Sem cair na indiferença

por Luis Borges 13 de julho de 2021   Pensata

Faz tempo que a civilização brasileira tem sido marcada pela polarização política, que deve prosseguir cada vez mais intensa até as eleições presidenciais em outubro de 2022 – em pouco menos de 15 meses. Diante de tantas convicções de lado a lado, eis que vem à tona a tentativa de criar uma terceira via, buscando dizer que “nem um, nem outro”. Para tornar tudo um pouco mais complexo e complicado ainda temos a pandemia da Covid -19 a desafiar a arte de viver. Quantas mudanças tornaram-se obrigatórias diante do foco na necessidade de sobreviver apesar de todas as pedras do caminho, muitas delas surgidas por ações e omissões?

Considerando que tudo começa com a gente, seja individualmente e, a seguir, nas relações familiares e com os amigos, que percepções temos e que avaliações podemos fazer sobre o impacto da polarização no nosso cotidiano? Será que estamos conseguindo dar conta de prosseguir na caminhada mantendo a saúde mental e o convívio saudável, agradável e respeitoso com aqueles que estão mais próximos de nós? Percebo que tudo está muito desafiador e a nos exigir grande paciência histórica no esforço para viver e vencer um dia de cada vez, mas também carregados de expectativas sobre o que pode estar vindo por aí. Tudo isso sem deixar cair no esquecimento o filósofo grego Heráclito que no ano 508 antes de Cristo disse que “nada é permanente a não ser a mudança”. Como tem sido nossas atitudes e posturas diante do despreparo que nos torna mais fracos para enfrentar novas condições na sociedade em suas diversas camadas e nas nossas vidas com suas particularidades?

A cada dia ficamos sabendo de casos numa família ou num grupo de amigos, colegas de trabalho ou de vizinhos protegidos, por exemplo, em que alguém postou algo num grupo de WhatsApp e que alguns membros não gostaram. A consequência mais imediata tem sido o cancelamento, a exclusão monocrática, fora os demais desdobramentos na sequência. É obvio que se gasta muita energia para se ter uma participação efetiva nesse tipo de rede com variações em torno de uma bolha. Aliás, muitos são aqueles que sabem falar – e muito – quase como juízes do mundo da verdade absoluta. Porém não sabem ouvir. Os ditados populares dizem que “quem fala demais dá bom dia a cavalo” e “quem fala o que quer, ouve o que não quer”.

Imagine especificamente os casos de famílias ou amigos rachados pela polarização política e pelos patrulhamentos ideológicos. Muitos já são aqueles que tem preferido ficar à margem dos grandes embates para só conversar amenidades e prosseguir na convivência. Dizem que é melhor ficar no “modo silencioso” para não criar transtornos. Porém, qual deve ser a dosagem desse silêncio para não cair na indiferença?

 E você, caro leitor, como tem se posicionado em tempos tão belicosos?

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por Luis Borges 9 de julho de 2021   Vale a leitura

Método clínico centrado na pessoa

Segundo um dos fundamentos da gestão de negócios cabe ao cliente avaliar e dar uma nota aos bens e serviços que recebe de seus fornecedores. Como tem se dado isso em relação aos profissionais da área da saúde contratados para a prestação de serviços de maneira verbal ou formalizada em contrato? Especificamente na área da medicina, qual é o nível de satisfação dos clientes, que são atendidos com o nome de pacientes, muitos deles sentindo na pele a sensação de que a passividade seria inerente à relação médico (doutor) – paciente?

Uma abordagem interessante está no artigo “Método clínico centrado na pessoa”, escrito por Cristina Almeida e publicado no blog Viva Bem do portal UOL.

“O que caracteriza essa prática é que ela foca no aspecto essencial do cuidado, ou seja, busca atender às necessidades do paciente para além da queixa que o levou ao consultório.

De acordo com um artigo publicado no periódico Cadernos de Saúde Pública, é como se o diagnóstico fosse colocado entre parênteses, para, antes, considerar o ser humano vivendo suas incertezas, medos, angústias, entre outros aspectos que compõem a sua vida. A ideia é colocar a ciência —ferramenta que poderá ou não ser utilizada— a serviço desse paciente, que é único.

