A sobrinha e a tia idosa

por Luis Borges 26 de outubro de 2021   Pensata

Todo dia é dedicado à lembrança de uma ou mais coisas de natureza variada e foi assim que passamos pelo primeiro de outubro, Dia do Idoso. Vale lembrar que a lei brasileira considera idosas as pessoas com idade a partir dos 60 anos. Estima-se que o Brasil tem, hoje, aproximadamente 28 milhões de idosos e que esse número chegará a 43 milhões em 2031. Diante de tantas consequências políticas, econômicas, sociais e culturais que isso tem, de vez em quando surge alguém propondo que a idade limite seja elevada para 65 anos devido ao aumento da expectativa de vida. Apesar desse tipo de proposição, é importante conhecer onde, como (com quais condições?) e com quem (ou sozinhos?) vivem os idosos brasileiros.

Ajuda-nos a tentar encontrar respostas para essas perguntas, ainda que a título de ilustração, um caso do qual tomei conhecimento recentemente. Trata-se de uma senhora de 86 anos, solteira, servidora pública aposentada e sempre muito determinada em seus propósitos. Faz tempo que ela mora num apartamento de 100 m², com 3 quartos, numa movimentada rua no Centro de Belo Horizonte. Há seis anos ela teve importantes perdas em suas condições funcionais e passou a viver – ou sobreviver – numa configuração bem diferente do que era até então.

Uma sobrinha, hoje com 50 anos, passou a ser sua procuradora e resolve monocraticamente todas as questões relativas às coisas de sua vida. Ela montou uma estrutura operacional que conta com uma empregada doméstica, uma cuidadora de idosos para as noites de segunda a sexta-feira e outra para os finais de semana. A sobrinha também recebe os proventos da aposentadoria e dos aluguéis de dois apartamentos que a tia possui no bairro dos Funcionários. Acontece que a sobrinha resolve praticamente tudo a distância. Conta essencialmente com a empregada doméstica para as compras diárias, inclusive de medicamentos e itens de higiene pessoal, e assim chega a ficar até três semanas sem visitar a tia. Quando ela aparece por lá, a tia começa a reclamar das coisas e logo recebe réplicas em tom de ameaça por parte da sobrinha, que diz que ela será encaminhada para uma Instituição de Longa Permanência para Idosos- ILPI.

A tia, em seus tempos áureos, sempre esconjurava essa alternativa de moradia e, portanto, logo fica em silêncio diante da ameaça. Instantes depois a sobrinha dá um jeito de ir embora alegando que tem muitos outros afazeres.

Dessa história, gostaria de chamar atenção para o pré-conceito em relação às moradias para idosos e proponho uma reflexão.

É claro que existem instituições privadas de variados modelos, em função do poder aquisitivo de cada cliente, e também as filantrópicas, com as contribuições possíveis de cada morador, caso ele tenha condições. Melhor seria que as pessoas em geral tentassem conhecer melhor as moradias e centros de convivência para idosos, pois muitos de nós também poderemos precisar delas num futuro que se avizinha a cada dia. Até mesmo a sobrinha da tia idosa de hoje, que alias será a sua herdeira .

Nunca nos esqueçamos que o idoso quer carinho, atenção e tratamento digno, sem essa de ser infantilizado ou iludido com a lembrança de que está na “melhor idade”.

E você, caro leitor, o que acha de tudo isso? Será que isso só acontece com os outros que chegaram à fase idosa da vida?

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“Se muito vale o já feito, mas vale o que será. E o que foi feito é preciso conhecer, para melhor prosseguir”

É o que dizem Milton Nascimento e Fernando Brant na música O Que Foi Feito Devera, de 1978. Eles nos inspiram a pensar e agir neste momento em que o processo de vacinação contra a Covid-19 e suas mutações ganha velocidade.

