O desnecessário horário de verão

por Luis Borges 21 de outubro de 2014   Pensata

Já estamos em pleno horário de verão, que nessa edição terá 126 dias de duração e só acabará em 21 de fevereiro do ano que vem, por causa do Carnaval. Tudo isso na forma da lei, por meio de decreto de 1931 que impunha o horário em todo o território nacional. Após idas o horário de verão segue ininterrupto desde 1985, para aplicação nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste.

Conheço pouca gente que gosta dele. Mas independente de se gostar ou não, eu não vejo argumentos lastreados em fatos, dados e conhecimentos técnicos específicos que justifiquem a sua adoção. O argumento mais difundido e repetido exaustivamente pela mídia é que se evitaria um apagão no horário de pico da demanda no início da noite e que nesse horário se reduziria a demanda por energia elétrica em 4,5%. Além disso, repete-se também que a economia de energia global no período varia de 0,4% a 0,5%, que é ínfima diante de tantas variáveis envolvidas nesse cálculo e que são pouco explicitadas. Entretanto não existe transparência sobre o método usado para se chegar a esses números que, aliás, contrastam com outras informações do site do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Lá está dito que o período de pico por demanda de energia se dá no início da primavera.

Por outro lado, é importante lembrar que, no verão, os dias têm um período maior de insolação e que muitas vezes o uso de refrigeradores no período da tarde aumenta a demanda por energia. Quem quiser verificar os horários dos apagões durante os últimos 5 anos, verá que eles não escolhem necessariamente uma hora para acontecer, inclusive no verão. E é claro que as causas também são várias e vão muito além de um prosaico aumento momentâneo de demanda. Se no período atual estamos enfrentando uma longa estiagem e o ONS informa que os reservatórios estão nos mais baixos níveis históricos, por que não rever de maneira efetiva a matriz energética brasileira e estudar melhor a eficiência energética? Você já imaginou a energia solar sendo usada em larga escala para aquecer a água, se houver, dos chuveiros de nossas residências? Isso também ajudaria a derrubar ainda mais o argumento do ONS sobre a probabilidade de apagão elétrico no início da noite por excesso de demanda.

Também os impactos no organismo humano devido à mudança no fuso horário deveriam ser melhor estudados e mais difundidos entre as pessoas. Dormir mais tarde, ter insônia, acordar mais cedo e ter sonolência ao longo do dia são alguns dos fatos mais citados e reclamados e que devem trazer impactos no bem estar e na produtividade das pessoas. Mas, como é cada vez mais típico da cultura brasileira, as coisas são impostas na arrogância e na superficialidade. O horário de verão continua sendo desnecessário e fico na esperança de que os três projetos que tramitam na Câmara dos Deputados propondo o seu fim consigam quórum para aprovação, um dia. Antes tarde que muito tarde.

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Outra vez, é dia do professor

por Luis Borges 15 de outubro de 2014   Pensata

Considero este 15 de outubro, Dia do Professor, como dia do ano em que devemos aproveitar a oportunidade de homenagear e reconhecer os mestres que cumprem a missão de educar, ensinar e aprender em nosso país sempre necessitado de contínuas transformações. Podemos nos lembrar de quem nos ensinou as primeiras letras e os primeiros algarismos, daqueles que nos orientaram, influenciando nossos rumos, ou dos que foram homenageados em nossas formaturas, inclusive como paraninfos ou patronos. Aqui também é permitida a lembrança daqueles que só cumpriram “a tabela do campeonato” ou mesmo aqueles poucos que nos marcaram indelevelmente por suas posturas equivocadas.

Por ter feito desta função uma opção profissional em minha vida, inclusive acompanhada da devida vocação, sei qual é o tamanho da dor e da delícia de trabalhar nesse segmento. Entendo perfeitamente que o desafio é muito grande, e que ainda não estão disponíveis todas as condições para vencê-lo plenamente em todos os níveis, exigências e necessidades. Mas tenho a crença de que a educação é a base de tudo e de que não existe substituto para o conhecimento na solução dos problemas, bons ou ruins, que a era da incerteza nos traz cotidianamente. Por isso será sempre essencial se trabalhar com os fundamentos, demonstrar sua aplicação e mostrar a efetividade dos resultados, de preferência sem dogmatismos e instigando a curiosidade, a observação e a criatividade. É muito pouco ser uma mera estação repetidora.