“O MCCP nos ajuda a fazer uma consulta que estimula o maior entendimento da pessoa, do seu processo de adoecimento em todos os níveis, visando um cuidado mais assertivo”, completa a médica de família e comunidade Zeliete Zambon, presidente da SBMFC (Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade).

A partir daí, constrói-se, junto ao paciente, um plano de corresponsabilidade —que também é um exercício de cidadania— no tratamento, que o coloca sempre como pessoa autônoma e protagonista da sua própria saúde.”

O aniversário do Tonho da Tininha

Digamos que hoje seja o aniversário de nascimento de seu pai. O que poderia ser feito para celebrar a data, principalmente se ele prossegue em sua trajetória de pai ou também avô, por exemplo? E se ele já partiu para outro plano espiritual, ou mesmo, se conviveu pouco ou quase nada com você?

Nesse sentido é interessante a leitura do artigo “Uma pausa para falar do meu pai”, que Julia Rocha escreveu para homenagear seu pai.

“Meu pai também me ensinou a ser resiliente. Quando o diabetes lhe rendeu pontes de safena e um AVC, ele comprou uma bengala e com ela seguiu fazendo suas caminhadas diárias. Quando a visão prejudicada lhe impediu de estudar, coisa que ele ama fazer, meu pai comprou um abajur e uma lupa e seguiu lendo avidamente! Quando os passos foram ficando lentos, ele começou a caminhar no quintal ou de mãos dadas com a minha mãe na rua de casa. Quando não dava mais para caminhar até a banca do jogo de bicho, seu único e irremediável vício, ele logo conseguiu o celular do rapaz que fazia suas combinações e agora meu velho se gaba de jogar no bicho “online”.

Em tempos tão duros em que tantas pessoas sofrem pela ausência antecipada de seus pais, ter o Tonho da Tininha tão pertinho é um imenso privilégio. Ora rabugento, ora cheio de graça, meu pai segue sendo pra mim um exemplo de solidariedade, de luta e de amor.”

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Gestão é o que todos precisam, mas nem todos ainda sabem que precisam. Essa é uma afirmação que tenho feito sempre que percebo a sua pertinência num determinado contexto. Por isso é que ela cabe nesse 5 de julho, 186º dia do ano cuja metade já foi embora, para que possamos fazer um balanço da nossa gestão individual visando atingir as metas estabelecidas para serem alcançadas até o final do ano. Será que os planos de ação formulados estão sendo cumpridos e os resultados parciais aparecendo na linha da meta a indicar que o rumo esta certo? Ou será necessário um reposicionamento estratégico em função de mudanças na conjuntura e nos cenários que poderão impactar nas entregas que nos desafiam?

O ponto aqui é fazer uma avaliação crítica, sem medo dos fatos e dados, sobre as metas pessoais, profissionais e familiares com as quais temos engajamento / comprometimento. Um método consistente a ser usado propõe que sejam respondidas as 5 perguntas básicas listadas a seguir:

  • O que foi planejado em função das premissas da virada do ano, portanto há meio ano?
  • O que foi executado nesse período de tempo?
  • Quais foram os resultados parciais alcançados até o momento?
  • O que está pendente no caminho traçado para o avanço da linha da meta?
  • Quais são os próximos passos, inclusive levando-se em conta os reposicionamentos estratégicos em função da conjuntura atual – após meio ano- e dos cenários que se desenham no horizonte?

É importante avaliar a consistência do que foi planejado e a sua capacidade de operar bem o plano de ação para atingir as metas, com foco, disciplina, constância de propósitos e verificação da qualidade da gestão naquilo que só depende de você, de suas iniciativas e protagonismos. Só reclamar dos outros e se vitimizar não te levará ao resultado esperado.

É fundamental também ter em mente que nós respondemos pelos processos sobre os quais temos autoridade e que devemos acompanhar as variáveis que não controlamos, mas que nos impactam direta ou indiretamente. Por exemplo, a inflação oficial e setorial, a carga tributária, o aumento de preços administrados pelos governos da União, estados, municípios, crescimento da economia, tamanho do mercado de trabalho, a relação entre o real e o dólar…

Caro leitor, será que o resultado do seu balanço de meio do ano é satisfatório ou são muitas as correções na rota para que você consiga atingir suas metas até o final do ano?

