Horário de verão outra vez

por Luis Borges 17 de outubro de 2016   Pensata

Confesso definitivamente, sem incentivo de qualquer natureza nem por delação premiada, que não gosto do horário de verão que vigora nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil durante quatro meses do ano. Ontem, 16 de outubro, foi um dia extremamente penoso, apesar de ser um domingo. Momento de iniciar as forçosas adaptações que terão que ser desadaptadas ou readaptadas a partir do terceiro domingo do mês de fevereiro do próximo ano. Nesse “vai dar valsa” inicial tenho muitas dificuldades com os horários para a alimentação, principalmente para o almoço. Também demoro mais para dormir e acabo conseguindo meu intento quando já se aproxima a primeira hora do então novo dia. A hora de acordar também sofre uma repercussão em cascata e tenho que forçar mais rapidamente o despertar no novo fuso horário. A razão é muito simples. Tudo continua funcionando nos mesmos horários de sempre conforme predomina da cultura, embora o organismo humano tenha que se reposicionar com a pancada determinada pelo adiantamento de uma hora.

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É claro que aos poucos, e na marra, eu também acabo me acostumando, mas passo o restante da primavera e a maior parte do verão falando e reclamando do novo horário. Como penso que não existe mal que dure para sempre, de repente fico aliviado e feliz quando os meios de comunicação prenunciam o fim do horário de verão e a necessidade de atrasar os relógios em uma hora. Nessa ocasião tenho a sensação de que o crédito da hora anteriormente debitada acelera a minha readaptação ao fuso horário que não deveria ter sido alterado.

Apesar de toda a minha contrariedade, também confesso que consigo conviver de maneira civilizada e sem polarização ou maniqueísmo com todas aquelas pessoas que gostam e são a favor do horário de verão, inclusive com alguns mais fanáticos que chegam a falar numa duração de 6 meses para o famigerado. Nesse caso então melhor seria falar em horário de primavera-verão.

Alguém poderia me perguntar se tenho esperança de que um dia, quem sabe poderia haver uma mudança na legislação que rege o assunto. Apesar de ser um esperançoso realista e pragmático ainda não consigo ver no horizonte o dia em que o presidente da Câmara dos Deputados conseguirá colocar na pauta de votações em plenário um dos 3 projetos que lá estão adormecidos com a proposta de fim do horário de verão.

Já que é assim, pelo menos posso dizer que na minha contabilidade faltam apenas – e ainda – 118 dias para o fim do desnecessário horário de verão.

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Só incertezas

por Luis Borges 5 de outubro de 2016   Pensata

Se “a vida é um risco”, como diz um antigo ditado popular, o que e como fazer para atenuar as probabilidades de acontecer o pior?

Faço essa pergunta a propósito de um recente acontecimento ligado a uma questão de saúde envolvendo uma pessoa muito querida em meu viver. Penso que isto pode acontecer com qualquer pessoa, mas o impacto para quem está no dia a dia é muito maior, justamente por se tratar de quem participa e vive numa sincera e duradoura relação de amizade. Tudo vai muito além da natural solidariedade humana.

O fato a que me refiro aconteceu na madrugada da segunda-feira 19 de setembro, quando a jovem senhora sentiu-se mal, mas não chamou ou não conseguiu chamar alguém àquela hora. Ainda bem que pouco depois a família percebeu a situação. Buscou-se um rápido atendimento hospitalar, não sem as dificuldades e obstáculos do nosso sistema de saúde. Nesse caso foi mais rápido conseguir um atendimento pelo SUS Fácil do que pelo plano de saúde, com suas barreiras e limites técnicos.

Ao longo daquele dia os familiares e amigos mais próximos foram se inteirando das informações e, é claro, também houve atualizações nas redes sociais. No início daquela tarde o diagnóstico apresentado aos familiares foi do temido Acidente Vascular Cerebral (AVC) Hemorrágico. O prognóstico veio carregado de muitas possibilidades e condicionantes dentro de uma linguagem técnica, o que só fez aumentar as incertezas e angústias diante de um tempo que passou a se escoar lentamente. Expressões como “o cérebro está inchado” ou “é preciso verificar a extensão da lesão” ou ainda “o estado geral tem sua criticidade dentro de uma estabilidade” entre tantas outras passaram a fazer parte do cotidiano.