Minha reflexão deste ano diz respeito ao clamor nacional por mais recursos para a educação, que deverão se refletir em melhores condições de ensino, profissionalização da carreira docente e valorização profissional com a devida atualização permanente do conhecimento do professor. Nesse caminhar muitas lutas, embates, medição de forças – inclusive com greves – acontecerão. Mas nada justificará o descompromisso, o fazer de qualquer jeito, o simplesmente cumprir burocraticamente os dias letivos previstos ou o não, principalmente para quem defende e almeja o profissionalismo do professor. Entre o pessimismo chato de quem só quer lamentar, chorar e reclamar ou o otimismo irreal de quem pensa que um dia tudo vai melhorar mesmo na inércia, reitero meu reconhecimento por aqueles que constroem, melhoram e inovam nos processos de trabalho, guiados pela esperança realista e pragmática.

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Nos últimos três anos acompanhei de longe uma “mocica” que sonhou quase que diariamente com o dia em que completaria 18 anos de idade e passaria a ter diversos direitos previstos em lei. Sua mãe sempre ouviu suas palavras, sem se esquecer de lhe dizer que, a partir daí, os anos de vida passariam muito mais rapidamente e que dias viriam em que ela diria sentir saudades desses tempos em que sonhou tanto.

Contrastando com esse fato, passei a refletir sobre as pessoas que, como eu, estão chegando aos 60 anos de idade ou já passaram desse número limite. Isso reverberou mais em minha cabeça e em diversas mídias em primeiro de outubro, Dia Internacional do Idoso, data que tenta chamar a atenção para esse ciclo da vida.

Aqui é bom lembrar que a legislação brasileira estabelece, no Estatuto do Idoso, uma série de conceitos, definições e direitos que deveriam existir plenamente a partir do 60º aniversário de nascimento das pessoas. Nesse aspecto, relembro que um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada propõe que a idade limite para início da vida idosa passe a ser 65 anos. Em sentido semelhante, tramita há alguns anos no Congresso Nacional um Projeto de Emenda à Constituição que propõe passar de 70 para 75 anos a idade limite para a aposentadoria compulsória no serviço público. A razão mais segura para tudo isso é o expressivo aumento da expectativa de vida dos brasileiros, que já chega à média dos 75 anos, sendo que para as mulheres já passa de 78. Nesse sentido, vale lembrar também que 10,4 milhões de eleitores têm idade superior a 70 anos e que, para eles, o voto é um direito e não uma obrigação.

Se planejar é pensar antes, alguns aspectos quase que formam uma pauta a nos cobrar um posicionamento para esses tempos, que a cada dia se tornam mais próximos. É claro que os cenários que se desenham são projeções difíceis de se acertar, mas devemos tentar pelo menos nos aproximar ou errar menos. É por isso que podemos pensar em cenários otimistas, pessimistas ou mais prováveis, mesmo sabendo que tudo depende de muitas variáveis. Algumas delas só dependem de nós, e outras, uma grande parte, nós não controlamos. Essas ficam nas mãos dos governos, dos mercados e até da inércia dos políticos que emanam da democracia representativa.

Na minha pauta, veio a preocupação com a queda do poder aquisitivo do aposentado, principalmente com inflação cada vez mais longe da meta de 4,5% ao ano e sabedor de que o custo de vida do idoso é muito impactado pelo preço de planos de saúde, medicamentos e consultas particulares. Pautei também o desejo de ter uma boa qualidade de vida nesses tempos de ócio criativo, com dignidade, mesmo consciente dos limites físicos que vão surgindo para o corpo humano. Aqui registro a preocupação com a mobilidade de pernas e braços, o metabolismo, a pressão arterial, os órgãos do sentido e os estragos causados por uma bala, perdida ou não.

