A tarde começava a cair na terça-feira 31 de outubro quando Roberto Márcio, amigo de quase quatro décadas, me informou pelo telefone que sua esposa Lídia Batista acabara de falecer. Do início do namoro até aquele momento passaram-se 45 anos de uma permanente construção a dois que nos legou, por exemplo, os filhos Rafael e Fernanda. Fiquei surpreso e perplexo, enquanto lágrimas caíam diante de tamanha perda, por se tratar de uma amiga com quem eu e Cristina sempre cultivamos uma amizade marcada pela presença efetiva. Não se tratava de uma amizade meramente registrada em cartório, a fazer parte de um rol de amigos que nunca acham tempo para se encontrar ou polir as amizades.

Uma característica marcante do jeito Lídia de ser era a firmeza na defesa de seus pontos de vista, mas sem necessariamente querer fazê-los prevalecer de qualquer maneira. Ela sabia deixar a cena para aguardar um outro momento mais oportuno para continuar tentando construir a hegemonia daquilo em que acreditava.

Quero destacar aqui três aspectos que a passagem da amiga trouxe para a minha reflexão e imagino que para algumas outras pessoas também.

O primeiro aspecto é relativo à surpresa que o comunicado do falecimento causou às pessoas do seu convívio pessoal e profissional em diferentes épocas. Ouvi gente perguntando por que ninguém, exceto sua família, soube o que estava acontecendo nos últimos meses em relação à sua saúde. Entendi perfeitamente a diretriz dada pela amiga e que foi plenamente cumprida pela família. Dá para imaginar a energia que foi poupada por não ter sido necessário ficar divulgando boletins médicos ou respondendo às mensagens de WhatsApp, tanto das pessoas solidárias quanto daquelas que só querem saber da novidade do último minuto. Realmente tudo é muito cansativo, principalmente num momento que exige muita temperança e conservação de energia para o enfrentamento da adversidade.

O segundo aspecto a destacar é sobre o posicionamento que as pessoas têm hoje em relação à destinação de seus corpos após o óbito. No caso de Lídia Batista a opção foi pela cremação e colocação das cinzas no jazigo da família. Essa decisão acaba suscitando uma pergunta que vai se tornando cada vez mais frequente com o passar do tempo: quando for a sua hora você vai querer o “forno” ou as bactérias para fazer a decomposição de seu corpo? Pelo que percebo a via bacteriana é a que mais prevalece, inclusive sob o argumento de ser um caminho natural. Eu continuo optando pela cremação com as cinzas sendo lançadas no Rio São Francisco.

O último aspecto é a constatação de que é cada vez maior o número de pessoas afirmando que só estão encontrando os amigos em velórios e com frequência cada vez maior, pois o seu universo de amizades tem muita gente na faixa dos 60 anos ou mais. Vale realçar o discurso de muitos dizendo que “é preciso fazer um encontro da turma enquanto há tempo”. Aliás, ouço muito isso também em festas de aniversário de nascimento de alguns dessa mesma turma. Tanto num quanto no outro ambiente não há boas condições para se conversar mais detidamente. Acredito que o maior desafio é encontrar quem tenha a iniciativa de propor e de fazer acontecer esses encontros. A continuar só no discurso sobrará apenas o encontro no velório enquanto houver vida.

E você, o que pensa de tudo isso?

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Se pensata é um pensamento que se registra numa espécie de ata, faz-se necessário registrar neste momento alguns sonhos e propósitos relativos aos temas que surgem em minha mente sempre aguçada.

Pela lei brasileira estou passando pelos primeiros dias do 4º ano de minha fase idosa da vida, pois completei 63 anos de idade no último dia 24 de outubro. Não fico matutando sobre quantos anos se passarão para que meu curso da vida chegue ao fim, mas tenho conhecimento de que a atual expectativa média de vida dos brasileiros está em torno de 77 anos segundo o IBGE.

