Com quem passar o Natal?

por Luis Borges 22 de novembro de 2022   Pensata

O calendário da Igreja Católica estabelece que 27 de novembro de 2022 será o primeiro domingo do advento e com ele serão iniciadas as quatro semanas preparativas para o Natal. Neste ano, a festa pelo nascimento de Jesus se dará com a sociedade brasileira bastante polarizada, o que se acentuou no recente processo eleitoral e seus desdobramentos, trazendo distanciamento e rompimento entre muitas pessoas e famílias. Ainda vale lembrar que nos dois anos anteriores o Natal aconteceu em meio às medidas sanitárias, inclusive distanciamento social, determinadas para combater a disseminação da Covid-19. Aliás, nesse momento, também estamos diante da retomada do uso de máscaras em função do rápido avanço das mais novas variantes do vírus. Será que essa nova onda se encerrará antes do Natal?

Mas o fato é que na nossa cultura muito se fala que o Natal deve ser passado em família e a virada do ano com amigos. Todavia, como viabilizar isso após tantos rachas, rompimentos e profundos silenciamentos entre familiares, primos, amigos e até mesmo entre colegas de trabalho e irmãos de fé cristã? Como conciliar o espírito natalino com a intolerância e a dificuldade que muitas pessoas tem para aceitar opiniões diferentes?

Isso é o que está posto na conjuntura e será necessário muito diálogo e compreensão para juntar os cacos entre os que ainda sentem falta dos que estão afastados, distantes sem dar sinais de um possível reatamento. Para isso é preciso querer, mas o bloqueio, por parte de muitos, é permeado pelo ódio, a intolerância e o desrespeito, que é mais uma negação da sociedade civilizada em que imaginamos viver no regime democrático.

Nesse sentido, são muitos os relatos de verdadeiros “barracos” em família, gerando constrangimentos e posturas envergonhadas… mas o desafio é a mudança do clima para que as pessoas se reaproximem em nome do espírito natalino. Será que vai dar tempo? Ou o jeito será admitir que nem todos passarão o natal em família. Até quando, ainda que em nome da sobrevivência?

Buscando conhecer para melhor compreender o que se passa nas relações familiares e as expectativas de qualidade nas relações entre seus membros, vou citar o que disse a psicóloga Márcia Almeida Batista, diretora da clínica psicológica da PUC-SP, em recente entrevista ao UOL. “A polarização política tem intensificado conflitos familiares (…) Temos uma fantasia de que só porque somos da mesma família queremos as mesmas coisas, o que não é verdade. Podemos ter visões diferentes (…) Quando tem um clima de polarização e disputa na sociedade, isso gera reverberações dentro de todas as instituições, como escola, empresas e, inclusive, na família (…) A questão não está em expor o conflito, mas sim no modo como a gente vai mostrá-lo para o outro.”

Enquanto isso, o natal se aproxima e nós vamos fazendo nossas escolhas. Com quantos e quais, mesmo assim, passaremos o natal em família? Na casa de quem?

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Finados e finitude

por Luis Borges 7 de novembro de 2022   Pensata

Esta pensata foi escrita na manhã da quarta-feira 2 de novembro, dia de finados, em meio a muita introspecção e lembranças de tanta gente que partiu, a começar pelos familiares.

Finados traz sempre mais uma oportunidade para a reflexão daqueles que querem levar em consideração a finitude da vida e outros temas a ela associados. Se consultarmos o site Cerejeiras, veremos que “Finados” nos leva ao verbo “finar”, que vem do latim “finis” ou seja: acabar, finalizar, encerrar. O significado gramatical de finados seria então algo que finou, findou, acabou, morreu.

Mas porque se preocupar muito ou pouco com os aspectos ligados à duração da vida, ao seu fim e ao que virá depois da morte?

Como será que foi o tempo antes do início da vida? Ou, simplesmente, de onde viemos e para onde vamos? De qualquer maneira, com ou sem explicações satisfatórias, vale lembrar que na cultura dos povos, a começar pelos cristãos, os mortos são rememorados desde o século I depois de Cristo. Já no ano 998 (século X), foi criado na França o Dia de Finados, em 2 de novembro, na sequência do Dia de Todos os Santos, e a partir do século XI a igreja católica reforçou a necessidade da existência de um dia para se lembrar de todos os mortos.