Decorridos vários dias do acontecimento, persistiam apenas incertezas, enquanto a jovem senhora prosseguia sedada, com o organismo buscando a seu modo absorver o que fosse possível até que chegasse o momento de outras intervenções.

Lá no fundo do coração, continuavam prevalecendo só incertezas apesar do realismo esperançoso, mas como é doído! Ao mesmo tempo, é o que está colocado para todos nós que partilhamos dessa amizade.

Escrevi os parágrafos acima no fim de setembro. Infelizmente, no dia 1 de outubro, Ruth Silva Magela de Ávila veio a óbito, para tristeza de todos nós que a perdemos.

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E agora, prefeitos?

por Luis Borges 3 de outubro de 2016   Pensata

A maioria dos municípios brasileiros já elegeu seus prefeitos. Para alguns, ainda há o segundo turno da disputa, que será definido apenas em 30 de outubro. Com a nova modalidade de eleições, de campanha mais curta e sem o dinheiro outrora doado pelas empresas privadas, cada um se mostrou como pôde e o resultado é o que está aí.

Mas e agora, prefeitos? O que fazer e como fazer para solucionar todos os problemas dos municípios?Faltando três meses para a posse e início do mandato de quatro anos, imagino que os novos prefeitos passaram a conhecer esses problemas pelo menos a partir de julho e que os prefeitos reeleitos já os conhecem de sobra. Muitos também já devem estar dizendo que o município está quebrado, que a crise econômica ajudou a arrecadação a despencar e que os gastos obrigatórios continuam sempre crescentes. É importante lembrar que todos já estão preocupados com o pagamento das dívidas eleitorais, o preenchimento dos cargos de recrutamento amplo, a formação de uma coalisão partidária para a sustentação política na Câmara de Vereadores e, quem sabe, com algum tipo de sistema para gerenciar os negócios do município.

Fonte da imagem: site do TSE

Fonte da imagem: site do TSE

O que esperar dos eleitos? Sinceramente eu esperaria também que o prefeito seja uma liderança de tal porte que a população tenha nele uma referência rumo ao crescimento e desenvolvimento do município, ainda que a estratégia para o momento seja a de sobrevivência. Se o conflito é a essência da política caberá às lideranças, entre elas o prefeito, encontrar as soluções para os problemas existentes ou que forem surgindo. É preciso também que todos estejam atentos para não permitir que a chegada ou continuidade no poder seja apenas encarada como parte de um projeto de poder.

Também é inadmissível permitir a acomodação de um prefeito tendo como desculpa que a crise econômica está muito brava, que o crescimento econômico ainda vai demorar um pouco para voltar ou que tudo depende só da aprovação do teto dos gastos públicos, da Reforma Previdenciária, Trabalhista, Política, Tributária… Não dá para se esquecer que, por piores que sejam algumas propostas apresentadas ao eleitor até a semana passada, terminada a eleição é hora de mostrar como tudo será feito. Se o blefe foi grande ou se o programa no papel aceitou de tudo, ainda dá tempo de trabalhar com planejamento, com recursos finitos e também com simplificação de processos, combate ao desperdício, qualidade, produtividade e avaliação de resultados, por exemplo.

Finalmente espero que o prefeito saiba que as coisas fáceis já foram feitas e que para ele só ficaram as difíceis, assim como para todos nós que almejamos viver dignamente e dentro das regras de uma democracia participativa. E nunca poderemos nos esquecer de que a gestão é fundamental para a solução dos problemas, ainda que eles sejam priorizados em função dos recursos existentes, mas com a necessária e obrigatória transparência.

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Se convidado for

por Luis Borges 6 de setembro de 2016   Pensata

A expressão “santo de casa não faz milagre” é antiga, mas continua extremamente atual e dando sinais de vitalidade e perenidade. A vida em família é rica em exemplos que provam isso e vou destacar apenas um, que me foi dado por pessoas diferentes.

