O pior é que ainda vai piorar mais
Muitas são as pessoas que têm me perguntado sobre como estou vendo a atual situação brasileira e em que vai dar isso tudo. Tenho falado e repetido que, quando a história muda, tudo volta à estaca zero em um novo patamar, seja ele melhor ou pior que o anterior.
Viemos de um período recente de crescimento econômico e de uma maior inclusão das camadas sociais nas categorias de consumo. O emprego era quase pleno e o super ciclo das commodities embalava a economia e era considerado como se fosse eterno para quem governava o país. A crise econômica internacional foi desprezada e considerada uma “marolinha”, para só depois ser defendida pelos ocupantes do poder como a principal causa da deterioração da situação.
A fracassada nova matriz econômica, implementada a partir do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, e a sua necessidade de ganhar a qualquer custo as eleições presidenciais de 2014 acentuaram as dificuldades, com o estouro das contas públicas. O acirramento da disputa política entre os partidários de A, B e C contaminou de vez a economia e agrava a cada dia o social. Até a presidente já chegou a admitir a possibilidade de não ter percebido no tempo certo que a situação estava piorando rapidamente ao final de 2014.
O sofrimento das pessoas torna-se maior neste março de 2016, ao perceberem que a quase totalidade dos indicadores que medem a situação do país está em visível piora, rumo ao fundo do poço ainda não atingido. Os mais acompanhados e sentidos diretamente por todos nós são a inflação alta e a queda do poder aquisitivo dela decorrente, o altíssimo desemprego e a recessão econômica.
Como estamos olhando para trás, os números de 2015 foram bem ruins em relação ao ano anterior. E os de 2016 continuarão piorando diante da incapacidade política e da falta de líderes com credibilidade suficiente para propor soluções para uma sociedade tão dividida. Além disso, não dá para deixar de citar a necessária capacidade de gestão.
Ainda vamos continuar passando pelo purgatório, quase que sem sair do lugar, e precisando olhar para frente na expectativa de que os indicadores começarão a “despiorar” a partir de 2017, só que com os parâmetros do novo patamar – o país tendo encolhido algo em torno de 10%.
O automóvel vai ter que ficar mais em casa, as viagens aéreas ou terrestres terão que ser reduzidas, os imóveis prosseguirão com a lucrativa bolha estourada e os banqueiros estarão felizes como sempre. Nas ruas, a insegurança e a sensação de insegurança maiores ainda, mas a conjuntura é de sobrevivência no Brasil real. Infelizmente recuamos pelo menos 10 anos com dois passos atrás e o paraíso perdido no projeto de poder e na corrupção secular inerente à nossa cultura.
Excelente texto. um retrato nítido da crise anunciada. Parabéns.