No Brasil, a Lei nº 10.607 de 19 de dezembro de 2002 foi sancionada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso estabelecendo como feriado nacional o dia dos finados.

Conforme o dia da semana, dá até para emendar com feriado específico que comemora o dia dos servidores públicos da União Federal, Estados e Municípios. Nesse ano, vários foram os casos em que o feriado do dia 28 de outubro foi transferido para o dia 31 e emendado com o dia 01, que se somou ao dia 2, e tudo só voltou ao normal na quinta-feira dia 3, após 5 dias de descanso. No Brasil, uma parte expressiva da população passa o dia um pouco mais introspectiva lembrando os finados entes queridos.

Para muitos faz parte do ritual uma visita aos cemitérios, a colocação de flores nos túmulos, acendimento de velas e as preces pelas almas.

No meu caso específico, a partir do século XXI, passo o dia de finados em casa, portanto não vou mais a cemitérios nessa data.

Minha memória fica sempre muito aguçada nesse dia ao me lembrar de tanta gente querida que partiu para o outro plano espiritual em diferentes idades e circunstâncias. Ainda agora estou saindo do luto pela partida de minha mãe Lazinha, há quase três meses. Enquanto morou em Araxá, ela sempre levava flores para homenagear e enfeitar os túmulos de sua mãe e sua sogra, as duas Anas minhas avós, cujos corpos foram sepultados no cemitério das Paineiras. Ao pensamento também vem o meu pai Gaspar Borges, que foi embora há 10 anos, o sogro Lalado, que embarcou há 12 anos, a tia Landinha, que nos deixou há 25 anos, e a sogra Violanta, que foi embora tão cedo, há exatos 27 anos. É claro que são inúmeras as lembranças e saudades de tantas outras pessoas cujos nomes ocuparia um enorme espaço nesse texto, mas sempre serão lembradas em função do convívio que tivemos.

Por último, fiquei também pensando ao longo do dia sobre os velórios dos corpos enquanto ritual de passagem desse plano para o outro, a duração do próprio velório, que foi bastante reduzida após a pandemia da covid-19, o sepultamento dos corpos ou a sua cremação. Enfim, cheguei a pensar na minha própria finitude, mas acabei afastando do pensamento um pouco depois de seu início ao me lembrar que estou sem pressa. Entretanto, espero ter o merecimento de partir subitamente quando chegar a minha hora. Que assim seja!

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Completei 68 anos de idade no dia 24 de outubro com a mente povoada por lembranças, reflexões e pensamentos sobre o que foi, o que é e o que poderá ser a minha passagem pelo planeta Terra. Meu propósito é sempre buscar a melhoria contínua do meu modo de ser, viver e conviver de maneira civilizada, respeitosa e sem retrocessos, ainda mais na fase idosa da vida.

Fui buscar em algumas músicas que cultivo há décadas, e continuarei cultivando, um pouco mais de inspiração para embalar esse instante específico do curso da vida.

Foi assim que senti firmeza e consistência na música O que foi feito devera (1978) de Milton Nascimento, Márcio Borges e Fernando Brant ao dizer que “Se muito vale o já feito, mais vale o que será. E o que foi feito é preciso conhecer para melhor prosseguir”.

Não posso negar, ignorar ou esquecer o passado, mas olhá-lo como forma de aprender com erros e acertos que me trouxeram até o presente momento. É a partir dele que posso encarar e projetar, com planejamento e gestão, o que poderão vir a ser alguns cenários depois dos 68 anos.

Por outro lado, como sou consciente da finitude da vida, com todas as suas condições de contorno e riscos associados, sei que a paisagem seguirá em permanente mudança enquanto o tempo passa indelével. A propósito disso, fui buscar na música Ouro de Tolo (1973) de Raul Seixas um alerta quando ele diz que “Eu é que não me sento no trono de um apartamento, com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar”.

