O relâmpago alvinegro

por Luis Borges 4 de agosto de 2014   Futebol

Por Igor Costoli

Texto publicado primeiro no site Impedimento

Não me recordo a primeira vez que eu ouvi falar em “lazy genious”, mas nunca me esqueci do primeiro a usá-lo para descrever Ronaldinho Gaúcho. A expressão é muito usada nos EUA para falar de um talento capaz de ir muito além – mas que não vai.

A expressão me atingiu com força na semana passada, que foi de nostalgia e despedida. E não é exatamente fácil de explicar. Duas vezes eleito melhor do mundo, campeão da Libertadores, Copa do Mundo, Champions League etc. Afinal, ele precisava de mais o quê?

E não é questão de precisar. Mas Ronaldinho não é apenas um cara que conquistou tudo. É um jogador que conquistou tudo e deixou a sensação de que foi POUCO. O que nos leva a outro R, aquele da camisa 11, que chegou a confessar que teria sido mais eficiente e longevo se fosse mais atleta, mas não teria sido mais feliz.

Ronaldinho Gaúcho na mesa da coletiva ao lado do galo de prata

Ronaldinho Gaúcho em sua despedida do Galo. Foto: Site do Atlético MG / Bruno Cantini

A felicidade de Ronaldinho não parece estar no campo, na bebida, em festas ou nas mulheres. Ela está em todas essas coisas, mas não ao mesmo tempo e nunca por tempo demais em uma delas. Quando nos acostumávamos a achar que seu foco estava no gramado, já havia migrado para as mulheres. Quando pensávamos que “agora ele se aposenta e vai viver só de gandaia”, novo engano, e o encanto com a bola reaparece.

Creio que estive presente em 90% dos jogos que R10 fez em casa pelo Atlético. Fiz questão de rever os lances de todos, online ou pela TV. Era impossível se cansar de vê-lo em campo, porque não se tratava apenas do que ele é capaz de fazer, mas também do que é capaz de fazer parecer – que é fácil.

Do mesmo modo, dizer que Ronaldinho era o símbolo desse Atlético não é apenas muleta para redigir matéria. É visível que ele trouxe ao grupo segurança e confiança, mas também um pouco de sua empáfia e, porque não dizer, PACHORRA. Na Libertadores, a frase “quando tá valendo, tá valendo” ficou famosa nos confrontos com o São Paulo, mas não era apenas provocação. Na campanha do vice no Brasileirão/2012, o Galo foi o maior vencedor de confrontos diretos contra os outros 12 grandes do país. O campeão Fluminense era apenas o terceiro nesse “campeonato de clássicos”. A larga diferença na pontuação final, óbvio, estava no desempenho contra os pequenos.

Por isso será conveniente para muitos associar a saída de Ronaldinho à chegada da Levir Culpi. A pressão fará bem a esse elenco, que precisa parar de jogar para o gasto, nesse eterno resolver em casa e se poupar fora, como se ainda estivesse à espera de outro torneio. O time precisa de uma chacoalhada, e o escudo de proteção se despediu semana passada, numa coletiva estranha. O tom era de respeito, amor, saudade, mas qual o motivo da separação? Ninguém perguntou direito, ninguém respondeu direito.

O problema de R10 é essa função seno que é sua carreira, a REGULARIDADE com que sua curva é feita de altos e, inevitavelmente, de baixos. Por isso, o momento deve ser de saudade, de evocar lembranças, mas não de tristeza. O melhor que poderia acontecer a Ronaldo e Atlético é esta separação, sem traumas, ainda que com gosto de precoce. Pois nem torcida nem jogador mereciam, depois de tudo, passar pelo calvário que foram as saídas de Grêmio, Flamengo e Milan.

Não. A exemplo do que aconteceu no Barcelona, Galo e R49/10 se despedem amigos, vitoriosos, ambos maiores do que quando iniciaram juntos a caminhada.

O documentário “R49 – O Meteoro Atleticano” tem um bom nome, mas não me parece a metáfora perfeita. Ronaldinho está mais para um relâmpago: imprevisível, fascinante, uma força que faz enorme barulho. Mas efêmero. Ainda estamos ouvindo o eco do ruído e com a memória de um flash rasgando os céus, e a verdade é que já não há mais qualquer sinal de sua existência, apenas o rastro deixado no local que atingiu.