Entre os muitos cumprimentos que recebi pelo aniversário, num deles chamou minha atenção a pergunta direta, sem rodeios, feita por um amigo. Ele me perguntou como eu imaginava – ou gostaria que fosse – o final de minha passagem pela Terra nessa encarnação. Respondi sem pestanejar que espero ter o merecimento de ser desligado deste plano de maneira repentina e na plenitude de minha autonomia, mesmo que a independência esteja limitada por alguma restrição nas condições funcionais. Seria como um passarinho que estivesse cantando e, de repente, parasse de cantar para sempre.

Se não for o caso desse tipo de merecimento, e se eu pudesse fazer uma segunda opção, seria recebendo apenas cuidados paliativos em todas as suas dimensões, ainda que numa clínica especializada, poupando ao máximo os queridos familiares e amigos, mas sem nenhuma obsessão terapêutica em prol de uma cura que se assemelha a um ponto extremamente fora de qualquer curva.

O amigo ficou um pouco assustado com a clareza e a instantaneidade das minhas respostas, dizendo que também sonhava em ter o merecimento de partir de repente para não sofrer muito e também para não dar muito trabalho às pessoas que o cercam. Acabamos nos despedindo concordando que precisamos conversar mais sobre a finitude da vida e como poderemos melhor elaborar nossos posicionamentos diante de um fato inexorável e do qual não teremos como desviar, talvez só gerenciar para adiar.

E você, já gastou algum tempo para pensar na finitude da sua vida?

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Uma cena de desrespeito no trânsito

por Luis Borges 1 de novembro de 2017   Pensata

Passava das 22h de um sábado de outubro. Chovia bastante. Uma jovem senhora dirigia seu automóvel de pequeno porte, subindo uma rua de bairro. Ao seu lado estava o seu marido, também jovem. Era uma rua de mão dupla e naquele momento havia carros estacionados dos dois lados, mal respeitando os acessos às casas e edifícios. Ou seja, só havia passagem para um veículo, no centro da via.

Quando a jovem estava quase no meio do quarteirão veio uma caminhonete de grande porte em sentido contrário. O motorista da caminhonete viu que a rua só permitia a passagem de um veículo e que não havia nenhuma porta de garagem onde encostar. Mesmo assim, prosseguiu até se encontrar com o carro pequeno no meio do quarteirão. E cruzou os braços, como que dizendo “saia você”.

Apesar do aborrecimento mas sem querer brigar, a jovem senhora começou a andar em marcha a ré. A cada centímetro recuado, o motorista da caminhonete prontamente avançava o mesmo tanto, bufando e esbravejando. Chegou outro motorista pela rua estreita, se posicionando atrás do carro que tentava dar ré. Em seguida tentou ultrapassar pela direita. E a chuva continuava.

Com esforço, a jovem finalmente chegou ao fim da fila de carros. Agora havia algum espaço pela direita e pela esquerda. Imediatamente o motorista da caminhonete e o outro apressadinho tentaram ultrapassar o carro da motorista ao mesmo tempo, quase causando colisões laterais. O “bacana” da caminhonete foi embora, não sem antes gritar “aprende a dirigir”.

A motorista deixou os dois apressados passarem e depois seguiu seu caminho pela rua estreita. Mas ficou a constatação amarga e realista de que bom senso está em falta e de que uma parte pouco civilizada da sociedade quer impor aos outros, na marra e no grito, seu jeito de ser.

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Acabaram de passar o dia e a semana das crianças. O 12 de outubro foi o epicentro da comemoração e da comercialização que a data enseja em função do sentido e do valor que a fase de criança tem para a vida de todos. Nesse sentido é importante realçar que a indústria e o comércio contavam com o momento para ajudar a despiorar seus negócios, já que ainda é muito tímida e incipiente a recuperação da economia brasileira.

Vale também lembrar que na mesma data ocorreu a celebração dos 300 anos da data em que a imagem de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, foi encontrada por três pescadores nas águas do rio Paraíba do sul.

Também é importante ter em mente que o dia da criança foi definido por lei de 1925, quando Arthur Bernardes era Presidente da República, e que o Estatuto da Criança e do Adolescente considera criança quem tem até 12 anos de idade.

