Nascimento e Finitude

por Luis Borges 3 de maio de 2023   Pensata

Nasceu Helena no dia 25 de abril. Nesse mesmo dia, há 49 anos, aconteceu a Revolução dos Cravos em Portugal. Primeira filha de Lolô e Pedro, talvez a única para tempos como esses, é neta de Dizinha São José, dos Campos, lá no Estado de São Paulo. Enquanto escrevo ela já está no quarto dia após a luz. Por outro lado, eu que acompanhei a gravidez pelos informativos da avó materna, prima permanentemente querida, fiquei pensando também no fim do caminho, na finitude da vida, na luz que se encerra.

Simultaneamente, um turbilhão de coisas que precisam ser feitas vieram à tona como que a desafiar a gestão do tempo que segue passando. Aliás, tempo que corre como a água do rio ainda perene, mas que não voltará atrás. Se o que passou, passou mesmo, o que ainda falta exige priorização diante do bem cada vez mais escasso que é o próprio tempo. Obviamente que a ausência de critérios não pode ser o critério para definir prioridades. E se, por exemplo, a amplitude for reduzida com a antecipação da finitude diante de uma surpreendente, mas probabilística parada cardiorrespiratória?

A força cortante simplesmente corta e marca o fim de uma caminhada e simultaneamente acontece a passagem para outro plano, com ou sem velório do corpo inerte à espera de uma destinação. Pensando assim percebo como é difícil não só pensar sobre isso, com os próprios botões pensantes, ou mesmo conversar com outras pessoas sobre a finitude e a hora em que ela se dará e com qual nível de qualidade ainda estaremos vivendo. Muitas das vezes a conversa até se inicia, ganha alguns degraus na imaginação de possibilidades e, de repente, alguém sugere que se mude de assunto, pois pensar nisso dá até medo. E não é que o assunto é mudado mesmo!

Talvez alguns dos caros leitores estejam se perguntando por que estou abordando esse assunto agora. Provavelmente alguns até me perguntarão se estou deprimido ou preocupado por estar caminhando para o fim da década da idade marcada pelos anos que começam com 60. Digo com clareza que nenhuma das hipóteses é verdadeira. Meu ponto é provocar, estimular conversas, diálogos e percepções em torno da finitude da vida, inclusive nos encontros presenciais que às vezes até acontecem. Isso muitas vezes nos surpreende, mostrando o despreparo que temos para encarar de frente a realidade como ela se mostra. Que, pelo menos, não sejamos tão surpreendidos diante da sucessão de acontecimentos em variadas velocidades.

Tudo passa também pelo realismo diante das probabilidades sobre o que o futuro poderia vir a ser para nós todos, aí incluídos você e eu.

Mas de nada adiantará as expectativas pelo avanço das pesquisas sobre as células tronco ou da maciça presença da inteligência artificial na transformação digital do modo de ser de cada um de nós.

A finitude da vida é real, pelo menos como a conhecemos. Devemos pensar e agir também em função das variáveis dela advindas.

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Aplicando o senso da utilização

por Luis Borges 25 de abril de 2023   Pensata

No Brasil da década de 90, do século passado, estava em evidência no mundo dos negócios a implantação e implementação da Gestão pela Qualidade Total-GQT, ou seja, para todos os evolvidos nos processos.

Uma pergunta que sempre surgia era sobre como começar. Em muitos casos, tudo acontecia a partir do Programa 5S, com os sensos de utilização, arrumação (ordenação), limpeza, saúde e autodisciplina.

O primeiro senso, o da utilização, nos ensina a selecionar os bens que são usados com mais frequência e que, portanto, devem estar mais próximos. Por outro lado, os bens que não são mais usados e ficam ocupando espaço podem ser doados para quem esteja precisando ou simplesmente descartados num local apropriado. É uma forma de combater o desperdício e remover a energia parada no ambiente.

Isso que é proposto para o mundo dos negócios pode também ser aplicado no cotidiano de nossas residências. Afinal de contas, tudo começa com a gente.

Vou contar aqui um caso que envolve a prática do senso da utilização, inclusive para contrapor a acumulação crescente de bens e a necessidade de se encarar o desapego daquilo que não é mais útil. Muita gente guarda bens em casa na expectativa de que poderá precisar deles um dia, que geralmente quase nunca chega.

Uma advogada de 50 anos, casada, sem filhos, decidiu se mudar do apartamento em que mora há 15 anos. Aproveitou a ocasião para colocar em prática o senso da utilização e abriu mão de alguns móveis e artigos de decoração que não se adequariam no novo apartamento.

