Nesses tempos de crise que se prolonga à espera de uma solução que não vem diante de tantos interesses de grupos, percebo muitas pessoas dizendo que estão cansadas de quase tudo e que já não aguentam mais ir à luta por algo que vá além da sobrevivência imediata.

A falta de perspectiva parece nos empurrar ainda mais para baixo e acaba ajudando a aumentar a anomia, pois está muito difícil enxergar alguém que possa nos representar assim que se encerra um processo eleitoral. Posso concluir que precisamos é de participar mais efetivamente e não simplesmente terceirizar a ação para algum mero representante, mas falta ânimo para encarar algo do tipo. Se a apatia prevalece ela acaba contaminando os mais diversos aspectos de nossas vidas e todos os assuntos que vão surgindo parecem nos causar muita preguiça e rejeição. Mesmo sendo um crítico da polarização entre ser contra ou a favor de alguma ideia, sugestão ou proposição mais estruturada, fico também pensando nos diversos mecanismos de deliberação passíveis de serem utilizados numa sociedade tão dividida e que cada vez mais busca aliviar suas tensões pelas redes sociais a partir de seus próprios sofás.

Além de ter que dar conta de responder a cada uma e a todas as necessidades do dia a dia – inclusive as de trabalho, saúde, segurança, gestão da sustentabilidade individual e familiar – ainda é preciso uma boa dose de tolerância para aguentar as novidades da hora da política partidária, na economia e na criatividade abusiva daqueles que agem focados apenas em se manter no poder, pois para eles está tudo muito bom. E nessa agonia de cada dia até bambear os nervos, para dar continuidade na busca do que precisa ser feito em prol do viver com dignidade, justiça social e paz não está fácil, devo constatar solenemente que isso é o que temos para hoje e amanhã também. Como jamais será possível desistir ainda busco um pouco de acalanto e me reforço cantarolando versos de Geraldo Vandré na música O Plantador.

“Quanto mais eu ando, mais vejo estrada e se eu não caminho, não sou é nada”.

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Basta morrer para virar santo

por Luis Borges 19 de agosto de 2017   Pensata

Quase ninguém se assusta mais ao ouvir alguma afirmação alusiva aos tempos difíceis e desafiantes que estamos vivendo. A estratégia é de sobrevivência e de muita vigilância em relação a finanças, segurança, saúde, relações sociais e pessoais. Especificamente nesse aspecto – e principalmente para quem está atravessando os 50 anos em diante – muitas tem sido as oportunidades para refletir sobre a finitude da vida.

A cada dia e à medida que o tempo escoa em regime permanente continuamos a ser surpreendidos e a nos assustarmos com algumas frases simples e diretas. “Você já ficou sabendo o que aconteceu?” “Sabe quem morreu?” Entre a reação de surpresa ou a confirmação de que já sabia, rola um pouco de tudo ou até mesmo de nada. Famosos ou anônimos, o fato é que cada acontecimento tem a repercussão com a intensidade de tamanho proporcional à mídia. Todas as variáveis que envolvem o acontecimento podem ajudar muito a formar pautas para conversas que envolvem dor, lamento e enaltecimento em torno de quem partiu.

Na semana passada acabei sendo envolvido numa típica situação como essa. Um colega de trabalho do final da década de 80 me fez uma visita pelo telefone. Assim que eu o atendi, ele me cumprimentou rapidamente e foi ansiosamente perguntando se eu tinha ficado sabendo da morte do nosso chefe de outrora. Enquanto eu dizia que já sabia, o colega disparou a manifestar seus mais profundos sentimentos pela perda do chefe ainda tão jovem, com apenas 82 anos de idade. Prosseguiu na falação dizendo que o ex-chefe era como um pai para ele e demais chefiados, mesmo nos momentos mais difíceis que enfrentamos juntos durante aqueles 5 anos. Quando o colega começou a enaltecer uma série de virtudes que eu nunca vi serem reconhecidas em vida, pedi para que ele desse uma pausa em sua fala e me ouvisse. Assustado e surpreso, ele parou de falar. Então aproveitei a oportunidade e fui direto ao ponto dizendo que lamentava a perda da vida de um ser humano, mas que a morte era parte do processo da vida e até mesmo do renascer para quem acredita. Disse também que mantinha todas as observações, percepções e análises que tinha do chefe e que trabalhamos profissionalmente cumprindo papeis previamente estabelecidos, ele como chefe e eu como especialista no negócio de atuação. Encerrei dizendo que nosso ex-chefe tinha o ego autocrata e que a sua morte não mudaria em nada a minha percepção sobre ele e nem ajudaria a transformá-lo num santo post mortem.

