A revolução dos bichos

por Convidado 9 de março de 2015   Convidado

por Sérgio Marchetti

Hoje, após ouvir o noticiário matinal, senti uma enorme revolta e uma tristeza imensa com os rumos de nosso maltratado Brasil. Falaram, os jornalistas, de assassinatos, corrupção, impunidade… Reflitam: nesse momento os governantes nos devem satisfação sobre suas falcatruas e omissões, sobre o quadro vergonhoso e lastimável pintado com as tintas da desonestidade, do descaramento, da advocacia somente em causa própria… Até perdi o fôlego, desculpem-me. Mas diante de tanto absurdo, esses devedores, com ficha imunda, nos impõem aumentos de taxas e de impostos, para pagar os seus próprios desvios. Tudo aqui no Brasil é inusitado – mandam nele um ex-presidente, uma presidente e trinta e nove ministros. Estão lá porque nós pagamos com suor e, literalmente, com muito sangue, o salário e todos os auxílios que se dispuseram a ter direito.

Não por acaso, lembrei-me, agora, de um filme – Gladiador. Nele o que move e dá força aos escravizados é o orgulho e a honra. Mas aqui, no gigante adormecido em berço esplêndido, pelos fatos, quem governa tem força, porém, lhes falta honra. Mas nós, os explorados, devemos continuar sendo honrados. Não podemos permitir que nos roubem também a dignidade.

observacao_analise_revolucao_bichos_2

Capa de uma das edições do livro “A Revolução dos Bichos” / Fonte da imagem – Sagas Brasil 

Falei de filme e, agora, bateu-me à porta da mente a lembrança de um livro, A Revolução dos Bichos, de George Orwell. Faz tempo que o li, mas queria o autor, em sua essência, demonstrar a decepção com a Revolução Soviética e, até mesmo, com o socialismo que ele próprio defendia. Há, naqueles escritos, uma filosofia que gostaria de compartilhar com os leitores. Passados tantos anos que fiz a leitura, ficou-me o registro de que a história se passa na zona rural e, como em muitas fazendas, os proprietários possuíam vacas, cavalos, galinhas, ovelhas e outros animais domésticos. Um dia aqueles animais se reuniram e, comandados por um porco, chegaram à conclusão de que estavam sendo explorados pelos seus donos. As galinhas achavam um absurdo doarem seus ovos e ainda serem abatidas para alimentar os moradores da fazenda. O cavalo e o burro, da mesma forma, se sentiam escravizados num serviço pesado. As ovelhas doavam o leite e a lã. As vacas… talvez tossissem. O que tenho certeza é que o lucro era apenas dos donos da fazenda. “A colheita é comum, mas o capinar é sozinho” (Guimarães Rosa). Uns trabalhavam e outros ganhavam. Surgiu então a ideia da mudança. Os animais tomaram a fazenda.

Logo no início do novo regime, o porco líder, muito falante e, parecendo ser verdadeiro, prometeu o fim dos abusos e da exploração dos animais trabalhadores. Dizia que haveria justiça e vida nova para todos. Mas não houve nada disso. O porco ficou deslumbrado com o poder e não cumpriu as promessas, sendo incoerente com tudo que pregou. Foi corrompido. Rodeou-se de outros animais, concedendo-lhes vantagens nada honestas e, para decepção de tantos seguidores, seus gastos, abusos e desvios foram infinitamente superiores aos de seus antigos donos.

Compreendo perfeitamente a decepção de Orwell. E acredito que muitos leitores compreendam-no também.

Bem, depois destas reflexões, preciso recuperar as boas energias. E, para não ter que sofrer assistindo a outro noticiário, vou me distrair com um filme bem antigo e leve… Ali Babá e os Quarenta Ladrões.

Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui Licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br .

  Comentários
 

O desmonte

por Luis Borges 4 de março de 2015   Pensata

Era o dia seguinte à missa de sétimo dia. Por volta das 11 da manhã um pequeno caminhão baú parou em frente a uma casa no bairro Sagrada Família, em Belo Horizonte. Estava lá para retirar e transportar o mobiliário da casa onde uma psicopedagoga, morta aos 68 anos, continuou morando após cuidar dos pais enquanto eles estiveram no plano terrestre.