Olhemos para as referências de hoje e veremos astros regulares. O extremamente focado Messi, o obcecado em bater recordes Cristiano Ronaldo. Fica mais fácil perceber a preguiça do Gaúcho diante dos desafios, mas também fica claro entender porque o admiramos tanto. Ele está no mesmo patamar dos dois, e de outros grandes da história, sem sequer ter se esforçado direito. E isso números não mostram. R10 não é Batman nem Superman, ele é nosso Tony Stark – é o que gostamos nele.

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O dia amanheceu chuvoso e frio na sexta, 25, em Belo Horizonte. Foi assim por todo o fim de semana. Também foi assim com o meu telefone fixo, que voltou a seguir rigorosamente o padrão dos dias de chuva.

Já na madrugada de sexta o telefone ficou mudo, marcando o início do longo calvário do fim de semana sem telefone fixo. Após reclamação registrada no número da Central de Atendimento ao Cliente, fui orientado a fazer o teste padrão. Me pediram para desligar todos os cabos do equipamento e, três segundos depois, religar. O telefone continuou mudo, sem ruído algum. Mesmo assim o atendente se recusou a transferir minha ligação, feita via celular, para o setor de assistência técnica.

Sei que a meta do atendente é terminar as ligações em até três minutos e que ele seguia um padrão. A causa dos problemas sempre está no cliente, nunca na rede da operadora. É bom lembrar que o telefone depende de energia elétrica mas, nesse caso, não tive problemas de interrupção desse serviço.

Começou, assim, um fim de semana de muitas ligações. Falei várias vezes na Central, até receber a oferta de visita técnica. Marquei um horário. Com isso, passei a receber ligações de um técnico, que tentava ressuscitar a linha e me pedia para avisa caso o serviço voltasse a funcionar. Senti uma clara tentativa de economizar a visita do técnico terceirizado, ao mesmo tempo em que dublavam se interessar em resolver a causa do problema, que não estava em minha residência.

Durante o fim de semana, o telefone dava sinal em curtos períodos de tempo, o que justificou seu carinhoso apelido de vaga-lume, acende e apaga. O último apagão aconteceu às 03h30 de segunda, 28, até que tudo se normalizou por volta das 11h, quando já tinha parado de chover.

Passei por essa mesma situação por pelo menos dez vezes, com a mesma empresa. Observando e analisando o retrospecto, consegui evitar a  presença do técnico em minha residência pois, como aprendi com as experiências, a causa não está lá. O problema é na rede da empresa.

Liguei mais uma vez na Central e pedi que a empresa deduza da minha próxima fatura o valor correspondente à ausência de sinal. Tive que insistir, pois o operador não está treinado para lidar com esse aspecto. Ele sabe apenas dizer que devemos fazer a solicitação quando a fatura chegar, mediante informação à Central dos números dos protocolos dos nossos contatos.

E lembrar que cheguei a essa empresa por meio de portabilidade, após muitos problemas como usuário de outra empresa, onde nunca fui tratado como cliente. Aqui é bom lembrarmos de um dos fundamentos da gestão, que ensina que todo cliente tem a expectativa de receber qualidade, preço justo e excelente atendimento por parte do seu fornecedor, seja ele público ou privado.

Por fim, me pergunto qual a função da Anatel, agência reguladora do setor, além do preenchimento político de seus cargos em função da coalizão que sustenta o Governo Federal. No papel, ela deveria regular e fiscalizar todo o setor mas, na prática, é o que a gente já sabe. Mesmo para registrar reclamação contra as empresas que ela fiscaliza, a Anatel exige que o cliente informe o número do protocolo que registrou o ato na companhia telefônica. Mesmo colocando essa barreira e disponibilizando seu número de atendimento, o 1331, apenas de 8h às 20h nos dias úteis, a Anatel recebeu 3,1 milhões de reclamações em 2013. Ou seja, uma reclamação a cada 23 segundos. Se a sociedade brasileira manifestou, ainda que de maneira difusa, a sua insatisfação e o desejo de mudanças a partir de junho do ano passado, o jeito é pensar na dosagem. Reforma ou revolução?