Em seguida o colega ainda surpreso com o teor da minha fala perguntou se eu iria ao velório do corpo. Eu disse que não, pois meu contato com ele era meramente profissional o que me levou a nunca ter tido contato com seus familiares. Concluí dizendo que, dentro dessa mesma diretriz, eu também não compareceria a nenhuma cerimônia religiosa do tipo missa de 7º dia ou culto.

E assim nos despedimos, com o colega dizendo que logo em seguida seguiria para o velório no cemitério com a expectativa de lá encontrar alguns outros colegas de trabalho da época. Assim ainda fiquei imaginando por alguns segundos se lá chegando o colega ainda continuaria insistindo em santificar o morto.

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Venda casada

por Luis Borges 10 de agosto de 2017   Pensata

Uma senhora que já passou dos 80 e está viúva há cinco anos foi convocada pelo INSS para fazer sua “prova de vida”. Por isso, foi até a agência de um banco privado onde ela recebe sua pensão mensal no valor de um salário mínimo. A convocação deveria ser algo obrigatório e natural em todo processo envolvendo a gestão dos recursos públicos num país em que a corrupção e o “toma lá, dá cá” no escondidinho são características marcantes numa cultura secular.

A senhora estava acompanhada pelo seu filho mais novo, que tinha a missão de orientá-la e conduzi-la devido a algumas limitações em suas condições funcionais. Dá para imaginar as dificuldades para atravessar aquela porta de segurança giratória e se livrar da obsessão pela detecção de metais, por exemplo. A entrada na agência bancária é apenas uma pequena demonstração do grande rigor aplicado aos aspectos que envolvem a segurança do patrimônio ali existente.

Depois do primeiro obstáculo físico, apareceram outros. Ao iniciar o atendimento, a funcionária do banco informou que seria necessário abrir uma conta corrente. O filho estranhou e contestou imediatamente, lembrando à atendente que eles foram lá apenas buscar o novo cartão da pensionista do INSS e comprovar que ela estava viva como ocorre anualmente. A funcionária não se deu por vencida e continuou aplicando o procedimento operacional em vigor no banco, reforçando as vantagens da abertura de uma conta, inclusive sinalizando com a comodidade de atendimento em qualquer agência.

O filho reiterou com mais veemência o que foi fazer na agência, lembrando que sua mãe também queria receber o seu benefício do mês com o novo cartão, já que o anterior estava com o prazo de validade vencido há poucos dias. A atendente disse, então, que não havia cartão na agência e que ele demoraria 30 dias para chegar. Ao que o filho retrucou solicitando a emissão de um cartão provisório naquele momento para vigorar até o dia da chegada do definitivo. Numa tentativa final de ainda influenciar na mudança de posição em relação ao serviço não aceito, a atendente lembrou que tudo teria sido mais fácil e rápido se a conta corrente tivesse sido aberta.

Independente da maior prioridade dada no atendimento ao idoso com idade superior a 80 anos, o fato é que mãe e filho permaneceram durante 30 minutos na agência até que tudo fosse resolvido como eles queriam, dentro das regras do jogo e mantendo o direito de não abrir conta. Bem que o filho poderia ter gastado mais um pouco de seu tempo para lembrar ao gerente da agência que o Banco Central do Brasil proíbe esse tipo de operação casada e que uma denúncia do fato traria bons transtornos àquela agência.

