Ouvir, falar, dialogar
As três palavras que dão título a esta pensata nos desafiam a fazer uma avaliação crítica e sincera sobre o quanto elas estão sendo praticadas conforme os seus significados. Isso vale individualmente e coletivamente, principalmente diante de tanta polarização, desrespeito e ódio.
Qualquer coisa serve de pretexto para que a civilização seja deixada de lado, a começar pelo meio digital. No plano global, por exemplo é só verificar as causas e consequências da invasão da Rússia à Ucrânia. No Brasil, estamos a menos de sete meses das eleições de 02 de outubro na expectativa de qual será o nível da comunicação na campanha eleitoral.
Mas, trazendo a reflexão para o microcosmo do nosso cotidiano em casa, no trabalho, no bairro ou na cidade em que vivemos podemos ver como é grande a quantidade de pessoas que só sabem falar e tem muita dificuldade para ouvir. É assustador verificar como existem pessoas que não querem ouvir e nem tem a paciência e até mesmo a humildade para isso. Esse é um comportamento típico que ajuda a florescer a arrogância, a autossuficiência, numa postura que leva ao esquecimento de que um “sistema é um conjunto de partes interligadas” e que, portanto, se comunicam. Nesse sentido é importante lembrar do filósofo Sêneca (4 a.C. – 65 d.C.) dizendo que “Deus dotou o homem de uma boca e dois ouvidos para que ouça o dobro do que fala”.
Quantas vezes eu, você e todos nós presenciamos situações no local de trabalho, no sindicato e no partido político, por exemplo, em que de repente algum dirigente é surpreendido por um fato relevante desconhecido por ele. Numa empresa o presidente, diretores, ou gerentes de setores que não ouvem os assessores e membros da equipe, também não podem reclamar por que foram surpreendidos por fatos e dados que desconheciam por não terem paciência para ouvir os donos dos processos do dia-a-dia.
É fundamental saber ouvir e falar para que se possa criar condições propícias para o diálogo de maneira civilizada e respeitosa em busca das soluções para os problemas que precisam ser resolvidos. Dá para ver, sem ser ingênuo, como é desafiante e necessário procurar trilhar os caminhos que levam à prática do diálogo, das conversas – por mais difíceis que sejam – diante da complexa arte de viver.
É claro que o equilíbrio é instável, as mudanças são permanentes e que a água que passa pelo rio não volta mais, mas tudo depende também de nós. Por isso é preciso saber ouvir, falar e dialogar. Essa é uma crença sempre desafiante!