Farinha pouca, meu pirão primeiro
Em meio à crise política que muito contribui para realimentar as dificuldades da economia e às dificuldades para aprovar o ajuste fiscal das contas públicas, causa espanto ver projetos que propõem aumentar gastos. Na semana passada o portal G1 noticiou que o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, negocia com o governo um aumento de 16% nos salários dos Ministros do STF, que gera efeito cascata. Para os demais servidores, pede reajuste de 46%, parcelados em quatro anos.
Ainda que o trabalho do STF seja necessário, o que assusta é a gula e a desenvoltura para salvaguardar os interesses da corporação, independente da capacidade do Tesouro Nacional para bancar tais índices. Se tudo acontecer como esta sendo proposto, um Ministro do STF que recebia em torno de R$27.000,00 em 2014 entrará janeiro de 2016 embolsando pouco mais de R$39.00,00 mensais. Isso equivalerá a um reajuste de aproximadamente 35% em dois anos.
Mas de onde virão os recursos para bancar esses aumentos, nesses anos em que a economia só decresce e não mostra perspectivas de recuperação tão cedo? Para completar todo esse quadro, os técnicos do STF avaliam que a proposta de aumento salarial não impacta significativamente nos gastos da União. Pelo visto o ditado popular “farinha pouca, meu pirão primeiro” está mais vivo do que nunca, e é muito bem praticado. A função de arrumar o dinheiro não lhes pertence.
Já que os pagadores de impostos ainda mantêm baixa a sua capacidade de se organizar e se indignar, caberá a eles continuar bancando essa conta, em nome da obediência civil. Até quando, não sei, mas o pós-capitalismo pode estar menos longe do que parece. E não é em anos luz.