O desmonte
Era o dia seguinte à missa de sétimo dia. Por volta das 11 da manhã um pequeno caminhão baú parou em frente a uma casa no bairro Sagrada Família, em Belo Horizonte. Estava lá para retirar e transportar o mobiliário da casa onde uma psicopedagoga, morta aos 68 anos, continuou morando após cuidar dos pais enquanto eles estiveram no plano terrestre.
A autorização foi dada pela filha mais velha, após convencer suas duas irmãs de que não dava mais para resistir às pressões. Três dos cinco irmãos da psicopedagoga queriam receber sua fração da única herança deixada por seus pais. Eles, inclusive, já tinham entrado na justiça para resolver a situação, enquanto a irmã agonizava na UTI de um hospital, enfrentando uma doença pulmonar obstrutiva crônica.
A morte relativamente rápida da psicopedagoga surpreendeu a muitos, mas principalmente aos três interessados na partilha, que nos últimos tempos não se relacionavam mais com a irmã.
O velório, a cerimônia de sepultamento e as palavras do sacerdote na homilia da missa de sétimo dia, falando na dor da perda e no luto a ser vivido, não conseguiram esconder o desconforto dos envolvidos na disputa. Nem esse desconforto impediu que o desmonte da casa se iniciasse no dia seguinte.
Agora as três herdeiras da falecida procuraram a orientação de um operador do direito, para também garantir as suas partes no imóvel. Querem guardar na memória as boas lembranças de tudo o que viveram naquela casa junto com a mãe, na crença de que não se apequenarão numa disputa patrimonial. A preferência foi pela paz interior, ainda que nem todos os envolvidos pensem assim.