Cuide bem de você também

por Luis Borges 19 de fevereiro de 2015   Pensata

Tenho a crença de que tudo começa com a gente. Por isso, devemos gerenciar a nossa vida para manter o que merece ser mantido e melhorar o que precisa ser melhorado. A partir daí teremos condições de contribuir, dentro de nossas possibilidades reais, com as pessoas de nossa interação, começando pelos que estão mais próximos. Essa proximidade pode começar pela família, a partir do cônjuge, filhos, pais, avós, tios, sogros, e pelos amigos, que cabem nos dedos de uma ou duas mãos.

Esse critério não exclui nossa solidariedade com outras pessoas, que serão contempladas de formas diferentes. Mas, hoje, o foco é para os casos em que a pessoa se preocupa o tempo todo com os familiares e se esquece de si mesma. As desculpas para justificar a postergação e o não investimento em si mesmo são as mais esfarrapadas. E deixam a sensação de quase imortalidade e de que as coisas só acontecem com os outros.

Na semana passada soube do caso de dois irmãos que cuidavam com dedicação quase exclusiva da mãe nonagenária e de um irmão sexagenário. Não é que um dos irmãos cuidadores, já septuagenário, começou a apresentar alguns sinais de falhas no coração? Após alguma relutância o jeito foi procurar um médico, que sugeriu determinados procedimentos para monitorar o ritmo cardíaco. De repente veio uma crise, a internação hospitalar, o encaminhamento para a unidade de terapia intensiva. Mesmo assim, ele não parava de se preocupar com o estado de saúde da mãe. Quatro dias depois veio o que ninguém esperava ou imaginava para o momento – a mudança de plano espiritual aconteceu.

Outro caso fiquei sabendo ontem e também nos ensina que devemos cuidar mais de nós para termos mais condições de cuidar dos outros. O protagonista foi um sobrinho de 50 anos de idade que cuida legalmente de um tio de 76 anos. Este mora no apartamento de quatro quartos do sobrinho, seu herdeiro que é casado e tem dois filhos. Todos os dias a pressão arterial do tio é aferida e anotada, mas sempre na expectativa de que esteja em 12 por 8. Quando surge um valor de 14 por 9 o sobrinho já começa a ficar preocupado e a pensar no aumento da dosagem de medicamentos. E assim ele segue em suas preocupações ao verificar os índices de indicadores como glicemia, colesterol, ácido úrico, triglicérides…

Ultimamente o sobrinho começou a sentir algumas dores de cabeça, tonteiras e uma sede acima do normal, tanto em dias quentes quanto nos raros chuvosos. Se queixou com a esposa, que foi direta – “vá ao cardiologista”. Depois de relutar, resolveu consultar o especialista. O resultado foi surpreendente. No momento da consulta sua pressão arterial estava em 18 por 12. Um exame de sangue posteriormente mostrou que a glicemia em jejum chegava a 192 mg/dl, quase o dobro do valor máximo tolerado pelo padrão brasileiro. Com esses resultados, o sobrinho despertou para seus próprios problemas, cujas soluções passaram a lhe exigir mudanças de atitudes e disciplina para ficar focado no tratamento necessário. Finalmente o sobrinho concluiu que o tio estava muito melhor que o seu cuidador.

Com esses exemplos, te convido a uma reflexão. Você conhece pessoas assim? E você, está agindo dessa forma? É preciso mudar enquanto há tempo para que as histórias não se repitam.

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