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Pessoas em situação de rua

por Convidado 2 de julho de 2021   Convidado

*por Sérgio Marchetti

Em oportunidades anteriores, afirmei que este momento do mundo será registrado na história e lembrado pelas gerações futuras como um marco doloroso da vida da Terra. Já seríamos lembrados por termos presenciado a mudança de século e de milênio. Mas, infelizmente, as tristezas marcam mais do que as alegrias. E, fato é, que a desigualdade cresceu demasiadamente por consequência da pandemia que se iniciou em Wuhan, na China.

Diante de um quadro avassalador, o desemprego cresceu em todo o mundo e muitas famílias, sem trabalho, não tiveram outra opção a não ser morar nas ruas. Para mim, meus solidários leitores, é inconcebível que pessoas, que gente, idosos, adultos e crianças durmam com os ratos e passem fome e frio num mundo de tanta ganância e de renda tão injustamente distribuída.

Confesso que não estou conseguindo parar num sinal de trânsito e ver tanta gente tentando se reinventar, seja fazendo malabarismos ou vendendo alguma coisa. Dói não poder ajudá-los em sua luta pela sobrevivência. Meu sentimento é o de ver alguém se afogando e não fazer nada para salvá-lo.

É triste saber que a tragédia pintada nesse quadro não toca, não gera compaixão em grande parte das pessoas. Os miseráveis não precisavam sofrer tanto, eles precisam de ajuda para moradia e alimentação. Não me entendam errado, esclarecidos leitores. Eles não pedem auxílio-moradia, auxílio-terno, auxílio-alimentação, auxilio-engraxate, quota de combustível, etc. Alguns só pedem que o seu próximo abra o vidro do automóvel e lhe dê uma moeda. Depois, óbvio, o doador pode pegar o álcool gel e reforçar a proteção contra o coronavírus.

E é nesse momento que aparecem os anjos, sem voarem porque não têm asas, mas com corações de gigantes para ajudarem os mais necessitados. Nem tudo está perdido. Pessoas boas, muitas vezes com o orçamentado estrangulado, se comprometem a ajudar a matar a fome e o frio de pessoas em situação de rua. Isso me conforta, me dá um alento e uma esperança.

Recentemente, pude, por iniciativa de minha mulher, Rose, engajar e dar uma pequena ajuda a uma campanha feita com o coração, solidariedade e esforço de um grupo de caridosos que distribuem comida, roupa, agasalho, cobertores e calçados. A ajuda continua, o inverno chegou agora e, certamente, poderemos salvar irmãos de menor sorte de padecerem ou até de morrerem de frio.

Aquele que quiser fazer parte poderá doar agasalhos, calçados, cobertores e roupas. Um caso curioso aconteceu há alguns dias, quando um doador, jogador de voleibol, doou, além de roupas, alguns pares de tênis, número 46, e pensamos que em ninguém serviriam. Mas, para nosso espanto, foi muito festejado por um rapaz de estatura elevada que disse estar descalço porque ninguém havia doado sapatos que coubessem em seus pés.

Então… tudo pode, tudo serve, tudo vale quando é doado com o coração.

Quem desejar conhecer melhor o trabalho realizado, pode visitar o perfil do Instagram @hojevamosjantarfora.

“Não há frio tão intenso e congelante quanto o da indiferença” (Júlio César)

*Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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Um dia sem água

por Luis Borges 28 de junho de 2021   Pensata

Sabe aqueles momentos do finalzinho das tardes de domingo em que algumas pessoas sentem que já não dá para fazer quase mais nada enquanto a segunda-feira se aproxima? Foi nesse momento do penúltimo domingo que o professor Leôncio alertou o seu vizinho, o comerciante Samuel, que havia um vazamento de água importante na calçada, mais precisamente na divisa entre suas casas. Elas ficam no bairro de Santa Tereza, zona Leste de Belo Horizonte, que tem quase que a mesma idade da cidade.

Ao observar detidamente o fenômeno da água estava escoando livremente rua abaixo, caracterizando um desperdício pleno, o professor Leôncio manifestou preocupação com a falta que ela faria nas casas enquanto Samuel tentava encontrar possíveis causas do problema percebido. Indagava se poderia ser a fragilização da rede de distribuição da água instalada há décadas e sem manutenção preventiva ou preditiva visível nos últimos tempos.

