Depois do Carnaval para onde a coisa vai?

por Luis Borges 28 de fevereiro de 2020   Pensata

Escrevo esta pensata na manhã da quarta-feira de cinzas, como se tudo estivesse terminado nessa grande festa popular, mas sei que o pós-carnaval ainda vai dar o ar da graça em muitos lugares até o final da semana. Fico pensando para onde vamos, eu, você, nós e toda a polarizada sociedade brasileira já tendo se passado 2 meses do ano que segue firmemente seu curso natural. O que ficou para trás, ficou.

Mas por que pensar, nesse momento, na quantidade de dias que já se passaram nos quais a pauta de notícias verdadeiras e também falsas se renovou quase que a cada instante?

A razão é muito simples. Contrariando recessões econômicas anteriores, dessa vez tudo está bem mais demorado para acontecer numa efetiva retomada do crescimento econômico. De 2014 para cá chegamos ao sétimo ano de pleno desemprego. Enquanto o social grita e suas barragens dão sinais de rachaduras – vide policiais militares amotinados no Ceará – a política partidária está de olho nas eleições municipais para prefeitos e vereadores em 5.570 municípios, que aliás, é onde as pessoas moram.

Em dezembro passado uma expressão bastante ouvida dizia que “agora vai”, mas vai para onde se nós vivemos de resultados? Será que dá para continuar convivendo com um barril de pólvora de 11,6 milhões de desempregados, 5 milhões de desalentados, 3 milhões na fila do bolsa família e quase 2 milhões na fila do INSS? Se o ano começou com a projeção de crescimento do PIB entre 2,30% e 2,50% bastou a divulgação dos índices econômicos de dezembro mostrando uma certa freada na economia para que se mudassem as expectativas. Agora o Boletim Focus do Banco Central já estima crescimento de 2,20% no final do ano. Vale lembrar que no ano passado não foi diferente. A projeção em janeiro era para crescimento do PIB em 2,53% que foi caindo, caindo e deve ficar em torno de 1% quando o IBGE divulgar o número oficial no início de março.

Agora o Presidente da República já fala que espera um crescimento da economia de pelo menos 2% e o prestigiado Superministro da Economia responde que acha que vai dá para alcançar. Fazendo uma analogia com o futebol podemos lembrar que nessa modalidade esportiva quando se diz que o técnico do time está prestigiado é sinal de que aumentaram as chances dele ser demitido por falta de resultados expressivos. Como se vê, não basta só torcer pelos bons resultados e dar demonstrações de fé num momento em que tudo vai mudar num milagroso passe de mágica. Também não basta bradar crenças no liberalismo econômico enquanto se tabela preços para fretes de caminhoneiros ou juros bancários devidamente compensados por aumentos de tarifas de prestação de serviços, por exemplo. Como a economia vive de expectativas e mede permanentemente a confiança e a desconfiança no rumo que as coisas vão tomando, será que surgirão muitos investidores para fazer os investimentos que o país está esperando? Some-se a isso o corona vírus – Covid19 puxando a economia mundial para baixo, a espera permanente pelas reformas tributária e administrativa, ataques presidenciais frequentes à democracia, às instituições do país e à liberdade de imprensa como se fossem um empecilho para que as coisas deem certo. É o que temos para enfrentar  no momento.

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