No caso das luminárias da sala conjugada com a copa, o interesse espontâneo da então vizinha de apartamento, esteticista, síndica do prédio, 45 anos, casada, duas filhas, facilitou a destinação dos bens.

Quase que imediatamente a síndica providenciou a desmontagem das luminárias e, agradecida, enfatizou que chegaram em boa hora.

A advogada mudou-se do prédio no sábado da mesma semana em que doou as luminárias. Mas logo na manhã da segunda-feira seguinte ela recebeu um telefonema da já ex-vizinha perguntando pela nota fiscal emitida quando da compra das luminárias. A advogada quis entender o porquê. A resposta foi imediata e justificadora. Disse que, mesmo tendo gostado muito das luminárias, resolveu vendê-las para sua irmã e queria ter uma base para estabelecer o preço de venda e as condições de pagamento. Aproveitou também para reclamar da falta de um pequeno componente numa das luminárias, o que poderia desvaloriza-la um pouco.

A advogada lamentou não ter condições de atender a ex-vizinha e despediu-se dela cordialmente, como é da sua natureza. Porém seguiu pensando na Lei de Murici, que preconiza que “cada um cuida de si”. E assim a humanidade prossegue em sua caminhada

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“A vida é arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida”, escreveram Baden Powell e Vinícius de Moraes na música Samba da Benção, lançada em 1967.

A lembrança dessa música veio à minha mente após me encontrar com um primo em três velórios consecutivos, de pessoas da família, num curto espaço de tempo – cinco meses. Após nos cumprimentarmos ainda nas proximidades da urna mortuária do Tio querido por todos, durante a última hora do velório, e ainda bem que cheguei a tempo, ele fez, em tom de exclamação, uma sincera constatação.

“Só estamos nos encontrando em velórios de pessoas da família. Precisamos nos encontrar mais em outros momentos e ambientes diferentes desses”.

Passados quase quatro meses da ocasião, ainda não foi possível marcar um encontro espontâneo, por iniciativa de um de nós. Será que outra pessoa terá que se finar para que nos encontremos novamente?

Fico pensando porque isso está acontecendo. Será que a ida a um velório para  participar do ritual de passagem de uma pessoa com quem temos algum laço de convivência é uma obrigação ou conveniência social?

Seremos vistos por quantas pessoas no tempo de permanência no local, ainda mais agora com os velórios tendo um tempo de duração bem menor? E quantas pessoas veremos antes que elas nos vejam?

Fico tentando entender as causas que nos levam a não priorizar na gestão do tempo os encontros presenciais com as pessoas que imaginamos serem nossas amigas. Prevalecem as omissões e o que precisamos é de atos. Infelizmente, faltam iniciativas que poderiam ser de mão dupla ou mesmo única para viabilizar um encontro presencial, cheio de calor humano.

Como todos se esquecem que as amizades precisam de manutenção e de polimento para se manterem disponíveis e serem usufruídas, só nos resta ter um querer maior para vencer a inércia que nos aprisiona.

Será que o encontro presencial aproveitou a pandemia da Covid-19 para quase acabar de vez? Muitas são as evidências de que ele estava minguando bem antes das medidas sanitárias adotadas.

Até quando prosseguiremos nessa toada? Para muitas pessoas é mais fácil reclamar, cobrar dos outros e se vitimizar. Só nos restará o caminho mais curto para a solidão, ancorada nos dispositivos tecnológicos, enquanto caminhamos rumo à finitude.

Ainda assim, acredito na possibilidade de mudanças diante da percepção da falta que sentimos de outras pessoas interagindo nos diferentes níveis do cotidiano.

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A linguagem dos provérbios

por Convidado 13 de abril de 2023   Convidado

por Sérgio Marchetti*

Ultimamente, tenho visto a língua portuguesa sendo tão maltratada e não é a primeira vez que venho, caríssimos leitores, desabafar com vocês.

Ao que pude saber, estão matando a Flor do Lácio, tão bem cuidada por Olavo Bilac. Talvez alguns brasileiros mais jovens nunca tenham ouvido falar dele. E, constato, que a ignorância é a mãe de todas as doenças. Pois, foi aquele poeta brasileiro que usou tal expressão no primeiro verso de seu soneto “Língua Portuguesa”, se referindo ao idioma português, por ser a última língua derivada do Latim Vulgar, falado no Lácio, uma região italiana.

