Finados e finitude

por Luis Borges 7 de novembro de 2022   Pensata

Esta pensata foi escrita na manhã da quarta-feira 2 de novembro, dia de finados, em meio a muita introspecção e lembranças de tanta gente que partiu, a começar pelos familiares.

Finados traz sempre mais uma oportunidade para a reflexão daqueles que querem levar em consideração a finitude da vida e outros temas a ela associados. Se consultarmos o site Cerejeiras, veremos que “Finados” nos leva ao verbo “finar”, que vem do latim “finis” ou seja: acabar, finalizar, encerrar. O significado gramatical de finados seria então algo que finou, findou, acabou, morreu.

Mas porque se preocupar muito ou pouco com os aspectos ligados à duração da vida, ao seu fim e ao que virá depois da morte?

Como será que foi o tempo antes do início da vida? Ou, simplesmente, de onde viemos e para onde vamos? De qualquer maneira, com ou sem explicações satisfatórias, vale lembrar que na cultura dos povos, a começar pelos cristãos, os mortos são rememorados desde o século I depois de Cristo. Já no ano 998 (século X), foi criado na França o Dia de Finados, em 2 de novembro, na sequência do Dia de Todos os Santos, e a partir do século XI a igreja católica reforçou a necessidade da existência de um dia para se lembrar de todos os mortos.

No Brasil, a Lei nº 10.607 de 19 de dezembro de 2002 foi sancionada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso estabelecendo como feriado nacional o dia dos finados.

Conforme o dia da semana, dá até para emendar com feriado específico que comemora o dia dos servidores públicos da União Federal, Estados e Municípios. Nesse ano, vários foram os casos em que o feriado do dia 28 de outubro foi transferido para o dia 31 e emendado com o dia 01, que se somou ao dia 2, e tudo só voltou ao normal na quinta-feira dia 3, após 5 dias de descanso. No Brasil, uma parte expressiva da população passa o dia um pouco mais introspectiva lembrando os finados entes queridos.

Para muitos faz parte do ritual uma visita aos cemitérios, a colocação de flores nos túmulos, acendimento de velas e as preces pelas almas.

No meu caso específico, a partir do século XXI, passo o dia de finados em casa, portanto não vou mais a cemitérios nessa data.

Minha memória fica sempre muito aguçada nesse dia ao me lembrar de tanta gente querida que partiu para o outro plano espiritual em diferentes idades e circunstâncias. Ainda agora estou saindo do luto pela partida de minha mãe Lazinha, há quase três meses. Enquanto morou em Araxá, ela sempre levava flores para homenagear e enfeitar os túmulos de sua mãe e sua sogra, as duas Anas minhas avós, cujos corpos foram sepultados no cemitério das Paineiras. Ao pensamento também vem o meu pai Gaspar Borges, que foi embora há 10 anos, o sogro Lalado, que embarcou há 12 anos, a tia Landinha, que nos deixou há 25 anos, e a sogra Violanta, que foi embora tão cedo, há exatos 27 anos. É claro que são inúmeras as lembranças e saudades de tantas outras pessoas cujos nomes ocuparia um enorme espaço nesse texto, mas sempre serão lembradas em função do convívio que tivemos.

Por último, fiquei também pensando ao longo do dia sobre os velórios dos corpos enquanto ritual de passagem desse plano para o outro, a duração do próprio velório, que foi bastante reduzida após a pandemia da covid-19, o sepultamento dos corpos ou a sua cremação. Enfim, cheguei a pensar na minha própria finitude, mas acabei afastando do pensamento um pouco depois de seu início ao me lembrar que estou sem pressa. Entretanto, espero ter o merecimento de partir subitamente quando chegar a minha hora. Que assim seja!

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