E por isso mesmo que não dá para se contentar com a mera condição de aposentado, ainda que com determinados graus de alguma piora das condições funcionais que nos exigem adaptações e adequações no modo de vida. É claro que sei que cada caso é um caso na sociedade brasileira, marcada por extrema desigualdade e enorme concentração de renda nas mãos de poucos.

Interessante é quando os pensamentos se voltam para o futuro com diferentes projeções de distâncias. Prevalece o princípio da incerteza com o contorno das várias variáveis que nos instigam. Mas o importante é não nos sentirmos vencidos na plena consciência dos desafios que precisam ser vencidos a cada dia, mas um de cada vez e com muita resiliência. Até me vem a imagem do bambu, que enverga, mas não quebra. Nesse ponto, são estimuladores e fortalecedores os versos do cantor e compositor Geraldo Vandré na música O Plantador (1968) ao dizerem que “Quanto mais eu ando, mais vejo estrada. E se não caminho, não sou nada”.

Prosseguirei em meu realismo esperançoso…

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Vencendo o cliente pelo cansaço

por Luis Borges 24 de outubro de 2022   Pensata

A relação entre clientes e fornecedores é sempre colocada à prova no processo que envolve o atendimento às necessidades e expectativas que as pessoas tem em relação aos produtos (bens e serviços por elas demandados).

É importante lembrar que as pessoas podem estar no papel de clientes ou de fornecedores conforme a situação em cada caso. Não nos esqueçamos que o cliente tem em suas expectativas que tudo seja fornecido segundo a qualidade especificada, preço negociado e que o atendimento seja marcado pelo cumprimento do prazo de entrega e demais condições estabelecidas.

Sabemos que o código de defesa do Consumidor está em vigência no país desde setembro de 1990. Posteriormente, a lei estabeleceu que o consumidor pode cancelar a compra de um produto, do qual não tenha gostado, até sete dias após o seu recebimento e que em caso de defeito a troca deve ocorrer em até 90 dias.

Entretanto, até hoje são registrados casos e mais casos em que o consumidor não é tratado como cliente, muitas vezes é desrespeitado quando reclama e tem sua paciência testada durante o penoso processo para fazer prevalecer os seus direitos previstos na lei.

Algo nesse sentido aconteceu com um cliente que desejava comprar um par de tênis masculino de número 45 no padrão brasileiro. Por não encontrar com facilidade essa modalidade no comércio varejista de sua cidade, ele resolveu fazer uma compra diretamente da fábrica, mais especificamente no site em que suas vendas são centralizadas. Fisicamente, a fábrica fica no estado de São Paulo.

A saga começou no primeiro contato, o qual imaginava que seria o único para resolver a sua necessidade. A compra caminhou normalmente no passo a passo até chegar à forma de pagamento. Quando ia ser digitado que a opção era pagar por meio de boleto bancário já apareceu na tela que seria via Pix. Logo ele, que sequer tem Pix. O jeito foi cancelar aquele processo de compra e reiniciar outro no qual conseguiu cravar rapidamente a opção pelo boleto.

Após dois dias do evento, a empresa ainda enviou mensagens conclamando o cliente para concluir a compra.

Logo começaram a chegar os avisos sobre a conclusão de cada etapa do processo, tais como a separação do produto (bem), embalagem, envio para transportadora e entrega no endereço indicado. Isso aconteceu quatro dias antes do prazo estabelecido.

Algum tempo depois da entrega, por sinal alguns dias antes do prazo estabelecido, o cliente foi felizinho conferir a mercadoria, mas ficou decepcionado, quase infeliz. O par de tênis enviado tinha o número 43 e veio numa embalagem etiquetada com o número 45, que foi o solicitado na compra.

Assim que tomou um fôlego, o cliente entrou em contato com a fábrica pelo site de compras e foi direcionado para fazer sua reclamação sobre a não conformidade pelo CHAT. Começou aí uma longa agonia de 2 horas. O primeiro desafio foi ajudar o atendente a localizar o pedido de compra, mostrar que houve uma falha e que deveria ocorrer uma ação corretiva. Várias perguntas começaram a ser feitas de maneira inquisitorial, dando sinais de que haveria muita enrolação para não resolver o problema. A todo instante o atendente pedia um momento e sumia da conversa. Quando insistentemente chamado, pedia desculpas pela demora e justificava como causa a lentidão do sistema. Enquanto isso o tempo passava, como é da sua própria natureza.

