Quanto mais se avança na idade e se chega em torno dos 50 mais surgem questões ligadas à aposentadoria.
“Quando você vai se aposentar?”
“Você paga previdência privada para complementar o INSS ?”
“Ah, você é concursado. Ainda bem, você tem direito à aposentadoria integral, não é mesmo?”
Essas perguntas são amostras de conversas das quais tenho participado com pessoas da classe média, de idades entre 53 e 68 anos.
Os temores e as dúvidas são muitos, as suposições e simulações quase sempre são mentais e às vezes se verbalizam nas conversas. Poucos falam com clareza sobre o planejamento que fizeram para deixar o trabalho no serviço público ou privado aos 58, 63 ou 68 anos por exemplo. O medo do novo aparece implícito em muitas falas e acaba transparecendo mais no decorrer das conversas.
Algumas dessas pessoas já estão em condições técnicas de se aposentar, mas estão protelando a tomada de decisão enquanto tentam planejar como será a rotina na condição de aposentado. Outros manifestam explicitamente a preocupação com a redução dos proventos do atual salário de, digamos, 12 mil reais, que cairá ao máximo de R$5.189,82, teto atual do INSS. Alguns que estão nessa condição tentam manter a disciplina de formar um fundo próprio para suplementar o que será recebido da Previdência Social.
Existe também 0 caso de um funcionário público que está ansioso para completar 60 anos, o que acontece daqui alguns meses, esperando poder se aposentar antes que ocorra alguma mudança na regra do jogo nesses tempos de queda na arrecadação do setor público. Nesse caso, a prioridade é garantir o direito adquirido. A sequência do cotidiano será ajustada sem a pressão do temor de perdas financeiras significativas.
Também existe o caso de uma pessoa que já se aposentou no poder Judiciário Federal e que fica encorajando outros colegas a fazer o mesmo. Descreve seu ócio atual, cheio de pequenas atividades e de um bom tempo “pirulitando” em redes sociais e também buscando outros conteúdos. Essa pessoa toma cuidado para não se exceder nos exemplos, pois teme passar a sensação de que está totalmente livre. Não quer ouvir o famoso “já que” – “já que você está à toa, podia ir ao banco”…
Por último, completo a amostragem com o caso de um funcionário de uma empresa de economia mista. Ele se sentiu obrigado a se aposentar pelos critérios de um programa de demissão voluntária incentivado. Ainda não completou 59 anos de idade e esperava trabalhar pelo menos mais três antes de se aposentar. Mas, em uma conversa, seu gerente imediato deixou claro que a expectativa da empresa era pela sua aposentadoria. Só lhe restou assinar a solicitação formalizando a decisão para vigorar após o carnaval. Decisão tomada, ele começou a planejar o futuro, projetando trabalhar numa semana “zipada”, de terça a quinta-feira, sem vínculos empregatícios. O final de semana será de sexta a segunda-feira.
Se cada caso é um caso, um certo friozinho na barriga acaba acontecendo, ainda que nem sempre seja admitido. De qualquer maneira, a questão da aposentadoria se impõe num determinado instante do curso da vida, ainda que não se possa controlar todas as condições. A cantilena da reforma da Previdência Social continua aparecendo na pauta, como se fosse um grande passo para a salvação de todos os desajustes das contas públicas. Mas se e quando se viabilizar tem grandes chances de trazer algo pior do que já temos hoje.