A ecdise dos políticos na janela partidária

por Luis Borges 22 de março de 2018   Pensata

Sabemos da biologia, mais especificamente da zoologia, que a ecdise é basicamente uma troca de pele que acontece na vida de diversos animais, que sempre buscam tirar um melhor proveito nesse processo de metamorfose.

Guardadas as devidas proporções, digamos que algo análogo está acontecendo nesse período de um mês, cuja contagem se iniciou em 7 de março, conhecido como janela partidária. Esse período tem como uma de suas principais características a possibilidade dos parlamentares trocarem de partidos políticos sem correr o risco de perderem o mandato. Afinal de contas o mandato pertence ao partido e, fora dessa data, só com muito conchavo o parlamentar não perde o mandato. Só neste inicio de temporada 17 Deputados Federais já trocaram de partido enquanto outros só o farão no final do período por estarem aguardando qual será a melhor oportunidade de troca. Ainda assim é importante lembrar que desde o início da atual legislatura, em 2015, a Câmara já registrou 189 trocas partidárias envolvendo 135 deputados. Entre eles, um deputado trocou de partido 4 vezes, outros parlamentares trocaram por três ou duas vezes. É tudo muito flexível para melhor se manter.

No troca-troca partidário os partidos políticos também fazem as suas metamorfoses tentando aumentar as suas bancadas e margens para negociação daquilo que for do seu interesse. Isso é feito com cara de paisagem das mais lerdas, pois o que não é levado em conta é o programa partidário.

Para a maioria esmagadora dos casos, muda-se com imensa naturalidade do Partido Progressista (PP) para o Partido Popular Socialista (PPS) ou do Partido Comunista do Brasil (PC do B) para o Partido Socialista Brasileiro (PSB). Num piscar de olhos é melhor se reposicionar para as eleições que estão chegando. Vale também deixar de ser partido – PMDB – para voltar a ser um movimento – MDB – ou simplesmente trocar a inexpressiva marca atual, sem mexer no conteúdo, por outra mais chamativa e exortativa do tipo Avante, Podemos… Também pudera, o país hoje tem 35 partidos políticos em funcionamento outros 72 tentando ser aprovados.

Diante da enorme rejeição pela qual estão passando os políticos e seus partidos, o que conta mesmo é se manter no poder, custe o que custar, mesmo diante de da mais recente pesquisa do Ibope mostrando que 48% dos entrevistados não tem simpatia por nenhum partido político e 5% não souberam ou não responderam. Feio mesmo é perder as eleições, a vida no poder, o foro privilegiado, o auxílio moradia, o jatinho da FAB…

Enquanto isso, de metamorfose em metamorfose, as cúpulas partidárias prosseguem fortes e decidindo como caciques os rumos dos partidos, a começar por definir como serão distribuídos os recursos do recém criado Fundo Eleitoral de R$1,7 bilhão e do Fundo Partidário. O sistema político-partidário se reinventa para se manter sendo o mesmo no domínio permanente do poder. Mesmo fazendo uma reforma, um remendo aqui ou ali, cedendo um ou outro anel acolá, mas sem perder as mãos.

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