Nesse vai da valsa, chegou o momento em que o atendente solicitou que o cliente apresentasse uma evidência objetiva da falha. Sugeriu que fosse enviada uma fotografia do par de tênis focando no número 43 e outra mostrando a embalagem. Nesse momento o cliente perdeu a paciência, que estava por um fio, o seu sangue ferveu e ele encerrou a conversa finalizando a desistência da reclamação. Mesmo consciente que estava realizando um prejuízo, o cliente se esqueceu que o impulso caminha na contramão da estratégia. Para ele, ficou claro que o fornecedor não queria fazer a troca e o venceu pelo cansaço, mas o perderá para sempre.

E você caro leitor? Já viveu alguma situação semelhante ?

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O telefone ficou mudo outra vez

por Luis Borges 17 de outubro de 2022   Pensata

Nenhum dia é como o anterior no passar do tempo, mas algumas coisas podem acabar por se repetir, principalmente quando se trata da prestação de serviços. Foi o que aconteceu em minha residência por volta das 9h do sábado, 8 de outubro. O telefone fixo simplesmente ficou mudo e arrastou com ele a internet e a TV a cabo.

Tudo voltou a funcionar, ou seja, o serviço voltou a ser prestado pela operadora lá pelas 16h.

Quando reclamei da indisponibilidade dos serviços, a operadora informou que havia problemas técnicos na minha região, sempre eles, e que a solução estava programada para ocorrer até o final da tarde.

Se a prestação do serviço não fosse retomada até aquele momento, o procedimento a ser feito consistiria em desligar o equipamento da tomada de energia elétrica, deixá-lo desligado durante 10 segundos e religá-lo em seguida. Isso acabou não sendo necessário porque o serviço foi normalizado antes do tempo estimado.

No dia seguinte, domingo pela manhã, o telefone e demais partes do sistema (combo) ficaram indisponíveis de 7h às 11h, enquanto a previsão de retorno era para as 14h30. Os contatos com o serviço de atendimento ao cliente foram feitos por chamada de voz através do telefone celular.

É importante registrar que problemas dessa natureza já ocorreram outras cinco vezes ao longo desse ano, sendo que a pior delas foi durante a chuvarada de janeiro, ocasião em que o telefone ficou mudo durante 4 dias conforme postei aqui no blog.

Vale a pena lembrar nesse momento a quantas anda a utilização da telefonia fixa pelo país a fora. Segundo o site Teleco – Inteligência em Telecomunicação, existiam 27,5 milhões de telefones fixos em operação no Brasil no mês de agosto desse ano. Esse número era de 45 milhões em 2014, no auge dos sistemas de telefonia fixa, mas em novembro de 2021 já tinha caído para 28,9 milhões. Estima-se entre os especialistas do setor que esse número chegará a 20 milhões no final de 2026.  Enquanto isso, o número de telefones celulares chegou a 262,5 milhões em agosto, ao mesmo tempo em que a geração 5G vai avançando pelo país e a 6G dá seus sinais de aproximação.

Em função desses números podemos nos lembrar, sem muito esforço, de quantas pessoas próximas de nós “demitiram” o telefone fixo nesses últimos tempos.

Diante dessas constatações, é importante dar uma ida até a parede da memória para observar a telefonia brasileira nos últimos 50 anos (1972- 2022). Na primeira metade desse período, o telefone fixo era um investimento, a Telemig vendia uma linha no plano de expansão em 36 parcelas mensais, muitos proprietários alugavam suas linhas telefônicas, residenciais ou comerciais, e o Telefone Público (TP), o popular “orelhão”, era muito útil, mas também muito depredado…

Voltando para o presente, constato que a operadora do meu telefone fixo seguirá insistindo para que eu mude o quanto antes para a fibra óptica, o telefone ficará mudo outras vezes e o período em que ele ficar indisponível não será deduzido da conta mensal, mesmo diante das solicitações feitas. Ainda assim, o telefone fixo continua firme, mesmo minguando dia após dia. Até quando?

