Contextualização e processo

por Convidado 15 de outubro de 2020   Convidado

*por Sérgio Marchetti

Há muitos anos, participei de um curso de consultoria que mudou a minha vida. Nele, aprendi que não se analisa um fato sem considerar o contexto. Tudo depende do contexto que envolve ambiente, situação, tempo, local, pessoas e uma série de fatores. Um criminoso pode não ser condenado se analisarmos profundamente o processo que o levou a cometer um crime. Ou seja, a vida é processual. Não é por acaso que os japoneses criaram a qualidade total. E, total, quer dizer visão de todo o processo. Também no mesmo curso recebi uma lição que me fez administrar com justiça e margem de erro reduzida qualquer processo. A lição trazia a sigla GOIA. Foi lançada num filme cujo nome era “Efeito Goia”. Resumidamente dizia: Gerencie Onde Incidentes Acontecem.

Os ensinamentos do curso foram tão valiosos que obtive autorização da presidência da empresa na qual trabalhava para conhecer, ao vivo, a realidade de suas filiais. E, assim, desta maneira, passei a viajar e, lhes asseguro que, durante quase três anos, pude compreender e resolver problemas que, estando distante, jamais teria tido o “timing” para buscar soluções, tampouco faria descobertas e obteria insights se não presenciasse os fatos lá bem no local. Sim, meus estimulantes leitores, como podem perceber, o segredo do sucesso estava na palavra presencial. E sabem por qual razão? Porque não há como ter empatia sem sentir na pele o que está acontecendo. E tudo, utilizando-se da estratégia de ver, ouvir e sentir, mas dentro do habitat dos outros profissionais. Talvez muitos de vocês se lembrem que, num programa noturno de domingo, uma emissora corroborava com esta ideia e demonstrava a importância de se estar no local. Normalmente, era um dirigente que, secretamente, se fazia passar por um empregado novo e com isso poderia vivenciar a realidade de cada lugar e, sobretudo, conhecer, literalmente, quem eram seus empregados. As descobertas foram magníficas.

Em todos os meus trabalhos, sejam eles de comunicação, gestão, planejamento estratégico, carreira, oratória (timidez, fluência, postura, conteúdo, pitch, etc) e outros, inequivocamente, utilizo o contexto para entender o porquê de cada fato. Reputo a isso a razão de meus acertos. Por isso, com os devidos e necessários cuidados, atendo presencialmente e treino pessoas que carecem de se apresentar ao vivo ou através de lives e podcasts. Os resultados em encontros presenciais são bem mais produtivos, eficazes e, obviamente, mais rápidos.

Sei que estão pensando que no “novo normal” (detesto o termo) todos os aprendizados dos quais estou relatando serão inócuos. E que, no mundo virtual, o que vale é dominar a tecnologia. Mas e se pudéssemos trabalhar com um pouco de presencial somado ao virtual? O ser humano necessita de conversar, de argumentar, de convencer, de ser ouvido, de fazer parte, de ser parte, de ser importante e útil e, sucintamente falando, precisa de existir. Ver Paris na tela de um computador ou pela televisão não é igual a estar lá e sentir o cheiro do lugar, o frio ou o calor. Caso assim fosse, ninguém precisaria viajar tanto. E a cada dia viajamos mais.

Mestre Gonzaguinha disse:

“Um homem também chora/ Menina morena/ Também deseja colo/ Palavras amenas/ Precisa de carinho/ Precisa de ternura/ Precisa de um abraço/ Da própria candura…” 

Compactuo com a mensagem da música. Homens e mulheres precisam da presença de gente, pois somos vida, energia que só circula presencialmente.

Quem não gosta de um aconchego? De estar ao vivo com alguém que é importante para você?

“…Querendo um sorriso sincero, um abraço/ E toda essa minha vontade/ que bom poder estar contigo de novo/ roçando teu corpo e beijando você…” (Dominguinhos e Nando Cordel)

“Temos que ir à procura das pessoas, porque podem ter fome de pão ou de amizade.” (Santa Tereza de Calcutá).

