Uma zeladoria para a cidade

por Luis Borges 3 de maio de 2022   Pensata

O novo prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD), foi entrevistado pelo jornalista Eduardo Costa no programa Rádio Vivo, da rádio Itatiaia, no dia 12 de Abril. Ele falou que, entre as prioridades de seu mandato, estão as ações para resolver problemas nos transportes coletivos urbano por ônibus e pelo metrô. Também pretende aproveitar o período seco para acelerar os empreendimentos que visam combater alagamentos e enchentes do tempo das chuvas, encarar de frente os desafios ligados à população em situação de rua, fazer o recapeamento de vias públicas com início nos bairros e partindo rumo ao centro da cidade, fortalecer as administrações regionais centralizadas na secretaria de governo e colocar em movimento a zeladoria criada com a reestruturação feita na prefeitura, cujo gestor já foi indicado, com foco na solução de muitos problemas pequenos que vão surgindo no dia-a-dia .

É interessante notar que a imagem de zeladoria nos municípios, que em primeira instância é onde as pessoas moram, geralmente está ligada à capina de logradouros públicos, varrição, limpeza, jardinagem. Espero que a zeladoria criada em BH vá muito além disso, com uma atuação e interação abrangendo todo o sistema que constitui a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. Nesse sentido, a zeladoria deve estimular, incentivar a participação efetiva dos cidadãos para apresentar reclamações sobre os processos de trabalho que estejam com resultados insatisfatórios segundo o seu ponto de vista.

Acredito que a zeladoria deve estar focada e com muita disposição para agir em função das reclamações dos cidadãos sobre as não-conformidades na implementação dos padrões municipais existentes de qualquer natureza. Elas podem chegar por diferentes meios, como o telefone, aplicativo, ouvidoria, imprensa ou até presencialmente. O mais importante é saber receber a reclamação, analisar se ela é procedente a partir dos fatos e dados informados, e que tudo seja gerenciado com qualidade para atender as necessidades e expectativas dos cidadãos. É claro que o cidadão deve ser informado sobre o meio para acompanhar o andamento do processo até o prazo estabelecido para a entrega do resultado final.

É importante realçar que a grande premissa para a existência de uma zeladoria é zelar para que os processos de prestação dos serviços municipais aconteçam conforme o que está especificado e que assim que os desvios forem percebidos e relatados as ações gerenciais corretivas devem ser feitas para que tudo volte à normalidade.

Geralmente um pequeno problema ignorado ou não corrigido inicialmente poderá se tornar crônico com o passar do tempo, o que só encarece e dificulta a sua solução. Imagine um pequeno buraco em sua rua que não foi tampado quando começou a surgir e, tempos depois, virou uma cratera trazendo riscos para todos os usuários da via pública.

Por outro lado, e partindo da premissa de que “nada é tão bom que não possa ser melhorado”, a zeladoria e outros canais de acesso à prefeitura, inclusive as administrações regionais, poderiam também estar acessíveis para o recebimento de sugestões para a melhoria contínua, e até inovações, em seus processos de trabalho. É óbvio que tudo deve ser avaliado para verificar se procede ou não, inclusive em caso positivo, se existe viabilidade financeira no orçamento.

Vamos participar e acompanhar os passos e a avaliação do desempenho da zeladoria em função dos resultados (entregas) alcançados e para combater a nossa própria indiferença quanto aos problemas da cidade.

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Conversar sobre o cotidiano geralmente faz parte da pauta de muita gente diante de uma oportunidade que surge espontaneamente ou induzida por alguém que precisa falar por não aguentar guardar só para si o que aconteceu.

É interessante refletir e saber se posicionar diante de acontecimentos que surgem do nada e nos surpreende ao nos colocar, no mínimo, como figurantes numa determinada cena. Conforme as consequências e desdobramentos, dá até para ser classificado como testemunha integral ou parcial do ocorrido.

Nesse sentido, vale a pena relembrar o que aconteceu no domingo de Páscoa, dia 17 de Abril, num supermercado da zona norte de Belo Horizonte mais especificamente na região da Pampulha.

Um rapaz aparentando idade em torno dos 30 anos entrou no supermercado por volta do meio-dia. Seu foco era na compra de um frango assado para o almoço com a família em função da passagem da Páscoa, com sonhos e propósitos de mudanças para melhor, tanto em casa quanto na sociedade.