E você, ainda possui um telefone fixo ou ele já está com os dias contados?

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Eram muitas e diversas as expectativas daqueles que se envolveram, em diferentes níveis de intensidade, no primeiro turno das eleições. Agora só falta definir o Presidente da República e alguns Governadores no segundo turno, dia 30 de outubro.

Enquanto isso, podemos observar e analisar o processo eleitoral para evidenciar algumas percepções após os resultados trazidos e mostrados pelas urnas.

Será que as expectativas foram maiores do que a realidade? Até que ponto os desejos dos participantes do processo eleitoral puderam se concretizar? A polarização se cristalizou entre progressistas e conservadores, que juntos somaram 91,63% dos votos válidos, mas não foi suficiente para resolver a disputa no primeiro turno. Os votos brancos e nulos ficaram em 4,41%, bem abaixo dos 8,79% registrados no mesmo turno de 2018.

A abstenção continuou crescendo e chegou a 32,7 milhões de pessoas, 20,95% do universo de 156,4 milhões de eleitores aptos a votar. Em 2018, a abstenção no mesmo turno foi de 29,9 milhões de pessoas, 20,33% dos 147, 3 milhões aptos.

Outra percepção importante durante a campanha eleitoral foi a grande quantidade de citações do tipo “Eu fiz, eu fiz isso e aquilo…”, principalmente os candidatos a Presidente da República que tiveram ou tem mandato, e também Governadores em busca de reeleição, inclusive alguns se dizendo vítimas de heranças malditas.

Percebi a falta de programas e projetos mais detalhados sobre o que e como fazer para que o país volte a crescer e se desenvolver de maneira sustentável, que possa nos levar a um crescimento do PIB em torno de 4% ao ano e retirar o país do mapa da fome.

Quanto às pesquisas de intenção de votos, é importante reconhecer que elas refletem a situação daquele determinado momento em que foram feitas, mas não podem ser vistas como um prognóstico. Não dá para simplesmente demonizar os institutos de pesquisas e nem para negar a matemática ou se esquecer que tudo é feito por amostragem em determinadas situações e condições de contorno.

O que sempre pode ser feito é a melhoria continua dos métodos e técnicas de pesquisas por exemplo, como captar melhor o percentual de eleitores que vão se abster de ir às urnas, focar mais na medição espontânea de intenção de voto ou apresentar uma menor quantidade de perguntas durante a pesquisa…

Vale também registrar a percepção dos índices relativamente baixos na renovação da composição do poder legislativo. Na Assembleia Legislativa de Minas Gerais 52 dos 77 deputados se reelegeram , ou seja , a renovação foi de apenas 32% (25 novos eleitos).
Outras observações importantes podem ser feitas em relação aos novos campeões de votos, ao decaimento de campeões de eleições anteriores, às derrotas de parlamentares que chegaram a acumular de 4 a 7 mandatos e as novas configurações de bancadas como as do agronegócio, da segurança, da saúde…

Realce também deve ser dado à confiabilidade, segurança e integridade das urnas eletrônicas e do sistema eleitoral, mais uma vez comprovadas. Não nos esqueçamos que muitas foram as tentativas infundadas de colocar as urnas eletrônicas sob suspeição. Imaginemos um questionamento desse tipo em relação à segurança do sistema da Receita Federal, do INSS, dos laboratórios de análises clínicas ou do sistema bancário, por exemplo.

Por último lembremos que 15 dos 32 partidos políticos do país não tiveram desempenho eleitoral suficiente e caíram na cláusula de barreira da lei e ficarão impedidos de receber recursos públicos como os do questionadíssimo Fundo Eleitoral (R$ 4,9 bilhões nessa eleição).

