Gerir a herança maldita é obrigação

por Luis Borges 23 de maio de 2016   Gestão em pauta

Quem herda o cargo, herda também os encargos. Essa frase é frequentemente citada para lembrar àqueles que assumem um determinado cargo, seja ele público ou privado, que as coisas boas e os problemas ruins fazem parte do pacote. São a dor e a delícia inerentes ao exercício do poder, emanado das atribuições advindas do cargo.

Observando e analisando especificamente o cargo de Presidente da República Federativa do Brasil nas ultimas décadas constata-se, por parte de quem o assume e de seus aliados partidários, uma constante denúncia de que a situação está ruim e que receberam uma “herança maldita”.

A julgar pelos balões de ensaio e pelas “bateções” de cabeça entre Ministros do interino Presidente da República, que têm como pano de fundo o desequilíbrio das contas públicas, não me surpreenderei se eles começarem a falar que receberam uma “herança maldita”.

A razão é simples. Nos últimos dias a mídia repercutiu que o rombo nas contas publicas gerou um déficit em torno de R$170 bilhões. Como não basta ser eleito, é preciso mostrar resultados positivos, dá para imaginar o desafio que está nas mãos de quem chegou ao poder via impeachment e tem que rapidamente dizer a que veio.

Essa é a hora ideal para que o Presidente em exercício, sua equipe de Ministros e sua base partidária aliada mostrem e demonstrem toda a sua capacidade de resolver problemas, de atingir metas. É hora de demonstrar competências que vão muito além da mera ocupação do poder pelo poder. Também é hora de apresentar o planejamento estratégico, o desdobramento de suas metas, uma estrutura organizacional adequada ao atingimento das metas e um orçamento “pra valer”, compatível com a realidade econômica do país. Tudo isso visto de maneira dinâmica pela gestão estratégica, que reforçará os posicionamentos e determinará os necessários reposicionamentos estratégicos.

Como diria Assis Valente em sua musica Brasil Pandeiro, “chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor”. Eu diria que, para isso, será necessário ter competência política e gerencial. Caso contrário, o grito das ruas soará cada vez mais alto e o discurso da “herança maldita” não será suficiente para justificar as expectativas frustradas de quem acreditou que bastaria assumir o poder para que tudo fosse modificado para melhor, como num passe de mágica.

A gravidade do momento aumenta a urgência para a apresentação de soluções, principalmente sabendo-se que o caminho mais curto e tentador do aumento de impostos, contribuições e taxas é cada vez mais inviável e insustentável. Portanto, só resta a quem está no cargo cumprir com a sua obrigação, principalmente depois de tanta desenvoltura demonstrada no período que antecedeu o dia da posse interina no cargo. As águas ainda estão passando debaixo da ponte e estrelas mudam de lugar.

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