Um dos fundamentos da gestão nos ensina que onde tudo é prioritário, nada é prioritário. Mas que critérios utilizar para estabelecer prioridades em função dos recursos existentes, da gravidade da situação, da urgência para a solução dos problemas e das tendências que se desenham? O fato é que as decisões precisam ser tomadas com o devido foco para que os processos andem e as metas sejam alcançadas. Assim, fica claro que a variável tempo é parte fundamental do resultado buscado e jamais pode ser deixada de lado.

Plenário do Senado. / Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Plenário do Senado neste 10/6 durante sessão especial para comemorar o Dia Mundial do Rim. | Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

 

Estou escrevendo isso após tomar conhecimento que o Presidente do Senado definiu 18 prioridades para serem votadas pela casa revisora de leis até o final do semestre. Ele fez isso no dia 24 de fevereiro de 2016, após ouvir os líderes dos partidos. Leia aqui a relação das prioridades publicada pelo DIAP -Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar – entre as quais destaco:

  • PRS 84/07 – Estabelece limite global para a dívida consolidada da União.
  • PEC 28/15 – Veda criação de despesas à União, estados e municípios sem previsão de receita.
  • PEC 110/15 – Limita o número de cargos em comissão na administração pública.
  • PEC 43/15 – Autonomia do Banco Central – estabelece mandatos para diretores.
  • SCD 15/15 – Fixa em 2% a alíquota mínima do ISS, na tentativa de acabar com a guerra fiscal entre municípios.
  • PLS 559/13 – Moderniza o regramento geral de licitações no país.

Vamos acompanhar para verificar se a produtividade do Senado permitirá o atingimento da meta proposta, com a crise política no auge e as eleições municipais marcadas para daqui a pouco mais de seis meses e meio.

Só para ilustrar, segundo dados do Setor de Tramitação de Projetos da Secretaria Geral da Mesa do Senado existem atualmente para apreciação dos senadores 53 Propostas de Emenda à Constituição (PEC), 91 Projetos de Lei da Câmara dos Deputados, 51 Projetos de Lei do Senado (PLS), 15 Projetos de Decreto Legislativo, 59 Requerimentos, 42 Requerimentos de Solicitação de Auditoria do TCU.

O próximo feriado a ser emendado pelos parlamentares será o da Semana Santa, na penúltima semana de março. Anteriormente ocorreu o recesso de 10 dias do período de Carnaval, que foi praticamente emendado com o recesso parlamentar de 20 de dezembro do ano passado a 02 de fevereiro desse ano.

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* por Sérgio Marchetti

– Então, como posso ajudá-lo?

– Seu doutor me dê licença para minha história eu contar. Eu já fui muito feliz, vivendo no meu lugar. Hoje eu tô numa terra estranha, é bem triste o meu penar. Nasci na zona rural. Fui roceiro e dono de curral. Adorava olhar para a serra, com seu verde de esperança. Espiar o azul do céu, que ainda trago na lembrança. Sendo adulto, era criança que subia a serra, que mergulhava no rio e cultivava a terra. Tinha um cavalo baio que gostava de campear, enquanto o vento vinha me acariciar, cochichando ao meu ouvido segredos do meu lugar. Seu doutor não imagina o que é sentir um vento mimoso, um arzinho fresco e cheiroso que a natureza lhe doa. Por que a terra, seu doutor, é grata e boa. E fique o senhor sabendo que ela proseia com a gente. Lá no meu sertão, quem nos aconselha é a natureza. Lá não tem luxo de doutor com cadeira e mesa. E digo mais, pode não ter conforto, mas tem gente de presteza. Pessoas que se acolhem, amizade sincera, com certeza. A prosa era verdadeira – não carecia de muito pensar. As palavras iam saindo e arranjando seu lugar. As conversas tinham sentido e não precisava florear. Nosso céu tinha mais estrelas na amplidão; aqui, apesar da luz, tudo é escuridão. Agora, falando assim, uma saudade invade meu peito. Desculpe seu doutor, que eu lhe devo respeito, mas quando a represa das lágrimas invade as cercas do meu quinhão, eu me deito a ruminar as lembranças do coração. Mas não vou mais tomar o seu tempo. Vim aqui para consultá-lo, recuperar a calma. Estou padecendo de uma dor, seu doutor, mas não é dor de corpo é dor de alma.  Estou amuado como um boi que comeu erva. Nada me anima, só me enerva. Estou como um capim esturricado que a geada queimou. Eu perdi a fé nas pessoas – a falsidade me decepcionou. Então, seu doutor, o senhor ainda não me examinou, mas tem cura esta dor?

