*por Sérgio Marchetti
Somos mais vida ou mais morte? Haverá vida em outro plano, em outra dimensão? E voltaremos para cá, numa reencarnação? Essas são perguntas que tantas pessoas fazem quando perdem seus entes mais queridos. E, neste ano, tivemos um número significativo de perdas humanas em decorrência da Covid-19 e de outras doenças. Não há dúvidas de que este evento ficará marcado para sempre na história. Aliás, a vida, independentemente das respostas sobre o outro lado, em muitas ocasiões, me remete a um livro. Cada pessoa escreve o seu. E, a cada dia, vamos acrescentando um novo episódio.
As narrativas variam em tempo, espaço, personagens e enredo. Algumas pessoas parecem viver somente o passado e, por isso, escrevem lembranças que estão vivas em suas memórias. Eu gosto disso, por ser um registro de história de algo que não vimos, mas que nos contaram. Outras pessoas, ao contrário, vivem o futuro, têm cara de extraterrestres e parecem escrever romance de ficção. Sendo futuristas ou saudosistas, nos primeiros capítulos, ou seja, na juventude, normalmente observamos a confiança com que se apresentam e defendem ideais e sonhos. Nele estão declarados os princípios, a política e uma ilusória crença das personagens de que são portadoras de cultura e verdades inquestionáveis. São homens e mulheres corajosos que lutam por um mundo melhor. Quase sempre são protagonistas e narradores oniscientes – e ponham onisciência nisso – conhecem tudo e todas as personagens de seu romance com profundidade.
No segundo capítulo, que denominamos de fase adulta, o romance começa a mudar e passa a ter ideias mais consistentes e fatos mais marcantes, como conquistas profissionais, casamentos, nascimentos de filhos, estudos avançados. A narrativa fica mais objetiva ao entrarem no terceiro capítulo, que é a meia idade. Até aqui, sendo drama, tragédia ou comédia, a trama frequentemente vai se tornando madura e mais realista.
No último capítulo, que é a velhice, os romances de cada vida levam à constatação de que Fernando Sabino tinha razão quando pediu para escreverem em sua lápide que: “nasceu homem e morreu menino”.
Em muitos epílogos, a escrita demonstra que nem sempre a morte dá aviso prévio, e que não há controle sobre o dia e o número da nossa senha. Quando somos chamados, não há quem nos segure neste lado de cá.
Ora, meus leitores de fé, desculpem-me se os decepciono, mas não tenho resposta alguma sobre as indagações. Apenas imagino que temos uma missão, aqui neste latifúndio e, que, devemos identificá-la para cumpri-la rigorosamente.
Mas, se algo puder fazer para amenizar a dor de quem sofreu perda de um ente querido, deixo que Santo Agostinho fale por mim:
A morte não é nada (Santo Agostinho) “A morte não é nada. Eu somente passei para o outro lado do Caminho. Eu sou eu, vocês são vocês. O que eu era para vocês, eu continuarei sendo. Me deem o nome que vocês sempre me deram, falem comigo como vocês sempre fizeram. Vocês continuam vivendo no mundo das criaturas, eu estou vivendo no mundo do Criador. Não utilizem um tom solene ou triste, continuem a rir daquilo que nos fazia rir juntos. Rezem, sorriam, pensem em mim. Rezem por mim. Que meu nome seja pronunciado como sempre foi, sem ênfase de nenhum tipo. Sem nenhum traço de sombra ou tristeza. A vida significa tudo o que ela sempre significou, o fio não foi cortado. Porque eu estaria fora de seus pensamentos, agora que estou apenas fora de suas vistas? Eu não estou longe, apenas estou do outro lado do Caminho… Você que aí ficou, siga em frente, a vida continua, linda e bela como sempre foi.”
* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.