Será que o comparecimento às urnas no segundo turno será maior do que no primeiro? A conferir…

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O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos – DIEESE – divulgou o resultado das negociações salariais das categorias de trabalhadores sob seu acompanhamento, com data-base em julho de 2022. O resumo das negociações mostrou que 47,3% das categorias envolvidas teve reajuste abaixo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor – INPC dos últimos 12 meses, que ficou em 10,12%.  Por outro lado, em 31,8% dos acordos o reajuste ficou acima do INPC e outros 20,8% fecharam o acordo com a reposição integral do índice.

A Inflação, por si só, causa perdas ao poder aquisitivo e elas se consolidam quando não há reposição integral dos índices nas negociações salariais. Mas, independentemente do tamanho do reajuste, o que fica é a certeza do aumento da carga tributária devido à não correção da tabela do Imposto de Renda – IR, congelada desde 2015. Na prática, uma parte do que seria o novo poder aquisitivo acaba sendo engolida sem a correção do IR.

De 2015 para cá, até julho, a defasagem medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA do IBGE ficou em 57,94%.

Se olharmos de 2019 até julho de 2022, veremos que a defasagem é de 25,71%. Quem quiser conferir a defasagem de 1996 até julho de 2022 encontrará um valor em torno de 142% segundo o Sindifisco Nacional – Auditores-Fiscais da Receita Federal do Brasil.

Na campanha eleitoral para presidente da república, em 2018, o candidato eleito prometeu isentar do IR os ganhos mensais de quem recebe até cinco salários mínimos, atualmente equivalentes a R$ 6.160,00. Entretanto, tudo continua limitado aos mesmos R$ 1.903,99 que estão em vigor desde 2015.

No ano passado, o Congresso Nacional constituído pelos 513 deputados federais e 81 senadores jogaram para a plateia um balão de ensaio tentando uma pequena correção da tabela como parte da reforma tributária, mas está tudo parado no Senado, a casa revisora de leis, até hoje. Será que algo acontecerá até o fim do ano eleitoral?

Aliás, hoje, a 31 dias das eleições para a presidência da república, governadores, senadores, deputados federais e estaduais, muitos candidatos estão falando em correção da tabela do IR com a isenção do imposto para os ganhos até 5 salários mínimos mensais. Será? Afinal de contas, queiramos ou não, o fato é que lá se vão quase 8 anos de congelamento da tabela do IR e tudo ficou por isso mesmo apesar das perdas do poder aquisitivo e do aumento da carga tributária. Até quando será possível suportar isso?

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Lázara Borges partiu sob aplausos

por Luis Borges 15 de agosto de 2022   Pensata

Aconteceu que às 11:02 do dia 5 de agosto, uma sexta-feira, o espírito deixou o corpo de Lázara Barreto Borges, minha mãe, e partiu para outro plano espiritual, onde já está bem acolhido.

Mesmo para quem tem clareza sobre a finitude da vida e a opção pelos cuidados paliativos em contraposição a obsessão terapêutica pela cura diante do sabidamente incurável, a chegada do momento final e dos primeiros dias após o desenlace mexe bem com o nosso eixo. Aí é só o tempo que passará para dissipar a dor, que será transformada em saudades e lembranças, boas ou não, de tudo o que foi vivido.

O ritual do velório do corpo teve expressiva presença das pessoas de seu convívio cotidiano ao longo dos 79 anos em que morou em Araxá. Marcante também foram a duração do velório no modelo reduzido – 4 horas-, herança dos tempos do auge da pandemia da Covid-19, a cerimônia de encomendação da alma feita pelo diácono Valtinho e os aplausos à Lazinha no momento do fechamento da urna mortuária.

Mas o que quero relembrar e registrar aqui são alguns fatos que marcaram muito a passagem da Lazinha pela terra.

O primeiro deles é que ela era quase uma unanimidade nos ambientes em que circulava, ou seja, tinha grande aceitação. Era marcante o seu jeito doce de ser, o rosto sorridente, o batom vermelho nos lábios e a grande capacidade de ouvir a todos. Sentia-se confortável e elegante com os tipos de roupas e complementos que gostava de usar. Ela dizia que ficava chiquérrima.

Interessante lembrar a sua religiosidade, sua devoção à Nossa senhora da abadia e a Santa Luzia além da necessidade de rezar para as almas antes de dormir. Ela dizia que se não fizesse isso não teria um sono tranquilo.

