*por Sérgio Marchetti
Quando fazia Letras na UFMG tive um colega que dizia que a cada dia a escola estava mais longe da sua casa. E, para quem estudava literatura e figuras de linguagem, aquilo era uma linda metáfora. Mas, se me permitem plagiar aquela ideia, digo que a educação está a cada dia mais longe dos jovens. E não me canso de repetir que nada acontece de maneira isolada. Então o contexto atual indica que as mudanças na educação dos filhos foi um fracasso?
Acredito que nenhum adolescente vá ficar com raiva de mim. Eles não vão ler o que escrevo. Não têm esse hábito. Mas não os culpo. Eles são o resultado de um sistema que diz que “evoluiu” e que ter respeito e educação são meras “caretices”, como também a própria palavra (careta) deve estar ultrapassada. Eu sou retrógrado. O que é isso? Alguém que não progrediu. Não conseguiu acompanhar a evolução da sociedade. Sim. Estou velho, tão velho que sou daquele tempo em que respeitávamos as pessoas com mais idade do que nós. Cedíamos o lugar para eles. E, mesmo que não tivessem razão, não ousávamos discutir. Falar palavrão? De maneira alguma, principalmente perto de uma mulher. Hoje, muitas delas evoluíram, e já falam muitos palavrões.
Eu moro no bairro Sion e aqui, bem perto da minha casa, tem uma escola para meninos de classe média alta. Mas, acreditem, meus crédulos leitores, muitos, não todos, mas muitos mesmo, não sabem o que é ser educado. E, para explicar melhor, digo que aqui está impossível almoçar em restaurante no horário entre meio dia e uma hora. Para vocês terem uma ideia, outro dia eu estava na fila para o almoço quando, sem nenhuma cerimônia, três meninas furaram a fila. Fiquei assustado e não disse nada, tamanha a naturalidade delas. Imaginei que já estivessem lá e, por alguns instantes, sem que eu percebesse, houvessem saído. Mas não parou por aí. Em seguida, mais quatro meninos me fizeram lembrar da frase do meu colega de faculdade: senti que meu almoço estava ficando a cada minuto mais distante de mim. Foi aí que intervi. E disse que estava na fila e que não poderia deixar tanta gente passar na minha frente. Fizeram caras de deboche. — Esse velho ridículo está nos atrapalhando— imagino que pensaram. E ainda argumentaram que os lugares estavam guardados, acompanhados de um som de “tô nem aí”. O prazer do almoço prosseguiu. E, finalmente, quando já havia atingido minha meta de ter um prato servido, veio a segunda etapa: não encontrei lugar para me sentar. Com o prato na mão, lembrei-me de um conto surreal de Murilo Rubião. As mesas estavam todas ocupadas, sem que os anjinhos estivessem almoçando. É que na minha completa incompreensão, não percebi que enquanto alguns estavam furando a fila, outros guardavam os lugares nas mesas. Compreendi, naquele instante, que a amizade é uma coisa linda de se ver. Sou ranzinza? Nem tanto. Não estou reclamando do barulho, digo dos gritos que, na minha rabugice, não percebi que eram a maneira de deixar os idosos surdos participarem do rico momento.
Não se preocupem, leitores casmurros, não vou falar da fila do pagamento. Depois do almoço, fui ao supermercado. Não havia vaga para estacionar. Perguntei ao segurança se estava acontecendo alguma coisa diferente. Ele me disse que era o horário. É que os pais estacionam no supermercado para deixar ou buscar os filhos na escola. Em minha pertinácia compreendi que as mães e pais, movidos pelo egocentrismo, “super” confundiram, inocentemente, o nome do estabelecimento, que, por ter a palavra “nosso”, seria o estacionamento deles.
Ao adentrar no recinto, como diz a polícia, tive vontade me evadir. Estava cheio de meninos. Parecia com aqueles filmes de invasores… Fiz a compra de dois itens e fui para o caixa de idosos, direito que já adquiri, e… vocês não acreditam… havia uma fila enorme somente de meninos uniformizados.
Depois da odisseia, sei que vocês estão pensando que fugi para casa para ter sossego. Mas não tive. Explico: minha rua era calma, sem trânsito, sem passar ônibus. Podíamos entrar e sair da garagem tranquilos. Mas, um belo dia, segundo alguns cidadãos que frequentaram as reuniões dos moradores do bairro, um certo vereador, por ter filhos na escola, conseguiu mudar o sistema de trânsito nas ruas Venezuela e Estados Unidos, visando, claro, melhorar o conforto dos pais dos alunos, em detrimento dos moradores e dos idosos das casas de repouso. Agora, não nos deixam sair ou entrar na garagem. Temos buzinaços, congestionamentos, conflitos e, até, acidentes de trânsito. Mas nada disso importa; o que vale é a intenção.