Avançando na pauta pensei no convívio familiar – esposa, filhos, parentes, amigos, enfim, pessoas que, em diferentes graus, fazem parte do cotidiano. Com quantos e com quais prosseguiremos, por exemplo, nos próximos 15 anos? Aí o tempo fechou e minha pauta foi interrompida, na certeza de que ela é muito longa mas terá de ser enfrentada com sabedoria, conservação de energia e gestão da ansiedade no exercício da paciência e da persistência.

E você, caro leitor, tem pensado também nesses temas e em outros conexos? Aguardo suas reflexões nos comentários.

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Após as eleições que definiram os 513 deputados federais que comporão a Câmara dos Deputados a partir de janeiro de 2015, fica a expectativa de que se produza alguma coisa até o final desse ano.

Também não é para menos. Em nome da campanha eleitoral só houve dois dias de votação em plenário na primeira semana dos meses de agosto e setembro, no sugestivo “esforço concentrado”.

Se medirmos a produtividade dos deputados na legislatura 2011-2014, veremos que apenas 30 projetos de autoria dos próprios deputados viraram leis. Esses projetos foram apresentados por apenas 26 parlamentares, ou seja, 5% do total de membros do plenário.

Se a comparação de produtividade for feita com a legislatura anterior, 2007-2010, verifica-se quase uma “queda livre” na produção. No período anterior, 70 deputados tiveram projetos próprios aprovados. Na legislatura que finda em 2014, foi mais fácil e cômodo emendar os 146 projetos do Executivo, que se tornaram leis.

Como não existe uma cobrança mais acentuada pela produtividade, o que nos passa a sensação de descompromisso, e os benefícios decorrentes do poder são muitos, fica fácil entender porque 6100 pessoas se candidataram a uma das 513 vagas, das quais 53 são para a bancada de Minas Gerais.

Quem tiver curiosidade de verificar o planejamento dos trabalhos das comissões e sessões plenárias desta semana pós eleições encontrará o mesmo do mesmo. A pauta do plenário, trancada pela Medida Provisória que reestrutura as carreiras da Policia Federal, aguarda quórum para prosseguir. Talvez, por não exigir quórum, será mais fácil inaugurar as rampas de acesso ao plenário Ulysses Guimarães cujas obras foram concluídas e visam melhorar a acessibilidade.

Quem sabe também a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que apura as denúncias de corrupção na Petrobrás conseguirá quórum para ouvir a contadora do doleiro que também negociou delação premiada. Também a Comissão do Orçamento tentará aprovar emendas à Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2015, enquanto a Comissão de Ética e Decoro Parlamentar tentará analisar os casos de dois deputados acusados de infringir regras da casa. Mas tudo isso, sempre se houver quórum, na certeza de que a semana termina no mais tardar na quinta-feira e de que muitos projetos, relevantes ou não, continuarão parados aguardando as negociações do Colégio de Líderes.

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Dona Lelê partiu e ficou

por Luis Borges 24 de setembro de 2014   Pensata

A senhora Maria Teresina Canuto Calais, 84 anos, mãe do amigo João Bosco Calais Filho, partiu para um outro plano no dia 09 de setembro. Partiu em Jequeri-MG, cidade da Zona da Mata, a 220 km de Belo Horizonte, terra das deliciosas broas e broinhas de milho. A dor de sua perda e as lembranças já saudosas do seu marcante e edificante modo de ser foram registradas pelas palavras de uma de suas filhas e por duas de suas netas, em homenagens que podem ser lidas a seguir.

Não quero falar de dor. Esta, só o tempo para acalmar. Quero falar de saudade! Do amor que ficou e ficará para sempre! Partiu na manhã de terça feira, dia 09/09, uma mãe, avó, amiga… Dona Lelê!!!

Ela não tinha medo de morrer, mas sim de não viver.

Uma mulher forte, determinada, batalhadora, alegre. Um exemplo a ser seguido.

Seu jeito tão ímpar de viver, suas risadas, ecoam em minha mente e vão ecoar em todos os momentos da minha vida.

Alguém escreveu que “as pessoas que amamos não morrem jamais, apenas partem antes de nós”. E é isso. Ela partiu, foi dar risada em outro plano, mas tenho certeza que vamos nos reencontrar um dia.

Vá com Deus, Mamãe, e continue colhendo todos os frutos do amor que semeou aqui conosco. A todas as pessoas que de alguma maneira estiveram conosco neste momento, o nosso obrigado!