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Você ainda é competitivo?

por Luis Borges 25 de julho de 2014   Pensata

Viver no mundo capitalista, que sempre precisa se reinventar para continuar capitalista, é um desafio permanente para todos nós e para quem sonha ou sonhou com outros regimes. A economia de mercado exige posicionamento e reposicionamento estratégico permanentemente, ainda que muitas vezes o capitalismo pareça sem riscos diante de tantas bondades do estado geralmente socorrista para determinados segmentos, notadamente o empresarial.

Se a concorrência é grande e exige cada vez mais a capacitação das pessoas, é preciso observar, medir e analisar o grau de competitividade dos atores que estão na cena. Apesar de muito se falar que o sol nasce para todos, a realidade tem mostrado que ele é mais profícuo e luminoso para uns do que para outros. Diante das desigualdades e dificuldades, como permanecer competitivo nesse mercado desigual, cheio de cartas marcadas, de regras nem sempre claras, eivado de jeitinhos, corruptos e corruptores?

Se as coisas fáceis já foram feitas e para nós ficaram só as difíceis, e ainda somos obrigados a sobreviver dentro das regras do sistema, com sua ética própria e segundo a moral vigente, é hora de reflexão e ação. Com o que temos de preparo e diante da velocidade das mudanças será que ainda somos competitivos para continuar jogando nesse jogo? Será que os nossos fundamentos ao serem aplicados continuam a nos levar aos resultados que esperamos?

Tenho visto muita gente paradinha no tempo, com os mesmos conhecimentos adquiridos há 20 ou 25 anos, e ainda clamando por valorização profissional, quando não mudaram nem a forma de abordar um cliente e nem sentem a necessidade de buscar conhecimento novo para ajudar na solução dos problemas que as desafiam no dia-a-dia.

Quando a história muda, tudo volta a zero e é o conhecimento aplicado que faz a diferença. Você se sente confortável para dizer que  é competitivo? Ou será preferível prosseguir no muro das lamentações e no compartilhamento desse lamento nas redes sociais, que acolhem e dão eco ao que você diz?

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Aprendendo com as Copas

por Convidado 21 de julho de 2014   Futebol

por Igor Costoli

Depois de 1978, só duas Copas foram para campeões inéditos. Nesses 36 anos, o troféu ficou com os tradicionais Brasil, Itália, Alemanha e Argentina em sete de nove vezes.

O ponto aqui é: camisa pesa mesmo.

Nos últimos 24 anos, o teto da ambição para zebras e novidades costuma ser a fase de quartas. Camarões/90, Romênia/94, Senegal/02, Costa Rica/14. Mas de 1994 a 2010, ao menos uma delas sempre chegava nas semifinais: Bulgária/94, Croácia/98, Turquia/02, Portugal/06. Em 2010, a Espanha fez sua primeira final contra a Holanda, que tinha duas, mas nenhum título.

Depois da Argentina/78, o único campeão jogando em casa foi a França/98. Uma Itália regular, uma Coreia do Sul levemente empurrada no apito, uma Alemanha em processo de renovação e esse Brasil usaram o fator casa para chegarem até as semifinais, mas caíram com justiça diante de equipes mais preparadas.

O ponto até aqui é: camisa pesa e superação tem limites.

Zagallo saiu de coordenador para o cargo de técnico após o tetra em 94. Tinha história, era campeão do Mundo, saberia como ninguém nos levar ao título. Deu no que deu em 98. Parreira assumiu a seleção pós-2002. Tinha história, era campeão do Mundo, saberia como ninguém nos levar ao título. Deu no que deu em 2006. Felipão assumiu após a queda de Mano. Tinha história, era campeão do Mundo, saberia como ninguém nos levar ao título. Deu no que deu.

O ponto agora poderia ser: “a história se repete, primeiro como tragédia, depois como farsa”.

Felipão chegou a dizer o seguinte: “As equipes que estavam aqui eram muito boas, melhores do que a gente podia imaginar”. Há alguns meses o técnico do Vasco deu uma entrevista assim: “O nível das equipes no campeonato carioca está muito alto, você vê pelas dificuldades dos grandes contra os pequenos. Não consigo entender porque o Rio não tem mais times na série B”. Até aqui, o Vasco é apenas o oitavo nessa mesma série B que deveria ter os fortes times do interior do Rio.