É comum que os membros da família tentem se ajudar uns aos outros, dando sugestões para resolver problemas, por exemplo. Às vezes as sugestões são aceitas de bom grado. Mas em outros casos, os conselhos e orientações que um filho recebe do pai, por exemplo, são recebidos com reticência ou displicência. Mas basta uma pessoa externa à família fazer a mesma sugestão para que os conselhos sejam aceitos e acatados com alegria.

É uma situação complexa, pois a pessoa que enfrenta o problema nem sempre quer ou aceita a opinião da família. E, por outro lado, quem dá sua opinião se sente desprestigiado, principalmente quando tem vivência e conhecimentos para auxiliar na resolução do problema. Em alguns casos, os embates só tiram as energias e pioram o clima familiar.

Foi por isso que meus interlocutores chegaram à conclusão de que “santo de casa não faz milagre”. Um deles disse que, daqui em diante, só se manifestará quando e se convidado for. E se não for, não vai sofrer.

E você, já passou por essa situação? Caso positivo, como agiu? Tentou “fazer milagre” ou deixou que a pessoa envolvida vivesse seu processo histórico? Compartilhe sua opinião com os leitores do blog nos comentários.

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O balão de ensaio da Previdência

por Luis Borges 2 de setembro de 2016   Pensata

O Governo Federal ainda não apresentou o texto de sua proposta para a reforma da Previdência Social que abrange os trabalhadores dos setores público e privado. A expectativa é que isso só acontecerá mais para o final do ano, bem próximo do período de “recesso branco” e férias do Congresso Nacional. Assim sendo, as discussões mais acaloradas em função dos interesses que estão em jogo, a votação da proposta final e a sanção da Lei só acontecerão no próximo ano. É claro que tudo isso será permeado pela crise política, econômica e social em curso, além de sermos sabedores de que a reforma da Previdência não é a panaceia para todos os males que acometem o país.

Enquanto isso são frequentes as entrevistas de Ministros mais ligados ao tema apresentando alguns fatos e dados sobre a situação atual, justificando as premissas que eles julgam necessárias para reger os novos tempos da Previdência Social. Essa “lenga lenga” fica parecendo um balão de ensaio, uma sucessão de testes pelos quais se tenta medir a repercussão de cada medida proposta. Se a aceitação for boa, a coisa segue em frente e, em caso contrário, é só recuar ou dizer que ocorreu “um mal entendido”. Fica a sensação de que se está “jogando verde para colher maduro”, conforme o dito popular.

No início de junho, esse tema foi abordado no Observação e Análise (aqui e aqui). Mas o fato relevante é que, após 3 meses de muita falação, o que mais se percebe é o temor da população de perder direitos adquiridos. Daí a pressa na solicitação das aposentadorias de quem cumpre os requisitos necessários atualmente e simulações de como ficaria o enquadramento de cada caso segundo os novos parâmetros lançados nos balões de ensaio.

Apesar de ainda estarmos longe do que será o resultado final de tudo isso, espero que seja racional, realista e sem privilégios, diante dos recursos finitos que a sociedade como um todo dispõe para tal fim. Só falar no envelhecimento da população ou dizer que se não ocorrerem mudanças de parâmetros os velhinhos correrão o risco de ficar sem receber suas aposentadorias soa mais como ameaça para convencer que a reforma é urgente e obrigatória. Nesse caso específico, o discurso é focado nos segurados do INSS e deixa de lado os servidores públicos de todos os níveis e poderes.

É fundamental que haja muita transparência e amplitude com as informações que serão usadas e disseminadas estrategicamente conforme o interesse de cada uma das partes envolvidas. Vou citar apenas um exemplo para justificar essa minha expectativa. Será que é fácil encontrar o valor do PIB que o país gasta hoje com o Regime Geral da Previdência Social, que atende aos trabalhadores do setor privado, e ao Regime Próprio da Previdência Social dos servidores públicos federais, estaduais e municipais? Após muito pesquisar e cruzar dados nas fontes do próprio Governo Federal cheguei aos números a seguir:

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Os aposentados do setor privado receberão, em 2016, valor equivalente a 8,1% do PIB – 6,3% serão para os trabalhadores urbanos e 1,8% para os trabalhadores rurais. Esse valor será distribuído entre 32,3 milhões de aposentados, dos quais 22,4 milhões recebem o salário mínimo de R$880,00 e 9,9 milhões recebem acima do mínimo até o inatingível teto de R$5.183,00.