As pessoas imunizadas com a primeira dose da vacina já passam de 152,32 milhões e as com a segunda dose ou dose única superam 106,87 milhões. Sem contar a dose de reforço, que chega a cada vez mais pessoas.

Diante disso passamos pela flexibilização das medidas de segurança sanitária que foram fundamentais para o combate ao vírus e a sua disseminação. São visíveis os resultados alcançados, apesar de todos os pesares e perdas. Mas a pandemia ainda não acabou e a Organização Mundial da Saúde nada disse em contrário até o momento. Inegavelmente existem diferentes situações na terra globalizada e também diferentes atitudes perante a pandemia, inclusive a de não se vacinar.

O avanço da vacinação mostra seus reflexos na redução das internações nas enfermarias e UTIs dos hospitais bem como na redução da velocidade de transmissão do vírus. Assim, estados e municípios começam a flexibilizar as regras de segurança. Apesar de alguns balões de ensaio pra suspender uso de máscaras e higienização das mãos, os infectologistas e demais especialistas recomendam que seu uso siga permanente, sobretudo em locais fechados e pouco ventilados.

Diante disso o que esperar do comportamento das pessoas que cumpriram disciplinadamente as medidas de segurança sanitária e ficaram em casa sempre que puderam? Será que quem passou pela incerteza, insegurança e medo diante de tantas perdas materiais e humanas, estaria agora com muita ansiedade para rapidamente tirar o atraso em relação ao que deixou de fazer anteriormente? Nesse sentido ainda continua válido pensar em como as nossas escolhas individuais terão consequências para a coletividade. Mas são perceptíveis muitos sinais de pessoas que estão indo com muita “sede ao pote” depois de terem feito tudo conforme os padrões sanitários.

Lembrei-me de um casamento ocorrido numa cidade do quadrilátero ferrífero de Minas Gerais no sábado em que começou o feriadão comemorativo da padroeira do Brasil. O casamento havia sido adiado duas vezes e a empresa contratada para fazer a festa deu um ultimato, dizendo que não negociaria um novo adiamento. A festa acabou sendo feita para 200 participantes, a metade do que era previsto inicialmente.

Em torno de 20% dos participantes entraram no local usando máscaras. Quatro deles relataram olhares atravessados dos que dispensavam o equipamento de segurança, como que a questionar o uso da máscara no local da festa com aglomeração livre. Muitos também foram os abraços calorosos trocados por algumas pessoas falando em saudades.

Quem me contou esses fatos deu um jeito de sair logo do ambiente após cumprir um protocolo para não abalar uma antiga amizade. Fiquei sabendo de gente que está fazendo uma lista de pessoas a serem visitadas daqui para frente e que estão se perguntando se estarão na lista de alguém.

Será que já dá para ficar durante duas horas numa sala de cinema ou num teatro na configuração clássica das cadeiras, mesmo com uso de máscaras? E ir a um estádio com lotação permitida cada vez maior? A decisão é de cada um e o risco é para todos.  Estão vindo aí os feriados de Finados e Proclamação da República, o Natal, a virada do ano, as férias de verão, o Carnaval…

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Curtas e curtinhas

por Luis Borges 19 de outubro de 2021   Curtas e curtinhas

Preços da energia elétrica

As distribuidoras de energia elétrica estão pleiteando junto ao Governo Federal um aumento no preço da tarifa extra – que está no seu mais alto patamar. Hoje a bandeira de escassez hídrica adiciona R$14,20 à conta de energia a cada 100 kwh (quilowatts-hora) consumidos. As usinas termelétricas alegam que esse preço não cobre o aumento do custo do óleo diesel e do gás natural usados na geração de energia.

O Ministério das Minas e Energia disse que está estudando o assunto e relembra que a taxa extra vigorará de setembro de 2021 a abril de 2022. O período chuvoso já começou, mas pelo visto está a caminho mais um aumento para o consumidor que sempre “paga o pato”. E o poder aquisitivo continuará indo embora. Ou será que o Presidente da República revogará numa canetada as disposições em contrário no que tange à vigência da tarifa extra da escassez hídrica?