A autorização foi dada pela filha mais velha, após convencer suas duas irmãs de que não dava mais para resistir às pressões. Três dos cinco irmãos da psicopedagoga queriam receber sua fração da única herança deixada por seus pais. Eles, inclusive, já tinham entrado na justiça para resolver a situação, enquanto a irmã agonizava na UTI de um hospital, enfrentando uma doença pulmonar obstrutiva crônica.

A morte relativamente rápida da psicopedagoga surpreendeu a muitos, mas principalmente aos três interessados na partilha, que nos últimos tempos não se relacionavam mais com a irmã.

O velório, a cerimônia de sepultamento e as palavras do sacerdote na homilia da missa de sétimo dia, falando na dor da perda e no luto a ser vivido, não conseguiram esconder o desconforto dos envolvidos na disputa. Nem esse desconforto impediu que o desmonte da casa se iniciasse no dia seguinte.

Agora as três herdeiras da falecida procuraram a orientação de um operador do direito, para também garantir as suas partes no imóvel. Querem guardar na memória as boas lembranças de tudo o que viveram naquela casa junto com a mãe, na crença de que não se apequenarão numa disputa patrimonial. A preferência foi pela paz interior, ainda que nem todos os envolvidos pensem assim.

  Comentários
 

Bolinho do mal

por Luis Borges 24 de fevereiro de 2015   Gestão em pauta

Carnaval também é tempo de empreender. Com essa ideia em mente, uma arquiteta de vinte e poucos anos resolveu testar a venda de um novo produto. Depois de identificar qual necessidade poderia ser atendida, quem tinha essa necessidade e de que forma ela poderia ser atendida, ela planejou capital inicial, capital de giro e colocou o produto na rua.

A moça decidiu investir em alimentação, oferecendo bolinhos doces para os carentes de glicose. Eram três sabores – brigadeiro, doce de leite e queijadinha – vendidos nos blocos de rua que desfilaram nos bairros Floresta, Santa Tereza e Santa Efigênia, em Belo Horizonte. Eles foram decorados com enfeites inspirados em vilões de quadrinhos e desenhos animados. Por isso, a placa indicava bolinhos do mal, a 4 reais cada.

observacao_analise_bolinho_mal

Foto: Divulgação

No primeiro dia, assim que chegou ao bloco com o cartaz, a moça foi abordada por um interessado. Ele perguntou “na lata” – esse bolinho tem maconha? Depois de 5 interessados no “bolinho batizado”, a vendedora resolveu dobrar a placa e deixar à vista apenas a palavra “bolinho”. Até o fim do bloco, foram 20 pessoas fazendo a mesma pergunta. Entre elas, uma mulher fantasiada de policial, munida de um cassetete e algemas, emulando uma abordagem e perguntando se os bolinhos tinham “algo ilícito”.

Para os dias seguintes, a lição foi aprendida – anunciar apenas “bolinhos”. Mesmo assim, as procura persistiu. Na segunda-feira a chuva permitiu apenas 1 hora de vendas, suficientes para duas pessoas perguntarem sobre a cannabis. Na terça foram 15 pessoas.

O balanço da folia apontou vendas de cerca de 80% do estoque. Ficou a reflexão sobre a quantidade de pessoas procurando o que a empreendedora não tinha e a dúvida sobre se realmente é esse o nicho a ser focado. Uma certeza é definitiva, a de que é preciso muita transpiração para implementar a inspiração.

E você, caro leitor, também está à procura de algo próprio ou será melhor continuar contando o tempo na zona de conforto do seu atual e desconfortável trabalho? Sei que não é fácil tomar nem implementar essa decisão mas sei também que as coisas fáceis já foram feitas e que para nós ficaram só as difíceis.

  Comentários
 

Cuide bem de você também

por Luis Borges 19 de fevereiro de 2015   Pensata

Tenho a crença de que tudo começa com a gente. Por isso, devemos gerenciar a nossa vida para manter o que merece ser mantido e melhorar o que precisa ser melhorado. A partir daí teremos condições de contribuir, dentro de nossas possibilidades reais, com as pessoas de nossa interação, começando pelos que estão mais próximos. Essa proximidade pode começar pela família, a partir do cônjuge, filhos, pais, avós, tios, sogros, e pelos amigos, que cabem nos dedos de uma ou duas mãos.