Meu ponto aqui, porém, é simplesmente lembrar, sem saudosismo mas com alegria, os brinquedos e as brincadeiras da minha infância. Quem fizer as contas perceberá que ela já é cinquentenária, pois completei 12 anos de idade em outubro de 1966, e todo esse período foi vivido na minha querida e eterna cidade de Araxá, que considero ser a capital secreta do mundo. Minhas primeiras lembranças são do ano de 1960, quando eu tinha 5 anos e em Araxá moravam 28.626 pessoas segundo o UniAraxá.

Eu me lembro bem que não ganhava presentes pelo dia das crianças e que as comemorações do dia aconteciam no Grupo Escolar Pio XII, onde fiz o curso primário. Aconteciam diversas brincadeiras, como as corridas em que os participantes entravam dentro de um saco de linho e, quando era dada a largada, os competidores saíam pulando de forma semelhante a um sapo para percorrer um espaço de 25 metros no pátio da escola. Também brincávamos de corrida, carregando em uma das mãos um ovo de galinha cozido colocado numa colher. Outra lembrança é do desafio de comer um biscoito de polvilho suspenso num cordão, em altura desafiadora, e sem usar as mãos. Tudo terminava com um lanche especial, a grande atração que encerrava a festa de cada turno escolar.

Os brinquedos eram ganhados por ocasião do Natal, sempre comprados por meu pai na Casa Mineira de Dona Carlota na noite do dia 24. Era um a cada ano e a quantidade só aumentava se algum padrinho ou madrinha resolvessem fazer uma surpresa.

Fazendo uma lista rápida dos presentes – que deveriam ser bem cuidados para durar o maior tempo possível – me lembro de um caminhão de madeira de médio porte, de um jogo de varetas coloridas, da piorra, de um revólver sem espoleta, de um jogo de cartas contendo casais de animais para formar pares e um mico preto para sobrar na mão do perdedor, de uma gaita e de uma bola de futebol. Entre os brinquedos feitos em casa posso destacar os papagaios com rabo de argola, as pipas, os currais de uma fazenda contendo bois e vacas feitos com chuchu ou manga e a bola de meia. Já entre os que eram comprados com uma pequeníssima quantidade de Cruzeiros, a moeda da época, destaco as bolinhas de vidro ou de gude, de menor diâmetro tanto as de cor única quanto as multicoloridas e as “bilocas”, de diâmetro maior e cor única.

Nessa época eram bem definidos o que eram os brinquedos para meninos e os que eram para as meninas.

E você? Conseguiu se lembrar dos brinquedos e brincadeiras do seu tempo de criança?

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Quem diria, era bicho-de-pé!

por Luis Borges 4 de outubro de 2017   Pensata

Um servidor público mineiro aproveitou o feriado de 7 de setembro, emendando a sexta-feira, para visitar seus parentes que residem numa fazenda no interior de Minas Gerais, pessoas que há muito tempo não via. O reencontro foi só alegria e todos os parentes ficaram muito felizes com a chegada do primo, que estava em companhia da esposa.

A estadia na fazenda possibilitou que se usufruísse um pouco de quase tudo, num convívio bastante agradável e com muita prosa naqueles quatro dias de tempo seco. Foi possível tomar um café da roça acompanhado de biscoito de polvilho, pão de queijo, broa de milho e bolo de fubá, bem como degustar a cachaça feita em casa antes de almoços em que foram servidos – em diferentes dias – frango caipira ao molho, costelinha de porco com mandioca, carne de boi na panela, paçoca de carne de boi…

À noite também foi possível cantar e dançar ao som de viola, sanfona e até mesmo jogar buraco, ofício em que o primo visitante é quase imbatível. Um dos grandes momentos do passeio aconteceu já no sábado pela manhã, quando o servidor foi até o curral para tomar um leite quentinho no melhor estilo ao pé da vaca. Obviamente que isso acabou rendendo uma fotografia, logo postada no grupo do WhatsApp da sua família e para mais um milhão de amigos de outros grupos de sua rede. Afinal de contas nem todo mundo sabe o que é ou já vivenciou uma situação como essa.

E assim o fim de semana prosseguiu maravilhosamente até a hora de se despedir dos queridos parentes já com saudades, no domingo à tarde para retornar a Belo Horizonte.

