Difícil almoçar sem celular

por Luis Borges 5 de fevereiro de 2015   Pensata

Um engenheiro químico, professor universitário aposentado, 58 anos de idade, convidou doze amigos e amigas para um almoço de confraternização de início de ano. O dia escolhido foi o segundo sábado de janeiro e o local, a sua aprazível casa em um condomínio fechado situado na grande Belo Horizonte, lá para os lados da Serra da Moeda.

Todos os convidados, cuja faixa etária varia entre 50 e 60 anos, confirmaram a presença em tempo hábil, conhecedores que são do sistema do amigo anfitrião.

E assim, no dia marcado, os convidados começaram a chegar a partir das 13h e a participar do aperitivo após os cumprimentos da chegada.  Satisfeito com o momento e com a movimentação que crescia, o professor às vezes se mostrava efusivo, mas também percebia que todos chegavam armados com seus celulares, esbanjando tecnologia e muita capacidade de registrar a instantaneidade de tudo.

Finalmente, às 14h30, em meio a muita conversa, mensagens enviadas e muitos dispositivos tecnológicos esbanjando suas sonoridades, foi dado o primeiro aviso de que o almoço teria início.

Mesa posta, comida árabe no cardápio, as pessoas foram se acomodando e fotografando tudo, enquanto dois retardatários finalmente também se sentaram.  De repente o anfitrião olhou para a mesa, cujas imagens já estavam nas redes sociais, e percebeu que todos os convidados colocaram seus celulares à mesa, bem ao lado do prato e, em alguns casos, até encostando-se nos talheres.

Indignado e sempre fiel às suas crenças e valores, o anfitrião pediu um instante da atenção de todos e foi direto ao ponto. Pediu que todos retirassem seus celulares da mesa e os colocassem na sala ao lado. Arrematou sua fala pedindo que todos lavassem as mãos antes de retornarem aos seus lugares. Seguiu-se um burburinho de surpresa e o acatamento da solicitação feita.

O almoço aconteceu com razoável ligeireza, alguns sussurros, poucas conversas. Ainda assim alguns participantes se levantaram, até mais de uma vez, para ir à sala ao lado atender seus celulares, que não estavam no modo silencioso. Por volta das 15h30 foi servida a sobremesa, da qual ninguém gosta de abrir mão, e um cafezinho encerrou o evento. Às 16h30 todos já haviam partido, agarrados a seus celulares, agradecendo pelo almoço, sendo que a maioria não fez alusão a um futuro encontro. Apenas três amigos passaram recibo, se desculpando por terem colocado seus celulares à mesa, e prometeram se esforçar para não repetir o ato numa próxima oportunidade.

Fica o convite à reflexão. O que você tem observado sobre o uso de celulares em todas as ocasiões e lugares? Que análise você faz sobre as pessoas, hoje inseparáveis de seus dispositivos tecnológicos, sempre alimentando suas redes e grupos sociais? Você faz parte desse grupo? Ou será que vai sobrar apenas um cutucão no anfitrião, alegando que ele foi muito radical ao não fazer vista grossa para a situação vivida em sua própria casa?

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