O ponto aqui é: meu Deus, Felipão virou o Adilson Batista.

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Choveu menos no Sudeste do país neste ano. O nível das águas na represa do sistema Cantareira, que abastece 8,8 milhões de pessoas na grande São Paulo, é o menor de sua história e levou à utilização do volume morto. Apesar das torneiras secas em muitas regiões, o governo do estado de São Paulo nega o racionamento de água e a Sabesp, empresa estadual de saneamento, dá desconto de 30% na conta de quem economizar 20% de água mensalmente. Campinas, Sorocaba e diversas cidades dos seus entornos também apresentam sérias dificuldades para o abastecimento de água. Em Minas Gerais, cidades como Pará de Minas e Pirapora são outros bons exemplos de dificuldades.

Se “é na volta do barco que a gente sente o quanto deixou de cumprir” fica fácil perceber a falta que planejamento e gestão fazem, pois não dá para terceirizar para os céus as causas de tantas dificuldades. No processo de tratamento e distribuição da água, as perdas variam de 30% a 40%. Dentro desse percentual, ainda que consideremos uns 20% como inerentes ao processo, outros 10% a 20% simplesmente são jogados fora sem nenhuma gestão mais estruturada para combater esse desperdício.

Também é preciso fazer um alerta. Em Belo Horizonte, por exemplo, continua sendo rotina ver pessoas lavando passeios com mangueiras, que às vezes ficam esquecidas jorrando litros e litros água. Não há falta ou racionamento aqui, o que mantém muitas pessoas insensíveis à necessidade de economizar. É imperiosa a necessidade de se fazer uma campanha educativa permanente, propondo mudanças de hábitos no consumo. É preciso mostrar cada vez mais que a água é um bem escasso, buscado cada vez mais longe e sempre exigindo tratamento mais complexo para se tornar potável.

Apesar do Brasil possuir 13% da água doce do planeta terra e dos insistentes discursos dizendo que sabendo usar não vai faltar, fica claro que é preciso atitude para a mudança de hábitos e que cada um deve fazer a sua parte para a redução do consumo. Uma meta deve ser estabelecida e desdobrada em diversos níveis, com os respectivos planos de ação propondo as medidas estratégicas necessárias e suficientes para que alcancemos resultados positivos. Mas se tudo começa com a gente, o que já fazemos ou poderemos fazer para contribuir nesse resultado? A prática é um dos critérios da verdade, que ajuda a combater a inércia. O tempo segue seu curso, mas os recursos são finitos e a sustentabilidade continua clamando por mais efetividade.

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A longa espera

por Luis Borges 17 de julho de 2014   Pensata

A saúde na hora da verdade foi o post que publicamos no último dia 8. Quase dez dias depois, o engenheiro personagem do texto já teve alta e termina sua recuperação em casa. Voltamos à história, hoje, com uma contribuição de Vera Cruz Borges e Borges. Ela é artista plástica e acompanhou o marido durante toda a internação, permanecendo com ele no quarto do hospital.