– Meu senhor, que posso eu dizer, mesmo sendo doutor? A sua doença é tristeza de quem perdeu o chão. É sentimento doído de tanta decepção. É angústia e solidão. É doença de gente normal, que não se conforma com um mundo desigual. Não tenho um remédio para tal dor. Também sofro desse mal. Estamos todos muito tristes com tanto desamor. A humanidade enlouqueceu. Trocou tudo por dinheiro, agrediu a natureza e em desatino se perdeu. O desgoverno roubou a nossa liberdade, matou nossos sonhos e nos faltou com a verdade. O seu caso é muito grave, mas o senhor vai sobreviver. Sua moléstia é lucidez e, para tal doença, nada há que cure de vez.

– Mas não há um remédio, seu doutor, que resolva doença tão tinhosa?

– Lucidez é uma doença nervosa. Seus sintomas incomodam a todos que praticam a fala enganosa.

– E a receita, seu doutor?

– Volte para o seu ranchinho à beira-chão, conviva com seus bichos e não assista à televisão. Em breve nosso céu terá estrelas novamente. Observe-o e, quando a estrela solitária for cadente, é o sinal de que haverá esperança de um povo contente.

* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.

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Muitas são as pessoas que têm me perguntado sobre como estou vendo a atual situação brasileira e em que vai dar isso tudo. Tenho falado e repetido que, quando a história muda, tudo volta à estaca zero em um novo patamar, seja ele melhor ou pior que o anterior.

Viemos de um período recente de crescimento econômico e de uma maior inclusão das camadas sociais nas categorias de consumo. O emprego era quase pleno e o super ciclo das commodities embalava a economia e era considerado como se fosse eterno para quem governava o país. A crise econômica internacional foi desprezada e considerada uma “marolinha”, para só depois ser defendida pelos ocupantes do poder como a principal causa da deterioração da situação.

A fracassada nova matriz econômica, implementada a partir do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, e a sua necessidade de ganhar a qualquer custo as eleições presidenciais de 2014 acentuaram as dificuldades, com o estouro das contas públicas. O acirramento da disputa política entre os partidários de A, B e C contaminou de vez a economia e agrava a cada dia o social. Até a presidente já chegou a admitir a possibilidade de não ter percebido no tempo certo que a situação estava piorando rapidamente ao final de 2014.

O sofrimento das pessoas torna-se maior neste março de 2016, ao perceberem que a quase totalidade dos indicadores que medem a situação do país está em visível piora, rumo ao fundo do poço ainda não atingido. Os mais acompanhados e sentidos diretamente por todos nós são a inflação alta e a queda do poder aquisitivo dela decorrente, o altíssimo desemprego e a recessão econômica.

Como estamos olhando para trás, os números de 2015 foram bem ruins em relação ao ano anterior. E os de 2016 continuarão piorando diante da incapacidade política e da falta de líderes com credibilidade suficiente para propor soluções para uma sociedade tão dividida. Além disso, não dá para deixar de citar a necessária capacidade de gestão.

Ainda vamos continuar passando pelo purgatório, quase que sem sair do lugar, e precisando olhar para frente na expectativa de que os indicadores começarão a “despiorar” a partir de 2017, só que com os parâmetros do novo patamar – o país tendo encolhido algo em torno de 10%.

O automóvel vai ter que ficar mais em casa, as viagens aéreas ou terrestres terão que ser reduzidas, os imóveis prosseguirão com a lucrativa bolha estourada e os banqueiros estarão felizes como sempre. Nas ruas, a insegurança e a sensação de insegurança maiores ainda, mas a conjuntura é de sobrevivência no Brasil real. Infelizmente recuamos pelo menos 10 anos com dois passos atrás e o paraíso perdido no projeto de poder e na corrupção secular inerente à nossa cultura.

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Veículos abandonados na Rua Tenente Durval, em Santa Tereza / Foto: Sérgio Verteiro

Veículos abandonados na Rua Tenente Durval, em Santa Tereza / Foto: Sérgio Verteiro

São poucas as diferenças entre as fotos acima, que mostram os mesmos veículos abandonados na rua Tenente Durval em Santa Tereza, Belo Horizonte. Em uma há mais folhas, em outra há mais poeira sobre o carro. Passou-se quase um ano de uma foto para a outra e lá estão eles, carro e caminhão, ocupando as mesmas vagas. Se ano passado, quando o blog publicou esta reportagem, dizia-se que estavam lá há mais de um ano, agora já são mais de dois aniversários.