Já os aposentados do setor público receberão valor equivalente a 4,5% do PIB, sendo 1,8% para os servidores federais e 2,7% para os servidores estaduais e municipais. Um dado importante é que, em 2014 (dado mais recente encontrado), esses gastos foram feitos com 978 mil servidores federais e com 2,5 milhões de servidores estaduais e municipais. O teto salarial do funcionalismo público é, atualmente, de R$33.700.

Só por essa pequena amostra já fica evidente que a profundidade das nossas observações e análises em relação à reforma da Previdência Social deve ser bem maior que a de um pires…

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Belo Horizonte, agosto de 1973

por Luis Borges 10 de agosto de 2016   Pensata

O dia 6 de agosto marcou os 43 anos da minha chegada à cidade de Belo Horizonte, onde moro até hoje. Cheguei em 1973, aos 18 anos e 9 meses de idade e vim em busca do sonho que era fazer um curso de graduação na Universidade Federal de Minas Gerais. Eram condições fundamentais o ensino público gratuito e a assistência estudantil em função dos parâmetros socioeconômicos demonstrados. Vim da capital secreta do mundo, a cidade eterna de Araxá, após ter estudado na vizinha Uberaba a partir de 1971, quando eu tinha 16 anos.

Como dizia o meu finado sogro, o músico araxaense Geraldo Magela – ou “Lalado”, da banda Santa Cecília – “de vez em quando é preciso olhar para trás e contemplar o quanto que se caminhou, mesmo com todas as dificuldades do caminho”. Embalado por esse ensinamento lembrei-me de vários fatos e dados do dia e de alguns aspectos da conjuntura do país na época.

Cheguei ao terminal rodoviário de Belo Horizonte por volta das 13h daquela segunda-feira, num ônibus da Gontijo. Após o desembarque entrei num táxi, que era um fusca amarelo sem o banco do carona, que me conduziu a um casarão na Avenida Bias Fortes número 803, hoje um edifício comercial de 20 andares. Tratava-se de um imóvel alugado por uma senhora viúva, funcionária pública estadual, que morava com um filho adulto e dois irmãos em idade provecta, que tinha na sub-locação de vagas para estudantes um complemento para a renda familiar mensal. Eu ficava no quarto 3 cama 1, ao lado da janela.

Prédio na Av. Bias Fortes 803. Fonte: Google Maps, vista de set/2015.

Prédio na Av. Bias Fortes 803. Fonte: Google Maps, vista de set/2015.

A população de Belo Horizonte, centro da recém-criada Região Metropolitana de 14 municípios, era de 1.235.030 habitantes segundo o recenseamento do IBGE. A magnitude que significava a mudança pode também ser verificada pela população de então 35.676 habitantes de Araxá e pelos 124.490 de Uberaba.

O Brasil vivia a plenitude da Ditadura Militar e dos Anos de Chumbo, com a intensa repressão aos opositores do regime coexistindo com o milagre econômico do então ministro Antônio Delfim Neto, que concentrava a renda em nome do crescimento do bolo que seria repartido num futuro não definido. O Produto Interno Bruto  crescia a uma média de 10% ao ano e a inflação em torno de 20%. Partidos políticos na legalidade eram apenas dois: a Aliança Renovadora Nacional (Arena) e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), num bipartidarismo decretado pela Ditadura Militar. Na clandestinidade estavam as organizações de esquerda, como a Ação Popular Marxista Leninista (APML), o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e o Partido Comunista do Brasil (PC do B).

Quando cheguei já estava informado sobre os cursinhos preparatórios para os vestibulares. Os mais conhecidos eram Pré-Vestibular Pitágoras, Promove, Palomar, Champagnat e o CB-2, no qual me matriculei ainda no dia da chegada. Aproveitando a ida ao CB-2, que ficava no segundo andar de um edifício na Avenida Amazonas esquina de rua Tupis, caminhei até a avenida Afonso Pena. Fiquei bastante impressionado com a extensão e a largura da avenida, a movimentação de veículos e pedestres, a presença de lojas como a Mesbla e a Embrava e com o Parque Municipal, sem cercas em pleno Centro.