A longa espera…
Esperança? Será?
Parafraseando a canção, “Igualdade, igualdade, abre as asas sobre nós.”
Quando? Onde? Será que teremos igualdade?
Os passos para a sonhada igualdade (ilusão), assim nos foram ensinados e assim decoramos.
1º – Estudar e estudar, para abrir os horizontes para o futuro.
2º Ter uma profissão / trabalho, ser honesto e cumpridor dos seus deveres, que não são poucos.
3º, 4º e adiante… Reconhecer o próximo como a ti mesmo.
Mas aqui tudo se complica. Você vê, mas quase sempre não é visto.
Explico. Ao precisar de atendimento médico-hospitalar, você verá seus ideais e tudo aquilo que te ensinaram – respeito, esperança, igualdade – rolar morros abaixo. 
Você pensa “pago um plano de saúde, acho um ótimo plano”. Você paga caro por ele. O plano atende ao mais rigoroso padrão Fifa, pois é o mesmo da aeronave que transportou o “cai cai” Neymar, a marca verde e branca foi exaustivamente mostrada pelas câmeras de TV.
Então o pobre mortal pensa “bacana, sou atendido pelo padrão Fifa“. Sonha, sonha, mas não sai do pesadelo. 
Você que é o acompanhante/responsável pelo paciente, questiona os funcionários que fazem 12×36 horas sobre quem é atendido na ala mais nova. Eles riem, explicam que só planos Bradesco, Cemig… Atônito, você descobre que não é mais padrão Fifa. Que contribui muito para ser, mas que não é. 
O hospital é respeitado, sua equipe médica é considerada referência em algumas áreas, é dirigido por uma Congregação Religiosa. As freiras te laçam para oferecer a comunhão diária (ou saber instrução, nível social, crença, já nem sei o que mais). Mas purificar quem? O paciente, que tem um diagnóstico e mais 14 dias de luta pela frente contra uma colônia de bactérias, ou a consciência administrativa delas?
No turbilhão você ainda batalha, sonha, reza, na vã esperança de trocarem de quarto. Você já nem sonha mais com o padrão Fifa, pode ser só um padrão dos sonhos, quarto com sol, com janelas para ventilar o ambiente. Padrão de sonhos, que é de igualdade, onde você pelo menos vê o sol e sente o calor do mesmo.
 

Por Vera Cruz Borges e Borges

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O laudo sai em 30 dias

por Luis Borges 9 de julho de 2014   Pensata

Depois de cada acidente, crime ou tragédia surgem as perguntas que buscam identificar os culpados e as causas do ocorrido. Classicamente, as autoridades envolvidas nas investigações falam da necessidade de se fazer uma perícia técnica pelos especialistas no tema e invariavelmente  terminam suas falas dizendo que o laudo pericial ficará pronto em 30 dias. Nesse período muita coisa acontece. A comoção pública é atenuada, a desinformação continua, notadamente nos órgãos especializados em não informar, mesmo em plena vigência da lei de acesso à informação numa sociedade que discursa ser republicana.

Mesmo que os 30 dias passem rapidamente, se não ficarmos alertas para cobrar o cumprimento dos prazos previstos em lei muito se pode protelar, principalmente nos casos em que há indícios nítidos de omissões.

O recente desabamento do viaduto da Avenida Pedro I em Belo Horizonte, nos traz boas recordações nesse sentido. De cara alguém perguntou pelo laudo do viaduto da rua Montese, que apresentou sérios problemas em fevereiro deste ano, que inclusive levaram à interdição do local. Não é que 4 meses após o ocorrido finalmente apareceu um laudo que deveria ter ficado pronto em 30 dias? Como alguém consegue gerenciar empreendimento desse porte, propagandeado em nome da mobilidade urbana e com apelos em cima de Copa do Mundo, se a variável tempo é deixada de lado e ninguém se sente responsável?

Outro interessante caso de laudo que seria divulgado em 30 dias é o do incêndio que atingiu 16 caminhões coletores de lixo no bairro Jardim Vitória, no dia 15 de dezembro de 2013. Umas das especulações da época foi de incêndio criminoso, já que existiam dificuldades no relacionamento entre a empreiteira prestadora dos serviços e a Superintendência de Limpeza Urbana da PBH. Quase 7 meses depois não consegui encontrar em nenhum lugar o tal laudo nem justificativas para tamanha demora.

Hoje já existe um clamor pela simplificação racionalizante de muitos procedimentos que envolvem o setor público e seus agentes. Mas, sinceramente, se houvesse o cumprimento dos prazos já determinados e um compromisso com a informação de qualidade para o público que tem o direito de tê-la, já seria um grande passo. É bom lembrar que hoje faltam 23 para os 30 dias prometidos para a divulgação do laudo do desabamento do viaduto da Av. Pedro I.

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A saúde na hora da verdade

por Luis Borges 8 de julho de 2014   Pensata

Começou com uma forte gripe, acompanhada por febre. A visita ao hospital se tornou insistência e incerteza, em busca de uma internação. Um engenheiro e sua família estão vivendo a experiência desde a semana passada.

