o desemprego e o desalento só crescem aos milhões.

E você, caro leitor, como está observando e analisando os acontecimentos com os respectivos impactos em sua vida pessoal, familiar ou no mercado de trabalho, em sua cidade ou estado? E a nossa extremamente desigual sociedade agüentará conviver até quando com a carestia, a fome e o desemprego aberto? Depois do auxílio emergencial o jeito será aproveitar a trilha para fazer o programa de renda mínima dentro da estratégia de sobrevivência para todos, inclusive para o capitalismo. A conferir.

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Vale a leitura

por Luis Borges 28 de junho de 2020   Vale a leitura

Tempo sem zap

O uso adequado, equilibrado do zap na vida pessoal, profissional e social é um desafio permanente para quem se preocupa com a gestão do tempo. Periodicamente é importante fazer uma avaliação sobre as causas que nos levam à perda de tempo e, entre elas, pode estar o uso exagerado do WhatsApp, por exemplo. É preciso também fazer a gestão da ansiedade e não cair na armadilha de buscar a última novidade do minuto em temas não prioritários para o momento específico vivido. Sobre esse assunto é interessante a abordagem de Lia Bock no artigo O novo normal do WhatsApp pode ser o fim da nossa saúde mental, publicado no canal Universa do portal UOL.

Pois mesmo adorando as funções dessa ferramenta, confesso que o excesso de demandas que entram por ela tem me assustado. Verdade que boa parte são figurinhas e stickers dos quais metade a gente podia ter passado sem, mas, como para fazer esse filtro precisa entrar e olhar, passamos o dia clicando no telefoninho verde, lendo, ouvindo, respondendo, encaminhando.

Eu fico pensando como vivem e do que se alimentam os habitantes de países onde o WhatsApp “não pegou”. Nossa vida passa tanto por esta ferramenta que não conseguimos nem imaginar como seria viver sem ela. Mas imaginar a vida afogado nela também não me parece um cenário muito bom. Oxalá o novo normal seja caridoso conosco neste tópico.

Aulas presenciais

 Será que as aulas presenciais serão retomadas, digamos, a partir de agosto ou setembro? Se nada será como antes devido às novas condições de contorno trazidas pela pandemia da Covid-19 dá para imaginar que novos padrões surgirão para aulas presenciais nos diversos níveis de ensino, a começar pela quantidade de alunos em cada sala de aula. Que resultados esperar quanto à aprendizagem, ao manejo das tecnologias digitais e ao índice de evasão de alunos? Afinal de contas muitas são as especificidades e variáveis que precisam ser consideradas na formulação dos novos padrões. Sobre esse tema confira o que diz Débora Garofalo no artigo Como será o novo normal em aulas presenciais publicado no portal UOL.

Olhar para os países que estão iniciando o retorno é importante para que possamos seguir alguns cuidados e aprendermos com algumas lições, considerando a realidade e estrutura que possuímos aqui no Brasil.

No início da quarentena pensávamos que a suspensão das aulas se daria por duas ou três semanas e que a situação estaria controlada e poderíamos retornar da maneira que conhecíamos. Hoje, vivenciando a pandemia, sabemos que não será assim e que devemos ter uma atenção maior para crianças e jovens que estão há meses em isolamento social, aguardando o retorno físico para reencontrar os colegas. Será preciso manter o distanciamento social.

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Precisou sair de casa

por Luis Borges 22 de junho de 2020   Pensata

Na manhã do sábado, 6 de junho, um professor de biologia do ensino médio na rede privada saiu de casa por volta das 8h, devidamente paramentado com a máscara no rosto e álcool em gel na bolsa. Seu destino prioritário era um laboratório de análises clínicas distante quatro quarteirões de sua casa. O pedido do exame de sangue para verificação da glicemia em jejum, colesterol, triglicérides e os clássicos da tireóide datava do final de janeiro. A correria louca de sempre fez com que tudo fosse sendo adiado. Depois veio o período do Carnaval oficial de Belo Horizonte com sua generosa duração para a alegria dos blocos nas rua. Em seguida veio a pandemia da Covid-19, isolamento social, ensino à distância e o fique em casa. Mas o professor percebeu, em função dos sinais dados pelo organismo, que algo havia se alterado em relação à sua tireóide e que não dava para postergar mais a realização dos exames solicitados no início do ano. Na curta caminhada foi observando alguns pequenos detalhes, ah! sempre os detalhes, que poderiam mostrar como está a disciplina das pessoas para cumprir as regras sanitárias em vigor.