Porém, a despeito de Bilac, temos a impressão de que muitos brasileiros não gostam da nossa língua. Adoram os estrangeirismos ou são os frequentadores da casa da mãe Joana, e falam errado por uma rebeldia às regras e padrões — que está na moda nos dias atuais. E nem me atrevo a falar de concordância, pois sei que nossa língua não é fácil, mas optar pela discordância verbal, propositadamente, é desobediência linguística totalmente dispensável. Não pensem que sou contra a evolução da língua. Mas quem avisa, amigo é. Saibam que as provas de redação não caíram nesse conto do vigário. Continuam exigentes e reprovando candidatos.

Pasmem, leitores que dominam o léxico. Em sua nova fase, o Museu da Língua Portuguesa adotou o pronome neutro “todes” em suas redes sociais, o que contraria às normas da própria língua. Mas papagaio que acompanha João-de-barro vira ajudante de pedreiro, e não podemos admitir que desmoralizem nossa expressão mais rica de comunicação. Há também muitas pessoas que não pontuam as frases. Dizem que não é necessário. Uma delas me disse que José Saramago também não pontuava e ganhou o Nobel de literatura. Não tive argumentos. É verdade, mas era um gênio.

Há um movimento no ar, cujo objetivo é a destruição de padrões, incluindo-se nele, a família, os costumes, as crenças, além da correção da linguagem — valores que, até então, conduziram a sociedade. E, sabemos que água mole em pedra dura, tanto bate até que fura. É o que esperam os detratores da comunicação, pois, onde há fogo, há fumaça e devagar se chega ao longe, mas, cá entre nós, sentimos vergonha alheia quando, de repente, soltam uma pérola como “vareia”, “interviu”, “maqueia” e frases profundas como: “A fé é uma graça através da qual podemos ver o que não vemos” ou “O calor é a quantidade de calorias armazenadas numa unidade de tempo”. Sim, exigentes leitores, não é fácil sofrer tanta tortura, “Enem” aguentarmos ouvir tanta bobagem. Pior é que as agressões aos nossos ouvidos não ficam somente nos estudantes, mas também em profissionais em entrevistas de televisão que dizem: “a perca foi grande”, e “que se soubesse tinha trago o documento solicitado.”

Seguindo por esse caminho, há que se observar que a vida é um processo em construção e, que há milhares de anos, outros, antes de nós, arquitetaram o futuro e criaram regras e itinerários seguros para que tivéssemos mais conforto, longevidade, saúde e cultura. Desfazer caminhos é uma ação que exige discernimento e, para tal, se faz necessário ter conhecimento. E aquele que desqualifica o saber, está mais perdido do que um barco à deriva. Lembrem-se de que quem desdenha quer comprar. Antigamente, quando nos deparávamos com um indivíduo que desejava subverter a ordem, dizíamos que era do contra. E, dependendo da ordem: iconoclasta. Mas “no fundo” não passa de um chato que ainda terá que aprender que a essência da palavra liberdade não é simplesmente fazer o que “der na telha”, mas sim aprender a respeitar as regras e o direito do outro.

Pensem nisso, porque, depois, não adianta chorar pelo leite derramado.

 

*Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br

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Moro em Belo Horizonte desde 1973, quando a população da cidade era de aproximadamente 1,24 milhão de habitantes. Agora, após 50 anos, chegou a 2,55 milhões, mas a área do município é a mesma: 331,3 km². Na grande BH, a área do município de Nova Lima é de 429,3 km², a de Sete Lagoas 536,9 km² e a de Esmeraldas 909,7 km², por exemplo. Ao longo desse tempo tenho percebido a transformação da cidade em seus diversos aspectos.

Meu ponto aqui é o adensamento urbano da cidade que deveria ser percebido pelos olhares mais atentos de todos, a começar pelos governantes.

Mesmo a cidade tendo um plano diretor, que está em processo de revisão na Câmara de Vereadores, muitas são as consequências do avanço dos empreendimentos imobiliários de todas as naturezas. Pensemos no pouco conhecido mapa acústico da cidade e o quanto ele vai sendo impactado, para pior, diante da transformação urbana.

Nesse sentido, vou contar a conversa que tive com um amigo, pelo telefone fixo, na semana passada. Em tom de desabafo ele falou sobre o que está ocorrendo numa pequena rua em que mora, num edifício construído há 5 décadas em um antigo e tradicional bairro da zona sul da cidade. Seu apartamento fica no andar térreo e tem 250 m², com área privativa. Os demais apartamentos ficam do 2º ao 5º andar, dois em cada, sendo que no último estão as coberturas.