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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Um ano se passou e chegamos ao 1º de outubro, Dia Mundial da Pessoa Idosa. A novidade em relação ao ano passado é que dessa vez temos a pandemia da Covid-19 e os idosos são considerados membros de grupo de risco para a infecção. Tudo fica mais ameaçador se houver doenças pré-existentes, principalmente as descontroladas. A lista delas é falada “de cor e salteado” pelos mais informados – ou pelos os mais preocupados…

Mas que balanço podemos fazer sobre as melhorias e as “piorias” das condições de vida para as pessoas idosas após esse um ano que se passou? De cara podemos dizer que o número de idosos brasileiros está em mais de 28 milhões segundo o IBGE e a Organização Mundial de Saúde.

A reforma da previdência cravou em 65 anos a idade mínima para a aposentadoria de homens e 62 para mulheres. Enquanto isso, a lei brasileira define o idoso como uma pessoa com idade superior a 60 anos e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada tem estudos propondo a reforma do marco inicial da idade do idoso, que passaria a ser a partir dos 65 anos. Os argumentos básicos são o aumento da expectativa de vida da população e um alívio nos gastos com a Previdência Social. Haja reformas sem crescimento econômico e muitos desperdícios nos gastos públicos!

Também é importante lembrar que o poder aquisitivo no país caiu na faixa entre 17% para os mais ricos e 28% para os mais pobres (a maioria), ou seja, os idosos fazem parte desse bolo.

A inflação medida pelo IPCA do IBGE nesses últimos 12 meses (outubro/19 – setembro/20) ficou em 3,04% enquanto pelo IGP-M da FGV ficou em 19,4% (usado para reajustar aluguéis). A inflação específica para idosos é quase sempre maior que a oficial. Agora os aposentados, idosos ou não, podem fazer empréstimos bancários consignados comprometendo até 40% do valor do salário e por no máximo 84 meses (sete anos). A Caixa Econômica Federal está cobrando juros mensais de 1,5% para quem tem relacionamento com a instituição e 1,6% para quem não tem. Anualmente essas taxas significam juros em torno de 20%. O que não é novidade é o fato dos idosos fazerem empréstimos consignados para ajudar irmãos, filhos, noras, netos e amigos. Entretanto muitos não recebem do credor conforme o combinado, em diversos casos sem receber a menor satisfação, mas ficando com o sufoco financeiro e as relações pessoais abaladas por tentar receber o valor emprestado em confiança.

Agora fico pensando que “novidades” os idosos poderão esperar até o seu próximo dia no ano que vem. Quem sabe se até lá surgirão propostas como a criação do mês do idoso, tipo Outubro Branco, e a idade mínima para ser considerado idoso passe para 70 anos. Criatividade não falta!

Abordei aqui alguns novos problemas que surgiram no caminho dos idosos nesse período mais recente e que se somam a inúmeros outros problemas crônicos não solucionados. Não consigo entender como, ainda assim, aparecem pessoas e instituições dizendo que esta é “a melhor idade”. Sou esperançoso mas profundamente realista.

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Simplesmente sumiu

por Luis Borges 5 de outubro de 2020   Pensata

Sabe aquelas pessoas, amigas de longa data, que de repente somem e não dão sinais de que alguma coisa diferente pode estar acontecendo? Isso aconteceu comigo. Na segunda quinzena de agosto, quando começou a surgir em meu radar seguidas vezes a imagem de uma amiga com quem converso pelo telefone, menos pelo fixo e mais pelo celular, em diferentes momentos, comecei a ficar intrigado. Diante da inquietante preocupação e entre uma atividade e outra que acabam levando o dia embora, telefonei para a amiga que, após dizer “alô”, ouviu de mim a clássica réplica “você sumiu, o que está acontecendo?”. A tréplica foi imediata: “peguei Covid-19 e passei um perrengue danado!”.

Apesar de seguir todas as orientações sanitárias e só ir às ruas para fazer o que é estritamente necessário, ela começou a sentir dores no corpo e desconforto respiratório… No terceiro dia em que as coisas só pioravam chamou o marido e foram a um hospital credenciado pelo seu plano de saúde co-participativo.

Lá chegando teve a paciência histórica de passar por todos os protocolos até ouvir a sentença de que deveria ficar internada. Foi constatada uma hipóxia silenciosa (sem sinais aparentes) – redução das taxas de oxigênio no ar, no sangue arterial ou nos tecidos – ou seja, a sua saturação de oxigênio estava em 87% quando o mínimo admitido é de 90% e existem especialistas que preconizam 95%.