A consulta foi num grande hospital de Belo Horizonte, credenciado pelo plano de saúde complementar do engenheiro, que contratou uma modalidade de ampla cobertura. Ele enfrentou as dificuldades de praxe. Custou para conseguir um horário de atendimento, aguardou pacientemente o já clássico atraso do médico, que sempre tem suas razões.

Recebido pelo doutor, teve que fazer alguns exames de diagnóstico por imagem no próprio hospital, para que o profissional desse o veredito. Apesar do contrato amplo e das mensalidades em dia, a família gastou a pouca energia restante para conseguir liberar os exames junto à operadora.

Já perto das 21h, o médico informou que se tratava de uma pneumonia simples. Deveria ser tratada imediatamente, durante uma internação hospitalar. Depois dos outros percalços, abriu-se uma caixa de pandora. Sem apartamentos disponíveis para internação e sem ninguém para interceder, o paciente foi internado no pronto-atendimento, juntando-se a outros dez colegas em busca de alívio para suas dores. O hospital acenou, sem garantias, com a possibilidade de surgir alguma vaga no dia seguinte para internação em apartamento, modalidade coberta pelo plano.

Medicado, o engenheiro dormiu. Uma anti-ergonômica cadeira acomodava a vigília de sua esposa, que ficou do lado de fora, naquele ambiente pouco funcional.

No meio da tarde do dia seguinte, por volta das 16h, um apartamento foi liberado e prontamente ocupado por ele que, por sua vez, liberou uma vaga no pronto-atendimento. Vencida a batalha pela acomodação, o paciente foi informado do conclave. Os médicos se reuniriam à noite para, na manhã seguinte, apresentar diagnóstico mais conclusivo. Mais uma noite mal dormida pela frente.

O tratamento está em curso, ainda deve durar algumas semanas. A situação que vemos com mais frequência na mídia e nas histórias de “amigos de amigos” se torna lição quando próxima. A família adotou uma estratégia de sobrevivência. Mesmo assim, é impossível relevar a arrogância, o autoritarismo e a postura de proprietários da verdade manifestada por muitas das pessoas que fizeram parte desse processo de atendimento. Será que o plano de saúde não avalia a qualidade de seus fornecedores? O plano se dá por satisfeito apenas pelo simples fato de ter seus cliente atendidos, no tempo do fornecedor? Não dá para ajudar a esconder o que é ruim e só faturar o que é notícia boa.

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Os (quase) acidentes nas rodovias

por Luis Borges 26 de junho de 2014   Pensata

Há uma semana peguei a BR-262, no trecho entre Belo Horizonte e a capital secreta do mundo, a cidade eterna de Araxá. Aproveitando o feriado de Corpus Christi, fui na sexta, 20, e retornei domingo, 22, sempre na parte da tarde. Aproveitei para observar e analisar a viagem, o que me deixou estarrecido com a quantidade de quase acidentes no percurso. E olha que estava acompanhado de um motorista muito bom, altamente habilidoso para enfrentar as surpresas do trajeto.

A cada novo “quase”, os quatro viajantes do carro respiravam aliviados. O primeiro foi no município de Ibiá. No trecho, havia terceira faixa para quem vinha no sentido de Belo Horizonte. Como as duas estavam ocupadas, um ônibus de turismo entrou rasgando para ultrapassar os dois veículos. A nós, certinhos em nossa pista, só restou jogar o carro no acostamento, dar uma prolongada buzinada de desabafo e retomar a respiração cadenciada aos poucos.

Na volta, outro susto quando alguns veículos tentaram fazer uma ultrapassagem pelo acostamento à direita e, ao ficar sem chão, tentavam forçar a entrada na pista com muita imprudência. Um terceiro quase acidente foi quando um motorista com o veículo cheio de crianças fez uma ultrapassagem numa curva, obviamente sinalizada com a faixa contínua. Como vinha uma imensa carreta em sentido contrário, ele jogou o carro à nossa frente e não quis nem saber. “Quase!”, foi a exclamação geral.

Em Pará de Minas, havia degraus na pista e uma placa pedindo “cuidado, pista com defeito”. O que não foi suficiente para conter os imprudentes. Em todo o trajeto de ida e volta, havia a absoluta falta de fiscalização da Polícia Rodoviária Federal. Se com essa parca fiscalização somos bombardeados com números de tragédias a cada feriado, imagino o que poderia acontecer se a fiscalização fosse mais intensa.