Por Maria Emília Calais, filha.

D. Lelê na juventude

D. Lelê na juventude

Ela foi metade da minha infância. Limpava nossas roupas sujas de barro, tinha as melhores mangas no quintal e o cheirinho gostoso do café com queijo pela manhã. Pra entrar na briga pelos seus netos, não bastava motivo, estávamos sempre certos. Afinal, na casa da vovó podia tudo. E usávamos essa expressão ao pé da letra. Era chegar o primeiro dia de férias que esperneávamos para viajar, nadar no rio, subir no areal, andar de bicicleta e depois chegar a tempo para o almoço caprichado, que só ela sabia fazer. A gente dava trabalho, viu? E quando íamos embora, ela ficava na varanda, fingia que estava chorando na hora da despedida e abanava as mãozinhas quando o carro passava. É… você vai fazer falta, vó. E quando a dor passar, vai ficar a saudade… a saudade que jamais vai embora. E a certeza de que minha infância foi a melhor do mundo, porque te tive como vó, porque te tive como exemplo.

Por Débora Calais, neta

D. Teresinha e o cachorro Hulk

Com o cachorro Hulk

Levou consigo a bagagem, cheia daquilo que por tempos sustentou toda uma família. Fico imaginando que, feito aquela época da roça, em que chegava na cidade grande com uma mala repleta de um pouco de tudo que havia plantado (legumes, verduras e frutas de todas as qualidades; sustento dos filhos, e deleite dos amigos) e a carregava sozinha da rodoviária até a Tamoios, aí em cima, quando chegou, deve ter recusado o socorro de algum anjo encarregado. Talvez não, talvez o tenham avisado que a Senhora era dessas que largou Banco por roça, criou oito e mais um bocado, enterrou dois, buscou marido em boteco com espingarda na mão, cultivou lavoura debaixo de sol e não baixou cabeça pra ninguém. Era o elo que sustentava muita gente, e tinha o respeito de um montão. Muitos médicos eram seus melhores amigos, e vários caminhoneiros da coca-cola, seus maiores inimigos. Dos seus “meninos”, só o melhor (e pode botá aí: filhos, netos, bisnetos, de consideração, ou não). Todos tão diferentes, mas carregando consigo a raça e garra que você teve ao criá-los. Feito você, vão conseguir seguir em frente, vão sentir dor, vão encher os olhinhos d’água sempre que de você falarem, mas vão seguir, assim como a viram fazer por três vezes.

Foi festa aí no céu, meu receio é que alguém tenha botado um trio elétrico em sua porta, que vô tenha lhe cobrado que a Senhora sempre dissera que iria antes dele, que Maria Elisa tenha te segurado e não soltado mais, que “vó” Auta já tenha se fartado de toda sua rebeldia, “Tereza”. De resto, só consigo imaginá-la a almoçar doces de todas as variedades e sobremesear algum almoço. Saborear empadas e escutar Roberto Carlos. Com uma varanda pra avistar e algumas pessoas de quem comentar. Com um sorriso largo no rosto, um batom bonito na boca, um relógio chique no pulso e um cabelo bem arrumado. Guarda consigo o que levou daqui, continuaremos a carregar a bagagem do que plantou, não em terra, mas em nós.

Lamento sua morte… lamento por todos que não a conheceram e que só souberam de ti por nós.

A bença vó!

Por Karina Calais, neta

Dona Lelê 2

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Procura-se gente que quer trabalhar

por Luis Borges 20 de setembro de 2014   Pensata

Tenho ouvido constantes reclamações de pessoas que não conseguem encontrar prestadores de serviços. A situação atinge prestadores residenciais, como bombeiros, eletricistas, jardineiros, arrumadeiras e também candidatos a funcionários de micro, pequenas e médias empresas, de diferentes segmentos de negócios. Às vezes tenho a sensação de que muita gente quer o maior bem-estar possível dispendendo o menor esforço. Muitos estão sempre atentos aos seus direitos, mas esquecem-se dos deveres e focam-se no “consumo, logo existo”.