Aulas presenciais

O governo do estado de São Paulo determinou a volta total das aulas presenciais no ensino público e privado, até o nível médio, a partir deste 18 de outubro. Já no dia 3 de novembro deixará de existir a obrigatoriedade da distância mínima de 1 m entre as carteiras, mas continua sendo obrigatório o uso de máscara e do álcool em gel para a limpeza das mãos, tanto para os alunos quanto para os professores e funcionários técnico-administrativos.

Enquanto isso as Universidades Federais e os Institutos Tecnológicos dão sinais de que só voltarão à plenitude do ensino presencial no primeiro semestre de 2022. Como será a continuidade do ensino híbrido – presencial e remoto – e em quais condições poderá ser utilizado? A conferir.

Trabalhadores por conta própria

O IBGE divulgou que o número de trabalhadores por conta própria chegou a 24,8 milhões no segundo trimestre do ano. Esse número é composto por Microempreendedores Individuais (MEI), que tem CNPJ e contribuem para o INSS, e por informais, sem qualquer tipo de garantia. Juntos, representam 28% das pessoas que estavam trabalhando no período. Em 12 estados esse índice passa dos 30%, sendo que no estado do Amapá chega a 40%. O trabalho por conta própria tende a continuar nas alturas diante da lentíssima recuperação econômica e do altíssimo desemprego. Os números são coletados, observados e analisados cientificamente e falam por si. Não dá para negá-los, ignorá-los ou tentar justificá-los com uma desculpa qualquer que signifique abuso da inteligência alheia.

Cenários do FMI para o mundo

O Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou no dia 12 de outubro o seu segundo relatório anual com os cenários projetados para o restante deste ano e para o ano eleitoral de 2022. Ele mostra o crescimento da inflação mundial, que deve ficar entre 3 e 4% no ano. Isso foi o suficiente para o Ministro da Economia tentar justificar a inflação brasileira – de 10,25% nos últimos 12 meses – culpando os alimentos e a energia que, segundo ele, respondem pela metade do índice inflacionário. Entretanto foi mais conveniente deixar de falar que estamos muito além e que a meta do Conselho Monetário Nacional para a inflação deste ano era de 3,75%. Também nada disse sobre o preço do barril de petróleo a U$80,00 , pressionado pelo aumento do consumo sem aumento da produção, e a variação cambial desvalorizando o real em meio às incertezas políticas.

O FMI projeta um crescimento de 5,1% para os países emergentes no ano que vem, mas especificamente para o Brasil esse índice é de apenas 1,5%. É o que temos para hoje!

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A economia e a realidade

por Convidado 16 de outubro de 2021   Convidado

*por Malco Camargos 

Uma frase que marcou para sempre o mundo das estratégias das campanhas eleitorais começa a soar cada vez mais alta aqui no Brasil. Em 1992, quando Jorge Bush destacava seus feitos em guerras internacionais e valorizava a soberania conquistada, Bill Clinton aumentava seu favoritismo à medida que os americanos avaliavam a crise econômica, o medo da inflação e a dificuldade de comprar imóveis. Nesse contexto o mote da eleição foi dado por James Carville, responsável pelo marketing na campanha de Clinton – “É a economia, estúpido”.

James Carville foi o criador da frase mas não foi responsável por mostrar o peso da economia na escolha dos eleitores. Diversos autores, em diferentes universidades no mundo, vêm comprovando e refinando a teoria do impacto da percepção da situação econômica sobre a decisão de voto. O cálculo é simples e pode ser resumido em uma única frase – se a economia vai bem o eleitor vota no candidato governista e se a economia vai mal, busca um nome na oposição.