No segundo domingo após o retorno o servidor começou a sentir um grande incômodo nos pés e a principal característica do sintoma era uma coceira quase contínua em cada dedão. Ele foi ficando cada vez mais inquieto enquanto tentava decifrar o que poderia estar acontecendo. Chegou a imaginar terríveis situações futuras devido ao acompanhamento que faz do seu processo de metabolismo. Ainda assim, ele compareceu ao trabalho na segunda-feira mas, ao fim da tarde, não mais resistindo ao tamanho desconforto, resolveu procurar sua podóloga em busca de uma ajuda para solucionar o problema.

Acompanhado de sua esposa, ele chegou gemendo à sala de atendimento e foi imediatamente atendido. Assim que a podóloga olhou para os seus pés ela deu o diagnóstico rápido e certeiro: a causa de todo o seu mal estar era a presença de dois robustos bichos-de-pé, residindo cada um no dedão de um pé. Enquanto eram feitos os procedimentos para a retirada dos bichos-de-pé o servidor público lembrou-se que quando foi ao curral da fazenda tomar um leite quentinho ao pé da vaca estava calçando chinelos e passou ao lado do chiqueiro onde são criados os porcos.

Passado o desconforto e resolvido o problema ele foi buscar mais informações sobre o tal bichinho e descobriu que ele é bastante presente em áreas rurais e penetra facilmente na pele de diversos animais, notadamente na dos porcos e também na dos seres humanos. O período para a evolução do bicho de pé em seu hospedeiro é de duas a três semanas. Se você quiser conhecer mais sobre o assunto, clique aqui.

O servidor ficou tão feliz com a solução final para o seu problema que nem precisou se afastar do seu trabalho, apenas deixou de ir à academia durante a semana. Será que na próxima visita à fazenda ele vai proteger melhor seus pés?

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Ansiedade pela aposentadoria

por Luis Borges 27 de setembro de 2017   Pensata

O Governo Federal prossegue em seu propósito de atingir a meta de manter o atual Presidente no cargo até 31 de dezembro de 2018, custe o que custar. O fim justifica os meios utilizados. Enquanto isso, a reforma da previdência pública e privada paira como a espada de Dâmocles sobre a cabeça daqueles que pensam que tem direitos adquiridos ou em aquisição para se aposentar num determinado momento segundo as regras atualmente em vigor.

Os novos parâmetros para a reforma apresentados na primeira versão da proposta foram mal divulgados estrategicamente e como eram leoninos causaram muita apreensão dos envolvidos de hoje e muito desânimo aos que se aposentarão num futuro mais longínquo. Basta lembrar, por exemplo, a exigência de 49 anos de contribuição para o sistema e 65 anos para a idade mínima de aposentadoria, ainda que em nome do equilíbrio das contas públicas. Agora, passado um ano mais de falação do que de discussão transparente e honesta intelectualmente, o que se verifica é a proposta original quase que totalmente desfigurada pelas concessões feitas a diversos segmentos sociais e a sensação que o que sobrou continua no telhado.

Por outro lado ficamos sabendo com frequência cada vez maior de casos de pessoas na faixa dos 50 anos ou mais que resolveram apressar a aposentadoria para se protegerem de prováveis condições mais desfavoráveis num futuro ainda incerto, mas cada vez mais próximo.

Um desses casos é o de uma gerente de suprimentos de uma empresa de médio porte do setor de embalagens, que tem 51 anos de idade e contribui para o INSS desde os 19. Ela se aposentou em janeiro deste ano com o direito de receber proventos mensais no valor de R$2.985,00, que passaram a se somar aos R$7.400,00 brutos mais benefícios como vale alimentação, plano de saúde e participação em resultados que recebe como gerente. Aconteceu que, agora em setembro, sua empresa passou por uma reestruturação para se adequar ao mercado atual. Como se sabe o setor de embalagens é uma referência sobre o comportamento da indústria, tanto para cima quanto para baixo. Uma das decisões tomadas foi a de demitir de uma vez só os 35 empregados da empresa que já são aposentados. Não houve escapatória para a jovem aposentada gerente de suprimentos.

