Onde está a honestidade?
De vez em quando aparece numa cidade uma pessoa demonstrando sinais exteriores de riqueza. Conforme o grau de ostentação logo surgem outras pessoas questionando como foi gerado aquele milagre. O primeiro e mais direto comentário afirma que a renda da pessoa não é suficiente para o que está mostrando, e deixa no ar o benefício da duvida. Sempre tem alguém para falar que “longe de mim dizer que isso vem de um mal feito, mas a pulga fica atrás da orelha” e o “converseiro” vai ganhando folego.
Esses milagres estão ficando tão impregnados na cultura brasileira que milagre passou a ser definido informalmente em alguns grupos bem-humorados como sendo “um efeito sem causas”. Por outro lado, em função da escassez, honestidade passou a ser vista como uma virtude, quando deveria ser uma obrigação.
Agora a nação brasileira prossegue, sempre sabendo de alguma novidade envolvendo personagens do mundo público e privado participando ativamente de grandes negociatas, movimentando propinas de milhões de dólares, contas bancárias no exterior e, de vez em quando, até uma delação premiada.
Nesse contexto lembrei-me de um compositor e cantor do qual gosto muito e cuja obra admiro. Trata-se de Noel de Medeiros Rosa, nascido no Rio de Janeiro em 11/12/1910, onde morreu em 04 de maio de 1937 com apenas 26 anos, 4 meses e 23 dias de vida. Em sua curta e fecunda carreira artística, Noel Rosa compôs 259 músicas. Uma delas, de 1933, foi Onde está a honestidade?, feita em parceria com Francisco Alves. Hoje, 82 anos depois, ela continua super atual e vale a pena ser cantada para nos ajudar a ter força e esperança para virar a atual página da nossa história. Ouça na voz do próprio Noel.
Onde está a honestidade Fonte: Letras.mus.br Você tem palacete reluzente Tem jóias e criados à vontade Sem ter nenhuma herança nem parente Só anda de automóvel na cidade E o povo já pergunta com maldade: Onde está a honestidade? Onde está a honestidade? O seu dinheiro nasce de repente E embora não se saiba se é verdade Você acha nas ruas diariamente Anéis, dinheiro e até felicidade Vassoura dos salões da sociedade Que varre o que encontrar em sua frente Promove festivais de caridade Em nome de qualquer defunto ausente