Na semana passada conversei com um empresário de Araxá, lugar alto de onde primeiro se avista o Sol, conforme a língua indígena. O empresário é do setor de alimentos, no qual atua há 40 anos. Hoje seu negócio gera trabalho para 17 pessoas, com as respectivas carteiras de trabalho assinadas, e tem faturamento anual próximo de 2 milhões de reais. Apresento a seguir a reclamação dele, em tom de desabafo mas profundamente realista, apesar de muitas autoridades nos darem a sensação de que tudo vai bem e de que Alice está no país das maravilhas.

Não tenho visto nenhuma entidade como FIEMG, FIESP, Federações do Comércio, CDLs e outras discutirem as dificuldades das pequenas e médias empresas para conseguirem contratar empregados por esse Brasil afora. Políticos, nem pensar, ainda mais nesse período eleitoral!

No meu caso específico, que deveria ser menos difícil por não exigir experiência anterior nem especialização, enfrento um grande drama. E olha que aqui as pessoas recebem um treinamento no trabalho, bem básico, como um “arroz com feijão”, tanto na produção como na comercialização.

Poucos querem trabalhar, assumir compromissos, cumprir escalas de horário em sábados, domingos e feriados, sempre dentro da lei.  Esta geração “nem nem”, nem trabalha e nem estuda, na minha modesta opinião, tem sido a grande dificuldade das nossas pequenas e médias empresas quando começam a pensar em investir para crescer. Isso porque o que temos já está muito difícil de gerenciar e levar à frente, e ainda corremos o risco de ficar sozinhos, sem gente.

Quando se consegue contratar alguém, são poucas as pessoas que permanecem por mais de uma semana ou um mês. Existem algumas outras que, quando se passam os benditos seis meses de permanência, que já garantem o direito ao seguro desemprego, resolvem “catimbar”. Elas já sabem de antemão que uma demissão sem justa causa lhes dará o direito de receber aviso prévio indenizado, férias proporcionais, décimo terceiro salário proporcional e que ainda poderão retirar o fundo de garantia por tempo de serviço acrescido da multa. Na prática, trabalha-se durante sete meses para se receber o equivalente a doze.

Está tudo muito ao contrário, principalmente quando vejo alguns de nossos  representantes no Congresso Nacional falarem na redução da jornada de trabalho. Haja coração!

Em síntese, são poucos os que conhecem esse grande problema na economia do país, a não ser nós mesmos, que o sofremos na pele. Às vezes dá vontade de jogar a toalha, mas ainda sou otimista e espero que uma hora as coisas ainda virarão para melhor, com as reformas política, tributária, penal, sindical e outras.

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Perdendo sempre com a inflação

por Luis Borges 9 de setembro de 2014   Pensata

Tenho abordado com razoável frequência neste blog alguns aspectos que permeiam a inflação brasileira nos últimos cinco anos. Pode até parecer que estou sendo recorrente ou obsessivo, mas sei o quanto é difícil conviver com os altos níveis inflacionários e com mirabolantes planos de estabilização para combatê-los. Nesse sentido, realço a minha preocupação com criativos arranjos que alargam a amplitude de conceitos e acabam por negar a essência neles contida. Esse é o caso clássico da meta de inflação definida em 4,5% ao ano, estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional para ser atingida pelo Banco Central do Brasil.

Se conceitualmente meta é um objetivo, um alvo a ser atingido, com valores e prazos determinados, é que claro no caso da inflação só cabe ao governo atingir os 4,5% estabelecidos como meta. A criatividade começou quando a meta passou a ser chamada de centro da meta, que acrescido de 44,5% para mais, ganhou o nome de teto da meta e assim elasticamente seu valor chegou a 6,5%.

Quando o IBGE divulgou o Índice de Preços ao Consumidor Amplo-IPCA do mês de agosto, com o valor de 0,25%, a inflação dos últimos 12 meses acumulou alta de 6,51%, índice bem superior à meta de 4,5%.