O jeito foi ligar para o atendimento ao cliente da companhia de saneamento, na esperança de não ser tratado como mero usuário. A atendente cumpriu o padrão de atendimento e conseguiu compreender que o caso necessitava de uma atenção imediata, do tipo “ver e agir”.

Por volta das 20h30 chegou ao local um técnico de uma empreiteira da empresa concessionária do serviço, que diagnosticou um vazamento na rede distribuidora de água instalada na calçada. Disse que o reparo seria feito a partir da manhã da segunda-feira e que tentaria fechar os registros da rede distribuidora nas esquinas de duas ruas próximas. Por volta de uma hora da madrugada o professor Leôncio percebeu que a água parou de escoar quase que totalmente. Soube-se depois que houve dificuldade para fechar totalmente os registros da rede, que estavam um pouco emperrados. Isso piorou as condições para o reparo da rede ao longo do dia.

Lá pelas 17h de segunda-feira a tubulação danificada estava substituída, mas ficou um buraco sinalizado que deveria ser totalmente fechado com a respectiva recomposição da calçada até 48 horas após.

Tudo ficou pronto na quarta-feira à tardinha, ou seja, 3 dias após o vazamento ter sido descoberto. Há quanto tempo o vazamento teria se iniciado sem ter sido percebido e qual o nível de qualidade do serviço feito pela empreiteira perguntou o professor Leôncio ao vizinho Samuel? “Sei lá, vamos ver quanto tempo vai durar”, respondeu ele.

Enquanto todos os moradores da rua passaram 24 horas sem água chegando em suas casas, os dois vizinhos conversaram sobre o período sem chuvas e o impacto que isso causa no consumo de água nas diversas modalidades de seu uso. Samuel levantou a hipótese de ficar três dias seguidos sem água em casa e como sua família se viraria no período. Nada de lavar roupas, aguar as plantas, reduzir drasticamente a duração dos banhos diários e sempre lembrando que a caixa d’água só tem capacidade para armazenar 1000 litros. Arrematou a conversa lembrando-se da crise hídrica e do muito que precisa ser feito para que a água não caminhe para a sua própria finitude. Mas como fazer para que isso não aconteça?

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por Luis Borges 27 de junho de 2021   Vale a leitura

Amizades tóxicas  

“Amigo é coisa para se guardar/ Debaixo de sete chaves/ Dentro do coração” canta Milton Nascimento na música Canção da América, lançada em 1980.

Mas quando e como avaliar a qualidade das relações de amizade feitas ao longo de uma trajetória de vida na família, na escola, no trabalho ou numa organização humana de propósito específico? É possível retificar uma amizade em que o benefício é menor que o custo ?

Leia a abordagem de Heloisa Noronha em seu artigo “Há vários tipos de amizades tóxicas; veja como identificar e lidar com elas” publicado no canal Viva Bem do portal Uol.

Amigo vítima – É aquele que sempre se coloca como mártir e sofredor das situações. Não importa o quanto você tenta ajudar a pessoa a se fortalecer, ela insiste em se manter numa postura de lamúrias e reclamações. É uma relação que, com o tempo, se mostra disfuncional. Primeiro, porque leva você a se sentir constantemente insuficiente e até inútil por não conseguir ajudar. Segundo porque, conforme especialistas, onde há uma vítima geralmente há também um carrasco. Não é raro, ainda, começar sentir culpa por questões que você sequer provocou ou tem responsabilidade. Por fim, a vitimização pode carregar doses de manipulação à medida que você vai fazendo o que o outro deseja, mesmo sem se dar conta, para minimizar a sua dor e apaziguar suas queixas.”

Como seria a imortalidade? 

Existem pessoas que morrem de medo da morte e preferem fugir de qualquer conversa sobre ela ou simplesmente varrer tudo para debaixo do tapete. Que finitude da vida que nada! Seria possível ou estimulante para essas pessoas pensar um pouco sobre a imortalidade ou é melhor também deixar isso para lá?