Ao sair de casa contou 7 gatos na primeira esquina e viu o senhor Zé Maneco sem máscara, tomando sol, sentado numa cadeira colocada no passeio. Cumprimentos de bom dia foram trocados.  No quarteirão seguinte um motorista de automóvel de transporte por aplicativo com a máscara no queixo aguardava a chamada para atender o próximo cliente. Enquanto avançava na caminhada passou por ele uma pessoa sem máscara caminhando rapidamente. Chegando ao quarteirão de seu destino o professor viu uma pessoa tomando café o comendo pão encostada num veículo. Em seguida passou na porta da padaria onde só estava o agente de segurança e alguns metros à frente chegou à recepção do laboratório onde ficou em quinto lugar na fila para atendimento. Lá tudo estava funcionando em conformidade com os padrões sanitários.

O professor dispensou o lanchinho oferecido ao final do atendimento e, ao voltar para casa, passou na padaria, onde ficou em quarto lugar na fila formada na calçada, com todos usando máscaras. Enquanto aguardava pacientemente, ainda na calçada, a sua vez para ser atendido chegou um senhor idoso usando máscara, aparentando em torno de 65 anos de idade, que ignorou a fila, foi direto ao balcão, mas sem manter distância de outros clientes, escolheu seus produtos e saiu do local com um copo de café na mão. O agente de segurança justificou às pessoas da fila que é difícil tentar frear aquele perfil de cliente, pois poderia causar muita confusão no local.

O professor deixou a padaria após as compras e foi para casa observando mais detalhes do seu pequeno trajeto. Mais gente já estava circulando pela rua e a maioria usava máscara. Um quarteirão antes de sua casa o professor viu na calçada próximo ao meio fio uma máscara, 5 copos plásticos e um saquinho plástico contendo dejetos de um animal. Finalmente o professor chegou em casa por volta das 9h, cumpriu os padrões de segurança estabelecidos. Agora é aguardar os resultados e marcar uma consulta com o endocrinologista do seu plano de saúde complementar que, aliás, não deu nenhum desconto para seus usuários que nesse caso, ainda não foram tratados como clientes.

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O fim da história

por Luis Borges 20 de junho de 2020   Música na conjuntura

Se a crise que estamos atravessando exige muita criatividade e resiliência nas estratégias de sobrevivência, o que e como fazer durante o isolamento em casa sempre pensando que uma hora essa história terá seu fim? A música pode e deve ser uma importante aliada conforme as especificidades de cada pessoa ao longo de suas atividades durante as 24 horas do dia. Nesse sentido uma opção pode ser ouvir músicas durante a execução de uma determinada tarefa como arrumar a casa, lavar/passar  roupas, cozinhar e cuidar do jardim, da horta ou de plantas dos vasos. Outra possibilidade pode ser a escolha de um determinado momento do dia só para ouvir músicas dos gêneros preferidos durante 60 minutos, por exemplo.

No meu caso tem sido possível revisitar cantores, compositores e intérpretes da Música Popular Brasileira da metade do século passado pra cá. Na semana passada foi a vez de rever a obra do cantor e compositor Gilberto Gil cantando Domingo no parque, Viramundo, Procissão, Aquele abraço, Refazenda, Sítio do pica pau amarelo, Drão, Realce… Terminei ouvindo O fim da história, composição gravada em 1991, quando Fernando Collor era Presidente da República Federativa do Brasil.

Como bem disse o também cantor e compositor Luiz Gonzaga Júnior, o Gonzaguinha (1945 – 1991) em sua música Palavras, “Cantar nunca foi só de alegria, com tempo ruim todo mundo também dá bom dia”. Prosseguir é preciso e cantar faz parte do acalanto que embala nossa trajetória.