Enquanto tentava elaborar a perda trazida pela surpresa da demissão, uma frase de consolo muito ouvida foi “antes pingar do que secar”. Mas inegavelmente a readequação à nova realidade exigirá muitos cortes para que o custo caiba dentro do faturamento que sobrou. É claro que outra saída seria arrumar imediatamente um novo emprego, algo cada vez mais difícil para quem tem 50 ou mais, ou encontrar trabalhos por projetos nem sempre disponíveis na rede.

E o que sobrou da reforma da previdência continua a nos apoquentar.

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A gripe sempre incomodando

por Luis Borges 24 de setembro de 2017   Pensata

A constatação do óbvio nem sempre é tão simples e óbvia como seria de se supor. É assim que consigo perceber que calendário o gregoriano marcou o fim da estação que é o inverno. Com a chegada da primavera, faço um balanço sobre muitas características e acontecimentos que marcaram a estação que está chegou ao fim. A primeira característica que vem à lembrança é que neste ano houve realmente um período frio mais longo conforme atestam as temperaturas medidas e as sensações térmicas que experimentamos em Belo Horizonte e região metropolitana. Foi até necessário usar mais agasalhos, tomar mais caldos de feijão ou de mandioca, que se tornaram mais convidativos e adequados em função do frio, e até mesmo usar algumas colchas a mais para dormir com mais conforto térmico. Vem também a lembrança do tempo seco, com baixíssima umidade relativa do ar, muitos ventos, longa estiagem, necessidade de se fazer o uso cada vez mais racional da água para consumo humano e a repetição anual dos incêndios nos parques, fazendas e condomínios com suas clássicas causas geradores.

Também fica difícil de esquecer o desconforto e a ruindade que muita gente enfrentou – e ainda está enfrentando – com os ciclos das gripes, resfriados e até mesmo pneumonias, que são hegemônicas na estação. Quando menos se espera lá estão as pessoas espirrando, tossindo com bastante frequência ou simplesmente ficando amuadas, não querendo fazer quase nada, perdendo o apetite e não raro indo direto para a cama até a onda passar. Em meio a tudo isso vem o uso de muitos medicamentos, em diversas posologias, indo do xarope ao chá de guaco ou de gengibre e passando por muita água e pela umidificação do ambiente. É claro que aqui estou citando apenas alguns exemplos, mas quem enfrentou ou está enfrentando a gripe vai se lembrar de diversas outras coisas que se viu obrigado a usar, inclusive de consultas médicas e até internações hospitalares para combater a pneumonia.

Mesmo quem não pegou a gripe ainda, com certeza conviveu ou está convivendo com alguém gripado em casa, no trabalho, no restaurante, na escola ou no meio de transporte que utiliza com mais frequência.

A reflexão que proponho aqui é sobre as afirmações e perguntas que mais acontecem nos encontros pessoais ou em meios digitais entre gripados e não gripados e até que ponto elas incomodam a pessoa que está gripada.

No seu caso específico alguém chegou a te perguntar se você já tinha ido ao médico? Ou qual remédio estava tomando e se o seu caso poderia virar uma pneumonia? Chegaram a te perguntar se você tinha tomado a vacina para se prevenir da gripe? Houve situações em que alguém realçou o quanto você estava tossindo, como sua voz estava rouca e como você quase não aparentava melhorias após dez dias gripado? Já que é uma reflexão, aproveite para acrescentar outros tipos de perguntas e afirmações que não foram citadas e também para dizer se esse tipo de situação te incomoda ou até mesmo constrange.

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O realismo no cotidiano

por Luis Borges 20 de setembro de 2017   Pensata

“Os fatos não deixam de existir só porque são ignorados”, diz Aldous Huxley em seu livro “Admirável Mundo Novo”. A realidade pode continuar a ser mitigada ou propositalmente esvaziada com a citação de frases clássicas como, por exemplo, a sempre repetida “o que os olhos não vêem o coração não sente”. Podemos até não dar conta de elaborar ou de resolver todos os problemas que a realidade nos apresenta, mas não dá para negar, esconder ou não assumir o significado que os fatos e dados nos apresentam, por mais doídas que sejam as coisas.

A observação e a análise do emaranhado de acontecimentos do cotidiano, com seus devidos registros percebidos pelo foco das diversas mídias, já são um sinal positivo da presença de olhares atentos sobre os acontecimentos.

