O filho só pensa na França
A senhora Nirmatele Barros trabalha como vendedora numa loja especializada em roupas e calçados para crianças no bairro Funcionáriosm em Belo Horizonte. Ela é separada do marido há 13 anos, mas dessa relação resultaram três filhos que hoje estão com 19,17 e 15 anos de idade, sendo um rapaz e duas mocinhas respectivamente. A configuração gerada pela separação do casal resultou na permanência dos filhos com a mãe, no pagamento mensal de pensão básica por parte do pai para ajudar no sustento dos filhos e na cessão, pela avó paterna, de um apartamento para moradia dos netos com a mãe por tempo indeterminado. A descrição básica do imóvel mostra que ele possui três quartos, uma vaga de garagem – o que nem todos os apartamentos do local possuem – e fica no terceiro andar de um edifício de 12 apartamentos, sendo quatro por andar.
A vida prosseguiu o seu curso marcada pelos desafios cotidianos para a mãe, que optou por viver e lutar obsessivamente em prol dos filhos e contando com a ajuda sempre decisiva da avó naqueles momentos em que tudo parece sem saída para os problemas mais difíceis. Por sua vez, o ex-marido encontrou outro relacionamento do qual vieram mais três filhos, mas cumpre religiosamente o acordo feito na época da separação.
Agora os filhos de Nirmatele prosseguem suas trajetórias cheias de sonhos de melhorar continuamente a qualidade de vida com todas as pressões trazidas pelos diversos tipos de consumo numa conjuntura pouco favorável aos jovens, que vão se colocando à disposição do mercado na busca de oportunidades.
Sem conseguir trabalhar a frustração por não ter obtido a pontuação necessária para ingressar no curso de Engenharia Mecânica de uma Universidade Federal no último Enem, o filho primogênito decidiu passar um tempo com a namorada na França para conhecer outra cultura e aprender um pouco da língua francesa. Esse projeto virou uma grande obsessão e gerou expectativas bem maiores que a realidade. A mãe não conseguiu mostrar ao filho os limites para a realização de sua vontade e, ao mesmo tempo, ele se manteve irredutível em seu intento, alegando que se não fosse assim melhor seria encurtar o tempo de sua passagem pela Terra nessa encarnação.
A mãe entrou em pânico e começou a buscar uma solução para o novo problema. Procurou o ex-marido, que após muito discurso sobre a sua atual condição financeira concordou em pagar a semestralidade de um curso intensivo de francês só para o filho. Também procurada, como sempre acontece nas horas mais problemáticas, a avó deu a passagem aérea de ida e volta e o dinheiro para a emissão do passaporte do neto. Sobrou para a mãe a tarefa de conseguir dinheiro para bancar as despesas do filho com moradia, alimentação, transporte… lá em Paris contando com o fato de que a parte da nora será toda custeada pela família dela. Diante da necessidade urgente de fazer dinheiro, Nirmatele, que já é isenta da taxa condomínio de R$300,00 por ser síndica do prédio onde reside, tentou alugar sua vaga de garagem para um casal vizinho por R$2.400,oo por um ano, pagos na data de assinatura do contrato. A proposta “deu ruim” na negociação e o casal acabou alugando outra vaga por R$150,00 pagos mensalmente no último dia do mês. Ao mesmo tempo a mãe do rapaz tentou vender seu automóvel usado, mas sem sucesso. Chegada a hora da partida o jeito foi fazer um empréstimo numa cooperativa financeira enquanto prosseguem as tentativas de vender o velho automóvel.
Finalmente o filho partiu antes da chegada da primavera no Brasil dizendo que só no próximo ano voltará a pensar no Enem e no curso de Engenharia Mecânica enquanto a mãe ficou em prantos amparada pelas duas filhas e a sogra.