Orelhões caminhando a passos largos para o fim
Na segunda metade dos anos 70, o telefone fixo era um bem de difícil acesso para a maior parte da população brasileira. Uma linha residencial custava o equivalente a R$ 6.000,00 de hoje, investimento alto para a época. As empresas de telecomunicações lançaram, no período, diversos planos de expansão. A linha podia ser paga em até 36 meses, mas sem garantia de que haveria antecipação do prazo de entrega do bem para o assinante. Na prática, isso si,gnificava o financiamento de parte do investimento necessário a esse tipo de infraestrutura, ao qual ainda se somaria à assinatura mensal que vigora até hoje. Em Belo Horizonte ficaram famosos os planos de expansão BH1 a BH5 da Telemig, empresa que virou Telemar na privatização e atualmente é a Oi. Existia também um exuberante mercado para o aluguel de telefones, por meio de empresas e de pessoas físicas.
Foi nesse contexto que floresceram os telefones públicos, em sua maioria instalados e protegidos dentro de uma estrutura semelhante a uma grande orelha, popularmente chamada de “orelhão”. Na época, os créditos eram contados por meio de fichas telefônicas. Apesar de sua extrema utilidade para a população, os vândalos sempre tentavam depredá-los. A manutenção dos aparelhos públicos era feita na unidade da Telemig no bairro São Gabriel, em Belo Horizonte, onde hoje funciona um dos campi da PUC Minas.
Também naquela época a linha caia, havia muitas reclamações relativas às contas mensais, o telefone ficava mudo e a assistência técnica tinha a mesma lerdeza.
O período de escassez se foi há 40 anos. Hoje são cerca de 41 milhões de telefones fixos instalados no país, enquanto a quantidade de telefones celulares, pré ou pós pagos, se aproxima dos 300 milhões.
Esse número de telefones móveis aliado à baixa utilização dos telefones públicos levaram a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) a determinar a desativação de 461,3 mil orelhões.
A decisão, segundo a agência, foi baseada em fatos e dados, prezados na gestão de qualquer negócio. Dos 763 mil telefones públicos do país, 81% realizam até quatro chamadas por dia. O total de aparelhos é usado apenas 4 minutos por dia, uma média de 120 minutos por mês. As operadoras de telefonia fixa reclamam que os gastos com a manutenção dos orelhões são 2,5 vezes maior que o valor recebido pela prestação do serviço. Isso quando não há vandalismo, como mostramos nesse post.
Em breve, o orelhão estará apenas no Museu da Telefonia. Heráclito tinha razão ao dizer no ano 501 a.c que “nada existe em caráter permanente a não ser a mudança”. E eu complemento, dizendo que só nos resta o permanente reposicionamento diante da inexorabilidade do avanço tecnológico.