Para falar de economia uma distinção básica deve ser feita – o que podemos entender por macroeconomia e microeconomia.  O cenário macroeconômico aborda questões da economia doméstica e internacional com ênfase nas perspectivas de crescimento, política monetária e fiscal – a macroeconomia mensura o desempenho da economia em um país, sua capacidade de produzir crescimento e sua política econômica internacional. Uma área valorizada por economistas e agentes econômicos e, em geral, relevada pelos cidadãos. Já a microeconomia vai ter foco no comportamento e nas escolhas das pessoas na economia e também na relação entre o capital e o trabalho que podem gerar diferenças salariais entre grupos da sociedade (homens e mulheres, brancos e negros, etc…) e as motivações das decisões dos consumidores.

Entre estes dois cenários, o macro e o micro, deve-se considerar também a percepção das pessoas. Nenhum indicador macroeconômico tem peso maior do que a constatação do desempenho econômico a partir da experiência do consumidor/cidadão/eleitor. É na hora de ir ao supermercado, à farmácia ou mesmo ao bar que o cidadão faz sua avaliação da economia; isto somado com a possibilidade ou não de sair para trabalhar e ter uma remuneração digna formam o pensamento econômico que vai moldar o voto do eleitor quando ele estiver em frente à urna. Nesse sentido, em algumas situações, economistas e alguns especialistas valorizam a ação de determinado governo na condução da política econômica, mas os cidadãos não percebem melhoria na sua qualidade de vida e optam por outra alternativa que não a recondução do grupo que governa ao poder.

No Brasil, em 2022, o presidente Bolsonaro vai tentar valorizar seus feitos econômicos: enxugamento da máquina, privatizações, distribuição de dividendos, balança comercial e busca da solidez nas contas públicas. Mas nada disso é mais significativo do que a sensação de que o salário conquistado – quando isso é possível – não dura até o final do mês para a maior parte dos brasileiros e que vários itens básicos não são incluídos na cesta de compras por falta de dinheiro.

Não há retórica econômica que mude a percepção de que Bolsonaro não produziu melhoras na vida dos brasileiros. À revelia do que dizem alguns economistas, nenhum indicador significa mais que a própria experiência diante de uma realidade cada vez mais dura para milhões de brasileiros. Realidade esta que faz com que o eleitor tenha saudade de um tempo em que podia viver bem o presente e sonhar com o futuro – duas coisas que lhe foram tiradas nos últimos tempos.

*Malco Camargos é Doutor em Ciência Política, diretor do Instituto Ver Pesquisa e Estratégia e professor da PUC Minas. 

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A cansativa reforma de uma casa

por Luis Borges 14 de outubro de 2021   Pensata

Ter uma casa própria faz parte dos sonhos da vida de muita gente. A moradia é uma das necessidades do ser humano segundo a pirâmide de Abraham Maslow (1908-1970) como parte do quesito segurança.

Vou contar aqui o caso de um casal amigo – que também acontece com outras pessoas – que resolveu recentemente fazer uma pequena reforma em sua casa própria, com 150 m² de área construída, numa verdadeira demonstração de autoestima, de renovação e energização do ambiente do viver cotidiano. A meta estabelecida foi pintar a casa e os muros, bem como revisar o telhado (antes do período chuvoso), em seis semanas contínuas de trabalho, de segunda a sexta.

Todo o planejamento foi detalhado num plano de ação cuja primeira medida era a especificação dos serviços a serem feitos. Logo em seguida vinha a contratação de um prestador de serviços da modalidade Microempreendedor Individual (MEI), com dois ajudantes e com referências de qualidade na prestação de serviços a dois clientes. Essa fase foi bem difícil e demorou três semanas para ser concluída. Foram consultados 4 fornecedores, dos quais 1 estava com a agenda cheia e outro combinou uma reunião para conhecer o que seria feito, não compareceu, remarcou para a semana seguinte e, de novo, não apareceu e nem deu satisfação. Um terceiro que foi procurado ficou de apresentar uma proposta, foi cobrado algumas vezes para que a enviasse e até hoje nada, também não deu nenhuma satisfação. Acabou sendo contratado o único que apresentou proposta, por sinal compatível com a capacidade financeira do casal prevista no planejamento.

