A certeza dos analistas perante as incertezas da economia

por Luis Borges 22 de maio de 2018   Pensata

Toda vez que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne, a cada 40 ou 45 dias, para discutir a taxa básica de juros da economia, a Selic, esse assunto é destaque antes, durante e depois em diversas mídias. O mercado – sempre o mercado e seus agentes – os analistas econômicos, as autoridades monetárias, os rentistas e os pagadores de juros se manifestam cheios de razão para justificar seus pontos de vista.

É importante perceber que a taxa Selic começou a cair em outubro de 2016, quando passou de 14,25% para 14% ao ano. Depois de 11 quedas sucessivas chegou a 6,5% ao ano neste mês de maio de 2018. Quero destacar aqui as projeções feitas pela imensa maioria dos analistas – jornalistas, economistas e consultores – dando como certa a queda da taxa Selic para 6,25% ao ano na reunião do Copom de 15 e 16 de maio. A confiança era tamanha que até na quarta-feira (16) pela manhã ainda se bradava por mais uma queda, que levaria a taxa outra vez para o menor índice da série histórica. No início da noite desse mesmo dia, quando o Banco Central divulgou que a taxa foi mantida em 6,5%, a palavra “surpresa” foi a mais presente nas manchetes das diversas mídias.

No dia seguinte muitos analistas tentavam justificar porque erraram em suas certezas. Um deles chegou a dizer que uma queda de 0,25% seria ínfima diante dos altos juros cobrados pelos grandes bancos enquanto outra analista afirmou que uma semana antes entrevistou o Presidente do BC e ele sinalizou que a queda da taxa prosseguiria.

É interessante notar que os proprietários da verdade têm muitas dificuldades para perceber os sinais que precedem possíveis mudanças. O fato é que enquanto prevalecia a arrogância e a ausência da capacidade de abstração quase ninguém atentou para a disparada do dólar, que chegou a R$3,70 naquele dia, o barril de petróleo cotado a U$77 e a sinalização do aumento da taxa de juros nos EUA. Só para complicar, ainda veio na quarta pela manhã o anúncio de que o PIB do primeiro trimestre deste ano ficou negativo em 0,13% e que a morna recuperação da economia poderá levar o PIB a um crescimento anual entre 2% e 2,5%, o que é bem diferente dos alardeados 3%.

A observação e a análise continuam sendo fundamentais para se lidar com as funções que envolvem várias variáveis, principalmente em conjunturas voláteis que exigem acompanhamento horário ou diário, pois estrelas, nuvens, pessoas … mudam de lugar. Há que se conhecer e se compreender melhor o que nos ensina o princípio da incerteza de Heisenberg. Isso será bom para todos, a começar pelos analistas de qualquer tema, inclusive econômicos, políticos, sociais …

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