Segundo o amigo, que é síndico do prédio há 5 anos, os moradores foram surpreendidos no início de março com a demolição de dois imóveis vizinhos do prédio. O primeiro, logo abaixo, era uma casa cuja proprietária aparecia por lá durante uma semana a cada estação do ano. Em seguida ficava um pequeno prédio de dois andares e quatro apartamentos cuja aparência externa mostrava a necessidade de uma boa reforma. As demolições começaram por volta das 6h30 da segunda-feira e foram concluídas na mesma semana, por volta das 16h da sexta. O barulho trazido pela demolição foi quase ensurdecedor diante da movimentação das máquinas específicas utilizadas e manobras dos caminhões que retiraram os entulhos em caçambas. Quase sempre algum caminhão obstruía a entrada da garagem do prédio causando mais transtornos. A maioria dos moradores tem idade superior a 68 anos e muitos deles tiveram piora em seus quadros de rinite.

O fato é que na semana seguinte começou a retirada de terra nos dois lotes e a movimentação de caminhões continuou intensa. O amigo síndico conseguiu conversar com os gestores dos empreendimentos, que são de empresas diferentes, e fez as reclamações dos moradores do prédio a começar pela hora em que os trabalhos se iniciam. Até o momento, nada mudou. Apenas foi possível saber que cada terreno vai receber um edifício de sete andares com dois apartamentos por andar, cada um com 67 m².

Como se pode ver e pelo pouco que se sabe, o jeito para os moradores do prédio e outros vizinhos da rua é se preparar para resistir e sobreviver aos transtornos que serão trazidos pelos empreendimentos nos próximos 2 ou 3 anos. Quando tudo acabar, chegarão os novos moradores trazendo mais alaridos e barulhos, muitos veículos automotores, recebimento de muitas encomendas para gerar muito lixo domiciliar, além do uso da mesma rede para distribuição de água tratada, coleta de águas pluviais, coleta de esgotos sanitários e distribuição de energia elétrica…

E você caro leitor, já enfrentou alguma situação semelhante a essa?

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Curtas e Curtinhas

por Luis Borges 29 de março de 2023   Curtas e curtinhas

O Mercado de seguros e os riscos climáticos  

A Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) espera concluir até junho o desenvolvimento de um sistema com ferramentas capazes de mapear riscos climáticos em todo território Nacional. Estão no escopo dos trabalhos a avaliação de riscos referentes a ondas de calor e frio, secas, mudanças crônicas de temperatura, enchentes fluviais, costeiras e urbanas, aumento do nível do mar, estresse hídrico, variabilidades sazonais, intensidade do vento e incêndio.

A expectativa da CNseg é que as ferramentas possam ajudar seguradoras, bancos e empresas na criação de novos produtos ou serviços, bem como ajudar as autoridades no desenvolvimento de políticas públicas para prevenir desastres climáticos.

Vamos esperar para conferir os preços que o mercado de seguros cobrará em função de tantos riscos advindos do clima, que só tem piorado, enquanto não se chega a um consenso sobre o que precisa ser feito e colocado em prática a fim de evitar o pior para o planeta.

Cai o número de lojas especializadas na venda de chocolates 

Um levantamento feito pela Geofusion, empresa especializada em inteligência geográfica de mercado, mostrou que nos últimos dois anos mais de 430 lojas especializadas na venda de chocolates fecharam as portas. As principais causas desse fato são atribuídas às incertezas na economia e ao encarecimento dos insumos. O levantamento mostrou que o Brasil tinha 5.410 lojas em 2021.

As projeções de vendas para a Páscoa desse ano são tímidas segundo as mais recentes estimativas da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O crescimento esperado em vendas é de 2,8% para um faturamento de R$ 2,5 bilhões.

Que todos tenham uma Páscoa compatível com a crescente perda do poder aquisitivo e a redução do tamanho das embalagens dos diversos produtos feitos de chocolate. Ainda assim, feliz Páscoa, feliz passagem para o próximo sonho!

A Unimed-Rio continuará monitorada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS)

A ANS publicou no dia 23 de março a resolução que mantém o regime de direção técnica na Unimed-Rio. Essa condição teve início em 2016 e foi mantida ao longo dos anos seguintes.

Segundo a Unimed-Rio, que é uma cooperativa de trabalho médico, o diretor técnico da ANS faz um acompanhamento mensal dos indicadores da operadora e do plano de ação. Esse ato não é considerado pela ANS como intervenção.

Ainda segundo a ANS, até o 3° trimestre do ano de 2022 a Unimed-Rio acumulava um déficit de R$ 1,1 bilhão no resultado operacional, o segundo maior do país, atrás apenas da Amil com R$ 2,4 bilhões.

