Expectativas e percepções sobre a Copa, a Fifa e o mundo
Faltando 28 dias para o início da Copa do Mundo de futebol, fico a indagar sobre as expectativas que ainda tenho e a refletir sobre as percepções que já tive. As expectativas são poucas e as percepções crescem a cada dia.
A Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e órgãos congêneres estão produzindo informações, sempre em nome da segurança pública e do Estado. Independente disso, há um previsível recrudescimento das manifestações de insatisfação entre as pessoas. A impaciência vai ficando visível nas reivindicações, nas lutas, nas chamas, nos bloqueios de vias, nas greves anunciadas ou em andamento. E geram decisões espetaculares, como a Justiça proibir a greve da Polícia Federal durante a Copa.
No capitalismo sem riscos, que mesmo assim se pauta pela lei da oferta e da procura, espero que as tarifas das diárias dos hotéis desinflem bastante, para que as suas instalações não fiquem “micadas” com taxas de ocupação de 60% a 70% . Também é possível esperar mais afagos das companhias aéreas quando começarem a cair mais acentuadamente algumas reservas especulativas das agências de viagens. O próximo feirão de fim de semana se aproxima.
Dentre as muitas percepções, destaco inicialmente o custo da Copa. Foi vendida aos brasileiros a previsão de 3 bilhões, hoje já está na faixa de 25 a 33 bilhões, de acordo com a fonte escolhida. A distância entre a intenção e o gesto está de 8 a 11 vezes maior em relação ao previsto no começo. Mas eu já sei que “país rico é país sem pobreza”.
Outra percepção é a grande incapacidade do Governo Federal de conviver com problemas e de assumi-los, principalmente num ano eleitoral e com meta de reeleger a atual presidente. Como sugerido pelo presidente da Infraero, o jeito foi tapear, mesmo sabendo que basta um olhar ou um ouvido “plugado” em qualquer mídia para descobrir a farsa. Apesar de todo o escondidinho, não foi nem é possível encobrir tudo, de todo mundo, o tempo todo. Já se sabe, e foi até assumido pelo governo, que a cobertura do Itaquerão, em SP, não ficará pronta até a abertura do evento, para desespero da FIFA. Também ja está assumido que 30% do empreendimento do aeroporto de Confins em Belo Horizonte ficará para depois.
Outra percepção é a de que um planejamento mais estratégico e menos politiqueiro teria resultado numa Copa em oito praças no lugar de doze, com a abertura e o encerramento do evento no estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro.
Enfim, o presidente que trouxe a Copa do Mundo para o Brasil achou, dentro do melhor achismo, que o amor dos brasileiros pelo futebol seria suficiente para resolver todos os problemas. Nem mesmo a gestão pela exceção, como foi o caso do Regime Diferenciado de Contratação, que flexibilizou a Lei 8.666, das licitações, foi suficiente para garantir o cumprimento de prazos.
Como faz falta a gestão estruturada dos negócios. E como fazem falta liderança, foco e energia.
Quando nós, os brasileiros, soubemos que a copa do mundo seria aqui, a maioria já sabia que o processo de preparação do país para o evento seria feito de última hora e tentariam levar os problemas do jeito que sempre levaram – “do jeitinho brasileiro”. Gostamos muito de nosso país, apesar de tudo, e acredito que mesmo desejando que as prioridades de investimento do governo sejam diferentes, não gostamos de ser alvo de críticas pelo resto do mundo.
O jeito é esperar que eventos bons superem os ruins e que possamos passar pelo o evento Copa do Mundo sem grandes problemas.