Ele foi rapidamente para o local de venda e lá foi surpreendido por uma cena inimaginável em andamento. Um senhor e uma senhora, ambos na faixa dos 65 anos, batiam boca numa disputa para definir qual dos dois consumidores teria o direito de comprar o último frango assado do supermercado disponível naquela hora do dia.

O senhor dizia que chegou primeiro e, na réplica, a senhora falou que viu o frango primeiro e que não admitia sair de lá sem ele. Diante da radicalização entre as partes em conflito, o rapaz acionou rapidamente o gerente, que imediatamente chegou ao setor.

Ele iniciou a tentativa de mediação entre os dois clientes explicando que o supermercado foi surpreendido por uma procura muito além da meta de vendas para aquele domingo. A senhora retrucou dizendo que não tinha nada a ver com o erro no estabelecimento da meta e que não abria mão do seu direito de comprar e levar o frango assado para casa, ainda mais que era o domingo de Páscoa. O gerente olhou para o senhor como que a dizer “me ajuda aí “. Enquanto isso alguns clientes iam chegando ao local e se posicionavam para aguardar a solução do problema.

Inesperadamente, o senhor disse que abriria mão do frango para que o impasse fosse resolvido e terminasse o constrangimento gerado pela situação, apesar do seu direito por ter chegado primeiro ao local.

Então, cada participante tomou seu rumo dentro do supermercado com a pequena plateia se desfazendo e a senhora com o seu precioso frango assado, mas mantendo um discreto ar de triunfo pelo resultado alcançado.

Por outro lado, o rapaz que chamou o gerente deixou o local e foi fazer a sua compra numa pequena mercearia a seis quarteirões dali e que tinha disponibilidade para entrega imediata. Ao chegar em casa, começou a contar para todos o que havia acontecido.

Você já presenciou ou foi parte de acontecimentos desse tipo, na Páscoa ou fora dela?

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Uma passadinha na festa

por Luis Borges 18 de abril de 2022   Pensata

Sabe daquelas ocasiões em que alguém te convida para um encontro num barzinho, boteco ou restaurante para comemorar o aniversário de alguém que faz parte de um determinado grupo?

O caso que vou contar aqui ocorreu em Belo Horizonte e o ápice do evento foi na noite da sexta-feira, 8 de abril, num barzinho da zona leste da cidade. Diz-se popularmente que “o melhor da festa é esperar por ela”, então só por aí dá pra imaginar como foi a mobilização e a preparação para esse evento. No dia, o objetivo era comemorar o aniversário de nascimento de uma das participantes de um grupo composto por 9 amigas de longa data.

As duas participantes do grupo que tiveram a iniciativa de propor o encontro assumiram a produção do evento e logo definiram o local da festa, com antecedência de 15 dias.  Ficou decidido que a aniversariante teria como presente a não participação no rateio das despesas e que a duração da festa seria de 3 horas – das 19h às 22h. Foi criado um grupo no WhatsApp para centralizar todas as comunicações relativas ao evento e manter mobilizadas as participantes. Pelo menos duas vezes por dia uma das administradoras do grupo reforçava no WhatsApp a contagem regressiva para o dia marcado e fazia alusão sobre as roupas que cada uma usaria bem como as comidas e bebidas que estariam disponíveis.

A quarta-feira que antecedia o evento era a data limite para que todas confirmassem a presença, até mesmo a aniversariante, a grande homenageada.

Foi aí que surgiu a dificuldade de uma das convidadas para chegar ao local na hora combinada. Uma das coordenadoras insistiu para que ela se esforçasse para dar uma passadinha lá assim que seu compromisso profissional terminasse.

E assim chegou o dia da querida festa. Pontualmente às 19 horas teve início a comemoração. Tudo começou com a fala de uma das coordenadoras do evento, enaltecendo a aniversariante que, em seguida, balbuciou algumas palavras de agradecimento pelo momento. Em seguida começaram a ser feitos os pedidos de bebidas destiladas, fermentadas e até sucos, bem como os tira-gostos como salgadinhos e porções de carne, batatinha e mandioca frita, por exemplo.