A taxa de sinistralidade – quando alguém aciona o plano de saúde – é uma das maiores entre as operadoras de planos de saúde e estava em 109% ao final do período avaliado, sendo que a média do setor era de 88%. Essa situação mostra que o valor gasto com sinistros foi maior que a receita paga pelos clientes.

Como se vê, os clientes da Unimed-Rio precisam ficar atentos com a saúde financeira da cooperativa que tem se mantido debilitada ao longo desses últimos anos. Sustentabilidade até quando?

A fila da recuperação judicial continua andando

A atual onda de pedidos de recuperação judicial de empresas ganhou destaque a partir do caso das Lojas Americanas. O fato encorajou muitas outras empresas a usar o caminho previsto em lei e a fila de pedidos prossegue firmemente. Agora, a Justiça do Rio de Janeiro acatou o pedido do Grupo Petrópolis, dono das marcas de cerveja Itaipava, Crystal e Petra, dentre outras.

O Grupo alegou na justificativa de seu pedido que teve redução de receitas com a queda das vendas em 17% e que tem dívidas de R$ 4,2 bilhões, sendo 48% financeiras e 52% com fornecedores e terceiros.

O enredo é o de sempre, com narrativas semelhantes, mas vale a pena lembrar que gestão é o que todos precisam. Nem todos ainda sabem que precisam e quem não tem estratégia está condenado à morte nesse capitalismo sem tréguas.

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Um mergulho na alma

por Convidado 22 de março de 2023   Convidado

por Sérgio Marchetti*

Dia desses estava de folga numa bela praia. Mergulhei no mar e senti a onda passando sobre meu corpo. Uma sensação de limpeza me envolveu, enquanto submergia naquelas águas frias e salgadas. E ao emergir, uma nova onda me fez repetir o procedimento. Vieram outras, e mais outras… até que, cansado, já não aguentava furá-las como fazia antigamente. Olhei para a praia e observei que estava longe. Havia perdido a noção de distância. Procurei manter-me calmo, apesar do esgotamento, e esperei que alguma onda me levasse de volta até a areia. Mas a correnteza não vinha para o lado que precisava. A cota de calma estava se esgotando e o cortisol me informou que estava em perigo… aí veio o medo de me afogar e, só não aconteceu porque surgiu um surfista com cara e cabelo de anjo, e me rebocou até um local seguro.

Ao sair da água, estava tonto. Mas não quis comentar o aperto que passara. Óbvio que a primeira coisa que iria ouvir é: — você não tem idade para mergulhar e isso é uma atitude irresponsável. Então, me sentei, fechei os olhos e fiquei refletindo sobre o ocorrido. Eu poderia ter morrido por causa de uma distração ou ousadia. Confesso que fui sendo envolvido pelo prazer de ficar sob as ondas e não havia percebido o quanto me afastara da zona de segurança e das pessoas que lá estavam. Fiquei em silêncio. A quietude nos ajuda a desintoxicar a alma. E, como eu estava no mar, aproveitei para fazer uma analogia entre o quase afogamento e a nossa própria vida, sujeita a chuvas, ventos e correntes que nos levam a lugares indesejados.

Meu leitor mais reflexivo, você concorda que nossas vidas têm sido golpeadas por ações compulsivas que — assim como as ondas — não nos permitem parar para descansar? Os inúmeros recursos de comunicação nos massacram com informações desnecessárias e numa intensidade nunca vista. Assim, como neste episódio, as pessoas estão se distanciando umas das outras sem perceberem. Estamos sendo, por assim dizer, “afogados” por uma sucessão de serviços, novos aprendizados e venda massificada que mais se parecem com uma avalanche de ideias nos impedindo de respirar.

Determinados filósofos gregos, bem antes de Cristo, não acreditavam no acaso, e afirmavam que tudo tem uma razão de ser. Partindo daquele princípio, qual lição que devo retirar do incidente? O que devo concluir? Que talvez a vida seja uma sequência de ondas num processo contínuo de mudanças imprevisíveis?  Também posso beneficiar-me do susto como um aviso, um sinal de que depois de enfrentar muitas ondas, energia, força e equilíbrio estarão debilitados. É isso mesmo, meus perceptivos leitores, embora esperemos que a próxima onda nos traga paz e calma — que fizemos por merecer — não temos a menor garantia de que virá amena. Infelizmente não depende somente de nós. Porém, prudência e coerência jamais poderão ser relegadas a segundo plano, porque devemos estar conscientes de que “A vida vem em ondas/ como um mar/ num indo e vindo infinito…” ( L.S.)

Não se deixe afogar.

 

*Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br

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