O fato é que minha amiga ficou internada 3 dias e teve alta após permanecer com a saturação de oxigênio em 92% durante 24 horas, obviamente sem usar o respirador.

Ela cumpriu a quarentena isolada num dos quartos do apartamento no edifício em que mora. Interessante é que num determinado momento sua filha se cansou da comida fornecida por um restaurante e começou a produzir algumas refeições em casa para variar um pouco o sabor.

Tudo foi muito desafiante, inclusive ver o tempo passar rumo ao futuro, mas a resiliência prevaleceu no melhor estilo do “enverga, mas não quebra”.

Mas uma coisa importante que a amiga fez foi informar à sindica e aos zeladores do prédio de 20 andares a sua condição momentânea. Aliás, ela ficou sabendo dias antes da internação hospitalar de um caso de escândalo, “um barraco”, causado por uma pessoa de um outro prédio ao tomar o elevador no 6º andar e se deparar com um morador devidamente protegido e que estava curado da infecção. A cena foi constrangedora, segundo o relato de quem recebeu o ataque.

Que decisão você tomaria se estivesse no lugar da minha amiga?

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Algum recado?

por Luis Borges 2 de outubro de 2020   Música na conjuntura

O cantor e compositor Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, o Gonzaguinha, se estivesse entre nós, teria completado 75 anos de idade no dia 22 de setembro, chegada da primavera no hemisfério Sul. Ele nasceu no Rio de Janeiro em 1945 e faleceu num acidente automobilístico na rodovia PR-280 no município de Marmeleiro, no Paraná, em 29 de abril de 1991, aos 45 anos. Em 1978 ele compôs e cantou a música “Recado”, mesmo nome de seu disco lançado naquele ano, onde mais uma vez ele se posicionou claramente em relação ao seu jeito de ser, seus propósitos e seu aguerrimento em plena vigência da ditadura militar, sempre combatida por ele.

Agora, 42 anos depois, que releitura podemos fazer dessa música? Será que ela nos inspira também a deixar uma mensagem, um aviso, um alerta diante das complexas variáveis que estamos enfrentando na política, na economia, nas condições sociais, culturais, tecnológicas, ambientais e legais que permeiam nossas estratégias de sobrevivência em condições tão adversas?

Já estamos passando pela campanha eleitoral para as eleições municipais que elegerão prefeitos e vereadores em 15 de novembro. Serão muitos ou apenas alguns os recados que serão dados através das urnas? Será que ainda vale o dito popular de que “Quem avisa amigo é”?

Recado 
Fonte: Letras.mus.br

Se me der um beijo eu gosto 
Se me der um tapa eu brigo 
Se me der um grito não calo 
Se mandar calar mais eu falo 
Mas se me der a mão 
Claro, aperto 
Se for franco 
Direto e aberto 
Tô contigo amigo e não abro 
Vamos ver o diabo de perto 
Mas preste bem atenção, seu moço 
Não engulo a fruta e o caroço 
Minha vida é tutano, é osso 
Liberdade virou prisão 
Se é amor deu e recebeu 
Se é suor só o meu e o teu 
Verbo eu, pra mim já morreu 
Quem mandava em mim nem nasceu 

É viver e aprender 
Vá viver e entender, malandro 
Vai compreender 
Vá tratar de viver 
Viver e aprender 
Vá viver e entender, malandro 
Vai compreender 
Vá tratar de viver 

E se tentar me tolher é igual 
Ao fulano de tal que taí 
Se é pra ir vamos juntos 
Se não é já não tô nem aqui.
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Uma primavera de preocupações

por Luis Borges 29 de setembro de 2020   Pensata

Pensei esta pensata a partir da chegada da primavera no hemisfério Sul no dia 22 de setembro. De cara foi bom por que ela veio trazendo chuva após o imenso calor e a baixa umidade relativa do ar ao final do inverno e minha referência é a região metropolitana de Belo Horizonte. É claro que as características dessa estação do ano trazem uma boa expectativa em relação ao rebrotar da flora, a beleza das flores coloridas, a crescente intensificação das chuvas e do calor acompanhado pelas sensações térmicas um pouco acima.