Esse critério não exclui nossa solidariedade com outras pessoas, que serão contempladas de formas diferentes. Mas, hoje, o foco é para os casos em que a pessoa se preocupa o tempo todo com os familiares e se esquece de si mesma. As desculpas para justificar a postergação e o não investimento em si mesmo são as mais esfarrapadas. E deixam a sensação de quase imortalidade e de que as coisas só acontecem com os outros.

Na semana passada soube do caso de dois irmãos que cuidavam com dedicação quase exclusiva da mãe nonagenária e de um irmão sexagenário. Não é que um dos irmãos cuidadores, já septuagenário, começou a apresentar alguns sinais de falhas no coração? Após alguma relutância o jeito foi procurar um médico, que sugeriu determinados procedimentos para monitorar o ritmo cardíaco. De repente veio uma crise, a internação hospitalar, o encaminhamento para a unidade de terapia intensiva. Mesmo assim, ele não parava de se preocupar com o estado de saúde da mãe. Quatro dias depois veio o que ninguém esperava ou imaginava para o momento – a mudança de plano espiritual aconteceu.

Outro caso fiquei sabendo ontem e também nos ensina que devemos cuidar mais de nós para termos mais condições de cuidar dos outros. O protagonista foi um sobrinho de 50 anos de idade que cuida legalmente de um tio de 76 anos. Este mora no apartamento de quatro quartos do sobrinho, seu herdeiro que é casado e tem dois filhos. Todos os dias a pressão arterial do tio é aferida e anotada, mas sempre na expectativa de que esteja em 12 por 8. Quando surge um valor de 14 por 9 o sobrinho já começa a ficar preocupado e a pensar no aumento da dosagem de medicamentos. E assim ele segue em suas preocupações ao verificar os índices de indicadores como glicemia, colesterol, ácido úrico, triglicérides…

Ultimamente o sobrinho começou a sentir algumas dores de cabeça, tonteiras e uma sede acima do normal, tanto em dias quentes quanto nos raros chuvosos. Se queixou com a esposa, que foi direta – “vá ao cardiologista”. Depois de relutar, resolveu consultar o especialista. O resultado foi surpreendente. No momento da consulta sua pressão arterial estava em 18 por 12. Um exame de sangue posteriormente mostrou que a glicemia em jejum chegava a 192 mg/dl, quase o dobro do valor máximo tolerado pelo padrão brasileiro. Com esses resultados, o sobrinho despertou para seus próprios problemas, cujas soluções passaram a lhe exigir mudanças de atitudes e disciplina para ficar focado no tratamento necessário. Finalmente o sobrinho concluiu que o tio estava muito melhor que o seu cuidador.

Com esses exemplos, te convido a uma reflexão. Você conhece pessoas assim? E você, está agindo dessa forma? É preciso mudar enquanto há tempo para que as histórias não se repitam.

  Comentários
 

Problemas repetentes na volta às aulas

por Luis Borges 10 de fevereiro de 2015   Pensata

Aconteceu numa segunda-feira, dia 5 de fevereiro de 1962. Foi quando comecei meus estudos no Grupo Escolar Pio XII, na cidade eterna de Araxá, que é também a capital secreta do mundo. A escola pertencia à rede pública estadual, o curso primário durava quatro anos e eu ingressei nele com a idade regulamentar de 7 anos. Eu sonhara muito com esse dia, o que só fazia aumentar as minhas expectativas.

A partir daí, comecei a ter minhas percepções sobre a escola. Logo fiquei sabendo que, no meu turno da tarde, existia uma turma que tinha o nome de “1º ano repetente”. Segundo o Dicionário Online de Português, repetente é “aluno(a) que volta a frequentar as aulas e estudar as mesmas matérias que já estudou, especialmente quando reprovado em exame”. Hoje, por razões diferentes, a escola privada e a pública não querem que os alunos se tornem repetentes.

E eis que estamos na volta às aulas deste fevereiro de 2015, reafirmando a minha crença de que a educação é a base de tudo, vinda da família e passando pelos diversos níveis das escolas do sistema educacional brasileiro e internacional. A partir dessa premissa, fiquei refletindo e pensando em ações que poderiam auxiliar na solução dos problemas educacionais que se repetem ano após ano. Posso estar sendo recorrente ao falar nos problemas da educação mas, se eles não forem enfrentados, nunca serão resolvidos.