Após duas horas de muita conversa, bebida, comida e olhos na tela do celular alguém propôs que se cantasse os parabéns para a aniversariante. Alguém tentou sugerir que se esperasse um pouco mais pela chegada da amiga que estava no trabalho. A proposta foi atropelada pelo canto entoado pelo grupo, que acabou contagiando outras mesas do barzinho. Era visível o “grau” mais elevado de algumas das participantes.

Quando faltavam 15 minutos para o fim do evento a amiga que faltava chegou ao local, cumprimentou a aniversariante e as demais presentes. Naquela altura o clima já era de final de festa. Disse também que estava muito cansada e com fome. Pediu ao garçom uma porção de pastéis pequenos, com quatro unidades, e um refrigerante em lata.

Quando acabou de ser atendida uma das colaboradoras do evento falou – bem mais alto para superar o alarido – que a conta tinha sido fechada com a inclusão do pedido feito pela última participante a chegar. Disse, também, que tudo ficou em R$960 com a gorjeta do garçom incluída e que cada participante, menos a aniversariante, pagaria R$120 em dinheiro ou em cartão de crédito/débito.

A última participante a chegar ficou surpreendida com a forma usada para dividir a conta, mas não teve coragem de fazer objeção nenhuma. Enquanto comia o último dos quatro pasteizinhos entregou à coordenadora os R$120 da parte que lhe coube.

Porém ficou pensando que tudo ficou muito caro para ela. Ao dar uma “passadinha” na festa em função da duradoura amizade desembolsou mais dinheiro do que gostaria ou mesmo do que seria justo. Decidiu que lutará para não cair outra vez numa situação deste tipo. Será?

Você já viveu uma situação como esta? Qual foi a sua reação?

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O governo federal anunciou que a tarifa de escassez hídrica, criada em agosto do ano passado, deixará de ser cobrada nas contas de energia elétrica a partir do dia 16 de abril. O acréscimo de R$14,20 a cada 100 kWh consumidos deveria vigorar durante 8 meses, de 1º de setembro de 2021 a 30 de abril de 2022, e seu fim acabou sendo antecipado em 15 dias. Seria isso uma pequena bondade dentre as muitas que acontecem num ano eleitoral ou os altos índices pluviométricos desse período chuvoso mostram claramente que os reservatórios se recuperaram há pelo menos 1 mês?

Não dava mais para manter a cobrança diante de tantas evidências objetivas, por mais que a cara e poluente energia das termelétricas seja tão bem defendida pelos tecnocratas de plantão na Agência Nacional de Energia Elétrica. Buscar fontes alternativas para a geração de energia elétrica e implementá-las ainda é um desafio na matriz energética brasileira.

É interessante observar e analisar como é bom um negócio em que o risco deixa de existir diante da menor dificuldade e num serviço público concedido. Basta uma canetada governamental para que o prejuízo iminente seja repassado ao consumidor, que deveria ser tratado com o respeito que o cliente-cidadão merece e deve exigir.

Só repassar a ruindade advinda das falhas do planejamento e gestão para os usuários – que não tem outra opção de fornecedor – é muito simples e isenta o dono do negócio de enfrentar os desafios e riscos inerentes. Quem olhar para os detalhes da composição da tarifa de energia elétrica, se houver um mínimo de transparência, verá a quantidade de penduricalhos que fazem parte da precificação. Um bom exemplo, além das bandeiras tarifárias, está ligado aos “gatos” de energia elétrica feitos por pessoas físicas e jurídicas, independente da discussão sobre honestidade e necessidade. É preciso lembrar que cabe à distribuidora de energia elétrica auditar e descobrir os “gatos” existentes. É claro que é mais fácil ficar inerte, pois essa perda está sendo paga na tarifa mediante rateio entre os consumidores.

Enquanto isso, a mídia divulgou que o lucro líquido da Cemig em 2021 cresceu 31% e chegou a R$3,7 bilhões. Quais causas levaram a esse resultado que dará bons dividendos aos acionistas, a começar pelo estado de Minas Gerais ?

É só lembrar dos transformadores estourando ao longo das redes de distribuição de energia, como que clamando por manutenção preventiva e mesmo preditiva. Mas, pelo visto, pode ser interessante postergar a realização de serviços essenciais ao sistema para chegar ao resultado anual.