Por outro lado vou falar de algumas das muitas preocupações que continuam enchendo a minha mente diante de tantas variáveis que não controlo, mas que preciso acompanhar devido ao impacto que trazem para a minha vida e creio que também para a sua.

Aqui reforço e ratifico a minha crença de que os fatos, dados e problemas não deixam de existir só por que são ignorados, negados ou escondidos solene e mentirosamente debaixo do tapete. A educação e o conhecimento são a base de tudo e não têm substituto. A verdade é mostrada por evidências objetivas, não pode ser substituída por narrativas baseadas em notícias falsas em prol de um desejo de poder permanente.

Preocupam nesta primavera da sociedade polarizada com falta de respeito, ódio e retrocessos civilizatórios, os rumos do combate à pandemia da Covid-19. A flexibilização chegou como um alento para a retomada da economia, mas sem volta às aulas, expectativas de uma vacina eficaz e segura para a virada do ano e a certeza de perda do poder aquisitivo – 20% em média. Mas será que a dengue virá mais fraca? O dever de casa está sendo feito?

Também são preocupantes as consequências do fogo na Floresta Amazônica, no Pantanal do Mato Grosso, no interior do estado de São Paulo e nas montanhas de Minas Gerais. Não é só a chuva preta e a reação dos mercados internacionais, também me preocupam os números mostrados pelo IBGE, a partir do método científico, que contabilizam em torno de 14 milhões de desempregados, 5 milhões de desalentados e mais de 10 milhões de pessoas passando fome. A carestia se acentua diante dos preços do arroz, do óleo de soja, da carne bovina, do milho… Não vale dizer que o auxílio emergencial em 4 parcelas de R$600 e outras 4 de R$300,00 somados ao dólar bem alto e ao aumento de exportações desorganizaram a lei da oferta e da procura. Canetada para conter preços e liberalismo não combinam, segundo os liberais mais sinceros.

Fico esperando uma bolsa “capitalismo” a partir de janeiro para garantir uma renda mínima para a camada da população mais pobre e para os que estão abaixo da linha da pobreza. Será necessário ceder alguns anéis do sistema para não perder os dedos. Mas de onde virá o dinheiro? Da nova embalagem da antiga CPMF, ou seja, do aumento de tributos, do corte de gastos públicos com as castas dos servidores públicos dos 3 poderes, do capital financeiro, da tributação de empresas optantes pelo Simples…

Meu espaço acabou, mas as preocupações não. Falarei mais sobre elas numa futura pensata, talvez ainda na primavera.

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Vale a leitura

por Luis Borges 26 de setembro de 2020   Vale a leitura

Dominado pelo ressentimento

De vez em quando é importante parar um pouco e pensar sobre como o ressentimento nos afeta em função de nossas escolhas e também das não escolhas. Às vezes é mais cômodo não tomar uma decisão esperando que o outro faça isso por nós ou então apontar um culpado pelo nosso fracasso. Fica fácil encher o pote de mágoa e se afogar nele ou, quem sabe, acumular forças para fazer a ruptura do pote.

Conheça a visão da jornalista e psicanalista Maria Rita Kehl sobre o tema numa entrevista ao HuffPost Brasil – As raízes do ressentimento que carregamos e como a sociedade vai ficando mais ressentida

O que está em jogo a ponto de os ressentidos se recusarem a esquecer ou superar algo?

O sujeito se torna ressentido quando não reage, ou não luta, para se defender de uma ofensa; nem se arrisca a expressar, em um debate, sua opinião. Não se esforça para tentar conquistar algo que deseja muito, mas cuja conquista não é garantida – ele pode ganhar, mas também pode perder. Então, ele recua. Mas como recuou diante de um desejo ou de um enfrentamento importante, como não se defendeu de um agravo ou uma injustiça, depois não consegue esquecer. E passa a vida a culpar alguém que o teria prejudicado por não lhe conceder, de mão beijada, o que ele desejava.