observacao_e_analise_problemas_repetentes_volta_as_aulas

O primeiro ponto é fazer uma avaliação do que já foi feito, com seus respectivos resultados, e verificar o que ainda precisa ser melhorado. Nesse sentido sugiro, num segundo ponto, a classificação dos problemas pelo menos em dois níveis – os que dependem só de nós e os que dependem de outras pessoas nas diversas instâncias dos processos interfuncionais. Esses, no mínimo, poderão ser objeto de reivindicações e negociações, mas jamais poderão ser esquecidos ou deixados de lado indefinidamente. Um terceiro ponto pode ser o clareamento do discurso, para focar na definição das características do que é uma escola de qualidade, sabendo-se que quem dá o desafio também deve dar as condições para que ele seja vencido. Aqui vale discutir fundamentos, aplicações e resultados, sempre incentivando a curiosidade, a observação, a análise e a criatividade para a solução de problemas. Um quarto ponto é a profissionalização da atividade do professor e das funções técnico-administrativas, essenciais para a viabilização da escola. Alie-se a isso uma infraestrutura adequada, uma gestão participativa caracterizada pela liderança e não pelo comando, buscando criar um clima organizacional favorável ao crescimento na certeza de que não existe substituto para o conhecimento.

Um quinto e último ponto de minha parte é a reavaliação permanente dos métodos de ensino. Diante da competição com os diversos dispositivos tecnológicos existentes, eles devem ter a capacidade de prender a atenção dos alunos e contribuir na preparação de todos para encarar sem pânico os desafios que a vida coloca para todos nós.

Espero, caro leitor, seu comentário com sua reflexão sobre os pontos propostos e a inclusão de outros que você julgar relevantes. Para saber falar é preciso também saber ouvir.

  Comentários
 

Difícil almoçar sem celular

por Luis Borges 5 de fevereiro de 2015   Pensata

Um engenheiro químico, professor universitário aposentado, 58 anos de idade, convidou doze amigos e amigas para um almoço de confraternização de início de ano. O dia escolhido foi o segundo sábado de janeiro e o local, a sua aprazível casa em um condomínio fechado situado na grande Belo Horizonte, lá para os lados da Serra da Moeda.

Todos os convidados, cuja faixa etária varia entre 50 e 60 anos, confirmaram a presença em tempo hábil, conhecedores que são do sistema do amigo anfitrião.

E assim, no dia marcado, os convidados começaram a chegar a partir das 13h e a participar do aperitivo após os cumprimentos da chegada.  Satisfeito com o momento e com a movimentação que crescia, o professor às vezes se mostrava efusivo, mas também percebia que todos chegavam armados com seus celulares, esbanjando tecnologia e muita capacidade de registrar a instantaneidade de tudo.

Finalmente, às 14h30, em meio a muita conversa, mensagens enviadas e muitos dispositivos tecnológicos esbanjando suas sonoridades, foi dado o primeiro aviso de que o almoço teria início.

Mesa posta, comida árabe no cardápio, as pessoas foram se acomodando e fotografando tudo, enquanto dois retardatários finalmente também se sentaram.  De repente o anfitrião olhou para a mesa, cujas imagens já estavam nas redes sociais, e percebeu que todos os convidados colocaram seus celulares à mesa, bem ao lado do prato e, em alguns casos, até encostando-se nos talheres.

Indignado e sempre fiel às suas crenças e valores, o anfitrião pediu um instante da atenção de todos e foi direto ao ponto. Pediu que todos retirassem seus celulares da mesa e os colocassem na sala ao lado. Arrematou sua fala pedindo que todos lavassem as mãos antes de retornarem aos seus lugares. Seguiu-se um burburinho de surpresa e o acatamento da solicitação feita.

O almoço aconteceu com razoável ligeireza, alguns sussurros, poucas conversas. Ainda assim alguns participantes se levantaram, até mais de uma vez, para ir à sala ao lado atender seus celulares, que não estavam no modo silencioso. Por volta das 15h30 foi servida a sobremesa, da qual ninguém gosta de abrir mão, e um cafezinho encerrou o evento. Às 16h30 todos já haviam partido, agarrados a seus celulares, agradecendo pelo almoço, sendo que a maioria não fez alusão a um futuro encontro. Apenas três amigos passaram recibo, se desculpando por terem colocado seus celulares à mesa, e prometeram se esforçar para não repetir o ato numa próxima oportunidade.