Haja constância de propósitos e muita paciência para se garantir a observância e a prevalência do Código de Defesa do Consumidor!

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Um jovem casal de namorados na faixa dos 30-35 anos está se preparando para o casamento desde meados do ano passado. A meta é realizar a cerimônia religiosa, a festa e a viagem de núpcias na primeira semana da primavera de 2017. Para isso fizeram um detalhado plano de ação, que está sendo implementado com muita disciplina e realismo financeiro. Eles também são sabedores de que o melhor da festa é espera por ela e que aos poucos o dia vai chegando.

Nesse momento específico um item passou a preocupar e a incomodar o casal. Trata-se do apartamento de 80 m², sendo dois por andar num edifício de 10 andares de um bairro de Belo Horizonte. Adquirido na planta logo no início do ano passado em condições compatíveis com o poder aquisitivo dos dois, eles assinaram com a construtora um contrato do tipo promessa de compra e venda. Basicamente as condições foram o pagamento de uma entrada de 10% do valor de avaliação do imóvel, outros 10% pagos em parcelas trimestrais ao longo da construção e os 80% restantes financiados por um banco estatal durante 30 anos a partir da conclusão do imóvel.

No início de julho havia algo muito estranho no ar em função de um “empurra – empurra” entre a construtora que vendeu o apartamento e intermediou o contrato de financiamento com o banco oficial, pois havia chegado a hora da assinatura do contrato. O fato é que esses recursos para financiamento habitacional ficaram bem mais escassos com a crise econômica e existem linhas de crédito suspensas até o final do ano. Diante das pressões para liberar rapidamente o financiamento e sem condições de continuar adiando indefinidamente a liberação do contrato, o banco abriu o jogo e disse que os recursos não sairão por agora.

Apesar da frustração o jovem casal fez uma correção de rota no plano de ação e procuraram, com a ajuda da construtora vendedora, um banco privado para tentar um novo financiamento. Todos os documentos necessários foram apresentados mas, enquanto eram analisados pelo banco privado, houve uma mudança no limite do financiamento concedido em função do aumento da inadimplência. O até então limite de 80% passou para no máximo 70% e ainda variando em função da renda apresentada, taxa de juros, financiamento em 30 anos e possibilidades de uso do FGTS. O resultado de tudo isso é que o banco privado não se dispõe a correr riscos e emitiu um parecer afirmando que pode financiar no máximo 65% do previsto. Enquanto a construtora vendedora pula igual pipoca e tenta se justificar, o banco privado lava as mãos e o jovem casal está vivendo um impasse, pois as mudanças atrapalharam todo o planejamento financeiro. Mais uma vez caberá ao consumidor pagar o pato, realizar o prejuízo ou até mesmo desfazer o negócio. Na atual conjuntura será preciso muita resiliência para continuar sonhando com a casa própria.

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Pontualidade até que ponto?

por Luis Borges 27 de julho de 2017   Pensata

A cerimônia religiosa de um casamento católico foi marcada para as 20h de um sábado na Igreja Matriz de um município do oeste mineiro. O noivo chegou ao local 15 minutos antes da hora marcada. Pontualmente às 20h o sacerdote especialmente convidado para fazer a celebração chegou ao altar, enquanto os cerca de 250 convidados para tempos de crise continuavam se acomodando nos bancos do templo. À medida em que o tempo passava e crescia a expectativa pelo inicio da cerimônia também aumentava o alarido causado pela quantidade de pessoas conversando com quem estava ao lado. Eram muitos os que olhavam para o relógio conferindo o tempo, sendo que esses e muitos outros utilizavam freneticamente os seus telefones celulares de vários modos.

