O que será do Outono brasileiro?

por Luis Borges 21 de março de 2016   Música na conjuntura

A chegada do Outono, estação que faz a transição entre o Verão e o Inverno, encontra e registra uma encarniçada luta entre dois grupos que querem o poder a qualquer custo. O confronto em nome da democracia representativa – que não é necessariamente participativa – e de suas instituições republicanas acentua atitudes e gestos de intolerância e ódio num maniqueísmo que não consegue perceber uma grande parte da população. Nessa parte estão as pessoas que não se identificam e nem se sentem representadas pelos grupos que estão em confronto direto. Basta olhar a quantidade de eleitores que não compareceram às eleições de 2014 ou votaram nulo ou em branco, significando quase 40 milhões de pessoas.

Os três poderes da República, constitucionalmente definidos como independentes e harmônicos, ainda não foram capazes de dar uma solução política para a crise e ainda parecem pouco preocupados com a paralisia econômica trazida pela recessão, inflação e desemprego, mesmo com todas as suas consequências sociais.

O que será que virá como resultado do acirramento da situação diante do crescimento dos confrontos entre pessoas, grupos e organizações que estão com os nervos à flor da pele? Acompanhando ou participando, de perto ou de longe, pelas mídias tradicionais ou guerreando nas redes sociais, a que níveis de sobrevivência nos submeteremos? Isso para não falar da chatura em que o mundo se transforma diante do patrulhamento ideológico inquisitorial de muitos amigos, colegas de trabalho ou de militância política, cultural e social. As primaveras árabes trazem boas referências para quem se dispuser a fazer uma breve revisão bibliográfica.

Mas perguntando ou indagando diante das incertezas que pairam sobre a sociedade brasileira com suas atuais regras do jogo enquanto as folhas amarelecem e caem no outono, que tal cantar com Chico Buarque a sua música O que será (À flor da Terra), composta em 1976 para o filme Dona Flor e seus dois marido, baseado em obra homônima de Jorge Amado e dirigido por Bruno Barreto?

O Que Será (À Flor da Terra)
Fonte: Letras.mus.br 

O que será, que será?
Que andam suspirando pelas alcovas
Que andam sussurrando em versos e trovas
Que andam combinando no breu das tocas
Que anda nas cabeças, anda nas bocas
Que andam acendendo velas nos becos
Que estão falando alto pelos botecos
E gritam nos mercados que com certeza
Está na natureza

Será, que será?
O que não tem certeza nem nunca terá
O que não tem conserto nem nunca terá
O que não tem tamanho

O que será, que será?
Que vive nas ideias desses amantes
Que cantam os poetas mais delirantes
Que juram os profetas embriagados
Que está na romaria dos mutilados
Que está na fantasia dos infelizes
Que está no dia a dia das meretrizes
No plano dos bandidos, dos desvalidos
Em todos os sentidos

Será, que será?
O que não tem decência nem nunca terá
O que não tem censura nem nunca terá
O que não faz sentido

O que será, que será?
Que todos os avisos não vão evitar
Por que todos os risos vão desafiar
Por que todos os sinos irão repicar
Por que todos os hinos irão consagrar
E todos os meninos vão desembestar
E todos os destinos irão se encontrar
E mesmo o Padre Eterno que nunca foi lá
Olhando aquele inferno vai abençoar
O que não tem governo nem nunca terá
O que não tem vergonha nem nunca terá
O que não tem juízo

O que será, que será?
Que todos os avisos não vão evitar
Por que todos os risos vão desafiar
Por que todos os sinos irão repicar
Por que todos os hinos irão consagrar
E todos os meninos vão desembestar
E todos os destinos irão se encontrar
E mesmo o Padre Eterno que nunca foi lá
Olhando aquele inferno vai abençoar
O que não tem governo nem nunca terá
O que não tem vergonha nem nunca terá
O que não tem juízo
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