É interessante a abordagem feita por Rodrigo Lara sobre o tema no artigo “O que é imortal não morre no final?: como seria se fôssemos eternos?” publicado no canal Tilt do portal Uol.

Com “amanhãs” infinitos, não teríamos nenhum motivo para nos apressarmos em fazer algo ou resolver um problema. Isso vale para coisas mais práticas, como consertar aquele defeito na sua casa ou começar uma faculdade, como também nas relações que temos com outras pessoas. Se apaixonar, por exemplo, seria possível, mas perderia aquela gostosa sensação de urgência de querer realizar o máximo de coisas com a pessoa amada. Certamente teria menos graça. O mesmo vale na hora de encontrar os amigos, algo que sempre poderia “ficar para depois”. A tendência é nos tornarmos pessoas mais fechadas e menos expostas a tudo de bom e de ruim que o convívio social causa. Além da questão de desenvolvimento social, essa nova relação com o tempo também afetaria outro aspecto: a evolução científica e tecnológica. Afinal, por que avançar em ritmo acelerado e tentar tornar a nossa vida melhor hoje se teremos todo o tempo do mundo?

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Neste 21 de junho o Inverno chegou novamente ao hemisfério Sul do planeta, embora o frio já se fizesse presente a partir de meados do Outono na região metropolitana de Belo Horizonte. Nessa época começaram a pipocar notícias nas diversas mídias dando conta de que o último período chuvoso não foi forte o suficiente para encher de água os reservatórios das usinas hidrelétricas.

Também surgiram com mais intensidade notícias sobre o uso múltiplo das águas para o abastecimento humano, a irrigação das lavouras e criação de animais do agronegócio bem como sobre a vazão mínima para garantir a navegabilidade do sistema formado pelos rios Tietê – Paraná e a contribuição da bacia do Rio Grande, que nasce na serra da Mantiqueira, em Minas Gerais.

Em meio a tudo isso lembrei-me do racionamento do uso da energia elétrica, iniciado em 16 de maio de 2001, com a meta de reduzir 20% no consumo. Vale lembrar que o racionamento terminou em fevereiro de 2002. Todo mundo teve que fazer seus planos de ação próprios com as medidas necessárias e suficientes para atingir o resultado esperado.

Mas quais eram as causas do “apagão” da energia elétrica naquele momento? Falta de chuvas, desmatamento, falta de investimentos para a construção de linhas de transmissão de energia, matriz energética brasileira com baixa participação da energia fotovoltaica (solar) e dos ventos (eólica), planejamento e gestão deficientes. Agora, passados 20 anos, todas essas causas continuam sendo faladas em diferentes graus de aleatoriedade.

A grande saída para o capitalismo sem riscos no setor de energia elétrica é continuar fazendo o que tem sido feito nos últimos anos. A cada semana vem uma notícia ruim sobre a estiagem para justificar a necessidade de usar a energia das usinas térmicas movidas a óleo, gás e carvão e repassar o seu elevado custo para as tarifas pagas pelos consumidores. Tudo isto ancorado em lei, enquanto a cada mês o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) anuncia uma nova bandeira tarifária extra que está projetada para o nível máximo da bandeira vermelha a partir de julho custando R$ 7,57 a cada 100 kWh (quilowatts-hora) consumidos.

A sensação que fico diante de tanta falação sobre a escassez das chuvas é que ou aceitamos pagar um preço maior pela geração das usinas termelétricas ou teremos um racionamento de energia elétrica.

Não nos esqueçamos de que faz parte da nossa conta de energia elétrica o ICMS de 42%, as ligações clandestinas –“gatos”- com 5% e outros penduricalhos mais.

Fico pensando no impacto disso tudo na inflação em aceleração, que há seis meses vem sendo justificada como momentânea – 8,06% do IPCA dos últimos 12 meses. A pior perda para o poder aquisitivo das pessoas vem da inflação e quem consegue ter uma reposição dela anualmente em seus salários pode pôr as mãos para os céus.

Pelo andar da carruagem e segundo dizem as autoridades governamentais precisaremos esperar até novembro para que se inicie o próximo período chuvoso e, com ele, talvez ficaremos livres da bandeira tarifária vermelha em seu nível mais alto e caro. É o capitalismo sem riscos na energia elétrica.

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