Curtas e curtinhas
Delação premiada na empresa
Como parte do acordo de leniência fechado entre a Camargo Corrêa, a Polícia Federal e a Procuradoria Geral da República, a empresa criou um modelo interno de delação premiada. Funcionários e ex-empregados podem participar do Programa Interno de Incentivo à Colaboração (PIIC), repassando informações que possam, potencialmente, apontar a direção de outros fatos ilícitos que ainda não vieram à tona.
É uma mudança na postura da empresa, que permite imaginar como ficará o clima organizacional. Onde ninguém “entregava”nada, de repente começa-se a falar o que se sabe. Será o tempo do “olho por olho, dente por dente” e “salve-se quem puder”.
Viagens e diárias
Que os gastos da União aumentam enquanto a receita diminui, todos sabemos. Também é sabido que não são feitos esforços para discutir a qualidade e a quantidade dos gastos, apenas para encontrar novas receitas via aumento de impostos e contribuições, como a CPMF.
Proponho um exercício que vai na contramão – pensar os gastos com viagens e diárias dos órgãos da União em 2015. Só com passagens e deslocamentos do funcionalismo público federal os contribuintes arcaram com R$1,2 bilhão. Com as diárias decorrentes de tantas viagens, outros R$941,9 milhões.
Um exemplo ilustrativo dessas despesas: o Ministro do Trabalho e Previdência Social acompanhado de um assessor saiu de Brasília pra Belo Horizonte tendo como justificativa dar posse ao Superintendente do Ministério em Minas Gerais. Questão: para que gastar com essa viagem, se o ato de posse já fora publicado no Diário Oficial da União? É claro que a oportunidade ensejou contatos político-partidários e também festividades, que habitualmente contém um coquetel financiado pelo Tesouro.
Singelos exemplos como esse não são raros país afora. Se fossem limados das agendas, contribuiriam bastante para a redução de gastos da União.
Tenho minhas dúvidas da proposta de controle interno a vigorar na Camargo Corrêa. A questão dos chamados “mal feitos” que o país quer dar um fim, para mim é produto de uma cultura de apropriação do público pelo privado. A relação incestuosa das grandes corporações com o poder público infelizmente está muito enraizada em nosso país. Acredito ser muito mais eficaz o combate à corrupção se o exemplo vier de cima. Se não existir na empresa a cultura do jeitinho,dificilmente os escalões inferiores irão se meter em relações pouco republicanas. Os donos ou acionistas das empresas, que na pratica são os gestores, incentivar a prática da delação estarão construindo um ambiente deletério nas relações internas, criando um ambiente de profunda desconfiança entre seus empregados. Ver para crer.
” O exemplo vem de cima”.