Quando o bom dia vira negócio

Você já deve ter se acostumando a receber um cumprimento diário de “bom dia” de uma pessoa amiga, colega de trabalho… pelo WhatsApp ou de participantes de grupos dos quais você faz parte. Muitas vezes você até reclama de tantos “bom dia”, “bom dia”, “bom dia” que recebe. Mas existem também as mensagens de bom dia de conteúdos bem produzidos que trazem a esperança de uma melhoria contínua para prosseguimento de nossas vidas. Atender a essa necessidade das pessoas pode ser uma boa oportunidade de negócios. Alguns exemplos disso foram mostrados por Vitor Tavares no artigo Mensagem de bom dia: o mercado por trás das imagens que você recebe no whatsapp” publicado pela BBC e repostado pelo UOL Tilt.

O empresário Ricardo Oliveira comanda uma rede de sites que alcança milhares de pessoas diariamente — o número exato nem ele mesmo sabe. A produção, porém, é intensa. Junto a Oliveira, outras sete pessoas (uma sócia, três funcionários e três freelancers) estão envolvidas na concepção, produção e publicação dos desejos de “bom dia”, “boa noite”, recados de otimismo, legendas prontas e mensagens religiosas em cinco dos sites mais bem ranqueados no Google — ou seja, aqueles que aparecem primeiro quando buscamos palavras como “mensagens de bom dia”

Por dia, são publicadas mais de 10 imagens e 20 frases de efeito — que internautas, ao visitarem os sites, podem copiar ou linkar direto para uma conta de WhatsApp com um clique.

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O último 10 de setembro marcou mais uma vez o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, data criada em 2003 pela Organização Mundial da Saúde e pela Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio. Em função dessa data o Centro de Valorização da Vida (CVV) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) criaram, em 2015, o Setembro Amarelo, campanha brasileira com o mesmo objetivo que chegou ao seu sexto ano de realização. Alguns leitores poderiam até perguntar por que essa campanha é necessária, mas alguns fatos e dados abordados a seguir evidenciam o quanto ela se justifica.

Falar em morte geralmente é um tabu para boa parte das pessoas e quando ela acontece em decorrência de um suicídio parece que o tabu só aumenta. Afinal de contas não é nada fácil tentar entender as razões para uma pessoa decidir antecipar o fim de sua vida intencionalmente.

Segundo a OMS a cada 40 segundos uma pessoa se suicida no mundo e no ano passado aproximadamente um milhão de pessoas praticaram tal ato. É preciso ressaltar que há subnotificação de casos em muitos países. Por outro lado existem estimativas dando conta de que as tentativas fracassadas de suicídio no mundo teriam chegado a 10 milhões no último ano.

Como se vê em função dos dados existentes esse é um problema crônico que precisa ser enfrentado mundialmente. Segundo Antônio Geraldo da Silva, Presidente da ABP, a quase totalidade dos óbitos por suicídio em todo o mundo se relaciona a doenças mentais não tratadas ou tratadas de forma inadequada, em 96,8% dos casos. Transtornos de humor, como depressão e transtorno bipolar, transtornos por uso de substâncias e esquizofrenia são os três mais associados à tentativa de suicídio.

Eu poderia continuar abordando diversas outras dimensões do suicídio, mas o que mais nos desafia na situação atual é o que podemos fazer para ajudar as pessoas que estão precisando de apoio. Como sempre a educação é a base de tudo. É preciso abordar continuamente o tema de maneira preventiva para romper o tabu que o cerca. O setembro amarelo tem contribuído muito nesse sentido. É preciso estar atento para perceber os sinais que as pessoas emitem para pedir ajuda, socorro e ter compaixão, solidariedade para ver e agir diante do problema.

Apesar de tudo o que o país enfrenta na saúde pública, existem alternativas. Um exemplo disso é o CVV, o Centro de Valorização da Vida, trabalho voluntário que existe há 58 anos sempre atendendo, ouvindo e falando pelo telefone no número 188 durante 24 horas por dia. Também existem os Centros de Atenção Psicossocial – CAPS – ligados às prefeituras municipais, os serviços gratuitos de atendimento de algumas universidades e faculdades nos cursos de psicologia e medicina, bem como o de algumas organizações religiosas voltadas para o serviço social. É necessário conhecer o caminho das pedras para melhor orientar quem precisa de tratamento em situações de adversidade. Precisamos combater a inércia, deixar o primado da mera contemplação dos problemas e partir para a ação com método, foco, determinação e constância de propósitos. Que prevaleça o dom da vida!

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