Mudando de casa
De vez em quando converso com alguém ou alguns que abordam a vontade ou a necessidade de mudar de casa, apartamento ou edícula onde moram. Geralmente são pessoas que possuem moradia própria, pouquíssimas são as que estão no aluguel mas sonhando saltar do trampolim para um imóvel próprio.
Um caso interessante – que tenho visto aumentar a frequência de sua repetição – retrata a situação de um casal com a “síndrome do ninho vazio”. Ele com 69 anos e ela com 67, casados há 42 e morando há 26 anos na tão sonhada casa, de onde viram os 3 filhos partir para seus vôos próprios.
A partir daí o casal começou a se perguntar sobre a real necessidade de continuar morando num espaço tão grande – 190 m² – e com tanta coisa para apenas duas pessoas. Ainda mais diante da dificuldade para contratar trabalhadores diaristas para a prestação de serviços ligados à casa. A pandemia da Covid-19 acelerou a tomada de decisão rumo a uma moradia menor. Então, colocaram a casa à venda no final do ano passado, enquanto passaram a procurar um apartamento medindo em torno de 90m², com 3 quartos, num edifício de 6 apartamentos com 2 por andar e 2 vagas de garagem. Tudo se concretizou ao final de junho, com a melhoria do mercado para imóveis residenciais.
Ao se preparar para a mudança perceberam muitos detalhes que ficaram quase invisíveis ao longo dos anos que passaram na casa. Muito do que deixou de ser feito foi em nome da falta de tempo, da correria louca em função do trabalho sempre priorizado em função da sobrevivência e do crescimento. Se “consumo, logo existo”, ficou fácil de perceber porque o quartinho de bagunças estava tão cheio de bens parados, sem colocar a energia em movimento a favor da renovação da vida. Assustador também foi descobrir a quantidade de livros, revistas e artigos de jornais armazenados na expectativa de que um dia poderiam vir a ser consultados – mesmo diante da escassez de tempo. Qual não foi o espanto diante de tantas roupas, inclusive dos filhos, sapatos, cintos, bolsas… abarrotando boa parte dos guarda-roupas, armários, mesmo que em muitos momentos tivessem dificuldades para escolher o que seria usado.
Outra descoberta foi a quantidade de modelos de aparelhos de telefones celulares e carregadores de baterias, bem como computadores, teclados, impressoras em desuso.
Na hora de reduzir a quantidade de móveis à metade para se adequar ao espaço da nova moradia é que o casal percebeu como a casa foi ficando entulhada de móveis e equipamentos eletroeletrônicos. Surgiu daí uma constatação tardia de que muito daquilo que ficou acumulado poderia ter sido útil para outras pessoas. Um pouco de desapego poderia ajudar a contrapor o alto desejo de acumulação primitiva de bens.
O fato é que a mudança de moradia trouxe a percepção, na prática, da importância e da necessidade da mudança a favor da melhoria das condições de vida em conformidade com a capacidade de processo em cada ciclo ou fase da vida, de preferencia para se viver só com o necessário e possível em função da renda, de cada um.
E você, o que pensa sobre o caso que abordei? Como está a acumulação na sua casa?