Fica o convite à reflexão. O que você tem observado sobre o uso de celulares em todas as ocasiões e lugares? Que análise você faz sobre as pessoas, hoje inseparáveis de seus dispositivos tecnológicos, sempre alimentando suas redes e grupos sociais? Você faz parte desse grupo? Ou será que vai sobrar apenas um cutucão no anfitrião, alegando que ele foi muito radical ao não fazer vista grossa para a situação vivida em sua própria casa?

  Comentário
 

Vivemos na era da incerteza, que se caracteriza pelas mudanças permanentes, como que a nos dizer que um pouco de tudo ou de nada pode acontecer a qualquer momento. Nenhuma certeza é definitiva e tudo é relativo em função dos referenciais que temos. Um grande suporte para ajudar no nosso posicionamento perante tantos desafios está no conhecimento, que aparece para nós por diversos meios e formas. Numa sequência bem lógica podemos dizer que a partir de fatos e dados obtemos informações, que, se bem tratadas, virarão conhecimento. É com ele que tomaremos decisões que nortearão nossos posicionamentos e reposicionamentos em função das necessidades e expectativas que nos desafiam.

Aqui surge um divisor mostrando que uma coisa é o que depende só de nós e cujo processo dominamos e sobre ele temos autoridade. Outra coisa, e isso é o mais difícil, está naquilo que não controlamos e que dependemos de outros. Nesse caso, nos resta acompanhar o que está acontecendo mas nos impacta em diferentes intensidades.

No Brasil que se diz republicano e plural  existe um discurso em nome da transparência nas relações da sociedade, mas a prática ainda mostra distância entre a intenção e o gesto. A Lei de Acesso à Informação veio em boa hora, mas ainda não é respeitada plenamente e às vezes é driblada pela pouca facilidade existente para se encontrar o que está sendo procurado.  Isso nos dá a sensação de algo que está escondidinho e reduz a confiabilidade da fonte consultada.

Imaginemos como muitos de nós estamos desnorteados nesse longo período de seca e escassez de água. Qual seria  a real situação da água disponível para o abastecimento público em Belo Horizonte e região metropolitana? E nos demais municípios do estado? Somente na quinta 22/01, a Copasa começou a abrir a lata e a mostrar efetivamente os indicadores da real situação do momento. Espero que isso passe a ser uma prática permanente e respeitosa aos direitos de cidadania da população. Isso vale também para os Sistemas Autônomos de Água e Esgotos dos demais municípios.

O benefício da dúvida nos permite perguntar: será que a situação de Belo Horizonte já apresenta alguma semelhança com a de São Paulo?  A expressão, “usar o volume morto da água de um sistema” já está ganhando destaque, mas é preciso dar um norte para todos, inclusive para quem já começou estocar água mineral em casa.

observacao_e_analise_falta_de_transparencia

Toda chuva, hoje, está sendo comemorada. / Foto: Marina Borges

No caso da energia elétrica, como não acreditar em novos apagões diante dos níveis baixíssimos da maior parte dos reservatórios e dos picos de consumo ao longo das tardes no Sudeste? São confiáveis as informações passadas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico?

Como se posicionar em função das projeções dos Institutos de Meteorologia?

O instante exige transparência, clareza e confiabilidade das informações que devem ser disponibilizadas na sua plenitude e comunicadas de maneira simples e compreensível para todos os envolvidos e interessados. Atender às necessidades e expectativas das pessoas significa ter e praticar a qualidade na gestão da informação. E isso não dá para terceirizar ou simplesmente fugir da responsabilidade. Problema é para ser resolvido e os programas apresentados nas recentes eleições devem ser cobrados o tempo todo. Afinal de contas quem herda o cargo, herda também os encargos.

  Comentários
 

O social no velório

por Luis Borges 16 de janeiro de 2015   Pensata

Segundo a definição do Dicionário Informalsocial é:

aquilo que pressupõe relações, sociabilidade, abarcando relacionamentos, sentimentos, modos de ser, de estar, de agir e de se manifestar. Aplica-se mais às interações humanas significativas para os sujeitos.

Ainda segundo a mesma fonte, velório é:

uma cerimônia fúnebre em que o caixão do falecido é posto em exposição pública para permitir que parentes, amigos e outros interessados possam honrar a memória do defunto antes do sepultamento.