O carro está sendo vandalizado./ Foto: Sérgio Verteiro

O carro está sendo vandalizado./ Foto: Sérgio Verteiro

Algumas afirmações sobre nossas leis fazem parte da cultura brasileira. Uma bem comum diz que existem as leis que “pegam” e as que “não pegam”. Isso para não falar na pouca fiscalização, que só ajuda a cultivar a certeza da impunidade e o pouco caso com o bem comum.

Foto: Sérgio Verteiro

Foto: Sérgio Verteiro

Será que essa percepção já pode ser aplicada aos veículos automotores abandonados nas ruas de Belo Horizonte? Já se passaram mais de 90 dias da entrada em vigor da legislação municipal que determina a remoção de veículos que estejam abandonados em vias públicas há mais de dez dias. A Lei 10.885/15 foi sancionada em 30 de novembro do ano passado. Aliás, a Superintendência de Limpeza Urbana da Prefeitura de Belo Horizonte, que passou a ter a atribuição de executar tal serviço, está diante de um grande desafio. Na data da publicação da lei estimava-se em 350 o número de veículos automotores, em diversos estados de precariedade, ainda abandonados nas ruas da cidade. Dois deles continuam firmes na Rua Tenente Durval, no bairro de Santa Tereza, conforme mostram as fotografias desse post.

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A julgar pela quantidade de pessoas que percebo reclamando de tudo e de todos nos mais diversos ambientes, fico com a sensação de que só existem pessoas no papel de clientes. Tudo é causa para reclamação, ainda que nem sempre os critérios de mensuração da qualidade estejam claramente definidos e especificados.

Clientes tão exigentes assim insatisfeitos e intolerantes com os outros, notadamente em tempos de recessão econômica,  bem que poderiam se lembrar que também cumprem o papel de fornecedores.

Papéis

No dia-a-dia, somos clientes mas também fornecedores de bens e serviços. Essa relação entre fornecedores e clientes obriga as pessoas a terem atenção ao papel que cumprem nos diversos processos em que atuam cotidianamente. Tudo depende do referencial, que dinamicamente as coloca em mão dupla, ora fornecendo e processando os insumos, ora recebendo os resultados do processo.

Os papéis de cliente e fornecedor se alternam sem cessar.

Os papéis de cliente e fornecedor se alternam sem cessar.

Inegavelmente, quem avalia e diz se está satisfeito ou não, inclusive atribuindo uma nota, é quem recebe o resultado. Nesse sentido a primeira pergunta que as pessoas deveriam lutar para responder é se os seus clientes estão satisfeitos com o que lhes está sendo entregue.

Isso poderia ser feito avaliando-se três dimensões básicas: qualidade intrínseca, preço e atendimento. São itens que são – ou deveriam ser – sempre observados, analisados e medidos por quem está no papel de cliente. A partir de medidas e critérios definidos, esse espaço de avaliação é o espaço aberto para que se defina se a reclamação do cliente é procedente ou não.

Como se vê, essa é uma maneira bem simples de ouvir a voz do cliente e torná-la parte integrante do processo que deve satisfazer suas necessidades e expectativas. Essa avaliação pode ser conseguida com uma pesquisa de satisfação formal ou com um bate-papo informal durante os contatos diários com os clientes, por exemplo.

Fica aqui o grande chamamento para uma reflexão sincera para embalar a nossa melhoria contínua no papel de fornecedores. Estamos cumprindo todos os prazos combinados, seja para entregar um simples relatório seja para entrar com um processo no Poder Judiciário? Estamos atendendo a todas as especificações estabelecidas para os bens e serviços contratados? Os preços praticados estão adequados e competitivos ou tentam repassar ruindades internas para os clientes?

Sei que é mais fácil cobrar, reclamar e ser vítima dos outros, mas se tudo começa com a gente, por que não atuar no papel de fornecedor com mesmo afinco demonstrado no papel de cliente?

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Vale a leitura

por Luis Borges 28 de fevereiro de 2016   Vale a leitura

Trabalho em equipe

Trabalhar em equipe é sempre um desafio. Isso quando a equipe realmente existe, pois muitas vezes o que vemos nas organizações são bandos ou grupos se digladiando. É interessante perceber os diversos tipos de pessoas e seus respectivos comportamentos na proposição de soluções para os problemas que precisam ser solucionados.

Uma interessante abordagem sobre o tema está no artigo A pior pessoa da equipe define o que é aceitável no trabalho. O autor explica que os componentes da equipe têm um papel importante na regulação do que é ou não aceito naquele time.