Por isso, dizem que “de bem-intencionados, o inferno está cheio” e aqui na Terra também.
*Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.
Pensemos na situação de uma pessoa que está procurando uma vaga para consulta médica, eletiva ou de urgência, preocupada para encontrar um profissional que aceita atender pelo plano de saúde já na primeira prestação de serviço. E como ela ficará se a espera for pelo resultado de determinado exame de apoio a um diagnóstico médico? Pensemos também em quem está esperando a reconstrução da casa destruída numa das enchentes do início do ano. Ou em outra pessoa que continua aguardando a liberação de sua parte na herança deixada por uma tia solteira que se finou no início do ano passado. Meu ponto aqui está ligado às expectativas geradas pelas respostas que temos de esperar e também pelas que nunca chegam. É muita expectativa, que segundo o dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa é “situação de quem espera a ocorrência de algo, ou sua probabilidade de ocorrência, em determinado momento”.
Entretanto esse momento nem sempre chega para muitas pessoas que participam de processos seletivos que visam preencher vagas de trabalho em determinados tipos de organizações humanas, a começar por empresas dos mais diferentes portes. E isso não é de agora. É que nelas predomina a incapacidade de informar aos candidatos não selecionados a sua real situação, ou seja, que não foram aprovados. Se essa informação não vem, podemos até imaginar quanto tempo vai se passar para que a pessoa conclua que aquele determinado processo não resultará em nada positivo. Essa ausência de retorno acaba sendo uma postura muito desrespeitosa com quem está procurando uma oportunidade de trabalho para bancar a própria sobrevivência.
Outra modalidade que tem sido usada sem se preocupar com o retorno para quem entra no processo é o anúncio de vaga para trabalho com inscrição a ser feita no portal de algumas empresas com o pedido de preenchimento da ficha e anexação do currículo. De repente, o anúncio é retirado do ar durante o período de inscrição, sem nenhuma explicação, e tudo fica por isso mesmo.
Alguns que se inscreveram ficam matutando sobre o destino da vaga. Será que foi cancelada, adiada ou redirecionada para outra necessidade mais prioritária de determinado setor da empresa em tempo de orçamento apertado? Dá até para pensar se a empresa só queria medir o mercado para verificar as principais características do momento, inclusive a disponibilidade de pessoas capacitadas, por exemplo. Obviamente que organizações humanas desse tipo sempre terão variados argumentos para justificar o ato desinformativo.
Muitos dirão que a organização não tem estrutura e tempo para dar esse tipo de retorno diante da quantidade de candidatos. Também justificam o ato sob a alegação de que existia muita pressa para admitir quem foi selecionado para preencher logo uma lacuna existente e combater a sobrecarga da equipe. Outros alegaram dificuldades para dar uma notícia ruim a alguém. Mas, cá para nós, é melhor saber logo o resultado do processo, inclusive se ele foi cancelado. Isso é mais respeitoso com as pessoas participantes e deixará o caminho livre, sem ilusões para ajudar no reposicionamento de cada um na vida que prossegue.
Uma oportunidade para trabalhar com dignidade nessa conjuntura em que a estratégia é de sobrevivência é o que muitas pessoas querem e precisam. Isso torna-se cada vez mais agudo diante dos 11,3 milhões de desempregados e 4,6 milhões de desalentados – os que desistiram de procurar trabalho -, além da fome e da insegurança alimentar.
Como se vê não dá para simplesmente deixar de levar em consideração as expectativas das pessoas enquanto o tempo vai passando. Alguma resposta é muito mais respeitosa com as pessoas do que nenhuma resposta.
O residencial Jardim das Hortênsias foi construído num terreno de 800 m² na região nordeste de Belo Horizonte. Na parte central do lote está um edifício com 12 apartamentos, sendo 4 por andar, e área base de 85 m² cada um. No subsolo existem duas vagas de garagem para cada apartamento. No primeiro andar os 4 apartamentos possuem área privativa. No segundo estão os apartamentos tipo e no terceiro ficam apartamentos com as respectivas coberturas. O prédio tem elevador, mais uma vaga externa de garagem para cada apartamento, área de lazer, segurança eletrônica e síndico profissional. A construtora vendeu o prédio na planta e, aos trancos e barrancos, levou 8 anos para entregar o que foi vendido.
