E se vier a morte súbita?

por Luis Borges 17 de agosto de 2014   Pensata

De repente, não mais que de repente, algo que existia deixou de existir nesse plano da vida. O modo da ocorrência pode ser a queda de um avião, uma batida frontal entre veículos, balas perdidas em ambientes diversos ou mesmo o temido infarto agudo do miocárdio, dentre outras diversas possibilidades. O fato é que, diante das tragédias, muitas pessoas tentam observar e analisar o fenômeno ocorrido e o processo que o gerou. Muitas se perguntam “e se fosse comigo?” ou “e se fosse minha mãe?” ou outra pessoa próxima?

Na manhã seguinte ao acidente aéreo que matou o candidato à Presidência da República Eduardo Campos, além de sua equipe e dos tripulantes da aeronave, conversei com um amigo. Ele falou de seu sofrimento. Vieram instantaneamente à sua mente os acontecimentos que levaram à perda de seu irmão, há seis anos, na queda de uma aeronave de pequeno porte no estado do Mato Grosso. Ele também reiterou seu profundo pesar pelas perdas humanas, e realçou que o acontecido trouxe um ponto de inflexão no andamento do atual processo eleitoral brasileiro. Como o amigo completou recentemente os seus 60 anos de idade, aos quais chegarei brevemente, comecei a falar sobre outras questões que passaram pela minha cabeça. Se a vida é um risco, como fazer efetivamente a gestão dele, para prolongá-la mantendo um nível de qualidade aceitável?

O amigo pontuou que, diante da fragilidade humana e estando longe de sermos a fortaleza que imaginamos ser, o melhor seria buscar a serenidade, o equilíbrio, a harmonia, sempre conservando a energia. Aí eu perguntei como fazer isso, sem perder a ternura e a dignidade. Como sempre, e na correria contra o tempo, não concluímos a conversa. Mas ainda deu tempo de dizer ao amigo que eu gostaria de ter o merecimento de deixar esse plano como se fosse um passarinho voando e que, de repente, parasse de voar. Como se o espírito deixasse o corpo e continuasse seu caminho, para se eternizar ou renascer.

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