Um outro aspecto é ter a expectativa de que as coisas serão mostradas dentro de um determinado padrão ético, quase como se fosse o único possível de existir. Não dá para deixar de lado a premissa de que vivemos numa sociedade de classes, com extremas desigualdades e marcada pelos conflitos entre os diversos interesses.

Os proprietários da verdade única, definitiva e permanente frequentemente se mostram inconformados com a forma que a realidade pode ser mostrada até mesmo numa novela, num programa de variedades na televisão ou num debate postado numa mídia digital. Fomentar o ambiente propício para cultura da intolerância e tentar construir uma hegemonia social no grito e “na marra” será sempre inaceitável para quem acredita ser possível conviver com as diferenças numa sociedade minimamente civilizada e com visões diversificadas. A construção da hegemonia deve ser feita pela inteligência estratégica de quem buscará ganhar um a um dos adeptos para suas causas e ideias, ainda que a sociedade esteja cada vez mais difusa e complexa em seus interesses.

Nesse sentido é interessante observar e verificar como determinados temas abordados pela novela “A força do querer”, de autoria de Glória Perez e exibida pela Rede Globo por volta das 21h, tem causado incômodos a determinados segmentos. Abordar com realismo temas como o tráfico de drogas e as relações entre pessoas que fazem parte do processo, inclusive de amor e suas triangulações, a transexualidade com muito realismo nas dimensões abordadas ou o vício e a compulsão das pessoas por diversos tipos de jogos, e possíveis perdas inerentes, é no mínimo uma boa contribuição para ajudar a acelerar muitas das transformações sociais tão almejadas e necessárias hoje. Alegar que a novela está abordando os temas de maneira “glamourizada” beira o simplismo de quem quer tampar o Sol com a peneira diante das rápidas mudanças que vão marcando nossas vidas.

Quantos e quais, mesmo assim, conseguirão prosseguir com a sabedoria de quem sabe conviver com quem pensa de outras maneiras, mas tendo como referência os fatos e dados da realidade cotidiana ao invés de ficar sonhando com desejos que não se sustentam no campo real?

 

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O dia 10 de setembro foi o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. Todo este mês é dedicado às ações de conscientização e prevenção, visando despertar a atenção das pessoas para todos os alertas trazidos pelo Setembro Amarelo.

Uma das estimativas mais citadas em pesquisas bibliográficas diz que 1 milhão de pessoas se suicidam anualmente no mundo e outros 20 milhões de pessoas cometem tentativas. Apesar dessa magnitude dos números, a abordagem do tema sempre foi considerada um tabu aqui no Brasil. Sua ausência na imprensa é justificada pelo respeito à privacidade das famílias ou para evitar que outras pessoas sejam influenciadas pelo ato. Mas é inegável que a omissão de informações e a ausência de discussão sobre as causas que levam alguém ao suicídio em diferentes faixas etárias contribuem para que o fenômeno continue sendo uma questão de saúde pública e continue estigmatizado.

Felizmente muitas são as pessoas, em diferentes categorias profissionais e organizações humanas, que nunca se conformaram com a omissão e a ocultação dos mais diversos aspectos ligados ao suicídio. Percebo que nos últimos quatro anos aumentaram significativamente as ações planejadas e integradas estrategicamente para romper definitivamente com o obscurantismo que sempre marcou o tema.

Agora que as porteiras estão sendo abertas e existem iniciativas das mais diversas naturezas será natural surgirem mais e mais especialistas no mercado trabalhando no tema, que é multidisciplinar e sistêmico. Nessa hora é essencial conhecer bastante a capacidade dos profissionais que colocarão seus serviços à disposição do mercado, nesses tempos de desemprego aberto e muita busca por melhores condições básicas de sobrevivência pessoal e familiar. Nesse sentido devemos ficar atentos, pois senão daqui a pouco crescerá exponencialmente a quantidade de pessoas se dizem “suicidólogas”, especialistas em determinado método de combate à depressão ou de alta capacidade para detectar sinais de que algo não está indo bem, por exemplo. Infelizmente esse é um alerta que também precisa ser feito.