Lá pelas 20h25 o sacerdote retirou-se do altar e voltou para a sacristia enquanto o interior da igreja se assemelhava a uma feira livre.  Nessa altura dos acontecimentos a pergunta que mais se fazia e que não queria se calar era curta e já cheia de ansiedade: cadê a noiva? Houve quem levantasse a hipótese de desistência da noiva. Outros reclamavam que a demora estava “colocando o pé no seu vale empada”, cognome do convitinho garantidor do acesso à festa comemorativa das núpcias.

E assim se passaram mais longos 42 minutos até que às 21h07, portanto 67 minutos após a hora previamente marcada, foi aberta a porta onde se inicia o caminho que leva ao altar. Logo a seguir teve inicio o cortejo que durou 8 minutos. Enquanto a mãe levava o noivo ao altar em passos mais rápidos, quase logo a seguir entraram os 14 casais padrinhos dos noivos e o sacerdote retomou seu lugar no altar. Em seguida o pai conduziu a noiva que caminhou triunfal rumo ao altar antecedida pela dama de honra e seu pajem, ao som retumbante da marcha nupcial. Parecia também o triunfo do atraso e da paciência de todos que aguentaram esperar até aquele momento.

Mas as aparências enganam. O sacerdote amigo das famílias dos noivos iniciou rapidamente a parte que lhe cabia no ritual e fez tudo em 15 minutos. Exatamente às 21h30min o sacerdote falou que devido ao adiantado da hora, os noivos receberiam os cumprimentos no local da festa. Assim que a última pessoa do cortejo chegou ao adro da igreja as luzes começaram a ser apagadas e as portas laterais e principal foram fechadas.

Esse evento me faz lembrar diversos outros em que perdemos muito tempo entre a hora marcada e o seu efetivo início. Ser pontual deveria ser uma obrigação e não uma virtude. Aliás, os virtuosos e disciplinados acabam sendo punidos e desrespeitados pelos outros que sempre chegam atrasados. Você consegue se lembrar rapidamente de eventos aos quais você compareceu e que se iniciaram com atraso de 30 minutos ou mais? A causa estava também em você? Além da consulta médica e da decolagem do avião, que outros você citaria? Se pontualidade é obrigação que exemplos você citaria de eventos que começam na hora marcada além de missas, reuniões espíritas e cultos evangélicos?

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Polindo as amizades

por Luis Borges 23 de julho de 2017   Pensata

O mundo girou rapidamente e já nos trouxe de volta o 20 de julho, Dia do Amigo e da Amizade no Brasil e na Argentina. Se “amigo é coisa pra se guardar debaixo de sete chaves, dentro do coração” como dizem Milton Nascimento e Fernando Brant na música Canção da América, quando nada o dia traz a reflexão sobre como estamos cuidando de nossos amigos e amizades.

Constato que às vezes os amigos estão tão guardados que ficam até distantes. Justificativas para isso não faltam devido à correria louca, ao cansaço constante e à falta de tempo. Tudo bem, mas falta gestão. A perda de tempo só cresce para quem não sabe priorizar, não sabe fazer escolhas, tomar decisões. Vale lembrar que onde tudo é prioritário, nada é prioritário e que não existe vento favorável para quem não sabe aonde ir.

O que significa para nós polir as amizades para mantê-las azeitadas, alinhadas e necessariamente presentes em nossas vidas? Alguns dias atrás ouvi uma pessoa dizendo que era dia do aniversário de nascimento de um grande amigo e que havia passado uma mensagem de WhatsApp para cumprimentá-lo. Diante da declaração tomei a liberdade de perguntar a pessoa se a mensagem foi de texto ou áudio. “É claro que foi de texto”, respondeu imediatamente a pessoa. Em seguida saí de cena e fiquei pensando na probabilidade de ouvir a qualquer momento um argumento falando da falta que se sente de um amigo e de uma amizade sincera e cuidadosa. Até entendo que nem sempre é possível estar fisicamente presente numa data importante para o amigo, mas até se chegar ao confortável envio de uma mensagem de WhatsApp como mero sinal de cumprimento de uma obrigação existem várias outras formas de demonstrar apreço.