Gostava de ler o jornal Correio de Araxá, do qual foi a primeira assinante, e de revistas que abordavam temas ligados à televisão, principalmente das novelas das 6, das 7 e das 9 da noite.

Lazinha também gostava muito da mídia rádio e foi com ela que comecei a ouvir, ainda bem criança. Em Araxá, ela sempre ouvia a rádio Imbiara e, quando se mudou para Belo Horizonte, onde viveu seus últimos 10 anos, ouvia alguns programas da rádio Itatiaia.

Também gostava muito de conversar, de se informar sobre os parentes e amigos. Seu time de futebol era o Galo.

Já na arte culinária, estão marcados para sempre o pé de moleque da Lazinha, feito com o amendoim moído, o arroz doce, a queijadinha, o doce de mamão e de moranga madura, o pão de queijo, a língua de boi, o frango ao molho e o cafezinho especial de todas as tardes.

Meu espaço está chegando ao fim, mas infindáveis são as lembranças e recordações que eternizam a marcante presença da sempre querida Lazinha Borges, uma grande mãe.

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Partindo da premissa de que “a política é a arte do possível” nas relações político partidárias, onde são intensas as negociações entre suas tendências e grupos, bem como as alianças com outros partidos federados ou não, fiz uma transposição para a política no convívio familiar. Pensei no grande e complexo desafio na arte de viver nesse meio que é uma organização de base na sociedade ampla em que vivemos. Foi aí que se inseriu um caso acontecido no último dia de julho no reencontro de parte de uma família de Belo Horizonte.

O fato é que essa família composta por 9 irmãos entrou no período inicial da pandemia da covid-19 rachada pela polarização política. De lá para cá, dois irmãos se finaram devido a causas não-relacionadas diretamente com o vírus, cuja disseminação ainda se combate até o momento com diversas medidas de saúde pública. A medida propondo o distanciamento social veio em boa hora para ajudar a manter cada um em seu canto. Entretanto, ao longo da pandemia a guerra da comunicação familiar prosseguiu com alguns momentos tensos pelo grupo de WhatsApp da família que, aliás, já perdeu a maior parte de seus participantes.

Como ninguém é de ferro e os seres humanos são gregários, uma sobrinha propôs um almoço de domingo, para um reencontro presencial de parte da família que se entende um pouco melhor. Dos 4 convidados, um não pôde comparecer porque tinha um compromisso inadiável na mesma data. A vontade de se encontrar após um distanciamento de dois anos e meio era tamanha que o encontro foi mantido assim mesmo.

O encontro na casa da sobrinha começou com a chegada simultânea de dois irmãos que são gêmeos acompanhados das suas respectivas esposas. Um pouco depois chegou sozinho o irmão mais novo.

Tudo transcorreu muito bem nas conversas amenas e animadas pelas narrativas que todos fizeram para contar como chegaram vivos até aquele encontro, inclusive com saúde mental. Apesar das perdas anteriores no convívio familiar, era visível o esforço de todos para tentar ouvir e falar respeitosamente uns aos outros e sem retrocessos civilizatórios.

Caminhando para o final do encontro chegou em casa um adolescente de 17 anos, filho mais velho da sobrinha anfitriã e, portanto, sobrinho-neto dos três irmãos presentes no evento. Ele falou um “oi” rapidamente para todos, sentou-se à mesa e começou rapidamente a operar a tela do telefone celular totalmente desligado do ambiente.

O tio mais novo não concorda com o manuseio das telas quando as pessoas estão reunidas à mesa para o café, almoço ou jantar. Ele é famoso na família pela rigorosa posição da qual nunca se arredou. Ele tentou chamar a atenção do sobrinho-neto no intuito de trazê-lo para as conversas com todos que estavam à mesa. O adolescente não se fez de rogado e continuou firme em seu foco na tela. Então o tio-avô, que sempre fez palestrinhas para fazer valer as suas posições, acabou de tomar um café, agradeceu a todos pela convivência respeitosa após tanto tempo e deixou rapidamente o local antes dos demais, temendo ter uma recaída nas posturas de outrora. Enquanto isso o sobrinho-neto prosseguiu firme na tela do celular.