É o time quem deve eliminar o comportamento inadequado, seja por meio de feedback, cobrança, coaching ou mesmo desligando a pessoa. O importante é que aquele comportamento não se torne parte do dia a dia do grupo.

Como os médicos morrem?

A distanásia ainda é dominante em nossa cultura ao tentar afastar a morte através de tratamentos extraordinários que apenas prolongam a vida biológica de um doente sem perspectivas de cura. Mas como se comportam, em seus próprios casos, muitos dos médicos que são adeptos dessa abordagem? É o que mostra o artigo Como os médicos morrem?, de Ana Lucia Coradazzi, publicado no blog No final do corredor.

É claro que médicos não desejam morrer. Eles querem viver. Mas eles sabem o suficiente sobre a medicina moderna para conhecer seus limites, e compreendem de forma profunda o que as pessoas mais temem: morrer em grande sofrimento e sozinhas. Médicos costumam falar sobre isso com seus familiares. Deixam claro que, quando for sua hora, não querem ninguém quebrando suas costelas na tentativa improvável de ressuscitá-los.

Marqueteiro preso

As campanhas eleitorais brasileiras dos últimos 25 anos tiveram suas estratégias hegemonizadas pelos marqueteiros, em meio a abundantes recursos financeiros bancados pelo mundo privado. Agora a legislação proíbe o financiamento privado das campanhas e, de novo, tem marqueteiro preso para se explicar em investigações da Polícia Federal. Sobre esse assunto, sugiro que você conheça a posição de Leonardo Sakamoto, expressa no artigo Por uma eleição em que marqueteiros não sejam os protagonistas. Ele anseia por:

Uma campanha que não contasse com malabarismos de imagens, sons e edição, relatando mentiras sensacionais ou encobrindo fatos, de forma gloriosa e cintilante, para os eleitores. Campanhas com mais saliva dos candidatos e menos efeitos especiais.

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O galo não cantou

por Luis Borges 25 de fevereiro de 2016   Pensata

A insatisfação rondava alguns moradores de um prédio residencial de muitos andares, no centro do bairro Sagrada Família, em Belo Horizonte. O motivo? O galo da casa de um vizinho. É um detalhe interessante, o bairro é um dos maiores de BH, com cerca de 46 mil habitantes de acordo com o IBGE, e ainda conserva muitas casas com quintal e barracões no fundo. Mas, aos poucos, os edifícios começam a predominar na paisagem do bairro e o número de moradores aumenta.

A tal insatisfação começava lá pelas 03h00, quando o galo confirmava os versos da música “Samba do jato”, de Toquinho e Vinícius de Moraes: “um galo cantou, meu sonho acordou…”.

A reação não demorou muito. Intolerantes e incapazes de conversar, dialogar em busca de uma solução equilibrada para a situação, alguns entre os vizinhos optaram pelo pior caminho. Tentaram um galicídeo para silenciar o galo.

Segundo os moradores da região, observando do alto do prédio a vida no galinheiro, alguns desses incomodados moradores perceberam que o galo e as dez galinhas passavam, ao longo do dia, por um portão que dava acesso ao jardim da casa. Logo alguém sugeriu que se jogasse nesse jardim um pouco de milho misturado com veneno em forma de chumbinho, na esperança de eliminar o galo.

Aconteceu que quatro galinhas morreram envenenadas, fato imediatamente percebido por um dos moradores da casa, aliás, dono do galinheiro, que resolveu bloquear a passagem para o jardim. Sem perder tempo, repôs imediatamente o seu plantel com quatro novas galinhas. O galo continuou a cantar até o amanhecer para a alegria de um outro vizinho, que mora em um barracão de fundos e se levanta de madrugada para trabalhar do outro lado da cidade.

Mas na madrugada do sábado de Carnaval o galo não bateu asas e nem cantou às três da manhã, como de costume. O admirador do canto ficou intrigado com a falta do seu despertador. Logo ao sair de casa ficou sabendo da morte do dono do galo e do galinheiro, no início daquela noite. Achou incrível o silêncio da ave, que só voltou a cantar na madrugada seguinte.

Enquanto isso, os vizinhos intolerantes – e que não conversam – não sabiam que o morador que sobrou na casa não gostava de galo, galinhas ou galinheiro. Uma semana após a morte, nada sobrou no quintal da casa. O admirador do galo respirou aliviado ao saber que o destino das aves não foi a panela, mas que o galo branco de pintas pretas foi viver e cantar num sítio do Morro do Chapéu, ao lado de suas galinhas brancas, pretas e marrons.

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