Dona Lelê partiu e ficou

por Luis Borges 24 de setembro de 2014   Pensata

A senhora Maria Teresina Canuto Calais, 84 anos, mãe do amigo João Bosco Calais Filho, partiu para um outro plano no dia 09 de setembro. Partiu em Jequeri-MG, cidade da Zona da Mata, a 220 km de Belo Horizonte, terra das deliciosas broas e broinhas de milho. A dor de sua perda e as lembranças já saudosas do seu marcante e edificante modo de ser foram registradas pelas palavras de uma de suas filhas e por duas de suas netas, em homenagens que podem ser lidas a seguir.

Não quero falar de dor. Esta, só o tempo para acalmar. Quero falar de saudade! Do amor que ficou e ficará para sempre! Partiu na manhã de terça feira, dia 09/09, uma mãe, avó, amiga… Dona Lelê!!!

Ela não tinha medo de morrer, mas sim de não viver.

Uma mulher forte, determinada, batalhadora, alegre. Um exemplo a ser seguido.

Seu jeito tão ímpar de viver, suas risadas, ecoam em minha mente e vão ecoar em todos os momentos da minha vida.

Alguém escreveu que “as pessoas que amamos não morrem jamais, apenas partem antes de nós”. E é isso. Ela partiu, foi dar risada em outro plano, mas tenho certeza que vamos nos reencontrar um dia.

Vá com Deus, Mamãe, e continue colhendo todos os frutos do amor que semeou aqui conosco. A todas as pessoas que de alguma maneira estiveram conosco neste momento, o nosso obrigado!

Por Maria Emília Calais, filha.

D. Lelê na juventude

D. Lelê na juventude

Ela foi metade da minha infância. Limpava nossas roupas sujas de barro, tinha as melhores mangas no quintal e o cheirinho gostoso do café com queijo pela manhã. Pra entrar na briga pelos seus netos, não bastava motivo, estávamos sempre certos. Afinal, na casa da vovó podia tudo. E usávamos essa expressão ao pé da letra. Era chegar o primeiro dia de férias que esperneávamos para viajar, nadar no rio, subir no areal, andar de bicicleta e depois chegar a tempo para o almoço caprichado, que só ela sabia fazer. A gente dava trabalho, viu? E quando íamos embora, ela ficava na varanda, fingia que estava chorando na hora da despedida e abanava as mãozinhas quando o carro passava. É… você vai fazer falta, vó. E quando a dor passar, vai ficar a saudade… a saudade que jamais vai embora. E a certeza de que minha infância foi a melhor do mundo, porque te tive como vó, porque te tive como exemplo.

Por Débora Calais, neta

D. Teresinha e o cachorro Hulk

Com o cachorro Hulk

Levou consigo a bagagem, cheia daquilo que por tempos sustentou toda uma família. Fico imaginando que, feito aquela época da roça, em que chegava na cidade grande com uma mala repleta de um pouco de tudo que havia plantado (legumes, verduras e frutas de todas as qualidades; sustento dos filhos, e deleite dos amigos) e a carregava sozinha da rodoviária até a Tamoios, aí em cima, quando chegou, deve ter recusado o socorro de algum anjo encarregado. Talvez não, talvez o tenham avisado que a Senhora era dessas que largou Banco por roça, criou oito e mais um bocado, enterrou dois, buscou marido em boteco com espingarda na mão, cultivou lavoura debaixo de sol e não baixou cabeça pra ninguém. Era o elo que sustentava muita gente, e tinha o respeito de um montão. Muitos médicos eram seus melhores amigos, e vários caminhoneiros da coca-cola, seus maiores inimigos. Dos seus “meninos”, só o melhor (e pode botá aí: filhos, netos, bisnetos, de consideração, ou não). Todos tão diferentes, mas carregando consigo a raça e garra que você teve ao criá-los. Feito você, vão conseguir seguir em frente, vão sentir dor, vão encher os olhinhos d’água sempre que de você falarem, mas vão seguir, assim como a viram fazer por três vezes.

Foi festa aí no céu, meu receio é que alguém tenha botado um trio elétrico em sua porta, que vô tenha lhe cobrado que a Senhora sempre dissera que iria antes dele, que Maria Elisa tenha te segurado e não soltado mais, que “vó” Auta já tenha se fartado de toda sua rebeldia, “Tereza”. De resto, só consigo imaginá-la a almoçar doces de todas as variedades e sobremesear algum almoço. Saborear empadas e escutar Roberto Carlos. Com uma varanda pra avistar e algumas pessoas de quem comentar. Com um sorriso largo no rosto, um batom bonito na boca, um relógio chique no pulso e um cabelo bem arrumado. Guarda consigo o que levou daqui, continuaremos a carregar a bagagem do que plantou, não em terra, mas em nós.

Lamento sua morte… lamento por todos que não a conheceram e que só souberam de ti por nós.

A bença vó!

Por Karina Calais, neta

Dona Lelê 2

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