Música na conjuntura – A fome e a autonomia do Banco Central

por Luis Borges 21 de setembro de 2014   Música na conjuntura

Na última terça-feira a Folha de São Paulo noticiou um parecer de Rodrigo Janot, procurador-geral eleitoral. O parecer tratava de uma propaganda da candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT), criticando uma proposta de Marina Silva (PSB) acerca da autonomia do Banco Central. Leia, abaixo, um trecho da matéria:

De acordo com Janot, a propaganda de Dilma cria um cenário “tendencioso, apto a gerar estados emocionais desapegados da experiência real”, por isso, não deve mais ser veiculada no horário eleitoral gratuito.

Na peça publicitária em questão é dito que, havendo autonomia do BC, os banqueiros passarão a determinar “os juros que você paga, seu emprego, preços e até seu salário (…) ou seja, os bancos assumem um poder que é do Presidente e do Congresso”.

Durante a locução, são exibidas imagens de uma família durante uma refeição e, à medida que o narrador fala sobre autonomia do Banco, os alimentos vão desaparecendo da mesa. A propaganda foi exibida no horário eleitoral dos dias 9, 11 e 12 e também em inserções ao longo do dia.

Para Janot, a peça cria, artificialmente, estados emocionais nos eleitores, o que é proibido pelo Código Eleitoral. Segundo ele, apesar das controvérsias sobre o tema, não se pode vincular um quadro de “grande recessão” a uma eventual autonomia do BC.

Outra noticia que repercutiu no mesmo dia foi o Mapa da Fome 2013. O principal resultado foi que o Brasil conseguiu reduzir a pobreza extrema. Vejo abaixo, em trechos da reportagem do portal Uol.

O Mapa da Fome 2013, apresentado na manhã desta terça-feira (16), em Roma, pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês), mostra que o Brasil conseguiu reduzir a pobreza extrema – classificada como o número de pessoas que vivem com menos de US$ 1 ao dia – em 75% entre 2001 e 2012.

No mesmo período, a pobreza foi reduzida em 65%. Apresentado como um dos casos mundiais de sucesso na redução da fome, o Brasil, no entanto, ainda tem mais de 16 milhões de pessoas vivendo na pobreza: 8,4% da população brasileira vive com menos de US$ 2 por dia.

Penso que é notório o avanço da estruturação, do alcance e da sustentabilidade da política que orienta o combate à miséria e à pobreza a partir do governo Lula, conforme os fatos e dados disponíveis. Por isso mesmo, penso, também, que essa deve ser uma política de estado e não simplesmente de um partido que esteja no governo num determinado período de tempo. Por isso, é inaceitável fazer vinculações entre aumento da fome e a autonomia do Banco Central. Aliás, essa autonomia foi defendida pela candidata Dilma no processo eleitoral de 2010. Se é feio perder eleição, também é feio falar em atitudes republicanas e não tê-las na prática.

Tudo isso me fez lembrar do grande cantor e compositor Geraldo Vandré com sua música Na terra como no céu. Aprecie.

 

Na Terra como no Céu
Geraldo Vandré

Não viemos por teu pranto
Nem viemos pra chorar
Viemos ao teu encontro
E estamos no teu altar
Por seguir nosso caminho
Que é também teu caminhar
Na força do teu carinho
Esperamos nos salvar
Na terra como no céu
No sertão como no mar
Nas serras ou na planura
Esperamos nos salvar
Estando sempre a altura
Dos teus caminhos de dar
Reparte entre nós senhor
Diante do teu altar
A justiça e a riqueza
Que fizemos por ganhar
Não deixa a gente passar
Pela fome em tua mesa
Não viemos por teu pranto
Nem viemos pra chorar

Fonte: Letras.mus.br 
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