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Os direitos dos consumidores estão previstos na Lei N º 8.078, de 11 de setembro de 1990, que é conhecida como Código de Proteção e Defesa do Consumidor. Ao completar 27 anos em vigor verifica-se o quanto ainda é difícil cumprir muitos dos requisitos contidos na lei. Ainda existem muitas lacunas entre a intenção e o gesto. É preciso determinação, constância de propósitos e muita resiliência para lutar e fazer cumprir o que é simplesmente um direito em todas as instâncias na relação de consumo de bens e serviços.

Um caso que ilustra bem a situação aconteceu com um casal por volta dos 50 anos que resolveu trocar a geladeira e a máquina de lavar roupas já bastante antigas. Após muitas pesquisas de marcas, modelos, preços, condições de pagamento, data de entrega em casa, instalação e treinamento para operar as máquinas a compra foi fechada em função do benefício e do custo no dia 29 de julho numa loja bem situada no ranking do segmento de eletrodomésticos. Além da compra dos produtos, foi comprado também o serviço de instalação e treinamento para usar os bens.

A entrega foi marcada para o dia 8 de agosto, com a participação simultânea dos entregadores e instaladores. Devido à necessidade de readequação das instalações elétricas da casa, que foi feita anteriormente à era das tomadas de três pinos, o prazo de entrega foi renegociado entre o cliente e o fornecedor para o dia 23 de agosto. Na véspera da data marcada o fornecedor informou ao cliente que a entrega no dia seguinte aconteceria entre as 8h e as 18h, apesar da insistência do cliente para que pelo menos se definisse que as coisas aconteceriam na parte da manhã ou da tarde.

No dia marcado, o caminhão da empresa parou na porta da casa por volta das 14h40 apenas com três carregadores a bordo e sem os instaladores conforme foi combinado. O casal se recusou a receber as mercadoria, mesmo diante dos insistentes apelos dos entregadores para que tudo ficasse na garagem até o dia e hora em que os instaladores pudessem fazer seus serviços. Diante da negativa, o setor de logística e distribuição do fornecedor se viu obrigado a receber os bens de volta, mas reclamando que na semana anterior tiveram o roubo dos eletrodomésticos que estavam em dois de seus caminhões.

Após muitas idas e vindas nas negociações das condições para uma nova data, com muitas lembranças feitas pelo casal sobre os direitos contidos no Código de Defesa do Consumidor e as possibilidades de registrar reclamações nas redes sociais, órgãos de defesa do consumidor e nas rádios, ficou definido que tudo seria entregue no dia 31 de agosto a partir das 13h com a presença dos entregadores e instaladores.

Na data marcada aconteceu tudo semelhante à vez anterior, só que em condições piores. Chegaram à casa três entregadores, novamente desacompanhados dos instaladores, apesar disso ser uma cláusula estabelecida no momento da compra dos bens. Vencido pelo cansaço e pela expectativa da instalação dos novos equipamentos o casal aceitou que os entregadores entrassem com os bens enquanto se aguardava a chegada dos instaladores. Foi aí que tudo piorou, pois os três entregadores tiveram muitas dificuldades para carregar a pesada geladeira dentro da embalagem e clamaram pela presença de mais uma pessoa no grupo. Além disso, não quiseram ou não sabiam desembalar a geladeira, retirar a sua porta e assim entrar na casa com o bem dividido em duas partes. Lá pelas 15h os dois instaladores chegaram ao local, fizeram o desmonte, mas sem ensinar como se fazia o passo a passo e finalmente os entregadores entraram na casa com a geladeira. Às 16h30 tudo estava instalado, mas o treinamento operacional durou 10 minutos e foi apenas uma rápida leitura do passo a passo, do tipo “liga aqui, desliga ali”.

Na sequência começou o prazo de 7 dias para a verificação de defeitos, que se expira neste 7 de setembro. Do dia da compra até hoje já se passaram 41 dias.

Quanta paciência para enfrentar tantas dificuldades, inclusive para ouvir o instalador pedir para ser avaliado com a nota 10, pois a situação na sua empresa não está nada boa para quase todo mundo enquanto o facão entra em ação!

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