Como acontece com frequência nessas situações, muitas coisas não foram feitas e outras receberam a aplicação de materiais e componentes bem abaixo da qualidade que foi especificada. A construtora geralmente se justificou, se contorceu em explicações ou simplesmente fugiu de suas responsabilidades.
Passados 5 anos em que os apartamentos estão ocupados pelos proprietários, sendo que três deles mudaram de proprietário, o que não muda é o nível e a quantidade de atitudes desrespeitosas da maioria deles.
Qualquer coisa que acontece, independente do que diz o regimento interno, é suficiente para se instalar o tribunal do grupo de WhatsApp integrado pelos moradores. Muitos que são valentes nas telas não resistem aos mínimos argumentos numa conversa cara a cara ou numa assembleia geral do edifício diante de fatos, dados e evidências objetivas conforme a natureza dos temas. O portão de pedestres ou da garagem esquecidos abertos, churrasqueira desregulada esparramando fumaça, o lixo domiciliar armazenado de qualquer jeito, sem obedecer aos padrões, música em alto volume em alguns apartamentos, ocupação indevida de vagas de automóveis na garagem… aparecem com frequência nas postagens do grupo.
Mas o que “bombou” na semana passada foi uma tentativa de entrega de uma encomenda para um morador que não estava em casa. Não demorou muito, ele recebeu um aviso da transportadora dizendo que a encomenda foi entregue com sucesso. Foi o suficiente para que ele perguntasse no grupo de WhatsApp quem havia recebido a sua encomenda. Como ninguém respondeu de imediato, ele insistiu na pergunta.
Pelo menos sete moradores responderam que não pegaram e não precisavam de ficar com a encomenda, dois perguntaram se o vizinho estava pensando que eles eram ladrões e todos disseram que de agora em diante não pegarão encomendas para ninguém.
Isso é um pequeno resumo do nível das falas postadas no dia do ocorrido.
No início da manhã seguinte o morador postou nova mensagem pedindo desculpas pelo ocorrido no dia anterior, dizendo ter sido informado pela transportadora que sua encomenda não foi entregue e que, devido a um erro de processamento, ele acabou sendo avisado do contrário.
Como se vê os detalhes decidem, inclusive para quem não presta atenção nas coisas e age no impulso com muita vontade de dar vazão à própria ansiedade por algo que estava esperando e também buscar um culpado pela não chegada da encomenda às suas mãos.
Apontar o dedo é bem mais fácil que gerenciar para resolver problemas.
A pandemia da Covid-19 e suas variadas mutações impôs a muita gente a obrigatoriedade do “se puder, fique em casa” e do distanciamento social para evitar as aglomerações, o que muito contribuiu para combater a disseminação do vírus.
Foi um longo percurso, mas chegamos à segunda dose de reforço vacinal para quem tem mais de 50 anos de idade e tomou a última há mais de 4 meses. Agora estamos diante de mais um repique do vírus e uma recomendação para se usar máscaras em ambientes fechados. Lembremos que recomendação não é obrigação e que cada indivíduo tem o livre arbítrio para cuidar de si e também se preocupar com quem está no seu entorno, sua área de influência.
Mas se “cada dia com a sua agonia”, como se diz no nordeste brasileiro, que decisão tomar com segurança em termos de flexibilização de procedimentos depois de tudo que tem acontecido nesses últimos dois anos e seis meses de pandemia?
Além da Covid-19, agora entrando para o calendário de vacinas, ainda temos gripe, resfriado comum, dengue, zika, chikungunya, sinusite, rinite, febre amarela, sarampo…
Nesse tempo que ainda estamos atravessando, bem mais flexibilizado, vale registrar a grande aceleração dos relacionamentos a distância entre as pessoas, com mediação das telas dos dispositivos tecnológicos. Mas até quando ficar manter distância à medida em que tudo vai voltando ao ritmo da pré-pandemia nas mais diversas atividades que necessitam e contam com a presença das pessoas, que são gregárias por natureza?
Nesse sentido cada caso é um caso na retomada dos encontros presenciais entre as famílias em seus diferentes laços, parentes e amigos que cabem nos dedos das mãos.
Vou contar aqui o caso de dois casais amigos de décadas, na faixa etária dos 60 a 70 anos, que não se encontravam presencialmente há quase 3 anos. Obviamente que nesse período mantiveram contatos a distância, cuja frequência foi compatível com o tamanho da amizade longeva. Na pauta sempre fazia parte a expectativa pelo momento em que ocorreria um encontro presencial cheio de energia para ser compartilhada. Na segunda quinzena de maio ficou claro para os casais amigos que era chegada a hora do encontro presencial, com a devida gestão de riscos que o momento ainda exige.