Uma das consequências é a falta de energia elétrica, que traz prejuízo para os consumidores, inclusive com a perda de alimentos na geladeira e estragos em aparelhos eletroeletrônicos, por exemplo. Ficar mais de 24 horas sem energia elétrica é cada vez mais frequente, principalmente diante de qualquer intensa e rápida chuva. E a empresa concessionária dos serviços tem dificuldade para resolver rapidamente os problemas gerados.

Também é importante lembrar, dentro do capitalismo sem riscos, o empréstimo bancário de R$10,5 bilhões autorizados pela ANEEL para socorrer as distribuidoras de energia visando cobrir mais prejuízos delas no ano passado em função da crise hídrica. Acontece que esses valores serão pagos pelos consumidores em suas contas mensais a partir de 2023.

O que acontece com uma pessoa física ou jurídica que não consegue pagar a conta de energia elétrica? Não se fala em criar uma bandeira de escassez de renda causada pelo desemprego ou pela enorme perda de poder aquisitivo nesse já longo tempo de inflação tão alta – 11,3% só nos últimos 12 meses. Ao consumidor resta apenas pagar a conta para não ser cortado.

Quando pior, pior mesmo e correndo todo o risco.

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“Ele é assim mesmo”

por Luis Borges 5 de abril de 2022   Pensata

O professor universitário Naldo Teles aposentou-se em 2016 e colocou em prática um propósito há muito acalentado. Mudou-se com a esposa para uma pequena propriedade, em um distrito de um município a cerca de 100km de Belo Horizonte. Para trás ficou o tempo em que morou em apartamentos de cinco diferentes bairros da capital. Rapidamente ocorreu um bom entrosamento com boa parte dos moradores do local, que lutam permanentemente pela preservação da cultura e da arte características da região. E nesse conhece um daqui, aproxima-se mais de outro ali, Naldo, sempre comunicativo foi se mostrando solícito e disponível para atos solidários com os seus novos vizinhos. Logo ele, que sempre foi e é um construtivista no campo social.

Como ele possui uma caminhonete com a qual se desloca até Belo Horizonte para levar ou trazer de lá algum bem, quando necessário, acaba também ajudando algum vizinho com necessidades semelhantes.
Mas como as pessoas possuem diferente níveis de compreensão quanto ao que é combinado em relação a eventos de qualquer natureza, de vez em quando acontecem coisas que deixam visíveis o desconforto e o constrangimento entre as partes envolvidas nessa espécie de camaradagem.

Aconteceu recentemente o atendimento de um pedido feito por Dona Brígida, uma das primeiras pessoas a se aproximar do professor e sua família quando se mudaram para a propriedade. Tratava-se do transporte de um móvel de madeira, do tipo cômoda, contendo 4 gavetas e vidro grosso na superfície, para ser entregue em Belo Horizonte na residência de Valquíria, uma ex-companheira de seu filho Amílcar. Ele tem 41 anos, é servidor público municipal, tem dois cachorros, dois gatos e mora num pequeno barracão no lote em que está construída a casa da mãe.

Quando surgiu a oportunidade para atender a solicitação feita pela vizinha, o professor Naldo disse a ela numa segunda-feira que partiria para Belo Horizonte às 9 horas do próximo sábado. Disse também que aguardaria seu filho para pegar a caminhonete e nela colocar o móvel na carroceria até, no máximo, a hora do almoço da sexta-feira.

Como nada aconteceu dentro do prazo acertado e, segundo o professor “o que é combinado não é caro”, ele procurou Dona Brígida no início da noite e cobrou dela a falta de iniciativa de seu filho para cumprir o que foi planejado. Diante da firmeza do professor dizendo que a falta de atitude do filho dela estava causando transtornos para a execução do plano de ação, ela justificou dizendo que “ele é assim mesmo” e que tinha ido namorar naquela noite. Disse também que cuida até dos gatos e cachorros dele e pediu uma tolerância até o início da manhã seguinte para o filho resolver o problema.

Faltando meia hora para o início da viagem, Amílcar pegou a caminhonete com o professor e foi em casa colocar o móvel em sua carroceria. Assim, a viagem começou com apenas 20 minutos de atraso. O professor entregou a encomenda no endereço combinado e, no final da tarde retornou para a propriedade. Só ao chegar em casa que percebeu que a tampa de vidro do móvel, embalada num tecido, não tinha sido retirada da caminhonete e acabou se quebrando no caminho de volta. Aí ele solicitou ao filho da vizinha que retirasse os pedaços do vidro quebrado de sua carroceria.