Ainda que tudo comece com a gente é bom lembrar que as relações de amizade possuem mão dupla e que, para serem polidas com uma frequência saudável, dependem da iniciativa e da reciprocidade entre as partes envolvidas. Como esse processo de manutenção é difícil e exige muita constância de propósitos de ambas as partes! E você, tem conseguido polir as suas amizades ou apenas chora pelo afastamento da maioria delas sem analisar as causas que geraram esse desfecho?

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Está fazendo um ano que postei aqui neste blog uma pensata com o título de Saúde: tecnologia x qualidade no atendimento. Como de vez em quando é bom dar uma olhada para trás visando verificar a melhoria ou a piora de um determinado aspecto ou indicador de desempenho, tomei a iniciativa de conversar com algumas pessoas que foram ouvidas naquela ocasião. Felizmente elas continuam bem vivas e gerenciando a própria saúde apesar dos preços cobrados pelos planos em suas diversas modalidades. Chamou muito a minha atenção o fato delas terem repetido recentemente os exames do ano passado no mesmo laboratório de serviços de apoio ao diagnóstico cujo atendimento deixou péssima impressão naquela ocasião. Aliás, juntaram-se a eles alguns exames que foram solicitados pela primeira vez agora. Tentei entender a razão para se manterem fiéis ao antigo fornecedor, sendo que existem outros laboratórios no mercado prestando o mesmo serviço. As pessoas me disseram que seguiram a orientação de seus médicos, que alegaram ser os profissionais daquele laboratório de sua plena confiança para realizar os exames solicitados.

Então perguntei se eles perceberam alguma melhora no atendimento ao comparar com os serviços prestados no ano passado. Foi praticamente consenso que o mau atendimento continua o mesmo e que até aumentou o tempo de espera, apesar da alta tecnologia utilizada na realização de tantos e variados exames, notadamente os de imagens. Houve um caso específico em que a pessoa tinha um exame agendado para as 9h40 que só se iniciou ao meio-dia de uma terça-feira. Após muitos questionamentos sobre as causas da demora uma atendente balbuciou que algumas pessoas do grupo faltaram ao trabalho e outras chegaram atrasadas.

Agora após passar novamente pelos mesmos e cada vez mais demorados tipos de transtornos, finalmente algumas dessas pessoas não pretendem mais voltar ao laboratório indicado pelo médico e estão dispostas a encarar o profissional para lhe dizer que não voltarão mais àquela empresa de grande porte. Sugeri a elas que lembrem a seus médicos que todo cliente espera que seu fornecedor tenha alto nível de qualidade, preço justo e excelência no atendimento e que notadamente essa última dimensão está longe de acontecer. Vale lembrar, também, que não dá para o consumidor  abrir mão de seus direitos nas relações de consumo em pleno regime capitalista que se diz pautado pela competitividade entre os concorrentes na prestação de serviços a que se propõem no mercado que tem seu risco.

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O que é seu está guardado

por Luis Borges 7 de julho de 2017   Pensata

As coisas estão acontecendo com muita rapidez no cotidiano da crise vivida pelo país. Cada vez mais surpreendendo pela ousadia, apropriação indébita de recursos e pelo descompromisso com a maioria da população denotado pelos agentes do Estado que o dominam. Nada de ética, de atitudes republicanas; é muito discurso enquanto o foco é só se manter no poder, custe o que custar. A obsessão é tanta para manter tudo do jeito que está, sem mexer no que realmente precisa ser mexido, que o autismo faz com que os sinais de descontentamento não sejam efetivamente percebidos e muito menos analisados. Como está crescendo o número de pessoas que acompanham os acontecimentos no país e sofrem na pele os impactos deles, como a corrupção, desemprego aberto, Reforma da Previdência… o pote de mágoa está só aumentando.