O fim da história
Fonte: Letras.mus.br

Não creio que o tempo
Venha comprovar
Nem negar que a História
Possa se acabar

Basta ver que um povo
Derruba um czar
Derruba de novo
Quem pôs no lugar

É como se o livro dos tempos pudesse
Ser lido trás pra frente, frente pra trás
Vem a História, escreve um capítulo
Cujo título pode ser "Nunca Mais"
Vem o tempo e elege outra história, que escreve
Outra parte, que se chama "Nunca É Demais"
"Nunca Mais", "Nunca É Demais", "Nunca Mais"
"Nunca É Demais", e assim por diante, tanto faz
Indiferente se o livro é lido
De trás pra frente ou lido de frente pra trás...
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Penso, logo desisto

por Convidado 17 de junho de 2020   Convidado

*por Sérgio Marchetti

Diante do quadro inédito que estamos testemunhando e vivendo ativamente é muito previsível que tenhamos um número acentuado de pessoas sofrendo de tristeza e depressão. É sabido que a quantidade de suicídios aumentou significativamente no mundo. Mas ainda não para por aí. As pessoas estão mais agressivas e inflamadas. Infelizmente, no Brasil, a guerra pelo poder é maior do que contra a pandemia. Lamentavelmente, as pessoas estão se digladiando nas ruas por interesses que nem são delas. E a impressão que me passam é a de que são zumbis, perdidos pelas avenidas, mas programados para agir.

Confesso que sinto muito medo disso. Já vimos ideologias políticas se transformarem em seitas assassinas e gerarem guerra mundial. Adolf Hitler e Josef Stalin, a exemplo desse condicionamento assassino e macabro, protagonizaram as maiores peças de terror de toda a história.

E hoje? Que fenômeno estaremos vivendo? Por que tantas pessoas estão apresentando reações estranhas? Ora, a carga psicológica da doença causada pela Covid-19 é intensa, constante e ainda crescente. Não precisávamos de sensacionalismo, oportunismo, inverdade, grosseria, desonestidade e drama, além da falta de ética acentuada e praticada exaustivamente por algumas mídias. Mas o que dói é saber que, por trás da informação, há interesses escusos, financeiros, políticos e sociais.

Sabem o que é mais difícil, meus caros leitores? É nos mantermos na neutralidade diante de um quadro caótico. Só para entender, comparando a um trabalho de consultoria empresarial, qualquer pessoa que tome posse na presidência de uma entidade só terá êxito se sua equipe for de sua confiança e estiver remando a favor dos objetivos comuns.  Não é a realidade brasileira. Será ruim para todos. No governo anterior, os ventos lhe foram mais favoráveis. Alerto, entretanto, que não houve nem haverá perfeição em nenhum dirigente. Pelo contrário. Todos tiveram deslizes e até crimes contra nosso patrimônio, nossa economia e nossas vidas – muitas delas perdidas e não contabilizadas, porque não era conveniente aos interesses midiáticos. Um certo ex-ministro já dizia que a gente só mostra o que nos é conveniente…

É difícil ser neutro quando o assunto é esporte, política e religião. Os olhos veem, porém, o cérebro emocional deturpa a visão. Mas daí, usar a pandemia…

Ainda assim, excluindo-se o paradigma de jogo de interesses – que por si só já se explica – podemos tentar entender o contexto e obter a verdade, recorrendo  à Grécia, em seu período helênico. Podemos ter, como amparo para argumento, o pensamento de que “nada acontece por acaso” (tem sempre um diabinho soprando em nossos ouvidos), da Escola Estoica, fundada por Zenão (V a.C). Em Sócrates, vislumbramos a busca da Verdade e da Ética que permitiria tornar os homens virtuosos. Eu disse, permitiria. Em Platão, um pouco mais à frente, surge a tese do Mundo das Ideias que continua em busca da verdade e da ascensão do homem para a realidade do bem. Preconizava o conhecimento, a força e a temperança, em síntese, a virtude da justiça.

Tempos mais tarde, outro filósofo de destaque, René Descartes (1596-1650), afirmava que “para conhecer a verdade é preciso, de início, colocarmos todos os nossos conhecimentos em dúvida, questionando tudo…”.

Diante das teses mencionadas, creio que estejam nos faltando, critérios de análise, coerência, verdade, ética, honestidade, visão sistêmica e, em contrapartida, estejam sobrando hipocrisia, desonestidade, corrupção e paixão cega. 

De tanto esperar, “de tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça…”.e me decepcionar, hoje, já não confio na palavra dos homens, tampouco e, sobretudo, em promessas políticas. Apenas em meu juízo de valores, não me conformo com o lucro em detrimento de vidas.

Vocês ainda querem saber por que há tanta depressão? Não é pela pandemia. Ela é a gotinha d’água. Eu lhes asseguro. É por vermos a degradação dos seres humanos, que trocaram a virtude pelo vício da desonestidade, equação que permite dizer que os meios fraudulentos justificam os fins.

Não é bom pensar e, se penso, logo desisto.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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