Busquei essas definições após ouvir o depoimento de um amigo, que ficou estarrecido com as cenas que presenciou na última hora de um velório. Ele chegou ao Cemitério Parque por volta das 16h da última terça-feira, acompanhando uma amiga que foi ao local se despedir de um colega de trabalho de 58 anos de idade cuja morte foi causada por infarto agudo do miocárdio. Naquele momento estavam no local aproximadamente 60 pessoas, entre elas a ex-esposa, engenheira civil, e os dois filhos do casal de outrora. A urna estava lacrada atendendo a um desejo do morto, que não queria que seu corpo inerte fosse visto nessa ocasião.

Ao longo do salão e no hall de entrada parentes e amigos conversavam animadamente, dando a sensação de que o morto foi apenas o pretexto para aquele encontro e não para a dolorida homenagem póstuma. Muitos recebiam e outros enviavam mensagens pelo celular e, assim, todos os grupos se mantinham atualizados pelas redes também sociais.

Próximo à porta de entrada, um senhor que dizia ser um dos 14 irmãos do morto, já que seu pai se casara três vezes, falava animadamente de sua fazenda em Lagoa Dourada e enaltecia a falta de chuvas que está facilitando o acesso ao local. Do lado oposto, um pequeno grupo falava do preenchimento de cargos no segundo escalão do Governo de Minas Gerais enquanto, logo depois da entrada, três pessoas discutiam animadamente questões de início de temporada ligadas aos times de futebol de Cruzeiro, Atlético e América.

É claro que enquanto o tempo passava ainda chegavam alguns retardatários e lá fora a turma do tabaco industrializado cuidava do oficio enquanto outros davam um pulo até a lanchonete.

Enquanto a sensação térmica realçava o intenso calor desse início de ano e as animadas conversas prosseguiam, muitos sequer perceberam que a hora final chegou. Alguns se justificariam depois alegando que não houve nenhuma cerimônia religiosa. Explica, mas não justifica, pois os operários do cemitério fizeram boa movimentação ao colocar a urna e as coroas de flores no carrinho fúnebre, que partiu pontualmente na hora marcada rumo ao jazigo.

Quando nada, segundo meu amigo, foi engraçado ver a reação das pessoas ao perceber, com a redução do alarido, que o cortejo já havia partido. Os últimos retardatários deixaram o local no momento em que o grupo da limpeza já começava a trabalhar no local. Um deles disse que o próximo “cliente” chegaria às 18h.

Meu amigo, estarrecido, não acompanhou o cortejo devido a um desconforto nos joelhos e aguardou sua amiga no hall de entrada. Após o seu relato fiquei imaginando como será o ambiente do meu velório e se haverá muita água no rio São Francisco para receber as minhas cinzas na região de Bom Despacho, onde ele cruza a BR-262.

E você já parou para pensar no seu caso? Em função do que você já semeou, será que é possível estimar quantas pessoas comparecerão à sua cerimônia de despedida?

  4 Comentários
 

Calor e contas

por Luis Borges 6 de janeiro de 2015   Pensata

Janeiro chegou com temperaturas acima da média de anos anteriores e chuvas bem aquém da série histórica. É praticamente um prolongamento de dezembro, marcado por um grande desconforto térmico, que inclusive atrapalha o sono e faz com que a gente se sinta um mulambo no início da manhã.

Desconforto também veio da situação econômica. Passamos por diversos graus de gastança no fim do ano e as contas do verão já estão anunciadas. Nosso “Feliz Ano Novo” novo foi embalado pela perda de poder aquisitivo diante da inflação bem acima da meta, pelo crescimento do PIB ligeiramente acima de zero e pela certeza de quais ombros vão suportar o ajuste fiscal das contas públicas – os nossos.

Fui tentar fazer uma abstração em relação a essas coisas que ficam buzinando na cabeça da gente me deparei com outras bombas de calor, irradiando gastos e gastos. Com o início do ano veio o reajuste do salário mínimo, que indexa alguns pagamentos e serve de justificativa pra outros aumentos. A tarifa de ônibus foi prontamente reajustada, levando em conta a inflação e outras coisinhas mais.

É início de ano e o orçamento doméstico está em confecção. Me propus um exercício: partindo da premissa de que a renda do trabalho será presente ao longo do ano, quais contas também serão obrigatórias? Há uma pequena lista. Em janeiro temos o IPTU, o IPVA, a taxa de lixo, uma parcela da escola, o material escolar. Algumas dessas podem ser parceladas. O IPTU em 11 vezes, o IPVA em três, a escola aparece regularmente em doze meses. As contas básicas estão ali – água, energia elétrica, gás, telefonia, internet, plano de saúde, TV a cabo, seguros, condomínio, auxiliar doméstico. Outras variam de acordo com o dono do orçamento – segurança eletrônica, lavador e guardador de carro, faixa azul, tarifas bancárias, juros do crédito rotativo, dízimo, contribuições para entidades assistenciais, anuidades de associações, mensalidades de clubes… a lista é quase interminável.