Parafraseando os compositores Vinícius de Moraes e Baden Powell na música Samba Da Benção, feita em 1967, “A vida é arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”.

Como se vê ainda é grande o desafio para que se prevaleça o respeito, a tolerância e a capacidade de dialogar entre as pessoas na plenitude dos conflitos geracionais e dos embalos da transformação digital.

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Faz tempo que estamos convivendo com o fantasma da inflação, após praticamente duas décadas e meia de estabilização econômica advinda do plano real de 1994, no governo federal do engenheiro Itamar Franco. Temos toda uma geração de brasileiros que ainda não tinha convivido com essa tamanha perda do poder de compra de bens e serviços.

Precisamos olhar bem e prestar atenção redobrada nas inúmeras sutilezas que acompanham os processos inflacionários.

O fato é que a inflação é uma garantia da perda de poder aquisitivo a começar pela incapacidade de muitas categorias de trabalhadores para conseguir repor em suas negociações salariais, pelo menos, a metade dos índices inflacionários do período negociado. Ainda assim, a carga tributária também aumenta devido a não correção da tabela do imposto de renda na fonte desde 2015.

Como existe uma forte tributação sobre o consumo dos alimentos, combustíveis, serviços de saneamento, energia elétrica, telecomunicações e transportes, fica claro que quem mais paga o pato são as camadas de mais baixa renda, que fazem parte da cada vez mais larga base da pirâmide social. Diante de tudo que está sendo falado e não falado nesse ano eleitoral polarizado, é grande o desafio para os diversos setores da economia em tentativas para mascarar a inflação na busca da minimização de seus efeitos.

Esse fenômeno é abordado pelo neologismo denominado reduflação, que segundo a enciclopédia livre Wikipedia é “o processo em que os produtos diminuem de tamanho ou quantidade, enquanto que o seu preço se mantém inalterado ou aumenta. Este efeito é consequência do aumento do nível geral dos preços dos bens, manifestado por unidade de peso ou volume, causado por inúmeros fatores, principalmente a perda do poder aquisitivo da moeda e a queda do poder de compra dos consumidores e/ou do aumento do custo dos insumos, cuja resposta da oferta é a redução do peso ou tamanho dos bens transacionados”.

Um bom exemplo foi dado por um supermercado na zona leste de Belo Horizonte que vendia uma dúzia de ovos de galinha por R$ 11,90 e agora passou a vender uma caixa com espaço para 10 unidades (dúzia de 10) pelo mesmo preço da dúzia. Será que a pesquisa para compor o Índice de Preços ao Consumidor Amplo-IPCA do IBGE consegue captar essa diferença sutil? Vale lembrar que nos últimos 12 meses (julho 2021 à junho 2022) ele ficou em 11,89%.

Inúmeros outros exemplos podem ser citados para chamar a nossa atenção sobre esse fenômeno e o processo que o gera. Lembremos da comida congelada, que você comprava em quantidade suficiente para alimentar duas pessoas e que o preço ainda é o mesmo, mas a quantidade foi reduzida em 40% e até a embalagem passou por uma readequação.

Lembremos também daquele medicamento de uso diário e contínuo que a indústria farmacêutica embalava no blister contendo 30 comprimidos, que agora vem com 28 e pelo mesmo preço alto de sempre.

Que tal a lembrança das bolachas recheadas, que tiveram a quantidade reduzia de 10 para 8, bem como o próprio diâmetro, e o preço simplesmente aumentou. Assim, cada um de nós pode perceber a enorme criatividade de todos que tentam fazer algo se parecer com o que não é. Mas é no bolso que cada um, conforme seu tamanho, pode perceber o quanto já perdeu e o enorme desafio que é fazer a gestão do orçamento.

Outros aspectos da reduflação estão ligados à legislação existente sobre a obrigatoriedade de informar ao consumidor a redução da quantidade e peso dos bens durante seis meses após a alteração. Vale também lembrar que existe no país o código de defesa do consumidor há mais de três décadas.

Mas esses temas ficarão para outra pensata.

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