Sabedor de que “ele é assim mesmo” o professor esperou pacientemente até a quarta-feira seguinte, quando Amílcar finalmente retirou os resíduos da caminhonete e pediu para o professor não ficar de mal dele pelo que aconteceu.

Agora o professor Naldo está pensando em como proceder quando algum outro vizinho solicitar algo semelhante, pois não quer ser punido por acreditar nas pessoas e sempre cumprir o que é combinado. Porém ele tem afirmado que “se as pessoas não mudam, mudo eu”. Será fácil?

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Já estamos no outono de 2022. Mais uma vez temos a oportunidade de embalar as esperanças que nos darão alento para prosseguir na luta por dias melhores para se viver, apesar de tantas dificuldades que nos apertam. Nesse sentido, o que podemos fazer para atuar naquilo que só depende de nós, sem cair na indiferença, e qual pode ser a nossa contribuição para dar um empurrão rumo à solução para problemas coletivos com perspectivas mais alentadoras? Afinal de contas, é na dificuldade que a gente se prova.

O que e como fazer para combater o desperdício diante da escassez do poder aquisitivo que só se deteriora? Conseguir mais horas de trabalho, com o devido aumento do cansaço? Reivindicar reposições salariais – com greve no serviço público? Adequar o orçamento para um padrão de vida menor que o atual ou admitir que o “trem tá feio” e que a estratégia é de sobrevivência?

O que não dá para aceitar é quando dizem que a causa de tudo é apenas a atual inflação mundial, pois existem também as turbulências políticas e econômicas que estão aqui dentro do país, com a inflação nas alturas desde o início do ano passado. De qualquer maneira, existem ações que podem ser tomadas para mitigar um pouquinho a escassez de recursos, mas que dependem primeiramente de cada um de nós.

Aqui é importante lembrar o significado da palavra desperdício. Segundo o dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa,  é “despesa ou gasto exagerado; esbanjamento, desperdiçamento” e também “uso sem proveito; perda, desperdiçamento”.

Para evitar desperdícios é preciso um olhar atento para ver o que está acontecendo e que nos leva a ter tantos gastos exagerados, muito dos quais poderiam ser evitados ou minimizados. De cara, podemos observar e analisar como perdemos tempo por falta de gestão. Logo o tempo, que é um recurso escasso e que não volta.

Mas por onde começar? Além de olhar, olhar, podemos focar nas contas que representam os maiores gastos, por exemplo, os alimentos que são perdidos dentro de casa, a chama do fogão a gás nas alturas quando os alimentos poderiam ser cozidos com a chama baixa, lâmpadas acesas em ambientes vazios, vazamentos de água ocultos nas tubulações ou pingando gota a gota nas torneiras, banhos demorados, as tarifas bancárias cobradas indevidamente – mas não percebidas –  ou os altíssimos juros pagos no cartão de crédito rotativo e no cheque especial…

Também é preciso lembrar das compras feitas no impulso e que nem sempre são úteis após uma análise mais crítica, o que acaba gerando desperdício do escasso dinheiro. Melhor seria combater a ansiedade tentando responder a perguntas como “eu preciso disso agora?” ou  “cabe no orçamento?” ou mesmo “eu quero isso ou é só um escape pra outra coisa?”.

O olhar mais atento, o foco no que precisa ser focado, o combate ao “consumo, logo existo” e o enfrentamento da Síndrome Incontrolável da Vontade de Aparecer – SIVA podem ajudar a perceber mais o valor do seu dinheiro. Deixar de gastar com bens e serviços que retiram valor econômico, analisados criticamente, faz parte do combate permanente ao desperdício. É preciso disciplina, constância de propósitos e querer fazer o que precisa ser feito. Caso contrário é só reclamar, chorar…

Façamos, pelo menos o que só depende nós primordialmente e com a consciência de que as expectativas não podem ser maiores que a realidade.

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Turismo de lazer exige qualidade

por Luis Borges 23 de março de 2022   Pensata

Já há 2 anos estamos enfrentando a pandemia da Covid-19 com suas variantes e seus desdobramentos em todas as dimensões que impactam as nossas vidas. Finalmente parece que o processo de vacinação atinge índices que trazem segurança sanitária, mesmo sem o fim da pandemia, e nos mostram que mais uma vacina deverá fazer parte do nosso calendário anual. Isso não impede que cada indivíduo tenha seu autocuidado sem perder de vista a coletividade.

