Já estamos em pleno horário de verão, que nessa edição terá 126 dias de duração e só acabará em 21 de fevereiro do ano que vem, por causa do Carnaval. Tudo isso na forma da lei, por meio de decreto de 1931 que impunha o horário em todo o território nacional. Após idas o horário de verão segue ininterrupto desde 1985, para aplicação nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste.
Conheço pouca gente que gosta dele. Mas independente de se gostar ou não, eu não vejo argumentos lastreados em fatos, dados e conhecimentos técnicos específicos que justifiquem a sua adoção. O argumento mais difundido e repetido exaustivamente pela mídia é que se evitaria um apagão no horário de pico da demanda no início da noite e que nesse horário se reduziria a demanda por energia elétrica em 4,5%. Além disso, repete-se também que a economia de energia global no período varia de 0,4% a 0,5%, que é ínfima diante de tantas variáveis envolvidas nesse cálculo e que são pouco explicitadas. Entretanto não existe transparência sobre o método usado para se chegar a esses números que, aliás, contrastam com outras informações do site do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Lá está dito que o período de pico por demanda de energia se dá no início da primavera.
Por outro lado, é importante lembrar que, no verão, os dias têm um período maior de insolação e que muitas vezes o uso de refrigeradores no período da tarde aumenta a demanda por energia. Quem quiser verificar os horários dos apagões durante os últimos 5 anos, verá que eles não escolhem necessariamente uma hora para acontecer, inclusive no verão. E é claro que as causas também são várias e vão muito além de um prosaico aumento momentâneo de demanda. Se no período atual estamos enfrentando uma longa estiagem e o ONS informa que os reservatórios estão nos mais baixos níveis históricos, por que não rever de maneira efetiva a matriz energética brasileira e estudar melhor a eficiência energética? Você já imaginou a energia solar sendo usada em larga escala para aquecer a água, se houver, dos chuveiros de nossas residências? Isso também ajudaria a derrubar ainda mais o argumento do ONS sobre a probabilidade de apagão elétrico no início da noite por excesso de demanda.
Também os impactos no organismo humano devido à mudança no fuso horário deveriam ser melhor estudados e mais difundidos entre as pessoas. Dormir mais tarde, ter insônia, acordar mais cedo e ter sonolência ao longo do dia são alguns dos fatos mais citados e reclamados e que devem trazer impactos no bem estar e na produtividade das pessoas. Mas, como é cada vez mais típico da cultura brasileira, as coisas são impostas na arrogância e na superficialidade. O horário de verão continua sendo desnecessário e fico na esperança de que os três projetos que tramitam na Câmara dos Deputados propondo o seu fim consigam quórum para aprovação, um dia. Antes tarde que muito tarde.