Assim os serviços se iniciaram na primeira semana de agosto para serem concluídos em meados de setembro. Dentro das condições gerais do contrato ficou estabelecido que caberia ao contratante – cliente – a compra de insumos e materiais necessários, mas que deveriam ser especificados e apresentados pelo contratado – fornecedor – com antecedência mínima de 24 horas. Na prática isso acabou gerando fadiga entre as partes, pois quase todos os dias se solicitava alguma quantidade de algum item que estava acabando, ou seja, a previsão inicial falhou.

Outros aspectos que incomodaram muito aos contratantes foram a limpeza do ambiente, bastante descuidada, a organização em geral (muita bagunça) e um certo desperdício de materiais, inclusive de tempo. Ainda bem que o casal se hospedou na casa de uma filha durante a prestação do serviço.

Outra percepção clara foi sobre o ritmo de trabalho no dia-a-dia, notadamente na segunda, “pegando no tranco”, e na sexta, com muita ansiedade pela chegada do fim de semana. Houve também pouca pontualidade em relação ao horário de início dos trabalhos pela manhã e na retomada após o almoço, mas a assiduidade foi plena. Diante de tudo que aconteceu, acabou sendo inevitável um atraso de duas semanas e os serviços foram concluídos no dia primeiro de outubro, data limite para o início do período chuvoso.

Qualquer semelhança com alguma experiência já vivida por você, caro leitor, pode nos permitir a repetição de um dito popular afirmando que isso “só muda de endereço”. É isso mesmo?

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Curtas e curtinhas

por Luis Borges 8 de outubro de 2021   Curtas e curtinhas

Reforma do Imposto de Renda

A proposta de reforma do Imposto de Renda está tramitando na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. O relator é o Senador Angelo Coronel (PSD-BA), que deve apresentar o seu parecer no início de novembro. Ele afirmou que pretende elevar o limite de isenção do IR para quem ganha até R$5.000,00 mensais, que é o dobro da proposta aprovada pela Câmara dos Deputados. Essa medida atingiria em torno de 25 milhões de pessoas, ou seja, 9 milhões a mais do que prevê a proposta dos deputados federais. Na campanha eleitoral de 2018 o atual Presidente da República disse que isentaria do IR quem recebesse até 5 salários mínimos mensais, que equivalem atualmente a R$ 5.500,00. A conferir.

Microcrédito

A Caixa lançou no dia 27 de setembro um programa de microcrédito para empréstimos que poderão ser usados pelos clientes em gastos pessoais ou em microempreendimentos. Os valores vão de trezentos a mil reais e devem ser solicitados por meio do aplicativo “Caixa Tem”, que exige dos participantes a atualização cadastral permanente. A taxa de juros a ser cobrada será de 3,99% ao mês e o cliente poderá quitar a sua dívida em até 24 meses. Quem tomar um empréstimo de mil reais para pagamento em 24 meses, por exemplo, pagará R$ 68,38 a cada mês e ao final do período terá desembolsado R$1.641,12. E olha que a Caixa é um banco social.

Quem vai pagar o bônus?

O governo federal criou um bônus para quem economizar energia elétrica no período de setembro a dezembro de 2021, que será creditado na conta de janeiro ou fevereiro do ano que vem conforme o ciclo de faturamento da  distribuidora. Mas o dinheiro para cobrir o valor gasto com o bônus virá da própria tarifa de energia elétrica em seu próximo reajuste. Ele será lançado no pouco divulgado item relativo a “Encargos de Serviços de Sistema (ESS)” pois é um gasto não previsto que surgiu ao longo da vigência da tarifa atual. Na prática, todos os consumidores pagarão o custo do bônus, inclusive os que economizarem energia elétrica. Criatividade é isso mesmo!