Nessa retomada crescente é interessante perceber as movimentações que mostram um florescimento, até rápido, do turismo de lazer. É claro que após esse tempo todo voltado para o “se possível, fique em casa” e ” mantenha o distanciamento social”, chegou a hora de um certo afrouxamento para aliviar tantas tensões. Ainda que não seja possível fazer grandes planos de lazer para mais longe, não podemos dizer o mesmo, por exemplo, para quem tem buscado opções de turismo de lazer num raio de até 200 km a partir da cidade de Belo Horizonte. Isso tem ocorrido principalmente em feriados prolongados e finais de semana. Às vezes essa “quebrada” para mudar de ambiente tem se dado em hotéis da própria cidade e, é claro, conforme as condições de cada um. Outras opções estão nos aluguéis de sítios e casas em condomínios fechados ou em distritos específicos da região citada.

O grande desafio nessa retomada crescente do movimento turístico fica para o cliente em busca de um fornecedor que justifique uma equilibrada relação entre o benefício e o custo do serviço a ser contratado. Ele sempre espera que a qualidade do que será fornecido atenda as especificações negociadas, que o preço seja justo e que o atendimento jamais deixe a desejar em relação ao que foi estabelecido.

Entretanto, nem tudo tem sido flores segundo relatos que ouvi de algumas pessoas que optaram recentemente por essa modalidade de lazer em busca de novas energias. Em alguns casos, ficou claro que o benefício do que foi entregue ficou bem aquém do custo das diárias cobradas ou mesmo dos serviços extras que não faziam parte delas. Em alguns casos, principalmente em hotéis, fica visível uma certa falta de treinamento das equipes nos procedimentos operacionais padrão, ainda que se compreenda a grande rotatividade das pessoas ao longo da pandemia, inclusive por causa das demissões no auge do sufoco enfrentado por esse tipo de negócio.

A falta de comunicação num determinado hotel fez com que um casal de clientes que solicitou uma refeição para ser servida na área da piscina descobrisse, ao reclamar da ausência da salada, que ela fazia sim parte do prato, mas que só poderia ser servida no restaurante, o que não foi falado quando o pedido foi feito.  Esse mesmo casal solicitou na saída que a conta fosse detalhada para melhor compreender o que estava sendo cobrado e isso assustou o atendente, que se mostrou irritado para prestar os esclarecimentos solicitados.

Quando se trata de casas, tem sido comuns os relatos de uma torneira na pia da cozinha bloqueada por um plástico, mas pingando água, gambiarras em instalações elétricas, falta de toalhas para uso na área da piscina, lixos em locais indevidos…

Enfim é bom lembrar que um cliente insatisfeito dificilmente retornará ao local outra vez e nem o indicará para pessoas de sua rede em busca desse tipo de lazer. Qualidade é o que o cliente espera de seu fornecedor, que deve estar preparado para isso.

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De volta ao trabalho

por Luis Borges 15 de março de 2022   Pensata

No dia 19 de março completam-se dois anos e quatro meses que entrou em vigor a tão decantada Reforma da Previdência Social para o setor privado e que está sendo implementada pelo INSS. Como sempre, o instituto é rápido para arrecadar e lento para pagar os benefícios, que tiveram perdas consolidadas em função das premissas e critérios que passaram a vigorar com a reforma. Por sua vez, esta reforma foi vendida como a panaceia para todos os males e enfatizou muito a busca do equilíbrio do caixa em função do crescimento da expectativa de vida e do aumento da longevidade.

Ainda que insuficiente ou ruim, e convivendo com a perda do poder aquisitivo diante da alta inflação, ela é o que se tem para hoje, mesmo que minimamente, perante as necessidades reais e da baixíssima mobilização política desses aposentados para reivindicar reposições de perdas.

Ouço com frequência relatos de casos em que aposentados pelo INSS voltaram a trabalhar para melhorar a renda em função da insuficiência dos proventos, isso quando encontram uma oportunidade para o seu perfil. Outra situação, embora mais rara no que ouço, é quando o aposentado não aguenta ficar em casa no ócio improdutivo e começa a tentar uma nova oportunidade no mercado para não pirar diante da falta de perspectivas nessa fase da vida.

