Eu não sabia

por Luis Borges 1 de julho de 2016   Gestão em pauta

Escrevi o texto abaixo em 04 de novembro de 2005. Há pouco mais de dez anos o Brasil passava pela CPMI dos Correios e tomava conhecimento da existência do Mensalão, pagamento feito a deputados que votassem favoravelmente aos interesses do Poder Executivo Federal. A narrativa básica do Presidente da República à época era só dizer que “não sabia de nada”. Mais de uma década se passou e continuamos a ouvir histórias de corrupção e de poderosos que “não sabiam de nada”, apesar dos bilhões de reais envolvidos.

Como se vê é preciso muita paciência histórica diante de tantas mudanças que ainda precisam acontecer.

“Quem não mede não gerencia”

por Luis Borges em 04/11/2005

A nação brasileira está sendo espectadora de um festival de denúncias, surpresas, escavações de fatos, apresentação de documentos, acareações e muito espaço na mídia. Tudo isso se enrola e desenrola na formação de um longo crepúsculo em cujo caminho aparecem furacões, tempestades tropicais, operações “abafa” e pizzas que se assam lentamente.

Se eu tomar emprestados os versos de Chico Buarque e adaptá-los ao momento, eu poderia dizer que “vai passar essa fase de nossa história de tenebrosas transações”. Mas até quando vamos esperar que se mude a vida e a postura perante a vida? Até quando continuaremos a bradar o discurso da ética, da transparência e da cidadania, sempre na esperança de que a prática seja um dos critérios da verdade?

Por que acontece tudo isso e logo aparecem as lideranças do país dizendo que “eu não sabia”, e todos se blindando com argumentos abusivos em relação à inteligência de qualquer ser humano?

Imaginemos uma pessoa que seja empreendedora, mas que se utilize de um método consistente para gerenciar o seu negócio. Poderia ela ter tanto susto? Ela poderia dizer que não sabia? Claro que não! Se ela tem método, obviamente ela controla, mede os seus resultados e sabe o que se passa em sua organização humana, seja ela uma empresa, uma escola, uma ONG, uma entidade ou mesmo um órgão público explícito. Planejar é pensar antes e é da essência do método. Não dá para fazer as coisas duas vezes antes de pensar e é preciso saber que todos os atos trazem consequências.

Portanto dizer que “eu não sabia”, não exime ninguém da responsabilidade que tem na gestão de qualquer negócio, ainda que seja por omissão, conveniência ou conivência.

E você, como está em relação ao controle das variáveis que impactam fortemente o seu negócio? Com que frequência você faz as suas medições? Ou você vai me dizer que não sabia que deveria medi-las?

Medir para controlar e controlar para gerenciar são partes importantes nas boas práticas da gestão de qualquer negócio.

Reflita sobre isso! Se a sua prática ainda não é suficiente lembre-se que é possível “despiorar”, atingir o nível zero, manter, melhorar e inovar, sabendo-se que “do passo a passo se faz o caminho”. Mas é preciso querer e não abusar da inteligência das pessoas dizendo que “eu não sabia”. Para aprender, talvez seja necessário cortar na própria carne e no próprio osso que a suporta, mas também isso deve ser feito com método.

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