Gita

por Luis Borges 10 de dezembro de 2014   Música na conjuntura

Tenho me deparado com frequência cada vez maior com pessoas arrogantes e proprietárias da verdade. Para tentar compreender esse fenômeno e o processo que o gera fico me indagando e tentando responder a algumas perguntas. Quem são elas? De onde vieram? Para onde correm? Que país é esse, que lhes dá democraticamente tanta guarida?

Entre apelos para o consumo de Natal e o chamamento para reflexões sem dor, vendo gente ditando respostas sem sequer ouvir uma pergunta ou chamamento, lembrei-me de Raul Seixas, o Maluco Beleza, em sua sua música Gita. Resolvi ouvi-la outra vez, à luz de dezembro de 2014, e ouvir de novo e de novo.

O resultado foi melhor ainda, pois simplesmente entendi que prosseguirei meu caminhar esperançoso, na certeza de que quanto maior a entropia, mais próximos estaremos da solução.

Gita
Raul Seixas
Letra retirada daqui.

- Eu que já andei pelos quatro cantos do mundo procurando, foi justamente num sonho que Ele me falou

Às vezes você me pergunta
Por que é que eu sou tão calado
Não falo de amor quase nada
Nem fico sorrindo ao teu lado

Você pensa em mim toda hora
Me come, me cospe, me deixa
Talvez você não entenda
Mas hoje eu vou lhe mostrar

Eu sou a luz das estrelas
Eu sou a cor do luar
Eu sou as coisas da vida
Eu sou o medo de amar

Eu sou o medo do fraco
A força da imaginação
O blefe do jogador
Eu sou, eu fui, eu vou

Gita! Gita! Gita!
Gita! Gita!

Eu sou o seu sacrifício
A placa de contra-mão
O sangue no olhar do vampiro
E as juras de maldição

Eu sou a vela que acende
Eu sou a luz que se apaga
Eu sou a beira do abismo
Eu sou o tudo e o nada

Por que você me pergunta?
Perguntas não vão lhe mostrar
Que eu sou feito da terra
Do fogo, da água e do ar

Você me tem todo dia
Mas não sabe se é bom ou ruim
Mas saiba que eu estou em você
Mas você não está em mim.

Das telhas eu sou o telhado
A pesca do pescador
A letra A tem meu nome
Dos sonhos eu sou o amor

Eu sou a dona de casa
Nos pegue pagues do mundo
Eu sou a mão do carrasco
Sou raso, largo, profundo

Gita! Gita! Gita!
Gita! Gita!

Eu sou a mosca da sopa
E o dente do tubarão
Eu sou os olhos do cego
E a cegueira da visão

Eu!
Mas eu sou o amargo da língua
A mãe, o pai e o avô
O filho que ainda não veio
O início, o fim e o meio
O início, o fim e o meio
Eu sou o início
O fim e o meio
Eu sou o início
O fim e o meio.
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