Ao voltar para casa vi que os ônibus coletivos tinham seus pontos fixos nas ruas do Centro e que eram gerenciados pela Superintendência Municipal de Transportes (SMT). Como voltei pela praça Raul Soares, vi que lá ficavam o Cine Candelária, o jornal Diário de Minas e a pizzaria Candeia. Após chegar em casa liguei o rádio baixinho, para não incomodar os dois colegas de quarto, e ouvi Raul Seixas cantando a música “Ouro de tolo” na Rádio Mineira. Em seguida o conjunto Secos e Molhados cantou a música “Sangue Latino”, na qual que era imenso o destaque do vocalista Ney Matogrosso. Dormi ouvindo alguns latidos dos dois cachorros de propriedade da dona da casa e alguns miados de seus quatro gatos.

E assim se passou o primeiro dia desses 43 anos de minha vida residindo em Belo Horizonte e, sinceramente, não me lembro se me lembrei que, naquele dia, se completavam 28 anos que os Estados Unidos lançaram uma bomba atômica em  Hiroshima, no Japão, para colocar fim à Segunda Grande Guerra Mundial.

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Restrições crescentes

por Luis Borges 3 de agosto de 2016   Pensata

Fiz um balanço com as pessoas que fazem parte de minha rede, em diferentes níveis de relacionamento, e que cumprimentei pelo aniversário do início do inverno (em 22 de junho) para cá. Para esse levantamento, usei como critério a necessidade de se ter a idade cronológica igual ou superior a 60 anos e, portanto cumprindo a condição de idoso segundo a lei em vigor no país.

Nesses 45 dias, foram 12 as pessoas cumprimentadas, das quais 9 por telefone e 3 presencialmente. O calor do afeto inicial logo foi se irradiando a partir de minha fala enunciando o motivo de meu contato. Em seguida, invariavelmente, fui perguntado sobre como está minha vida. É bom lembrar que também me enquadro na referida faixa etária. Também invariavelmente, respondi a todos com a tranquilidade de um jogador de futebol batendo um pênalti que prossigo no curso da vida encarando com altivez os desafios trazidos pelo ciclo idoso rumo à trajetória final.

Complementei a resposta afirmando que não considero esta a melhor idade e que, como em ciclos anteriores, essa etapa também tem suas alegrias e dores inerentes. Terminei esse início de conversa lembrando da importância de se ter independência e autonomia, ainda que o tempo nos imponha restrições crescentes que podem limitá-las ou reduzi-las.

As conversas prosseguiram em função do tempo disponível, mas dois tópicos fizeram parte das falas de todos os aniversariantes. Grupo que, é bom lembrar, em sua maioria está na faixa de 60 a 65 anos, mas que tem gente acabando de completar 80 anos.

O primeiro tópico foi a manifestação de um agradecimento e satisfação pelo conjunto da obra que está em permanente construção, agora mais cadenciada, em função de tudo que vem sendo aprendido.

O segundo tópico está ligado à gestão da saúde para se buscar uma continuidade da vida com níveis adequados de qualidade. Todos citaram algumas restrições que já enfrentam e o grau de medicalização para enfrentar certas doenças.

Ainda que cada caso seja um caso, em suas especificidades, o medicamento mais usado e citado por 75% dos aniversariantes é aquele para manter níveis adequados de pressão arterial. Já 50% queixaram-se da necessidade de usar medicamentos para reduzir os níveis do colesterol e 25% estão com problemas ligados à coluna vertebral, ao sistema respiratório e à glicose. Com apenas uma citação apareceram os casos de cirurgias para a colocação de pontes de safena no coração, ácido úrico elevado, dificuldade para locomoção devido a fratura de uma perna, implante dentário e pólipos intestinais.

Ainda bem que esses assuntos logo foram substituídos por outros. E, no caso das conversas presenciais, um gostoso lanche também se fez presente.

Mas nada me tira a certeza e a sensação de que esta não é a melhor idade, e que devemos ter uma grande capacidade para gerenciar as restrições crescentes.