Abstenção nas eleições 2022

Faltam 359 dias para as eleições de 2 de outubro de 2022. Pesquisas de intenção de votos já estão sendo divulgadas e tentam trazer um retrato do momento em relação a possíveis candidaturas já colocadas, principalmente para a Presidência da República e os governos dos estados. Mas, para ajudar a melhorar o retrato, a primeira pergunta a ser feita nas pesquisas deveria ser sobre a vontade do eleitor de comparecer às urnas. Apesar do voto ser obrigatório, um dever e não um direito, a abstenção no primeiro turno das eleições de 2018 ficou em 20,3% e em 2020 em 23,14%. Portanto, analisar e observar a abstenção é fundamental para quem quer melhor conhecer e compreender o processo eleitoral. Com a palavra os institutos de pesquisas.

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Amizades sobreviventes

por Luis Borges 5 de outubro de 2021   Pensata

Passados quase dois anos de enfrentamento do vírus da Covid-19 e de suas mutações, bem como das consequências da pandemia – que ainda não acabou, é bom lembrar – fico pensando nos rumos que as amizades entre as pessoas tomaram e continuaram tomando. As mudanças não param. Penso em duas músicas de Milton Nascimento. Nada Será Como Antes é a primeira. A segunda é Canção da América, na qual Milton canta que

“amigo é coisa para se guardar debaixo de 7 chaves, dentro do coração”.

Como estou cheio de perguntas, penso: será que é isso mesmo? Ou cada caso é um caso, em seu devido tempo?

Constato que muitas pessoas amigas de vários quinquênios e outras de alguns anuênios estão bem mais sumidas. De algumas até penso se não estão escondidas por questão de segurança, de cabeça cheia de preocupações generalizadas que se acumulam e consomem mais tempo em sua já intrínseca escassez. Com certeza, falta gestão. Mas, e se nos lembrarmos das principais características de nossas amizades antes da pandemia? Será que elas estavam sendo bem cultivadas e polidas? Havia tempo dedicado a elas apesar de toda a correria estressante de cada dia, semana ou mês? Antes da pandemia, qual era o real valor da amizade pra nós, mesmo que várias tenham se acabado após o prazo de validade?

Trazendo isso para hoje, tomando todas as precauções para conter a disseminação do vírus, é importante avaliar o nosso querer, os motivos que temos para continuar mantendo – e bem – as nossas amizades, com todos os conteúdos que podem ser abordados nessas relações. Depois que aconteceu o acontecido, que veio trazendo tantas consequências ameaçadoras para todos, do eu ao nós, será mais fácil gastar a energia que ainda temos na solidão? Quem sabe será possível caminhar para a solitude, sozinhos, mas nos sentindo bem, com energia suficiente para gastar um pouquinho do tempo para ser dedicado às amizades, mesmo que mais no modo remoto e ainda quase nada presencial? Será que é tudo isso mesmo ou dá para flexibilizar mais ? Qual o nível de medo de uma contaminação pelo vírus após a imunização que nunca será absoluta?

Diante de tudo que vai rolando e respeitando o momento que minhas amizades estão atravessando, tenho tentado encontrar as pessoas para conversar em viva voz, pelo telefone celular e rarissimamente no fixo, que quase ninguém tem mais.

Mesmo tendo a iniciativa de procurar as pessoas amigas sem cobrar reciprocidade, muitas são as dificuldades encontradas e que se acentuaram nessa pandemia. Uma delas é o fuso horário. Qual seria a hora adequada para fazer um contato usando o dispositivo tecnológico? Será que as pessoas estão dispostas a conversar e com qual profundidade, duração, capacidade de ouvir e falar? Pode ser que a fase esteja levando as pessoas a uma revisão de muitos valores, questionamentos de crenças jamais imaginadas.

O desafio permanece, mas espero que as amizades sobreviventes continuem ajudando mutuamente a quem nelas acredita e cultiva.

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