Fé cega, faca amolada?
Faltando 21 dias para a realização do primeiro turno das eleições em 7 de outubro a conjuntura prossegue dinâmica conforme sua própria natureza, mas indelevelmente marcada por muitas expectativas e incertezas. Fatos, factóides e notícias falsas nas mais diversas mídias surgem de todas as maneiras e de todos os lados. Se é feio perder uma eleição e com ela o projeto de poder, o “vale tudo” também entra em cena. Até a faca e sua aplicação geraram expectativas de alavancagem de melhores resultados eleitorais.
Mas independente das crenças, da fé em algo ou alguém, ainda que não haja nenhum tipo de evidência que comprove a veracidade da proposição em causa, devemos nos lembrar que vivemos numa sociedade que se diz civilizada, democrática e republicana. Se 13 são os candidatos à Presidência da República – que serão acompanhados pelas abstenções, votos nulos e brancos – fará parte do jogo saber perder com ou sem alianças partidárias.
Se olharmos apenas de 2012 para cá veremos quanto cresceu a desigualdade social num país já tão desigual, mesmo com o clamor das difusas e intensas manifestações de 2013. Também é marcante e lamentável a incapacidade de saber perder, demonstrada pelo candidato que ficou em segundo lugar nas eleições presidenciais de 2014. Da insatisfação veio a intolerância, que levou à raiva e ao ódio para marcar e demarcar as pessoas e grupos polarizados. E também o sentimento de anomia daqueles que não se sentem representados pelos polos formados.
No fundo no fundo, quanto pior, pior mesmo. É só verificar os resultados da recessão econômica, do impeachment presidencial e de como chegaremos ao final de 2018.
Como cantar também pode nos trazer recordações de todos os tipos, me lembrei que em abril de 2016 postei aqui minhas percepções sobre a conjuntura da época conectadas à música Viramundo, de Gilberto Gil. Agora nessa conjuntura de faca e facada para quem quer provar do seu próprio veneno, e cada qual defende o seu qual ancorado por suas crenças, me lembrei da música “Fé cega, faca amolada”, de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, composta em 1975, portanto há 43 anos. Aqui pode ser ouvida na voz do próprio Milton Nascimento acompanhado de Beto Guedes.
Lembremos das mudanças pelas quais a sociedade já passou. Destaco o contínuo aumento do fluxo de informações, que aumentam os conhecimentos necessários para que as pessoas e a sociedade tomem suas decisões. Se não der para minhas ideias prevalecerem não vou sofrer, mas vou continuar lutando democrática e civilizadamente para construir a sua hegemonia de maneira realística e esperançosa, mas sem deixar que as expectativas sejam maiores que a realidade.