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O primeiro ano na aposentadoria

por Luis Borges 27 de julho de 2016   Pensata

A aposentadoria é um sonho cercado de expectativas, ainda mais na atual conjuntura brasileira em que o assunto “reforma da previdência” para os trabalhadores do setor privado aparece dia sim, dia não nos jornais. De alguma maneira pode até sobrar para os trabalhadores do serviço público…

Mas qual é a percepção que as pessoas têm após se concretizar a tão sonhada aposentadoria, seja ela no mundo público ou privado? Vou contar aqui o caso de um amigo com o qual conversei no último fim de semana. Ele completava exatamente um ano na condição de trabalhador aposentado. Engenheiro metalurgista, hoje com 61 anos de idade, ele deu o seu melhor para a indústria desde a tenra idade de recém-formado.

Ao relembrar seu processo, o amigo enfatizou que tudo foi planejado, inclusive a previdência complementar. O desejo era iniciar o ciclo idoso da vida na condição de aposentado, cumprindo a idade mínima prevista em lei para alguém ser considerado idoso. Segundo ele os 3 primeiros meses se passaram como se fosse um período de férias, algo como “férias prêmio”.

aposentadoria cadeiras pessoas lendo jardim

A aposentadoria pode ser o momento de fazer aquela viagem tão sonhada, aproveitando o tempo livre para simplesmente não fazer nada. Foto: Jardin des Tuileries, Paris. / Marina Borges

Foi grande o sentimento de liberdade. Nada dos horários rígidos da indústria. Adeus à logística desgastante de deslocamentos entre os extremos da cidade. Logo ele percebeu que os outros membros da família – sua esposa, professora municipal aposentada, um filho canguru (não quer sair de casa) e uma filha descasada que voltou para casa lhe trazendo um neto – também tinham suas agendas específicas. A partir dessa percepção, meu amigo começou a planejar minimamente os dias úteis, tendo como referência os horários de café da manhã, almoço e jantar.

E assim os nove meses seguintes se passaram, embalados pela vontade férrea de não fazer nenhum trabalho profissionalmente e com muita flexibilidade para definir o que fazer relaxadamente. O nível de leitura aumentou, bem como o tempo dedicado à música e à soneca após o almoço. Não foi muito difícil ficar um pouco gordinho, o que acabou reforçando a necessidade de reservar uma hora pela manhã para fazer caminhadas. Mais recentemente surgiu espaço para duas sessões de pilates por semana, no final da tarde. Sobrou também mais tempo para algumas idas a médicos especialistas, ao dentista e até ao salão do barbeiro.

No plano familiar aumentou bastante o convívio com os entes queridos, em função do maior tempo de permanência em casa. Isso gerou também um índice maior de conflitos devido à sua eterna desorganização e a alguns hábitos arraigados como os de acompanhar tudo sobre futebol masculino, Fórmula 1 e política partidária.

O amigo encerrou a breve conversa falando de suas preocupações com a perda do poder aquisitivo em função da inflação, inclusive a específica que atinge os idosos, e a não correção plena do valor da aposentadoria. Ele ficou de contar numa próxima conversa algumas de suas percepções sobre o lado oculto da aposentadoria, que envolve perda de sono no meio da madrugada, preocupações com o futuro do neto, o uso de alguns medicamentos e o temor de um dia ter de morar numa instituição de longa permanência para idosos.

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A saúde é um dos itens que sempre aparece na pauta de preocupações e prioridades das pessoas. Quero chamar a atenção para o grande avanço do conhecimento técnico na área da saúde, que nem sempre está associado a avanços nas outras áreas. O ponto é simples: quando fazemos uma consulta médica é comum que sejam solicitados alguns serviços de apoio ao diagnóstico. Eles podem variar de exames laboratoriais a ressonância nuclear magnética e geram uma base de informações que ajudarão na conclusão do médico, que poderá ser até mesmo inconclusiva.

A reflexão que faço é sobre a qualidade do atendimento aos pacientes. Se adotarmos o ponto de vista das empresas de apoio ao diagnóstico médico, cada paciente que vai fazer um exame é um cliente. Sendo assim, deveria ser bem tratado, para ser fidelizado e, eventualmente, voltar. Continuando nessa linha, a empresa, conhecedora do seu cliente, entende que nem todos se sentem tranquilos ao fazer exames. E, com isso, se preocuparia em prestar um atendimento exemplar.

tecnologia no atendimento na saúde

Mas não são todas as empresas que enxergam os pacientes como clientes. Por experiência própria e de pessoas com quem conversei, em alguns casos o atendimento deixa a desejar já na porta da empresa, em função da desinformação. Falta, por exemplo, orientação sobre qual guichê procurar ou sobre onde fica a sala de realização dos exames.