O povo ainda não voltou às ruas enquanto o impopular Presidente da República segue sangrando e comprando apoios partidários para se manter no desejado cargo. Imagino que muita gente deve estar se lembrando de um famoso dito popular que diz “o que é seu está guardado”, ou seja, vai ter troco para você e os seus.

Enquanto as ruas não gritam para valer e os políticos partidários não percebem que precisam encontrar soluções para a crise política que eles mesmos criaram, o tempo vai passando e o sofrimento só aumentando. Agora faltam 15 meses para as eleições gerais de 2018, cujas regras precisam ser definidas nos próximos 3 meses. Espero que os 35 partidos políticos e seus partidários, notadamente os que se aliaram em seus projetos de poder nos últimos 30 anos, recebam um duro recado de rejeição vindo das urnas. Aliás, pode ser tanto pelos que comparecerem às urnas buscando varrer do mapa a maior parte dos que exercem mandatos atualmente, quanto pela abstenção nesse modelo em que o voto é obrigatório.

Quem der uma olhada para outros países poderá perceber, por exemplo, o que aconteceu nas recentes eleições francesas que elegeram o Presidente da República e os 577 parlamentares da Assembleia Nacional. Os tradicionais partidos que ocuparam o poder e tiveram maioria parlamentar nos últimos 30 anos foram amplamente derrotados. A vitória coube ao partido centrista República em Marcha criado há apenas um ano. Quem quiser que aprenda com os sinais que vem de outros países, ainda que as realidades políticas, econômicas, sociais e culturais tenham as suas especificidades. Não dá para enganar a todo mundo indefinidamente pelo tempo todo.

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A Constituição diz que somos todos iguais perante a lei, devendo respeitas direitos e deveres na forma da legislação vigente. É claro que, em princípio, todo mundo quer o maior bem estar possível e gastar o menor esforço para alcançá-lo, ainda mais no capitalismo brasileiro onde prevalece uma péssima distribuição de renda. Assim, todo tipo de auxílio acaba sendo um jeito de melhorar os rendimentos. Pode-se questionar a legalidade e a moralidade de muitos auxílios que vigoram hoje no país, seu caráter social na redistribuição da renda e também a sua utilização para contornar o teto da remuneração dos servidores públicos. Só para exercitar a memória podemos lembrar de cara do auxílio doença, auxílio reclusão, auxílio funerário, auxílio creche, auxílio livro, auxílio paletó e do auxilio moradia. O último é o mais questionado e midiático deles, beneficia uma pequena casta dos poderes legislativo e judiciário com um valor mensal de R$4.300 mil que é isento de comprovação do gasto e de recolhimento de imposto de renda.

Segundo um levantamento da ONG Contas Abertas esse “penduricalho” é pago desde setembro de 2014 a pouco mais de 17 mil magistrados e quase 13 mil procuradores do Ministério Público Federal. A benesse chega a juízes, desembargadores, promotores, procuradores, conselheiros e procuradores de contas e aos próprios Ministros do Supremo. Até maio de 2017, só para esse grupo de beneficiários foram gastos pelos cofres públicos algo em torno de R$4,5 bilhões. Também incomoda saber e lembrar que o auxílio moradia está em vigor amparado por uma decisão liminar do Ministro Luiz Fux, do STF,  e que até hoje o plenário da lenta Suprema Corte ainda não analisou o mérito da constitucionalidade desse auxílio.

Neste artigo publicado no portal Contas Abertas, o economista Gil Castello Branco diz:

“na situação em que o país se encontra, todos os gastos têm que passar por um pente-fino. O auxílio-moradia é um aumento de salário disfarçado.

Esse tipo de benefício distorce a estrutura de cargos e salários nos Três Poderes, o que, por si só, já é um problema. E é inconcebível que o auxílio seja pago por meio de uma decisão provisória. Decisões de um só ministro deveriam ser apenas emergenciais ou circunstanciais. Isso gera quase um folclore. Cria-se uma situação quase irreversível. E se o Supremo não confirmar a liminar? Quem recebeu vai ter que devolver os valores?”