Ainda assim, fica claro que a disciplina, a prudência e o cumprimento das normas de trânsito facilitariam muito a vida de todos. É bom lembrar que as estradas brasileiras registram muitas colisões frontais, decorrentes de ultrapassagens indevidas. Só para concluir, também fiquei impressionado com a quantidade de motoristas que não dão seta, quase dando a impressão de que é feio fazê-lo. E olha que existe a direção defensiva para minimizar tantos sustos.

A vista da Matriz de São Domingos, em Araxá, em clique de julho de 2013 (Foto: Marina Borges)

A vista da Matriz de São Domingos, em Araxá, em clique de julho de 2013 (Foto: Marina Borges)

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Pensando adiante

por Luis Borges 25 de junho de 2014   Pensata

Por Igor Costoli

Muitos comemoraram a última atuação brasileira, que fechou a participação na primeira fase do mundial. Finalmente a equipe de Scolari colocava em prática nesta Copa a estratégia que funcionou bem ano passado: blitz nos primeiros minutos, marcação sob pressão, roubada de bola e gol do Brasil abrindo o placar. Infelizmente, não deve se repetir.

Esse “abafa” deu resultado contra Japão, México e Espanha na Copa das Confederações. Apenas o Uruguai e Itália sobreviveram aos primeiros 15 minutos sem sofrer gol contra o Brasil. A estratégia exige bom preparo físico, e é essa a diferença sutil entre o time de 2013 e o de 2014, mesmo com escalações idênticas.

Os torneios Fifa acontecem em junho, final da temporada europeia e metade da temporada brasileira. Dos grandes destaques da seleção no ano passado, três titulares atuavam no Brasil: Neymar pelo Santos, Fred pelo Fluminense e Paulinho pelo Corinthians. Dos reservas que entravam bem, Jô vivia seu auge pelo Atlético na Libertadores.

O jogador Paulinho domina a bola durante partida pelo Tottenham

Paulinho durante partida pelo Tottenham (Foto do site Squawka News)

Pouco depois, Neymar foi vendido ao Barcelona e Paulinho ao inglês Tottenham. De modo que, independente de terem alternado momentos de titularidade e reserva, ambos estão há um ano e meio sem férias e sem pré-temporada. Neymar, sem o mesmo fôlego, segue se destacando. Mas Paulinho, que era o coração do meio-campo brasileiro, tem atuado mal, sem ritmo de jogo e com baixo poder de marcação.

Fred passou o segundo semestre de 2013 contundido, e já não é mais um garoto. Vinha sendo muito pouco participativo e, antes do jogo contra Camarões, seu lance de maior destaque foi simular com sucesso um pênalti na abertura da Copa.

O jogador Fred, de bigode, no gramado

Fred e seu novo visual (Foto do site da revista GQ, propriedade do banco de imagens Getty Images)

O Brasil não passou pelo traumático corte de titulares como aconteceu com várias seleções, mas a condição física do time está apenas em pé de igualdade com a dos outros. Hulk, que trocou o campeonato português pelo russo, não mostra o mesmo rendimento e está sempre sendo poupado em treinos. Já o lateral Daniel Alves não vem sendo decisivo como antes no ataque, e sua marcação piorou – os dois gols sofridos pelo Brasil na primeira fase do mundial passaram pelo setor direito.

Por isso a atuação da última segunda-feira não deveria ser tão comemorada, já que o adversário era um dos piores times da Copa. É preciso lembrar que Camarões entrou em campo sem chances de classificação. Além disso, seus jogadores ameaçaram boicotar o torneio por conta de brigas sobre premiação e dois atletas quase se agrediram em campo no jogo contra a Croácia – evidência de que as brigas internas não era só boatos.

Para enfrentar o Chile, o Brasil precisará mostrar muito mais. E a solução talvez passe por entender que um ano é muito tempo para um atleta, e que a fase de alguns titulares não é mais a mesma.

Igor Costoli é jornalista e radialista de formação e atleticano de coração. É produtor e apresentador do Programa Invasões Bárbaras; na Rádio UFMG Educativa.  

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