Outro caso problemático é o do atendimento no horário de almoço, o clássico “12h às 14h”. Sobram clientes/pacientes esperando e faltam funcionários para fazer os serviços, pois eles se revezam para almoçar. A empresa responsável, no entanto, vende esse horário de atendimento como um diferencial.

Outra situação acontece em exames de diagnóstico por imagem, quando é necessário trocar de roupa ou usar um gel específico para o procedimento. Nesses casos, pertences do paciente devem ser deixados em uma salinha ao lado. Se algo desaparecer no meio tempo, dificilmente alguém assumirá a responsabilidade. Também chama atenção a falta de cordialidade dos funcionários. Em alguns casos o profissional que realiza o exame mal balbucia um cumprimento e já parte para a execução dos procedimentos. Não que o atendimento melhore na saída. Sei de casos em que o paciente é informado secamente no fim do exame que deve se dirigir à sala ao lado e limpar o gel do próprio corpo rapidamente para que outro paciente entre, no melhor estilo “papa fila”.

A sensação que fica nesses casos é a de muito autoritarismo presente – que às vezes beira a falta de educação – e de que os funcionários do atendimento ao público não se consideram prestadores de serviço, mas sim prestadores de favores. Por isso, talvez, não se preocupem com as longas filas de espera, que consideram que todos têm máxima disponibilidade de tempo. Perguntar alguma coisa até ofende.

Mas a tecnologia… ah, a tecnologia brilha.

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Se o melhor da festa é esperar por ela, também faz bem participar do processo que a antecede. As maneiras podem ser diversas, mas sempre buscando mais informações sobre o que provavelmente poderá rolar no dia marcado. E assim sendo, hoje faltam 79 dias para as eleições municipais de 02 de outubro, quando serão eleitos os próximos prefeitos, seus vices e os vereadores das Câmaras Municipais.

Eleições 2016 (1)

Um fato novo e relevante é a proibição do financiamento privado das campanhas eleitorais e a definição de limites espartanos de gastos com as candidaturas. Como isso será fiscalizado e como serão tratados os casos de sinais exteriores de riqueza na campanha eleitoral são perguntas que estão no ar.

As redes sociais devem aumentar bastante a sua relevância no processo. Mas, por mais digital que seja o mundo, continuará havendo espaço para o corpo a corpo com o eleitor, principalmente diante da escassez de recursos financeiros nessas eleições municipais.

A propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV também será diferente, pois somente os candidatos a prefeito aparecerão nos programas de 10 minutos. Para os candidatos a vereador só haverá espaço para pequenos comerciais durante a programação. A criatividade e a inovação terão uma ótima oportunidade de fazer a diferença positiva e, tomara, de muito conteúdo, embora não estejamos isentos de atitudes pouco civilizadas, muito polarizadas ou intolerantes, ainda que prevaleçam temas locais.

Enquanto a campanha curta começa a se aquecer, é bom lembrar que teremos também as Olimpíadas, a votação do impedimento da Presidente pelo Senado e as revelações das operações da Polícia Federal, como Lava Jato, Acrônimo, Custo Brasil e tantas outras.

O que esperar dos partidos políticos e seus candidatos?

Talvez mais do mesmo. Apesar de muita descrença das pessoas com a política partidária, pode até haver uma boa renovação de nomes mas com pouca mudança de conteúdo. Provavelmente continuarão a insistir com a Democracia Representativa quando o mínimo que se espera hoje é a Democracia Participativa. Também assusta a existência de 35 partidos políticos, a maioria pequenos, com pouca definição ideológica e muita vontade de fazer composições políticas para auferir luz e ganhos em seus negócios.

Também não devemos nos assustar se a abstenção, os votos nulos e brancos chegarem a 30% dos eleitores inscritos no cartório eleitoral.

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