Ainda que um ou outro desses itens não entre no seu orçamento, imagine as contas decorrentes de outros gastos que são variáveis, indo da alimentação ao medicamento, do combustível à diversão.

Será que estou sendo muito preciosista e detalhista? Ou essa conta não deve ser fechada, mas apenas gerenciada? O cansaço já foi gerado e, quando nada, ele é preocupante. O que fazer?  Como fazer? Ou, simplesmente, deixar a vida passar? Esse pequeno exercício tem o mérito de ajudar a mostrar onde estamos colocando o nosso salário. Que não é renda, mas paga imposto também.

  Comentários
 

O que não fazer em 2015

por Luis Borges 4 de janeiro de 2015   Pensata

Quarto dia do ano, 361 para a próxima virada. Você definiu metas para este ano? Conheço pessoas que planejam tudo tim-tim por tim-tim. E também quem não planeja nada, fica no “deixa a vida me levar”.

Acredito que gestão é o que todos precisam, mas nem todos sabem que precisam. Por isso, minha sugestão é começar o ano com um mínimo de planejamento. Começar pequeno, pensando grande e ganhando velocidade com aceleração controlada. Algumas dessas palavras, inclusive, fazem parte de um mantra indiano que tenta dar força às pessoas, sem assustá-las com a dosagem.

Sugiro que você comece pensando em apenas uma política, ou seja, uma orientação geral, para balizar seu posicionamento. Uma das premissas para essa proposição é a de que conhecer o problema a partir de sua observação e análise pode ser metade de sua solução.

Uma segunda sugestão é que você pense no que não fazer, principalmente se você tiver dificuldades de definir pelo outro lado, o que fazer. Decidindo o que não fazer você já traça um excelente início de caminhada.

No fim de 2014 ouvi várias pessoas, de diversas idades e profissões. Perguntei “na lata” – que atitudes e posicionamentos você não se dispõe a repetir em 2015? Insisti para que citassem apenas uma. A seguir, uma pequena amostra do universo abordado.

 

Valorizar os patrulheiros ideológicos ou os proprietários da verdade ancorados no politicamente correto. Cientista Político, 61 anos

Rolar dívida no cartão de crédito rotativo pagando juros de 15% ao mês. Técnico de Enfermagem, 40 anos

Acreditar que o governo de qualquer partido ou coalizão política vai mudar a nossa realidade. Consultor em Gestão de negócios, 52 anos

Protelar decisões sobre minhas questões pessoais. Professora do Ensino Médio, 55 anos

Continuar trabalhando na minha atual profissão. Contadora, 51 anos

Negar a mão a quem me pedir ajuda. Engenheiro e empresário, 70 anos

Engolir sapo nas relações familiares para evitar trombadas. Taxista, 50 anos

Deixar de cuidar da saúde. Engenheiro Mecânico, 30 anos

Casar novamente após 5 tentativas e igual número de demissões. Taxista, 55 anos

Fazer tempestade em copo d’água, sofrer com coisa pouca. Cuidador de Idosos, 33 anos

Ouvir silenciosamente sentenças médicas sem questioná-las. Paisagista, 42 anos

Pensar que meus problemas começarão a ser solucionados a partir das pessoas da família que me rodeiam. Professora de Geografia, 58 anos

Ter mais de 30 pares de sapato ao longo do ano. Relações Públicas, 31 anos

Deixar que o favoritismo que o chefe tem por um colega de trabalho invada minha alma e me empurre para um medicamento tarja preta. Nutricionista, 26 anos

Me embriagar na festa corporativa, para evitar o vexame que protagonizei ao colocar as mágoas para fora. Analista de TI, 39 anos

Viver na ansiedade para encontrar um trabalho ideal. Assistente Social, 36 anos

Ter medo de meta e de avaliação de desempenho. Advogado, 55 anos

Quero saber: o que você pretende não fazer neste 2015? Compartilhe nos comentários.

  2 Comentários