O fim de mais um trabalho
A senhora Neusa Rodrigues tem 50 anos de idade, é casada, mãe de dois filhos e é cuidadora de idosos há 9 anos. Vale lembrar que essa atividade profissional é exercida por mulheres em torno de 90% dos casos e teve sua regulamentação como profissão totalmente vetada pelo Presidente da República no segundo semestre do ano passado, veto este não derrubado pelo Congresso Nacional.
Antes de exercer essa atividade Neusa trabalhava na área administrativa de uma empreiteira do setor de mineração do quadrilátero ferrífero de Minas Gerais. Porém desistiu do segmento após longo período desempregada, que acabou por levá-la ao desalento – deixou de procurar emprego. A solução para encontrar uma nova oportunidade de trabalho foi a descoberta de um expressivo mercado de venda de bens e prestação de serviços para idosos de diferentes níveis de poder aquisitivo.
Segundo a lei brasileira, as pessoas idosas são aquelas com idade superior a 60 anos e que hoje são aproximadamente 30 milhões, o que equivale a algo em torno de 15% da população do país. Neusa focou no nicho de cuidadores de idosos e fez um curso básico de formação ministrado pela associação da categoria em Belo Horizonte. Pouco tempo depois ela conseguiu sua primeira oportunidade na atividade indicada pela própria associação de cuidadores de idosos e passou a atuar formalmente segundo os critérios definidos para o Micro Empreendedor Individual – MEI. Ela praticamente não ficou parada mais do que 2 meses entre um trabalho e outro. Na maioria das vezes a causa principal da interrupção da prestação dos serviços foi o óbito do cliente vindo em seguida a deterioração das condições financeiras.
Pensando com seus próprios botões a cuidadora foi percebendo que a vida tem sua finitude e que a qualquer momento seus clientes poderiam chegar ao fim da jornada. Mesmo com essa consciência o fato é que Neusa está há 9 dias sem trabalho devido ao óbito do senhor Alfeu, ou simplesmente Fefeu, cliente do qual cuidou durante os últimos 12 meses. Ele tinha 86 anos, viúvo, funcionário aposentado do poder Judiciário Federal e com importantes restrições em suas condições funcionais. Além do avanço do mal de Alzheimer rumo à fase mais aguda, era hipertenso, portador de DPOC (Deficiência Pulmonar Obstrutiva Crônica) e grandes variações de seus índices glicêmicos ao longo do dia.
Agora Neusa está mais preocupada e imaginando quanto tempo levará para conseguir um novo trabalho – finito, enquanto a pandemia da Covid-19 prossegue trazendo incerteza, insegurança e medo, ainda mais para quem luta pela sobrevivência dia após dia.
E você caro leitor já se imaginou cuidando de uma pessoa idosa, profissionalmente ou não? E se fosse você mesmo é que estivesse necessitando de um cuidador na fase idosa da vida? Espero que seja uma reflexão sem dor.