Difícil almoçar sem celular
Um engenheiro químico, professor universitário aposentado, 58 anos de idade, convidou doze amigos e amigas para um almoço de confraternização de início de ano. O dia escolhido foi o segundo sábado de janeiro e o local, a sua aprazível casa em um condomínio fechado situado na grande Belo Horizonte, lá para os lados da Serra da Moeda.
Todos os convidados, cuja faixa etária varia entre 50 e 60 anos, confirmaram a presença em tempo hábil, conhecedores que são do sistema do amigo anfitrião.
E assim, no dia marcado, os convidados começaram a chegar a partir das 13h e a participar do aperitivo após os cumprimentos da chegada. Satisfeito com o momento e com a movimentação que crescia, o professor às vezes se mostrava efusivo, mas também percebia que todos chegavam armados com seus celulares, esbanjando tecnologia e muita capacidade de registrar a instantaneidade de tudo.
Finalmente, às 14h30, em meio a muita conversa, mensagens enviadas e muitos dispositivos tecnológicos esbanjando suas sonoridades, foi dado o primeiro aviso de que o almoço teria início.
Mesa posta, comida árabe no cardápio, as pessoas foram se acomodando e fotografando tudo, enquanto dois retardatários finalmente também se sentaram. De repente o anfitrião olhou para a mesa, cujas imagens já estavam nas redes sociais, e percebeu que todos os convidados colocaram seus celulares à mesa, bem ao lado do prato e, em alguns casos, até encostando-se nos talheres.
Indignado e sempre fiel às suas crenças e valores, o anfitrião pediu um instante da atenção de todos e foi direto ao ponto. Pediu que todos retirassem seus celulares da mesa e os colocassem na sala ao lado. Arrematou sua fala pedindo que todos lavassem as mãos antes de retornarem aos seus lugares. Seguiu-se um burburinho de surpresa e o acatamento da solicitação feita.
O almoço aconteceu com razoável ligeireza, alguns sussurros, poucas conversas. Ainda assim alguns participantes se levantaram, até mais de uma vez, para ir à sala ao lado atender seus celulares, que não estavam no modo silencioso. Por volta das 15h30 foi servida a sobremesa, da qual ninguém gosta de abrir mão, e um cafezinho encerrou o evento. Às 16h30 todos já haviam partido, agarrados a seus celulares, agradecendo pelo almoço, sendo que a maioria não fez alusão a um futuro encontro. Apenas três amigos passaram recibo, se desculpando por terem colocado seus celulares à mesa, e prometeram se esforçar para não repetir o ato numa próxima oportunidade.
Fica o convite à reflexão. O que você tem observado sobre o uso de celulares em todas as ocasiões e lugares? Que análise você faz sobre as pessoas, hoje inseparáveis de seus dispositivos tecnológicos, sempre alimentando suas redes e grupos sociais? Você faz parte desse grupo? Ou será que vai sobrar apenas um cutucão no anfitrião, alegando que ele foi muito radical ao não fazer vista grossa para a situação vivida em sua própria casa?
Que temática, boa Luís… Vale mesmo a pena refletir como estamos nos comportando. Pois hoje em dia além dos valores que estamos perdendo com este mau hábito. Estamos incluindo em nossa rotina uma má alimentação ou melhor uma má percepção da alimentação, pois não conseguimos perceber o que se come e nem apreciar o que comemos. Abraços…