O que vivemos na prática com o impacto desses números exige que prestemos mais atenção a eles e ao desenrolar da conjuntura e dos cenários que se desenham. A perda do poder aquisitivo se manifesta diariamente em nossos bolsos, como sentimos na padaria, no supermercado, no sacolão, no restaurante… E olha que a inflação é diferente para o idoso aposentado ou para quem está na ativa criando filhos. Também é imperioso saber que a negociação para a reposição de perdas salarias é anual e sua taxa de sucesso depende da mobilização política dos interessados. O que mesmo assim não garante o sucesso, apenas evidencia que as pessoas estão lutando por algo que perderam.

É notório também que o Governo Federal reduziu as tarifas de energia elétrica no ano passado mas ficou sem sustentabilidade diante da seca e agora cobra por ter lançado mão das caras usinas térmicas. Incrível como o planejamento e a gestão se fizeram ausentes.

Nesse momento também não dá para nos esquecermos que diversos preços administrados pelos governos federal, estaduais e municipais continuam sendo represados, para mitigar os índices inflacionários. Mas mas gasolina, óleo diesel, transportes coletivos, todos estão ávidos por um reequilíbrio de preços. Que isso vai sobrar para nós, não há dúvidas. Só resta saber quando, se nesse ou no próximo governo, com a atual ou a futura presidenta. Se a futura for a atual, será que trocar o ministro da Fazenda será uma mudança suficiente?

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Brincando no tromba-tromba

por Luis Borges 5 de setembro de 2014   Pensata

No final da manhã do sábado passado fiz um passeio por diversas ruas das regiões Leste, Centro e Sul de Belo Horizonte. Estava sentado no banco do carona, com o cinto de segurança devidamente afivelado, conforme determina o padrão de segurança. O que mais me chamou a atenção foi a enorme quantidade de pessoas, de idades variadas, simplesmente ignorando as regras do Código de Trânsito Brasileiro.

Uma situação bem típica foi a de veículos estacionados na via pública que, sem sinalização dos condutores, simplesmente partiam em disparada na pista, sem seta, sem verificação de espaço, nada.  Só restava, a quem vinha atrás, frear bruscamente e rezar para que os demais motoristas percebessem a manobra a tempo. Outros chegavam a encostar o para-choque no carro da frente, apesar do “mantenha distância”, enquanto outros buzinavam automaticamente tentando apressar o motorista que eles julgavam ser o causador de tudo.

Na terceira ocorrência semelhante, e diante dos quase acidentes, me lembrei dos carrinhos tromba-tromba ou bate-bate dos parques de diversões frequentados por nós e por nossos filhos. Se a lembrança ainda é lúdica e lá no ambiente fechado o choque era quase elástico em seu amortecimento, aqui no mundo real é bem diferente. Qualquer descuido pode levar ao engavetamento de veículos, enquanto as motocicletas percolam as vias como a água procurando brechas e os ônibus do transporte coletivo precisam cumprir a minguada escala de horários do sábado.

Outros fatos recorrentes foram as imprudências nas ultrapassagens, as irritantes fechadas e os “roda-duras” explícitos, típicos domingueiros de sábados. Enfim, foi muita gente circulando, dando a sensação que uma coisa é o tráfego de segunda a sexta e outra bem livre e diferente ocorre no fim de semana.

Encerrando o périplo pensei também na baixa presença de agentes de fiscalização do trânsito e nos transtornos causados às pessoas vítimas de acidentes, que vão desde o registro de um boletim de ocorrência na polícia, passando pelos oportunistas dessas ocasiões e pela expectativa de que a seguradora do veículo vai cumprir o que está combinado no contrato de letras miúdas, regiamente pago.

Pra quê tudo isso? Seria muita ansiedade sem gestão para chegar primeiro? Educação continua sendo a base de tudo, inclusive no trânsito de sábado, que depende também de nós e nossas atitudes.

Você se lembra da última vez em que dirigiu um carrinho desses? / Foto de Rodrigo Ghedin.

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Negócio perdido

por Luis Borges 26 de agosto de 2014   Pensata

A Constituição Brasileira diz que a saúde é um direito de todos e um dever do Estado. Enquanto isso não acontece na plenitude, cerca de 40 milhões de brasileiros se socorrem como podem nas diversas modalidades de planos de saúde suplementar, regulamentados e fiscalizados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

Acontece que nesse mercado surgem diversas e criativas modalidades na tentativa de ampliação dos ganhos com o negócio saúde. Veja o que aconteceu com um senhor de 78 anos de idade, beneficiário de um plano de saúde com ampla cobertura.