Esse é o meu ponto aqui, para registrar o caso de um engenheiro que se aposentou há pouco mais de um ano e que acabou conseguindo uma nova oportunidade no mercado no início de 2022, quando chegou aos 63 de idade. Ele é casado, pai de 3 filhos na faixa dos 20 aos 26, e sempre residiu em Belo Horizonte com a família, mas na maior parte do tempo trabalhou fora da cidade em obras de médio e grande porte de diferentes segmentos da economia. Acabou fazendo uma razoável reserva financeira, cujas aplicações se somam aos proventos da aposentadoria e garantem uma boa condição de vida à família.

Entretanto, ao se ver aposentado, em casa, longe da alta energia que o dia-a-dia exigia em meio à crescente ansiedade para cumprir as metas estabelecidas, o vazio foi inevitável – mesmo podendo conviver diariamente com todos os seus familiares. Até então isso só era possível basicamente nas folgas e nas férias.

A volta para dentro de casa sem planejar como seria a nova etapa da vida e o que poderia advir do novo cenário acabou gerando muitos conflitos, alguns até assustadores, entre os membros da família. Vivendo diuturnamente em casa, o engenheiro passou um tempo questionando tudo da rotina diária, desde os gastos aumentados com a alta da inflação, passando pelo comportamento dos filhos nas redes sociais e até mesmo o jeito da esposa lidar com a diarista que presta serviços duas vezes por semana para lavar e passar roupas, bem como arrumar toda a casa.

Esgotada essa fase, o engenheiro voltou seu foco para estudar como fazer para obter ganhos reais nas aplicações financeiras, sendo seu perfil conservador para investimentos. Tudo foi ficando muito tenso, ansiedade só aumentando, o psiquiatra dobrando a dose das pílulas ansiolíticas e o clima na família cada vez mais pesado. De repente, o fim de semana foi estendido e passou a ser de quarta a domingo, regado por generosas doses de bebidas alcoólicas destiladas. Até o tabaco industrializado voltou à cena após 25 anos sem ser usado.

Num belo dia do final do ano passado o engenheiro foi sondado sobre o interesse em voltar a trabalhar na mesma empresa onde atuou nos últimos 20 anos até se aposentar. A família deu pulos de alegria e o engenheiro voltou a trabalhar, tentando romper com o marasmo declinante em que entrara. Além disso, a volta acabou se tornando uma oportunidade para reforçar a renda e também para melhor se preparar em todos os aspectos, inclusive mental, para o momento em que se aposentará definitivamente sem ter que ficar apenas recolhido aos aposentos.

De novo, o planejamento e a gestão gritam.

Quando nada, esse caso nos faz pensar – e muito. Que lições podemos aprender com isso?

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Ouvir, falar, dialogar

por Luis Borges 9 de março de 2022   Pensata

As três palavras que dão título a esta pensata nos desafiam a fazer uma avaliação crítica e sincera sobre o quanto elas estão sendo praticadas conforme os seus significados. Isso vale individualmente e coletivamente, principalmente diante de tanta polarização, desrespeito e ódio.

Qualquer coisa serve de pretexto para que a civilização seja deixada de lado, a começar pelo meio digital. No plano global, por exemplo é só verificar as causas e consequências da invasão da Rússia à Ucrânia. No Brasil, estamos a menos de sete meses das eleições de 02 de outubro na expectativa de qual será o nível da comunicação na campanha eleitoral.

Mas, trazendo a reflexão para o microcosmo do nosso cotidiano em casa, no trabalho, no bairro ou na cidade em que vivemos podemos ver como é grande a quantidade de pessoas que só sabem falar e tem muita dificuldade para ouvir. É assustador verificar como existem pessoas que não querem ouvir e nem tem a paciência e até mesmo a humildade para isso. Esse é um comportamento típico que ajuda a florescer a arrogância, a autossuficiência, numa postura que leva ao esquecimento de que um “sistema é um conjunto de partes interligadas” e que, portanto, se comunicam. Nesse sentido é importante lembrar do filósofo Sêneca (4 a.C. – 65 d.C.) dizendo que “Deus dotou o homem de uma boca e dois ouvidos para que ouça o dobro do que fala”.

