Demissão da pior forma
O ano caminha para o fim enquanto o Natal se aproxima e a economia brasileira ainda não dá sinais de melhoria. É interessante notar como se manifestam no dia-a-dia da vida os reflexos da perda de poder aquisitivo decorrente do galope inflacionário. Também dá para perceber uma maior lentidão nos negócios em função do pessimismo dos empresários e a população em geral mais preocupada com o desemprego, o que deixa muitas pessoas mais cautelosas na hora de fazer dívidas de um modo geral. Nesse cenário, começam a surgir mais notícias de empresas demitindo funcionários, por razões diversas.
Enquanto pensava no estado emocional das pessoas que estão sendo demitidas e nas dificuldades para se recolocar rapidamente no mercado de trabalho nesse difícil momento da economia, fiquei sabendo de um caso desrespeitoso com a pessoa e indigno de seres humanos. Aconteceu com uma funcionária que trabalhava há 22 anos numa agência de um grande banco privado em Belo Horizonte. Logo nesse segmento, que acumula lucros de bilhões de reais a cada trimestre e que não aceita resultados com nenhum centavo abaixo da meta estipulada.
A funcionária, que exercia a função de assistente administrativa, chegou ao seu setor de trabalho às 8 horas da sexta-feira passada, como de costume. Antecipando-se aos seus colegas de trabalho, ela colocou a vasilha de água para ferver, na expectativa de que alguns minutos depois um gostoso café estaria à disposição de todos. Entretanto, a gerente de recursos humanos chegou ao local inesperadamente e a convocou para uma reunião na sala ao lado. A funcionária argumentou que a água logo estaria fervendo, mas recebeu a determinação de que deveria deixar isso pra lá.
Iniciada a conversa e diante dos rodeios e “me-me-més” da gerente, a funcionária perguntou a ela se tudo aquilo era para demiti-la e também o que tinha feito para merecer tal situação. Aliviada e sem graça diante das perguntas que atalharam seu caminho, a explicação da gerante foi seca e direta. Disse que a funcionária estava no banco há muito tempo e tornou-se cara para a instituição. A política da instituição, segundo explicou a gerente de RH, é evitar ao máximo que pessoas permaneçam trabalhando na empresa por mais de duas décadas. Para que isso aconteça, a tecnologia da informação será cada vez mais incrementada para aumentar a competitividade.
A funcionária, ainda se refazendo do susto, perguntou sobre o cumprimento de aviso prévio e sobre seus direitos trabalhistas, mas foi logo interrompida pela gerente. Não seria necessário cumprir aviso, todos os direitos já estavam calculados e bastava apenas homologar a demissão no Sindicato dos Bancários. A gerente arrematou a conversa informando à funcionária que, saindo da sala, ela já deveria voltar para casa. Não permitiu o cafezinho do juízo final junto aos colegas do setor.
Forma e conteúdo caminham lado a lado, e o ser humano merece mais respeito. É lamentável que ainda aconteçam fatos como esse em pleno ano de 2014 na República Federativa do Brasil.
Por que poupar o nome do grande banco?
Oi Luiz, obrigado pelo seu comentário. A fonte do texto pediu para não citar mais detalhes. De toda forma, acho que o mais importante é compartilhar a história e refletir sobre ela. Abraços, Luis Borges.