Após se consultar e fazer exames de apoio ao diagnóstico com um médico oftalmologista, profissional na casa de 40 anos de idade especializado em glaucoma e catarata, ele ouviu o resultado do diagnóstico e o prognóstico. O caso era de catarata madura, nos dois olhos, e a solução indicada foi a cirurgia com a implantação de lentes intraoculares. O senhor concordou com a solução proposta e começou a tomar as providências para a realização das cirurgias, já que deveria ser respeitado o intervalo de uma semana entre um olho e outro. Recebeu o pedido de risco cirúrgico e a guia para autorização dos procedimentos pelo seu plano de saúde.

O médico, mesmo sabedor de que o plano de saúde só cobre o custo de lentes nacionais, insistiu para que o senhor utilizasse lentes importadas. O profissional informou, ainda, que cada lente importada teria o custo de R$ 1.500,00 – ou seja 3 mil reais para os dois olhos – e que tudo poderia ser tratado diretamente com sua secretária. O senhor quis saber do médico se haveria alguma diferença expressiva de resultados caso fosse usada a lente nacional. Então o médico lhe disse que a diferença era pouca, apenas uma nuance em caso de raios ultravioletas incidindo num ângulo muito específico. O senhor disse que, em função de sua idade e pelo fato de estar no ócio com dignidade, optaria pelas lentes nacionais, cobertas pelo seu plano. Mesmo sem argumentos convincentes, o médico continuou insistindo na necessidade do material importado. Diante do impasse, o senhor cliente, que foi tratado como paciente, simplesmente desistiu do negócio, para espanto do médico. E foi tratar sua catarata com outro profissional.

Casos como esse estão se tornando mais comuns e raramente são denunciados aos planos de saúde ou à ANS. Sem o registro formal, se tornam um problema que “não existe”, pois não é notificado. Se ninguém quer “lutar pra valer”, veremos os direitos serem desrespeitados e saberemos de mais fatos semelhantes.

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E se vier a morte súbita?

por Luis Borges 17 de agosto de 2014   Pensata

De repente, não mais que de repente, algo que existia deixou de existir nesse plano da vida. O modo da ocorrência pode ser a queda de um avião, uma batida frontal entre veículos, balas perdidas em ambientes diversos ou mesmo o temido infarto agudo do miocárdio, dentre outras diversas possibilidades. O fato é que, diante das tragédias, muitas pessoas tentam observar e analisar o fenômeno ocorrido e o processo que o gerou. Muitas se perguntam “e se fosse comigo?” ou “e se fosse minha mãe?” ou outra pessoa próxima?

Na manhã seguinte ao acidente aéreo que matou o candidato à Presidência da República Eduardo Campos, além de sua equipe e dos tripulantes da aeronave, conversei com um amigo. Ele falou de seu sofrimento. Vieram instantaneamente à sua mente os acontecimentos que levaram à perda de seu irmão, há seis anos, na queda de uma aeronave de pequeno porte no estado do Mato Grosso. Ele também reiterou seu profundo pesar pelas perdas humanas, e realçou que o acontecido trouxe um ponto de inflexão no andamento do atual processo eleitoral brasileiro. Como o amigo completou recentemente os seus 60 anos de idade, aos quais chegarei brevemente, comecei a falar sobre outras questões que passaram pela minha cabeça. Se a vida é um risco, como fazer efetivamente a gestão dele, para prolongá-la mantendo um nível de qualidade aceitável?

O amigo pontuou que, diante da fragilidade humana e estando longe de sermos a fortaleza que imaginamos ser, o melhor seria buscar a serenidade, o equilíbrio, a harmonia, sempre conservando a energia. Aí eu perguntei como fazer isso, sem perder a ternura e a dignidade. Como sempre, e na correria contra o tempo, não concluímos a conversa. Mas ainda deu tempo de dizer ao amigo que eu gostaria de ter o merecimento de deixar esse plano como se fosse um passarinho voando e que, de repente, parasse de voar. Como se o espírito deixasse o corpo e continuasse seu caminho, para se eternizar ou renascer.

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