Enquanto isso a arrecadação de tributos federais continua caindo, o déficit público aumentando junto com os gastos, a Reforma Trabalhista pena para ser aprovada no Senado, a Reforma da Previdência perdeu o horizonte e está sendo gestada uma mini Reforma Eleitoral – em regime de urgência – para criar um fundo de R$3,5 bilhões para financiar as campanhas eleitorais em 2018. Haja gestos de grandeza dos pagadores de tributos para sustentar tanta gastança!

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Inflando o faturamento

por Luis Borges 23 de junho de 2017   Pensata

Como você continuará andando após perder seu automóvel? Ele pode ser considerado como se fosse a sua terceira perna, em função da mobilidade que te traz, mas também tem o custo de manutenção semelhante ao de um membro adulto da sua família. Ao longo de um ano é preciso pagar o IPVA, o seguro obrigatório, a taxa de licenciamento estadual, as prováveis multas oriundas de causas diversas, o permanente consumo de combustível, o seguro do veículo para se prevenir contra terceiros e também para os ocupantes do veículo, bem como fazer as revisões programadas e as manutenções corretivas não cobertas pela franquia do seguro. Tudo isso mexe e sacode o bolso dos felizes proprietários, principalmente numa conjuntura em que a economia tenta sair da recessão econômica, o desemprego está altíssimo – sem dar sinais de queda – e o poder aquisitivo em baixa diante de condições bem desfavoráveis para os trabalhadores assalariados.

Aqui sugiro que a atenção deve ser redobrada, pois muitas concessionárias de veículos fazem de tudo para maximizar os seus ganhos tentando empurrar serviços que não foram previstos na revisão programada. Na semana passada fiquei sabendo de um caso desse tipo em que o orçamento inicial do que era necessário ser feito ficou em R$1.500,00 e o veículo sendo devolvido ao proprietário com os serviços efetuados dois dias após a autorização. No entanto, no dia seguinte a concessionária telefonou ao proprietário do veículo insistindo na necessidade de novos serviços percebidos após o início dos trabalhos. A fala da atendente foi rápida, com poucas informações – todas muito técnicas – e enfatizando que o preço passaria para R$4.000,00. Diante da veemente discordância do proprietário do veículo, a ligação foi passada ao gerente da loja, que tentou justificar os novos serviços argumentando que os componentes atuais não aguentariam o rojão até a futura revisão daqui a um ano. O jeito foi exigir que o gerente respeitasse o seu direito de consumidor, cumprindo estritamente o que foi estabelecido na negociação e contratação dos serviços. Concluiu perguntando por que estavam adiantando tanto o tempo da revisão do meio do próximo ano e por que não recebeu nenhuma contrapartida caso aceitasse antecipar os serviços propostos, ainda mais que é cliente da concessionária há 6 anos. Muito sem graça do outro lado da linha, o gerente balbuciou que sua intenção seria dar um desconto de 15% nas peças componentes e outros 15% na mão de obra ficando tudo em R$2.800,00 que poderiam ser pagos em cinco parcelas pelo cartão de crédito.

Por se tratar de pessoa atenta e planejadora, a recusa dos serviços não solicitados foi reforçada. Aí veio um novo transtorno, pois o serviço inicialmente solicitado ficou parado até ser dado um “não” à parte que tentaram empurrar. Foi por isso mesmo que foram gastos mais dois dias para a efetiva realização dos trabalhos, ou seja, mais dois dias de veículo indisponível, gastando a mais com táxi e ônibus no transporte.

Um fato relevante é que no dia da devolução do veículo o gerente estava muito sem graça e a atendente disse que quando for tomada a decisão de fazer o serviço adicional é só procurá-la.  Simples assim!

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