Quantas vezes eu, você e todos nós presenciamos situações no local de trabalho, no sindicato e no partido político, por exemplo, em que de repente algum dirigente é surpreendido por um fato relevante desconhecido por ele. Numa empresa o presidente, diretores, ou gerentes de setores que não ouvem os assessores e membros da equipe, também não podem reclamar por que foram surpreendidos por fatos e dados que desconheciam por não terem paciência para ouvir os donos dos processos do dia-a-dia.

É fundamental saber ouvir e falar para que se possa criar condições propícias para o diálogo de maneira civilizada e respeitosa em busca das soluções para os problemas que precisam ser resolvidos. Dá para ver, sem ser ingênuo, como é desafiante e necessário procurar trilhar os caminhos que levam à prática do diálogo, das conversas – por mais difíceis que sejam – diante da complexa arte de viver.

É claro que o equilíbrio é instável, as mudanças são permanentes e que a água que passa pelo rio não volta mais, mas tudo depende também de nós. Por isso é preciso saber ouvir, falar e dialogar. Essa é uma crença sempre desafiante!

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Quando eu era criança em Araxá, minha querida cidade natal e capital secreta do mundo, ouvia com frequência alguém me perguntando “o que você vai ser quando crescer?”.

Agora, pouco mais de meio século depois, vieram me perguntar algumas vezes sobre onde e com quem estarei morando na fase idosa mais avançada de minha vida. Sempre digo que tudo que penso sobre isso gravita em torno de uma função de várias variáveis, que se alterarão no tempo que passará um dia de cada vez. Se acontecer isso ou aquilo, assim ou assado… tudo vai depender da realidade daquele exato momento.

Enquanto isso é importante seguir aprendendo com a experiência de outras pessoas, em seus erros e acertos, para que tudo nos ajude a projetar cenários sobre o que o futuro poderia vir a ser para nós em função de uma realista expectativa de vida.

Nessa caminhada de observação e análise fiquei pensativo sobre um caso do qual tomei conhecimento recentemente.

Trata-se de uma senhora de 94 anos, viúva há 6, atualmente com uma deficiência motora que a obriga a usar uma cadeira de rodas para se locomover. Desde que ficou viúva ela mora em sua própria casa sob os cuidados da única filha. Esta filha é aposentada, 66 anos e viúva também há 6. Ela tem três irmãos, um mais velho que ela, aposentado, 68 anos de idade, e outros dois mais novos, sendo um aposentado de 63 anos e o caçula de 60 anos, médico endocrinologista em plena atividade profissional.

De uns tempos para cá a mãe tem tentado se locomover sozinha, sem usar a cadeira de rodas, e está levando tombos preocupantes cujas consequências são imprevisíveis em relação a danos.

Acontece que ela sempre foi muito ativa, bastante atuante e tomando a frente de tudo nas coisas da vida familiar. Ela ainda não se conformou com o seu atual nível de dependência.

Vale lembrar que essa filha que cuida dela é também muito atuante, bastante agitada e queixosa do cansaço decorrente de suas atividades. Aliás ela tem um filho que mora com ela na casa da mãe, em companhia da esposa e do filho do casal.

No final do ano passado a filha cuidadora declarou-se em profunda exaustão, sem condições de continuar fazendo o que tem feito nos últimos anos, mesmo contando com a ajuda de uma cuidadora de idosos profissional durante 40 horas semanais.

A filha escreveu um detalhado relatório, que foi enviado para os três irmãos, mostrando a situação atual da mãe e propondo que ela fosse morar numa Instituição de Longa Permanência para Idosos – ILPI – do setor privado.

Passados 2 meses ela só recebeu resposta do irmão mais novo, o médico, dizendo que não pode fazer mais nada além do que já faz, ou seja, continuar pagando o plano de saúde da mãe e o salário da sua cuidadora profissional. Como os outros dois filhos estão em silêncio permanente e está implícito na proposta feita que eles terão que contribuir financeiramente para viabilizá-la – logo eles, que atualmente se sentem isentos de qualquer responsabilidade – a irmã está percebendo que continuará cuidando da mãe, mesmo tendo chegado à exaustão. Ela já diz que “o que não tem remédio, remediado está” e que “seja o que Deus quiser”.

Caro leitor, o que isso tudo te faz pensar? Será que isso só acontece com os outros ou também pode nos alcançar?

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