Haja paciência diante de tanta cobrança!

por Luis Borges 26 de março de 2015   Gestão em pauta

Um médio empresário de 61 anos tem desabafado com as pessoas de seu convívio mais direto. Ele não aguenta mais receber tantas cobranças por causa do atraso no pagamento da parcela de uma dívida. O banco de uma montadora de veículos é o seu carrasco. A instituição tem sido implacável, por meio de seus terceirizados, na cobrança via telefone fixo, celular e nas mensagens de texto SMS.

O assédio começa a partir do 11º dia de atraso e vem com os diversos sotaques, de diferentes pontos do país. Os telefonemas começam às 7h e se sucedem até por volta das 21h. Ao final desse período, a contabilização mostra 20 chamadas recebidas em cada modalidade telefônica e duas mensagens. Essa abordagem incisiva só acaba dois dias depois do sistema do banco acusar o recebimento da parcela em atraso.

O cliente insiste em mostrar que o atual financiamento é o terceiro que faz pela instituição e que nunca deixou de pagar nada. Ele se aborrece de ver que tem se atrasado mas que seu histórico de bom pagador não está sendo considerado. Pena que ele se esquece que está falando isso para uma central de cobranças, que não foi feita para ouvir seus argumentos e sim para cobrar repetidamente e, se possível, vencer pelo texto padrão ameaçador e pelo cansaço.

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Alguém poderia perguntar por que o médio empresário tem se atrasado. A causa é muito simples – o atraso ou o não pagamento de serviços prestados a órgãos públicos estaduais e da União, notadamente nos últimos 12 meses.

Sabedor de que o sapo pula é por necessidade e não por boniteza, ele resolveu fazer uma análise crítica do foco do seu negócio e do perfil de seus clientes. Seu susto foi muito grande ao perceber que 90% desses clientes estão na mesma cesta ou em cestas bastante semelhantes. Só então se convenceu do quanto foi omisso e negligente na gestão do seu próprio negócio e do risco que está correndo no momento em que seus clientes estão ganhando tempo e adiando o pagamento a seus fornecedores.

É claro que podem dizer que falta orçamento aprovado pelo Poder Legislativo, que falta caixa devido a atrasos no repasse de recursos advindos de outros órgãos ou que tudo será pago num momento próximo. Mas o fato é que o empresário está queimando reservas e financiando seus clientes enquanto eles ganham o tempo que precisam.

Esse é o nosso capitalismo sem riscos, que quando soluça acaba quebrando muitos ovos daqueles que colocam praticamente todos na mesma cesta.

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