O casal anfitrião foi o que fez a última visita presencial ao casal amigo ainda em 2019, ano anterior ao início da pandemia no Brasil. Finalmente no sábado 4 de junho à noite aconteceu o tão esperado encontro presencial. Preparado com muito esmero pelos anfitriões com todas as características do seu jeito de ser.
Foram três horas de uma conversa animada e feliz com a sensação gostosa da retomada do convívio característico de quem sabe polir e cultivar as amizades.
Na hora da despedida veio o convite do anfitrião para o encontro que vai celebrar o seu aniversário de nascimento num espaço aberto e com duas dezenas de participantes. O casal amigo disse que sim, mas voltou para casa pensando em como seria estar com mais gente num aniversário já adiado por 2 anos. Isso porque a visita que estava acabando de terminar foi a primeira que fizeram após tanto tempo na retranca pela sobrevivência.
E você caro leitor, como tem sido a sua retomada dos encontros presenciais com as pessoas mais próximas?
Abstenção eleitoral
Faltando menos de 4 meses para o primeiro turno das eleições deste ano, está passando da hora de os institutos de pesquisas medirem, também, a abstenção. A primeira pergunta a ser feita deveria ser sobre a intenção do eleitor de comparecer às urnas.
A abstenção no primeiro turno da eleição de 2018 ficou em 20,3% e na de 2020 chegou a 23,14%. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral 152,3 milhões de pessoas estão aptas a votar neste ano. Se somarmos às abstenções os votos nulos e brancos (não válidos) teremos o índice de alienação eleitoral para nos mostrar o interesse do cidadão pelo sistema político. E olha que o voto é obrigatório – um dever e não um direito.
Desempregados e desalentados
O IBGE divulgou na semana passada os números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua para o trimestre fevereiro, março e abril. O número de desempregados chegou a 11,3 milhões de pessoas. Os desalentados, pessoas que desistiram de procurar trabalho, chegaram a 4 milhões e os trabalhadores informais, sem garantias sociais, são 38,7 milhões.
Enquanto isso o crescimento da economia brasileira no primeiro trimestre medido pelo PIB foi de 1%. Ainda estamos muito longe da excelência, numa ruindade que se arrasta desde 2015.
Menos senadores e deputados
A Proposta de Emenda Constitucional 431/18 está com a tramitação paralisada na Câmara dos Deputados desde dezembro de 2019. Essencialmente, a PEC propõe uma redução nos custos das casas legislativas federais e estaduais com a redução do número de parlamentares. Assim, o número de senadores seria reduzido de 81 para 54, os deputados federais cairiam de 513 para 395 e nas assembleias legislativas estaduais a redução do número de deputados seria de 24%. Por esse critério a Assembleia Legislativa de Minas Gerais passaria a ter 59 deputados e não mais os atuais 77.
Quando será que essa PEC voltará a tramitar?
Teto do ICMS em 17 %
Os combustíveis da Petrobras são regidos pela política de Preço de Paridade de Importação (PPI) desde 2016. Agora, os preços decorrentes dessa política já estão muito além das alturas e arrastaram com eles a inflação e a enorme perda do poder aquisitivo das pessoas. Vende-se a ideia de que a grande saída para conter os preços é o estabelecimento do teto de 17% para a cobrança de ICMS de combustíveis, energia elétrica, telecomunicações e transportes. Enquanto o tempo passa e nada se resolve, estamos diante de uma oportunidade para pesquisar nos últimos 30 anos quando o ICMS desses segmentos da economia ultrapassou o teto de 17%, que está sendo proposto. Vale lembrar que atualmente a alíquota do ICMS da gasolina é 31%, da energia elétrica até o consumo de 90 kwh é de 30%, telecomunicações 27% e transportes 18%. A conferir.
Mais um recorde
A Receita Federal informou que recebeu 36,3 milhões de declarações do imposto de renda da pessoa física até as 23:59 da terça-feira 31 de maio. A estimativa da Receita era de receber 34,1 milhões. É nisso que dá o congelamento da tabela, que vai entrar em seu oitavo ano. Enquanto isso, o Senado tenta um acordo para elevar o limite de isenção do IR da pessoa física para R$2500,00 ante os atuais R$ 1.903,98. Será?
Nem em ano eleitoral a coisa consegue avançar.